As Fagulhas de Hugo escrita por flyawk


Capítulo 5
Capítulo 5 - Mazurka


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores e leitoras ^^
Bem, eu dei uma boa sumida, peço desculpas, aquela coisa de: faculdade (enquanto ainda estava aberta), bloqueio criativo e outras coisinhas.
Mas espero agora escrever com mais frequência (e acho que isso deve acontecer)

Eu sei que tenho o costume de colocar a referência do título nas notas finais, mas desta vez colocarei inicialmente, porque eu altamente recomendo que se leia esse capítulo ouvindo Mazurka Op.67 No.4 do Chopin, vou até colocar o link: https://www.youtube.com/watch?v=gmsC79W2JHQ
Curiosidade: além disso, Mazurka é uma dança tradicional polonesa

Sem mais delongas, boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784345/chapter/5

— Serei claro: só tem uma coisa que eu desejo menos do que brincar de fantasia com você. E, infelizmente, é justamente essa coisa que acontecerá comigo se eu não agir como o seu pólux. Então, faça-me um favor: acabemos o mais rápido com isso. 

Eu não sabia se me sentia ofendido pelo que o Levi acabara de me revelar ou se me preocupava com o fato de haver algo que ele desejasse menos do que essa situação e qual seria esse algo.

— Você parece um emo reclamando assim. - Sim, eu cheguei no meu limite de paciência. - Não é só você que está na companhia de alguém que não queria, acredite se quiser, mas você também não é flor que se cheire. Enquanto você estava fazendo sabe-se lá o quê, eu estava tendo várias experiências irreais de morte muito realista, então, eu já estou de saco cheio para ainda ter que aguentar alguém reclamando a cada duas vezes que abre a boca. 

Levi não pareceu esperar por essa, porque ele não tinha nenhuma resposta na ponta da língua, ou, se possuía, guardou para si. 

Contudo, eu concluí isso rápido demais. Uma interjeição alta foi a única reação que consegui realizar de forma automática. Pois, antes que eu pudesse perceber conscientemente, o ato já havia sido concluído: o rapaz arrancou um fio de cabelo meu, um daqueles puxões dolorosos sem volta. 

— Opa, doeu? - Ele perguntou, se fazendo de desentendido enquanto depositava o fio dentro da gaveta do pequeno criado mudo que ficava ao lado da vidraçaria com máscaras iguais. 

Tudo o que eu queria era que o Frank estivesse aqui para exibir o variado vocabulário de xingamentos em francês que ele possuía para se referir ao Levi. Mas como isso não aconteceria, precisaria usar o meu estoque limitado mesmo. Entretanto, assim que ia abrir a boca para soltar uma dessas palavras, meu olhar se voltou subitamente para a estante que começou a se encher de pulvis. 

— Mas… o que… - Falei em vez do xingamento. 

Cada vez mais aquela vidraçaria se enchia de pulvis, até ficar impossível de ver o que acontecia lá. Porém, na mesma rapidez com que ficou lotada do pó dourado, ela também se esvaziou dele. Quer dizer, não exatamente esvaziou, porque, a medida que tornava-se possível ver novamente um pouco das máscaras, pude perceber que eram elas - não - era apenas uma de todas aquelas dezesseis que estava canalizando o pulvis e, na mesma proporção com que isso acontecia, essa face artificial ia mudando até chegar ao ponto em que não restava nada daquele formato uniforme e branco. 

Em seu lugar estava a máscara preta  que chegava até o nariz de um coelho com orelhas usando um monóculo e com detalhes em cobre. Sem dúvidas tinha um ar de steampunk. De repente, ouvi um barulho, a porta da estante de vidro pareceu destravar e Levi aproveitou isso para abrí-la e pegar a única máscara diferente de todas as outras. 

— Aqui está. - Ele disse entregando-a para mim. Eu olhei para o rapaz com receio, eu não podia confiar nele e estava com raiva o suficiente do mesmo para não exitar em recusar algo vindo dele. - Vamos, pegue logo, dessa vez não tem nenhum truque. Fora que você terá problemas maiores se não usar essa máscara. 

— Parece fácil falar para eu confiar em você, já que não é você que está no meu lugar. - Rebati ainda me recusando a pegar aquele belo objeto, mesmo que quisesse muito avaliá-lo de perto. 

— Você tem razão, é fácil falar mesmo. Por isso que disse. - Admitiu ele dando os ombros e jogando a máscara no sofá. - O chefe deve estar quase chegando. Se quiser mesmo que ele o veja nesse estado, fique à vontade. Pelo menos eu tentei fazer a minha parte. 

“E muito mal, diga-se de passagem” eu completei na minha mente. Eu sabia o que ele estava fazendo, jogando psicologia reversa comigo. Ou talvez não, mas ele já fez muitas coisas para que eu não desconfiasse disso, pelo menos. Talvez, o Levi precisasse mais disso do que eu mesmo. Mas, eu não iria ceder para alguém que me deixou em tantas situações desconfortáveis em poucas horas. Ficamos em silêncio por alguns minutos. O que me deu tempo de observar as outras vidraçarias. Havia uma com vestimentas da parte de cima e do outro lado, mais uma estante, mas cuidado das partes de baixo. Outras vidraçarias dispunham de acessórios: capas, chapéus, colares… E essas pareciam fazer um semi-círculo cujo centro era um daqueles criados com gaveta. Mas, vale mencionar que, assim como as máscaras, todos os itens que mencionei também eram genericamente brancos. Mas, o que mais me chamou atenção foi uma, maior que todas as que já vira, ela equivalia bem a umas quatro normais, em que, dentro, havia um tipo diferente de cada arma. Para quê? Como era nome? Nox, O Levi não estava brincando quando falou que eu teria que lutar contra algumas criaturas… 

Eu já tive experiência com muitos jogos desse tipo, eu confesso que se conseguisse sonhar, com certeza gostaria de ter um sonho no qual eu fosse um personagem de algum desses jogos. Mas, o que estava vivendo agora era um pouco diferente de um sonho, era mais... Real. Aquela história do “cuidado com o que deseja” fazia mais sentido do que nunca agora. Respirei fundo para tentar lidar com a preocupação do que estava por vir. 

Depois disso, voltei o meu olhar para o Levi: ele estava encostado na vidraçaria de máscaras olhando para nenhum ponto específico, carregava uma expressão entediada e desinteressada. 

— Levi, como são os nox que você falou?

Ele se virou para mim e após manter um minuto de silêncio, como que para criar um clima ele começou a contar: 

— Eles têm diferentes formas dependendo do tipo e da situação. - Ele estava sério quando respondeu. Mesmo que fosse um bom ator, pelo pouco que convivi com ele, não acho que esse fosse o caso. - As coisas que você enfrentou no seu teste de certo modo podem ser vistas como nox. 

— Ah. - Disse me lembrando daquela plateia com olhos vazios. Pude sentir a ponta dos meus dedos ficando geladas...Contudo, recobrei a consciência e afastei o medo. - E por que “de certo modo”?

— É exatamente o que quer dizer, há diferenças. - Ele disse pegando a máscara no sofá. - Mas para quê a ansiedade? Em breve você os conhecerá.

Reconfortante. 

— E eu não estava mentindo quando disse que o maior prejudicado se algo de ruim acontecer com você vai ser eu. Então, acredite em mim quando digo que seria melhor se você colocasse logo essa máscara. 

O rapaz era esperto. Eu poderia interpretar essa fala de duas maneiras (e acredito que ambas estavam corretas), mas como não queria me sentir intimidado, preferi adotar o significado da que mais me agradava.  

— A conclusão direta dessas premissas é que se eu não colocar isso você vai se dar mal. - Eu apontei, com um certo gosto de saber que o Levi baixou um pouco o grau de arrogância. 

— Ou que se você não colocar isso você vai ser prejudicado. Ainda mais contra os nox. - Esse era o outro sentido que eu tinha suposto. 

— Acredito que ambos sejam verídicos. - Foi a melhor forma que achei de não dar total razão para o Levi. 

— Se você entendeu não precisava falar em voz alta, seu fedelho. - Ele reclamou - me contrariando pela minha afirmação estar correta -  e estendeu a máscara para mim mais uma vez. 

E dessa vez eu a peguei. E, mal já realizada a ação, comecei a analisar: seu material era resistente, porém não era pesado. Não era plástico, seria grafeno? Nunca vi um material parecido. 

— Feita sob medida especialmente para você, como deu para perceber. É incrível como um fio de cabelo de um lux pode fazer tanta coisa. 

— Você está dizendo que aquele pulvis todo era do meu cabelo? - Perguntei enquanto a colocava no rosto, ela tinha um elástico que a deixava bem firme não importava o quanto me virava para os lados e vale ressaltar, também, que ela era incrivelmente confortável, quase como se não a sentisse. Mas já vira muitas coisas aqui em Invisiblia para me surpreender com uma máscara bem feita. 

— A gaveta meio que ajuda a otimizar ele. Mas, sim. - Uma das poucas vezes que ele dirigiu a palavra a mim sem dizer ou fazer algo que me incomodasse. - Agora, vamos cuidar do restante do seu uniforme e acabar logo com isso. 

Eu posso ter me sentido criando um avatar de rpg durante o restante do processo. A maneira como os outros itens eram escolhidos era igual a da máscara: fio de cabelo, gaveta do criado, pulvis e voilà uma peça da vidraçaria sob medida selecionada. Felizmente, Levi me deixou tirar o fio em vez de ele puxar de uma vez como ocorreu com a máscara. Porém, o rapaz falou a verdade quando disse que queria acabar logo com isso, porque enquanto eram escolhidas a outras peças, ele falava o mínimo possível e, assim que o vestuário selecionado ficava pronto, ele, imediatamente, já abria a porta de vidro e permitia com que esse item se transformasse em puro pulvis que me envolvia e, num passe de mágica, se materializava na respectiva roupa e passava a me vestir no lugar do pijama - eu não sei como e nem o quanto agradecer por não precisar ficar nu na frente do Levi -  e, assim que já estava pronto, ele logo me levava para outra estante. De fato, o rapaz queria agilizar as coisas.  

— Enfim a última. - Comentou Levi depois de colocar outro fio do meu cabelo na gaveta do criado ao lado da maior de todas as vidraçarias.

Qual seria a minha arma? Como um bom jogador, sabia que isso era importante. Aos poucos o pulvis no interior do armazenador começou a ser absorvido por uma espada média. Contudo, à medida que ela ia filtrando o pó dourado, ela começava a mudar de forma, ela ficou mais grossa e adquiriu mais profundidade, o seu meio diminuiu subitamente, criando curvas evidentes e uma saliência na parte superior também foi criada. E então, o restante de pulvis que estava ao redor do objeto começou a mover-se freneticamente como em uma dança, de modo que iniciou um brilhou intenso, tornando difícil ver quais outras transformações ocorreram. Porém, assim que os feixes luminosos foram se esvaindo, no lugar da espada média genérica branca, estava não uma arma, mas sim um instrumento. 

Era um violino. 

Eu estava sem palavras. Não só pela quebra de expectativa, na verdade isso era o de menos. Seria decepcionante também se a espada tivesse se transformado em outro instrumento qualquer, claro. Mas, aqui era um violino, não era só decepcionante... Era mais do que isso, era uma droga de violino. 

Minha cabeça ficou mais pesada, meus olhos começaram a arder e eu podia sentir meus batimentos mais evidentes. Tudo por causa de uma droga de violino. 

— Ora ora, parece que eu cheguei bem na hora. - Interrompeu uma voz feminina após uma brusca batida na porta de entrada da sala.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(Sim, o Hugo não gosta de violinos)
E então, o que acharam desse final?