James carregava Katherine como se esta não pesasse nada. O garoto levou-a pelo caminho antes percorrido, e mais além para cima, parando num lindo jardim, dentro da mansão. A garota jamais imaginava que a casa de James fosse tão grande, embora já tivesse a visto por fora. 

O jardim, com um teto de vidro, deixava a luz da lua iluminar todas as plantas que existiam no local. Um conjunto de sofás e cadeiras no centro esperava o casal, que parecia exausto.

Ao colocar Katherine em um dos sofás, o jovem se afastou. Ela deveria estar apavorada, aterrorizada por ele, ele pensava. Mal imaginava ele quantos a inocente garota já tinha matado. Ela ajeitou-se num canto, olhando para o homem. Agora que sabia do segredo dele, Kath pensava no quão óbvio era. James raramente estava livre para encontros quando o sol estava alto, e adorava passeios ao luar. Ela raramente o via comer, e quando ele o fazia, evitava comidas temperadas. E depois de ter visto o que ele havia feito com os olhos… 

— Katherine. — Ele interrompeu os pensamentos da garota. — Eu tentarei explicar, mas é complicado.

“Muitos éons atrás, quando os deuses ainda caminhavam por este mundo, um rei corajoso o suficiente para contatá-los realizou um sacrifício. Tantas vidas foram tiradas, o sangue derramado, que a própria deusa da magia teve de intervir. A deusa nunca foi a favor do derramamento de sangue, ao contrário do que se pensava. E então, ela o puniu. O rei e seus seguidores queriam se tornar deuses, mas se tornaram algo… Muito pior.

Pelo menos, essa é a lenda do surgimento do lamiofagismo. Esse é o nome dessa doença, Katherine. E eu tenho ela a muitos séculos, milênios. Eu vivi guerras inimagináveis, avanços e desavanços da espécie humana… Eu vi o fim do mundo, Katherine.

A ganância humana levou ao desenvolvimento de armas que dizimaram continentes inteiros. Bilhões de pessoas morreram com as explosões das chamadas bombas atômicas. Poucos de vocês sobreviveram. Os que moravam em regiões mais afastadas, os menos privilegiados, como diziam. Aqueles que foram abandonados foram os que sobreviveram. Com a reformulação do planeta, então, todos se misturaram. Não era assim, antigamente. Geralmente, as pessoas de um reino eram muito parecidas, não havia a diversidade que se vê hoje. 

Mas voltando ao assunto… Um pequeno grupo de pessoas como eu também sobreviveu. Nós demos conta de nos mantermos escondidos por um bom tempo, até que houve a epidemia. Não faz muito tempo que demos conta do louco que saiu atacando e transformando mas… Enfim, esta é nossa história. Nunca foi uma doença, Katherine. Nós nunca pedimos para existir. A maioria foi transformado sem querer.”

A garota ouvia tudo com atenção, tentando assimilar as histórias. Aquilo era louco! Guerras, bombas, deuses? E se James estivesse falando a verdade, ele teria quase quatro mil anos. Ele não poderia, poderia?

— James… Quantos anos você tem?

— Muitos, Katherine. Incontáveis. E o pior… E você também tinha. Você viveu tudo isso comigo, Katherine, junto a mim.