Era tarde. Pelo menos, era isso que Katherine imaginava, afinal, já tinha perdido completamente a noção de tempo, sem saber se estava presa por horas ou dias. A luz da caverna brilhava mais fracamente, e as ondas do lago abaixo não estavam tão agitadas. 

Ela estava com frio, e fome. Ferida. Mas precisava escapar. Usando o colar pontudo que vestia, a garota tentava abrir a fechadura de sua cela, sem ao certo saber como o faria, ou o que faria se escapasse, mas ela não iria morrer ali. Não daquele jeito. Katherine era boa naquilo, improvisar: desde pequena, sempre soube se sair bem nas mais diversas situações, desde fugir de castigos à matar seus primeiros infectados, antes mesmo de ter sido recrutada pelos Dortaam.

E então, a porta da tal masmorra se abriu. James passou por ela, sozinho, com uma bandeja com coisas as quais Katherine não conseguia ver. O homem caminhou vagarosamente pela passarela, quase flutuando, até a gaiola de Katherine, que se afastara para o canto oposto. Ele destrancou a gaiola e entrou, sem fechá-la novamente.

— Você não está presa, Katherine. Por isso, todas as portas estarão abertas. Mas deixe que eu limpe seu ferimento antes, e te dê de comer. — Ele disse, pondo a bandeja no chão. Nela, havia faixas e álcool, bem como algo que se parecia com uma sopa de legumes, e um copo d’água. — Me perdoe por te deixar aqui… Harry não queria me falar para onde tinha te levado, dizia que você tinha fugido. Mas eu o conheço… Procurei a casa inteira, mas não achei que ele te poria aqui.

— Você me condenou, James… Por que?

A garota começou a chorar. Ela estava em frangalhos. James sentou-se ao lado dela e limpou a mordida e o ferimento da bala, em silêncio. Ele não sabia o que dizer pra ela. Como fazê-la entender? Ele também estava mal, jamais era seu plano machucá-la, afinal, ele amava ela mais do que tudo. Quando terminou de cuidar dos ferimentos, passou a alimentá-la com a sopa, esperando que ela recuperasse as forças.

— James… Responda-me, por favor.

— Katherine… Me perdoe. Eu não planejava que as coisas fossem acontecer dessa maneira. Olhe, eu queria te explicar. Mas não há explicação. Eu sou o que sou. Não estou doente, portanto, não há cura, e me matar não impediria que outros como eu ressurgissem. Eu pretendia te contar antes do casamento, afinal, seria injusto unir-te a mim sem que soubesse quem sou mas… Não fazia ideia de que tu eras caçadora. Você escondeu bem. Mas por favor, me entenda… Eu nunca lhe quis mal. 

James a olhou. Os olhos dele oscilavam entre o verde e o amarelo, e então ela percebeu. Ele os controlava. A tal doença era tida como inevitável, incontrolável, mas… James tinha poder sobre ela?

— A experiência, Katherine… Nos leva a aprender esses truques. Só espero que me perdoe.

— James, eu quero entender, eu juro, mas eu tenho medo do que tu és… Me ensine, e tentarei, por ti.