Na semana que seguiu Harry foi enterrado sob diversos casos diferentes que simplesmente estouraram juntos e necessitavam de sua total atenção, as pastas e arquivos pousavam sobre sua mesa a todo o momento e já formavam longas pilhas equilibradas no tampo de mogno. Nesses dias Hermione intercalava entre leitura e visitar Gina, Rony ou os gêmeos. Molly ainda parecia intrigada com seu retorno e a fazia sentir-se constrangida com todas as insinuações descabidas.

Naquela noite sairia com Draco, depois de muita insistência para que tirasse um dia de folga e a encaixasse na agenda.

— Sou um medibruxo, passo todo meu tempo livre dormindo para o próximo plantão de 36h ininterruptas de atendimentos. — Disse quando Hermione simplesmente entrou em seu consultório sem sequer bater na porta e o convocou para um jantar.

***

Ajeitara o cabelo e entrara em um vestido formal, porém simples. Sabia que Draco a levaria para um daqueles restaurantes onde todas as mulheres parecem perfeitas e esnobes, queria ao menos estar vestida apropriadamente.

Encontrou-o no restaurante, onde passou horas agradáveis com o amigo. Desde que realmente tiveram a chance de se conhecer em Amsterdã, descobriu nele um bruxo talentoso e interessante, era inteligente e adorava desafiá-la nesse quesito. Deixara de ligar para suas provocações há muito, aprendera a importuná-lo e sempre que tinha a chance o fazia.

— Você seria uma excelente Malfoy! — Disse enquanto bebericava seu Uísque de fogo, seu terceiro copo desde que chegaram.

— Está me propondo? — Inclinou-se sobre o tempo da mesa, afastando delicadamente o prato da sobremesa já limpo.

— Talvez!

Juntos caíram na gargalhada, fazendo com que alguns bruxos os olhassem com severidade.

Apesar de tudo, entendiam-se.

***

Hermione entrou no Largo sorrindo, era mais tarde do que esperava. Os sapatos pendurados em seus dedos e o lenço escorregando de seu pescoço. Fazia tempo que não tinha uma noite daquelas, sentia-se leve e viva.

— Onde estava?

Virou-se surpresa.

— Harry! — Disse com animação, mal o vira durante a semana. — Saí com Draco para jantar, acabamos nos perdendo na hora.

Seu olhar então pulou para a garrafa de uísque pela metade ao lado do sofá.

— Perdi alguma coisa?

Harry olhou para a garrafa com certa lentidão, encarou-a como se significasse a resolução de todos seus problemas.

— Gina mudou outra cláusula do divórcio e o processo foi adiado mais um pouco para que os advogados pudessem averiguar o contrato corretamente. — Pegou a garrafa, sorveu um longo gole e enterrou os cotovelos nos joelhos. — Acabamos discutindo.

Hermione deixou os sapatos ao lado da porta e foi sentar-se ao lado do amigo. Esquecera-se completamente daquela audiência.

— Não entendo porquê ela continua alterando as cláusulas, uma a uma. Tudo isso só atrasa ainda mais o divórcio, e claro, nos enfia e mais discussões. — Bagunçou os cabelos negros como se quisesse clarear os pensamentos. — Gina me disse que não queria nada de mim, não compreendo.

Mas Hermione compreendia. Gina lhe dissera na primeira vez que se encontraram, ela queria que Harry lutasse pelo casamento, que mostrasse que ainda se importava e tentasse fazê-la mudar de ideia. Gina precisava saber se ele ainda a amava. Alterar alguns cláusulas atrasava o processo, dando mais tempo para eles e consequentemente, dando uma chance para Harry reconsiderar.

— Você a ama?

Harry, ainda cabisbaixo empertigou-se e a olhou sem compreender o porquê daquela pergunta. Direcionou o olhar então para a lareira e bebeu mais um gole.

 — Eu... Eu não sei.

Hermione tirou a garrafa de suas mãos e imitou-o, bebendo um longo gole e torcendo o nariz quando o álcool arranhou sua garganta.

— Quero dizer, eu sempre achei que sim. Acho que a amei, mas depois... Depois se transformou em algo que...

Parecia difícil explicar algo tão abstrato, as palavras engasgavam em sua garganta, nada parecia certo.

— Que não o amor necessário para manter o casamento! — Completou pelo amigo.

Harry assentiu sem olhá-la.

— Gina foi a mulher da minha vida por muito tempo, esteve ao meu lado em tantos momentos e me apoiou em muitos outros. — Sacudiu a cabeça pesaroso. — Eu a amo por tudo isso, mas não é suficiente. Não consigo fazê-la feliz e ela merece alguém que possa!

— Diga isso à ela.

Olhou-a como se fosse louca. Mas tudo que Hermione fez foi encará-lo como se reafirmasse o que acabara de dizer e então, ofereceu a garrafa.

— Por que sinto que você sabe de algo que eu ainda não entendi?

— Porque eu sempre sei, Potter!

Levantou-se e ao lado da porta abaixou-se para pegar os sapatos.

— Não sei se gosto de você e Malfoy jantando juntos.

Sorriu para o amigo e desejou-lhe uma boa noite antes de subir a escadaria.

Tomava café quando recebera o Profeta Diário naquela fatídica manhã e após ler a notícia da capa simplesmente saíra de casa e pedira férias para seu superior, tinha certeza que a xícara inacabada ainda repousava sobre a mesa da cozinha. Não pensou duas vezes antes de juntar suas roupas numa mala e pegar a chave de portal para Londres.

Parecia um bom plano no início.

Mas agora, dentro da história, começava a se arrepender. Não devia se meter, mas Gina estava brincando com os sentimentos de Harry, esperava que ele compreendesse suas metáforas veladas e agisse, e tudo para o que? Aumentar seu ego, talvez.

Era injusto!