The Divorce escrita por Amanda


Capítulo 5
Capítulo quatro




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Fazia uma semana desde que chegara em Londres, e a cada dia que passava ali sentia-se mais em casa do que imaginou ser possível. Tudo era tão familiar, as ruas de paralelepípedo, os postes de ferro, as cabines telefônicas vermelhas e os táxis pretos. Símbolos que fizeram parte de sua vida por tanto tempo, não entendia como chegou a pensar que poderia deixar tudo aquilo para trás, esquecer-se de onde viera.

Parecia tolice agora.

No entanto, compreendia que era temporário. Em pouco mais de três semanas teria de voltar para Amsterdã e seguir com sua vida de onde parara, o problema nisso era que não tinha certeza em que ponto havia parado. Não conseguia se lembrar de ter deixado algo importante para trás quando resolveu visitar seus amigos.

Não tinha para quem voltar, seu apartamento era alugado, seu trabalho podia ser feito por qualquer outro bruxo — podia, inclusive, indicar alguém para substituí-la. Conseguira implantar o F.A.L.E em Amsterdã, fora um sucesso desde que chegara ao país, a formação de uma subdivisão no departamento dependeu somente dela por muito tempo, mas agora haviam bruxos mais que qualificados para seguir seu trabalho na proteção das criaturas mágicas.

— Um galeão por seus pensamentos! — Disse Harry sentado do seu lado no sofá, estavam de frente para a lareira crepitante.

— Não valem um galeão. — Olhou-o de esguelha. — Estava divagando, apenas isso.

— Parecia bastante concentrada para que fossem apenas divagações. — Concluiu, enquanto continuava girando a varinha entre os dedos, habilmente. — Mione, já pensou em largar tudo e desaparecer por um tempo?

Hermione riu.

— Foi exatamente o que fiz quando recebi aquele jornal. — Disse com humor. — Mas antes disso já havia pensando algumas vezes, você sabe, simplesmente desaparecer e esquecer da vida.

— Exatamente! — Jogou a cabeça no encosto do sofá e suspirou. — Amanhã tenho a segunda reunião sobre o divórcio, Gina mexeu em algumas clausulas do contrato, acho que vai ser uma longa manhã.

Segurou a mão do amigo e apertou-a gentilmente.

— Vai dar tudo certo, não se preocupe com isso. — Sorriu, mas sabia que seria complicado.

Desde o dia em que almoçara com os Weasley não os vira mais. Gina parecia ter se esquecido de sua presença na cidade, mas resolveu dar espaço para a ruiva que devia estar passando por um momento de introspecção do qual ela, certamente, precisava.

Harry trabalhava o dia todo, mas sempre esforçava-se para jantar com Hermione. Às vezes, quando se atrasava, tomavam o café da manhã juntos, mas as ocasiões em que isso acontecia eram bastante raras. Parecia errado deixa-la sozinha o dia inteiro sem companhia, mas não é como se tivesse muita escolha, e para recompensá-la por sua ausência, passou numa livraria e comprou alguns exemplares de literatura trouxa.

— Tudo isso é para mim? — Perguntou enquanto analisava os sete exemplares empilhados sobre o aparador. — Harry, não era necessário...

— Sei disso, mas pensei que seria uma boa distração. — Explicou-se com agitação, havia exagerado, mas todos aqueles títulos pareciam bons. — Ao menos até que as coisas se acertem um pouco no Ministério, então poderei tirar alguns dias de folga.

— Não quero que mude sua rotina por minha causa. — Falou com extrema tranquilidade. — Voltei para Londres porque imaginei que precisaria de companhia com tudo isso acontecendo, estou aqui por você, não quero nada em troca. Estamos entendidos?

— Estamos! — Apertou a mão de Hermione num contrato silencioso.

Dividiam o sofá, de frente para a lareira de modo que a única diversão era observar as chamas dançando entre a lenha crepitante. Distração suficiente para mentes tão conturbadas quanto a de ambos.

Para Harry, pensar em seu divórcio era um turbilhão de sentimentos, os quais gostaria de deixar guardados no fundo do seu âmago. Já Hermione tentava lembrar-se dos motivos que a manteve tanto tempo longe de Londres.

***

O advogado falava fazia mais de vinte minutos, explicando didaticamente cada uma das clausulas que Gina pedira para modificar desde a primeira reunião. Ainda haveria muitas outras até que os papéis passassem pela aprovação do Ministério e então, pudessem assiná-los. Harry, no entanto, perdera a concentração logo no início. Não tinha paciência e tampouco queria entender aquilo tudo.

Gina estava sentada na sua frente, as mãos entrelaçadas e apoiadas sobre a mesa ainda carregavam a aliança dourada que trocaram no dia do casamento, parecia brilhar em sua mão, como uma lembrança dolorosa do que um dia foi puramente felicidade. A ruiva tinha uma expressão cansada no rosto, os olhos acompanhavam as linhas lidas, mas não parecia estar realmente centrada nas palavras e o que significavam. Não era a mesma mulher com que se casara, via traços dela, mas de fato, não era a mesma.

— Você sequer está prestando atenção! — Acusou irritadiça, empurrando os pergaminhos para frente e cruzando os braços sobre o peito inflado. — Acha que gosto disso? Preferia estar fazendo centenas de outras coisas, mas precisamos cooperar um com o outro se quisermos que essas reuniões terminem de uma vez.

Harry passou a mão pelo rosto uma vez e ajeitou os óculos sobre o nariz.

— Você quem resolveu fazer mudanças no contrato. — Disse sério.

— Porque não quero nada de você! — Exaltou-se, elevando a voz mais do que gostaria e devia. Sentiu seu corpo cair no segundo em que entendeu o que fizera, a expressão de Harry era suficiente para fazê-la querer enterrar-se. — Poderiam nos dar alguns minutos?

Os advogados partiram em silêncio, deixando-os a sós.

— Sabia que nosso relacionamento estava afundando, só não imaginei que se sentisse dessa forma em relação à mim. — Levantara-se bruscamente, magoado.

— Não quis dizer isso, não desse jeito! — Respirou fundo, buscava forças para organizar a mente e explicar-se, mas sabia que o magoara profundamente com o que dissera. — Não quero andar por uma casa e me lembrar de você em cada cômodo, ou móvel. Preciso começar do zero.

Harry anuiu.

— Venderemos a casa e o valor será dividido. — Fora sua última decisão, não haveria negociação quanto a isso. — Buscarei o restante das minhas coisas na próxima semana.

Deixou a sala, Gina, e toda a burocracia para trás. Queria apenas sair dali e esquecer-se de que saíra da cama naquela manhã, apagar as palavras dura de sua esposa que o atingiram como um balaço errante.

Fortes e impactantes o suficiente para sacudi-lo.

Não lembrava-se de ter pego o elevador e ido para o Quartel General dos Aurors, só se deu conta de onde estava quando seu corpo afundou no estofado da cadeira de seu escritório. Enterrou o rosto nas mãos e fraquejou pela primeira vez, os ombros caíram como se toneladas os puxasse para baixo e todo o autocontrole começou a esvair-se como fumaça.

Descobrira estar completamente enganado ao pensar que o pior já passara. Quando Gina lhe dissera com muita magoa e raiva que queria o divórcio sentira como se o mundo estivesse partindo em dois e fosse cair no completo abismo. Saíra de casa naquele mesmo dia, não conseguiria continuar ali, não quando sabia que grande parte daquilo era sua culpa. A falta de tato e negligencia com sua esposa, a mulher que amava.

Ou amara.

Não sabia ao certo em que momento parou de sentir a incomoda sensação no estômago quando Gina entrava na sala, ou a incredulidade de tê-la nos braços durante a noite. Ela era sua.

E de repente, não era mais.

Tirou a varinha do bolso e trancou a porta com rispidez, depois usou um feitiço silenciador. Levantou-se com brusquidão e começou a andar em círculos, os pés pisando fortemente contra o chão, provocando ruídos violentos e duros.

E então veio o primeiro. Um sacolejo rápido da varinha e a lixeira explodiu em pedaços, os pergaminhos amassados espalharam-se pelo escritório. Alguns em chamas, não que importasse.

O movimento seguinte fez os livros da estante voarem para o chão, caindo abertos, entortando lombadas e perdendo páginas na queda. Mas nada daquilo o satisfazia. Encaixou a varinha, habilidosamente, no coldre em sua coxa. Seu punho fechado, pronto para bater no que fosse.

Sua mesa tornou-se o alvo seguinte, os pergaminhos, penas, grafites e tinteiros foram arrastados para fora do tampo de madeira violentamente. Os respingos negros do nanquim tingiram o piso e o papel de parede, as formas assemelhavam-se ao teste de Rorschac, tão abstratas quanto seus significados.

Parou apenas quando os nós de seus dedos latejaram, quando não restara mais nada para ser destruído, quando enfim cansara e seus pulmões inflavam com tamanha velocidade que não captavam mais tanto ar quanto deviam. Somente aí foi que parou e sentou-se em meio as páginas e pergaminhos rasgados e sujos.

Com a cabeça enterrada nas mãos, passou horas ali, em meio ao caos de um escritório que se igualava ao caos de sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

Desculpas pelo atraso....



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