Já que ganharia um almoço de boas vinda resolvera ajudar Molly com o preparo da comida, não aceitou negativa alguma. Arthur e os gêmeos chegaram juntos e ao verem-na deixaram tudo de lado para recebê-la com abraços e palavras ternas, além de brincadeiras e risos.

— Você chegou num momento maravilhoso, Mione! — Um dos gêmeos disse enquanto passava o braço por seus ombros. — Já soube da novidade?

— Aposto que a notícia já chegou aos Países Baixos! — Completou o ruivo com certa ironia.

Molly entrou com uma tigela grande nas mãos, e depois de larga-la na mesa ousou dar um peteleco na cabeça de cada filho.

— Respeitem sua irmã, ao menos até que ela esteja um pouco melhor! — O dedo apontado firmemente para os dois fez com que se calassem. — Além do mais, deixemos esse assunto para outro momento. Agora vamos comemorar a volta de Hermione, não é sempre que ela pode vir para Londres e não queremos aborrecê-la com assuntos constrangedores!

Hermione corou, já sabia de tudo e mais um pouco. Ia, inclusive, contar os motivos de seu retorno, mas foi impedida pela ruiva que entrou e correu em sua direção.

— Encontrei Rony, ele disse que estava aqui! — Abraçou-a e sacudiu seus corpos, como se o movimento fosse afastar toda a saudade de seu coração. — Você está incrível, o que tem feito em Amsterdã? Ouvi dizer que lá é maravilhoso, e parece que é verdade!

Sorriu sem graça.

— Acho que vou passar uma temporada com você! — Disse alegremente.

— Seria ótimo, Gina! — Apertou as mãos da amiga que parecia entusiasmada demais com seu retorno. — Como está?

O sorriso da ruiva diminui com a pergunta, até tornar-se uma fina linha. Gina soltou suas mãos e passou os dedos longos pelo cabelo liso, afastando-os do rosto como um meio de pensar numa resposta. Hermione notou que estavam um tanto trêmulos.

— Bem, dentro do possível. — A amargura enchia seu tom de voz.

Os gêmeos olharam-se, desconfortáveis.

— Tenho certeza de que já sabe de tudo, você é Hermione Granger, não imagino que esteja por fora das notícias. — Deu de ombros, os olhos focados nas mãos pousadas em seu colo. — Fico feliz que tenha vindo, particularmente hoje, estou precisando de distração!

— É exatamente por isso que vim, Gina, houve um imenso mal entendido! — Começou a explicar-se assim que todos sentaram-se para o almoço. Ouviam-na atentamente. — Aquela foto que o Profeta Diário publicou hoje, sou eu quem está com Harry.

A mesa ficou em completo silêncio, Molly tornou-se vermelha e Gina relaxou os ombros pela primeira vez naquele dia. Fechou os olhos também e suspirou, todo o pesar que a deixara fora de si não passava de um erro. Um erro de julgamento.

Explicou então, com bastante calma, que chegara há dois dias e na manhã anterior fora tomar café com Harry para que pudessem conversar um pouco. Haviam sido fotografados em um momento bastante inocente que tornara-se uma bola de neve nas mãos erradas, tudo não passara de um exagero da mídia. Gina pareceu bastante aliviada, apesar de seu nome estar na boca de milhares de bruxos, já não sentia-se tão traída assim.

— Está no Caldeirão Furado, querida? — Molly perguntou, servindo-se do doce de morangos.

— Na verdade estou ficando com Harry, no Largo. — Baixou o olhar para não ver a reação dos Weasley, sabia que a informação chegaria à eles mais cedo ou tarde, preferia ser ela mesma à contar-lhes. — Claro, é temporário!

— Obviamente! — Disse Molly, já não tão satisfeita com sua visita. — Conte-nos, Hermione, por que decidiu voltar tão inesperadamente?

Os gêmeos notaram a mudança de humor da mãe, trataram então de interferir rapidamente, antes que o constrangedor silêncio se tornasse ainda pior, e portanto, irreparável.

— Claramente a monstruosa vontade de me ver! — Disse Fred, já de pé ao lado de Hermione.

— Certamente que não, Fred. — George riu e pegou a mão de Hermione, puxando-a para ficar de pé do seu lado. — Hermione, gostaria de ver a loja? Aposto que não a reconhecerá!

Hermione compreendendo a intenção dos rapazes sorriu e aceitou a proposta com pressa.

— Adoraria!

— Nesse caso, os acompanharei. — Gina levantou-se também. — Até mais, mamãe.

Molly limitou-se a sorrir para a filha e acenou para os demais.

***

Depois de um rápido tour pela loja e alguns elogios pelo crescimento e sucesso do negócio com logros, Hermione e Gina fugiram dos gêmeos. Saíram pelo Beco Diagonal para tomar sorvete um pouco mais adiante.

Sentadas do lado de dentro, onde a temperatura estava mais agradável, Gina contou sua versão dos acontecimentos, do quanto seu casamento estava desgastado.

— Não éramos felizes, nos tratávamos com cordialidade por pura consideração. — Explicou, afundando a colher no sorvete de limão, o olhar baixo. — A última vez que Harry me tocou foi quando voltamos de um jantar em que havíamos bebido muito, depois daquela noite sequer nos beijamos.

Hermione ouvia atentamente, admirada por um relacionamento que sempre pareceu tão certo, ter afundado daquela forma.

— Gostaria que as coisas fossem diferentes, mas Harry não significa mais nada para mim. — Deu de ombros, a voz baixa e com certa magoa. — É frustrante ver algo a que me dediquei tanto ir por água a baixo, mas será melhor assim.

— Vocês ainda têm tanto para viver, não merecem ficar presos em um casamento onde não há amor. — Opinou pela primeira vez. — Poderão ser felizes ao lado de outras pessoas, tenho certeza disso!

Gina abriu um fraco sorriso e voltou a remexer no sorvete com desinteresse.

— Como ele está?

— Como você, frustrado e aborrecido com a forma que isso explodiu. — Foi concisa, não queria comprometer Harry e expor seus sentimentos. — Não fala muito sobre o assunto.

Com uma risada sarcástica, Gina acrescentou:

— Esse era o problema. Harry começou a se fechar e quando dei por mim, sequer trocávamos “Bom dia” ou “Boa noite”. — Sacudiu a colherzinha, fazendo com que o sorvete voasse por cima de seu ombro, acertando a parede amarela. — O que mais me magoa nisso tudo é que eu, realmente, pensei que ele fosse lutar por nós!

Hermione tocou o ombro da amiga que riu e limpou uma lágrima.

— Na noite em que ele me perguntou se eu estava apaixonada por outra pessoa pensei que fosse tomar alguma atitude, confirmei, não poderia mentir quanto a isso. — Acrescentou. — E então ele simplesmente passou a dormir no sofá, não fazia mais as refeições em casa e trabalhava até tarde!

— Gina, eu...

— Todos esses anos não significaram nada! — Olhou para cima, buscando forças para segurar as lágrimas que começavam a acumular-se em seus olhos. — Me dói tanto saber que tantos anos não significaram nada para ele, nenhum dos momentos que passamos juntos foi capaz de fazê-lo lutar por mim, Mione!

Nesse instante um soluço escapou e cobriu o rosto com as mãos. Era a primeira vez que falava sobre seu divórcio tão abertamente, tinha certeza que sua família não entenderia o modo como se sentia, mas Hermione pousara em Londres no momento perfeito e poder contar os detalhes, era de longe um grande alivio.

Abraçou a ruiva e deixou que chorasse.

— Não fui suficiente... — Controlou os soluços, até que parassem.

— Não, Gina. — Hermione afastou-a, fazendo que olhasse-a nos olhos. — Você é suficiente, Harry é suficiente, apenas não um para o outro!

A ruiva com os olhos marejados assentiu e voltou a deitar a cabeça no ombro de Hermione. Ambas ignoravam os olhares curiosos que recebiam dos três outros clientes da sorveteria.

Quando despediram-se Hermione resolveu caminhar por Londres, o frio era bastante intenso, mas não a afastaria do passeio. Sua cabeça estava cheia, barulhenta e inquieta o suficiente para começar a latejar, uma distração era do que precisava, e ver sua cidade natal seria perfeito.