— Você só pode estar brincando comigo, Granger!

Ouvia Draco repreendendo-a já fazia alguns bons minutos, desde que entrara em seu consultório com mais uma intimação do Ministério da Magia e sem solução alguma. Ainda não tomara uma decisão, mas uma segunda carta chegou e o tom mais severo deixaram-na em alerta. O problema é que estava dividida e seu peito apertava cada vez que tentava pensar sobre tomar uma decisão.

— Potter sabe dessas cartas? — Sacudiu o envelope, os lábios comprimidos numa linha fina.

— Não, ainda não.

— Então trate de chama-lo para uma conversa, ele merece saber se você pretende abandoná-lo! — Soltou a carta bruscamente sobre a mesa, bastante irritado.

— Por que tenho a impressão de que você está bravo comigo? — Levantou a cabeça para olhá-lo.

O Sonserino parou de andar pela sala assim que a pergunta deixou os lábios de Hermione.

— Porque você não está sendo justa consigo mesma.

— Não fale como se eu já tivesse tomado uma decisão, sabe muito bem que estou longe disso! — Levantou-se, os ombros encaixados e a cabeça erguida lhe davam alguns centímetros a mais do que tinha.

— Você não percebe, mas já tomou sua decisão. — Tinha as mãos apoiadas na cintura, seu rosto mostrava frustação e incredulidade. — E está tão cega, está com tanto medo de dizer a verdade que sequer percebe o que está perdendo.

— Não admito que fale como se soubesse o que se passa na minha cabeça, Malfoy! — Elevou sua voz alguns bons decibéis.

— Mas eu sei, Hermione. Ou se esquece que sou a única pessoa em todo o mundo que você conta cada detalhe da sua vida, cada mínimo problema que atormenta essa sua cabeça oca!

— Você é um cretino!

— Sou mesmo, mas também sou o único que se importa com você. — Gritou irritado.

No segundo seguinte a porta se abriu e Harry passou por ela, parte de seu corpo ficou para fora enquanto escrutinava o rosto avermelhado e as posturas rígidas dos dois.

— Aconteceu algo?

Notou o olhar frio que Draco lançou para Hermione, que se manteve firme e inabalável exatamente onde estava.

— Nenhum, Potter. — Passou a mão pelo rosto e respirou profundamente, buscando certo equilíbrio. — Por que está aqui? Precisa de algo?

— Um auror foi ferido em missão, não sabemos a azaração exata, mas nenhum feitiço foi capaz de curá-lo até agora. — Explicou sua presença, o olhar viajando de Draco para as costas de Hermione. — Acredito que vocês dois possam resolver essa questão!

Viu Draco ponderar por alguns segundos e enfim assentir.

— Vou buscar algumas poções, te encontro no quarto. — Disse a Hermione.

Draco saiu da sala em direção ao estoque do Hospital e Hermione foi logo atrás, mas Harry a interceptou, segurando-a pelo braço.

— Você está bem?

Não o olhou nos olhos, apenas assentiu e puxou o braço delicadamente.

Seguiu para o quarto do auror, com Harry em seu encalço, completamente focada naquilo que tinha de fazer e assim que encontrou o paciente começou os primeiros procedimentos. Poucos minutos depois Draco entrou no quarto e com alguns rápidos exames passaram a discutir sobre o ferimento e as anotações previamente realizadas no prontuário do bruxo.

— Ele passou por alguns medibruxos, nenhum feitiço surtiu o efeito desejado. — Hermione disse, segurava a prancheta e mostrou à Draco a extensa lista das falhas tentativas de curá-lo.

Enquanto os procedimentos médicos aconteciam Harry analisava cada movimento realizado tanto por Draco quanto por Hermione enquanto mantinha-se escorado na parede ao lado da porta. O modo como os encontrou minutos antes deixava claro que havia algo errado, as vozes elevadas e a troca de olhares ferinos não deixavam dúvidas. Já havia visto muito daquilo durante os anos de trabalho. Hermione trabalhava focada no paciente, as sobrancelhas e testa franzidas indicavam irritação; os ombros firmemente encaixados e a coluna ereta mostravam a necessidade de aparentar ser maior e mais ameaçadora, sugerindo o papel de uma presa encurralada. No entanto, os lábios puxados para o lado finalizavam a ideia de que mesmo ameaçada, estava pronta para se defender.

Draco mostrava-se ser o oposto. Sua raiva era quase palpável, e as feições retorcidas em desgosto apenas endossavam que, naquele momento, era ele a ameaça que incomodava Hermione e a deixara na defensiva. Movimentava-se de forma brusca, sua musculatura contraída. Observava-a com impaciência, mas esta não parecia ser motivada pelo trabalho que fazia.

— É magia das artes das trevas, com certeza. — Definiu e olhou-a. — Sabe o que fazer?

Antes de terminar o questionamento Hermione já mexia nas poções que trouxera e organizava tudo o que precisaria para dar seguimento ao procedimento.

— Seu auror ficará bem. As poções darão conta do ferimento em poucos minutos. — Draco disse à Harry. — Assim que a Dra. Granger finalizar o procedimento ele poderá ir para casa.

Harry desviou o olhar para vê-la trabalhar com algodões e o líquido espesso de cor rosada.

— Dra. Granger, você foi realocada para a emergência hoje. Assim que finalizar aqui, desça!

Saiu da sala sem dizer mais nenhuma palavra. O ambiente tinha um clima pesado e desagradável, assim como os movimentos rígidos de Hermione que pareciam excessivamente mecânicos. Finalizou com um esparadrapo e afastou-se alguns passos.

— Sugiro que repouse alguns minutos antes de sair, essa poção que utilizei pode causar tontura. — Explicou para o auror deitado sobre a maca. — Tente evitar esforço pelos próximos dias e no próximo final de semana estará novo e pronto para retornar às missões.

O bruxo sorriu agradecido e antes que Harry tivesse a chance de dizer qualquer coisa, Hermione saiu apressada.