A conversa com Harry não havia saído exatamente como planejava, na verdade, fora muito pior do que imaginou ser possível. Quando saiu do quarto tudo o que fez foi bater a porta com força e determinação suficiente para não olhar para trás. Trancou-se no quarto e permitiu-se desabar sobre o tapete felpudo por algum tempo, precisava colocar os pensamentos em ordem.

Levou bastante tempo para que conseguisse acalmar seu coração, mas não fora o suficiente para organizar sua cabeça. Não tinha como argumentar, Harry tinha razão sobre tudo, fato esse que a deixava ainda mais furiosa consigo mesma.

Bufou novamente, e decidiu que não pensaria mais no assunto pelo restante do dia.

— Aí está você! — Draco entrou no consultório com um sorriso genuinamente perigoso. — Foi aqui que se escondeu o dia todo?

Sentada no chão, de baixo da janela enfeitiçada, olhou-o sem interesse algum.

— Claramente não é um bom esconderijo, você me achou. — Continuou preenchendo o formulário da paciente.

— Então, pensei que gostaria de ver o que encontrei. — Colocou sobre o formulário uma revista de fofoca. A capa possuía letras grandes e vermelhas, prometendo o “maior” furo da década. — Abra na página 12.

Hermione soltou a pena de faisão e começou a folhear a revista com desinteresse, até que encontrou a página. A matéria era longa e apelativa, mas o que capturou sua atenção instantaneamente fora a imagem que ocupava uma página inteira. Mesmo em tons de preto, branco e cinza conseguia reconhecer o corredor do pub, e claro, o corpo de Harry pressionando o seu contra a parede de madeira. A foto movia-se repetidamente em detalhes explícitos, o beijo sendo aprofundado, os corpos colados, suas mãos buscando o cabelo escuro. Não era possível enxergar seu rosto, Harry e o chapéu em sua cabeça fizeram um bom trabalho em escondê-lo, apenas parte de seu cabelo, queixo e mãos ficaram expostos ao fotógrafo.

— Merda!

Voltou o olhar para a reportagem e após alguns segundos suspirou aliviada, seu nome não estava misturado às inúmeras baboseiras escritas ali. Com seu coração palpitando mais lentamente, voltou e releu a página, dessa vez com calma.

— Recente divórcio... Bruxa não identificada... Torcedora do Chudley Cannons... Acreditamos que a noite terminou no quarto do Eleito! — Soltou um grasnado e fechou a revista.

Levantou-se e começou a caminhar pelo quarto, frustrada.

Naquele dia não atendera nenhuma emergência, apenas seus pacientes internados e quando liberou-se dos afazeres, escondeu-se num quarto vazio. Precisava fugir de si mesma, e pareceu uma boa ideia trancar-se no fim de uma ala quase inabitada para terminar seus relatórios e prontuários com tranquilidade.

Mas o problema a encontrara.

— Você me reconheceu?

Draco a olhou, parecia transtornada.

— Não. — Respondeu com sinceridade. — Mas sei que é você naquela foto.

— Como tem tanta certeza? — Escorou-se na maca, os braços cruzados quase como uma defesa.

— Tirando a sua reação, o fato de que Potter deixa bastante claro que gosta de você. Ele não faria aquilo com outra mulher, Hermione! — Explicou. — O que eu não entendo, é você.

— Eu?

— Você também gosta dele, Mérlin sabe o porquê, mas vive fugindo! Por que faz isso? — Levantou-se, ficando cara a cara com Hermione, sabia que teria que pressioná-la um pouco para conseguir qualquer resultado daquela conversa. — Não sabe? Bem, eu acho que você está sendo covarde, Granger!

Apertou a varinha entre os dedos, e quando estava prestes a responde-lo, o alto falante pedia que se apresentasse na emergência. Respirou fundo, empertigou a coluna, afastou-se de Draco e recolheu seus materiais.

— Da próxima vez você não vai se livrar tão facilmente assim. — Avisou-o com seu olhar mais severo e saiu do quarto.

Draco sorriu. Sabia que chama-la de covarde era tudo o que precisava para forçar uma reação, aprendera essa tática ainda na Holanda, e usava somente quando sentia ser muito necessário. O orgulho Grifinório ferido a fazia reagir, esperava que dessa vez as coisas dessem certo.

***

— Preciso que você organize esse relatório, a descrição está fora de ordem! — Riscou uma última frase antes de entregar a pasta ministerial para Rony, a demora do amigo lhe fez chama-lo novamente. — O que está lendo?

— Ah, isso estava na sua mesa pela manhã. — Explicou-se e pegou a pasta. — Então você foi acompanhado para casa ontem?

Harry tossiu duas vezes, e sentiu um desconforto perpassar por sua espinha.

— Como sabe?

— Está na revista, tem uma foto sua com a garota. — Entregou para Harry, já aberta na página exata da matéria. — Não lembro de nenhuma garota usando um chapéu desses, se bem que não lembro de muita coisa depois do jogo, muito menos de você saindo.

Analisou a imagem com bastante atenção, para só depois pousar os olhos no amigo.

— Nós aparatamos! — Disse, ainda analisando o comportamento de Rony. Ele claramente não reconhecera Hermione pela foto.

— E como ela é? — Parecia curioso.

— O quê?

— A garota, como ela é? — Ajeitou-se na cadeira.

Aquela era exatamente a situação que gostaria de evitar, temia que as coisas ficassem estranhas com Rony, porque apesar de tudo, ele ainda era irmão de sua ex-mulher, não podia simplesmente contar quem era a garota ou comentar sobre o que fizeram.

Estava tão ferrado.

— Ela é linda, e é tudo o que irei dizer. — Voltou a segurar a pena e mexer nas outras pastas espalhadas em sua mesa.

A verdade era que queria contar como as lembranças da noite anterior lhe faziam querer sair do escritório e busca-la no hospital para repetir tudo várias e várias vezes. Gostaria de um conselho sobre como abordá-la agora que Hermione se esquivaria de suas investidas, precisava conversar sobre o assunto. Mas Rony não era uma opção.

E com isso percebeu que sequer tinha alguma opção.

A única pessoa com quem compartilhou seus problemas nos últimos meses havia sido Hermione, mas dessa vez não poderia simplesmente pedir que ouvisse seus dilemas, não quando era ela a causa de suas dúvidas.

— Pela sua cara, tenho certeza de que vou conhece-la em algum momento!

— Não enche, Rony! — Revirou os olhos para aquele comentário.

— É bom vê-lo assim, Harry.

Sabia ao que Rony se referia, e sentia-se igualmente feliz por estar daquela forma. Depois do divórcio achou impossível voltar a ser o que era, mas a vida dava voltas que não conseguia compreender e agora, depois de tanto tempo, sentia-se ele mesmo.

— Obrigado!