The Divorce escrita por Amanda


Capítulo 25
Capítulo vinte e quatro




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Assim como Harry, não falara mais sobre o beijo daquela noite. Haviam entrado novamente em uma espécie de acordo silencioso de que não precisavam falar sobre o ocorrido, de que não era necessário entender o que existia além dos beijos e toques roubados.

Havia se conformado com aquela situação, não fugia mais da presença do amigo, afinal de contas, dividiam a casa e praticamente uma vida. Saiam e chegavam quase no mesmo horário, revezavam-se na cozinha ou escolhiam algum restaurante e passavam horas conversando na sala. A lareira já não era acesa mais com tanta frequência, uma vez que a primavera começava a mostrar sinal de vida.

Os beijos haviam continuado, gostava de pensar que não eram propositais, apenas aconteciam em momentos aleatórios em que não conseguiam desviar os olhos um do outro. Lembrava-se de cada um, e vez ou outra pegava-se revivendo aquelas lembranças.  Por isso, começara a mentir para si mesma — não que se orgulhasse. Cada mentira maior que a outra, mais descabida e sem fundamento, mas imaginava que se repetisse em sua cabeça uma hora se tornaria real.

Não sinto absolutamente nada por Harry.

Não sinto nada por Harry.

Não sinto nada.

Não sinto nada.

Não sinto...

Nada!

Era o que vinha repetindo constantemente sempre que Harry passava por sua cabeça, fosse a imagem de seu rosto, a barba por fazer, o cabelo bagunçando ou como ele lhe tocava. Aquele mantra rapidamente entrava em cena e fazia de tudo para mudar o rumo de seus pensamentos. Parecia funcionar, ao menos, era o que queria acreditar.

 “Uma hora vocês terão que sentar e conversar, ou essa tensão sexual entre vocês vai explodi-los”. As palavras de Draco giravam em sua cabeça já havia alguns dias, ouviu-as numa noite em que os três saíram juntos. Naquele dia, particularmente, Harry flertou abertamente como se para manter claro como andava seu relacionamento. Apesar não haver nenhum.

Sabia que Draco tinha razão, não que fosse admitir em voz alta, mas ele estava certo. Fingir que não estava acontecendo nada, que não sentia nada, já não adiantava. Estava distraída e confusa, mas tinha plena e total certeza de que no momento em que Harry chegasse em casa e lhe cumprimentasse com um sorriso, tudo isso desapareceria. Restando apenas aquele comichão na pele que ansiava por um toque e, com sorte, um tímido beijo.

Queimaduras por pus de bubotúbera e broncoconstrição por inalação de...

Soltou a pena sobre a mesa e deixou a frase que escrevia no prontuário de atendimento inacabada. O bilhete em chamas aparecera no tampo de sua mesa há alguns minutos, sabia quem era o remetente, havia ensinado a ele aquele feitiço e por isso obrigou-se a seguir com seu trabalho. Leria o pequeno pedaço de pergaminho quando tudo estivesse em ordem, mas é claro que a curiosidade que palpitava em seu peito não permitiria.

“Final de Quadribol, hoje! -H”

Levantou-se, empurrando a cadeira bruscamente para trás, fazendo que com rangesse contra o piso.

— Droga! — Tocou a testa numa tentativa de entender como esquecera.

Olhou o horário no relógio da parede e percebeu que ainda tinha tempo. Talvez fosse o suficiente para terminar os prontuários que deixara acumular e ainda encontrar um pouco de animação para encarar o jogo de quadribol.

Queria assistir ao jogo, torcer e gritar até seus pulmões reclamarem, mas estava bastante cansada — tinha de admitir. Já fazia dias que tinha dificuldade em dormir, assim que deitava sua cabeça no travesseiro voltava aos momentos em que beijava Harry e ficava revivendo as palavras sussurradas por horas a fio. Uma noite completa de sono já não existia mais em seu vocabulário, mas apesar da sonolência constante, não reclamava. Era somente nessa situação que não se culpava por pensar demais nos dois.

Mas deveria!

Conforme os ponteiros avançavam sentia-se mais ansiosa e agitada do que de costume, não entendia o porquê. Não era um encontro, Rony estaria com eles o tempo todo e não tinha com o que se preocupar. Mas havia uma inquietação em seu âmago, podia senti-la, quase palpável.

Despiu-se do jaleco branco perto das sete da noite, tinha tempo de sobra, e com calma saiu do hospital e desaparatou no Largo. Pelo silêncio e escuridão da casa sabia que estava sozinha e respirou fundo, não sabia se de alívio ou decepção.

Não tinha fome, por isso reservou o tempo sozinha a perambular pelos corredores longos somente pelo prazer de caminhar. Nunca realmente passara para observar o local, ao menos não depois da guerra. Havia uma elegância nos papéis de parede em combinação com as molduras vazias da família Black, uma beleza clássica e nobre. Apenas as cabeças dos elfos destoavam um pouco da decoração, já haviam sido removidas há muito, mas ainda lembrava-se das criaturas penduradas como belos adornos nas paredes. 

Riu consigo. Talvez nunca realmente fosse entender alguns dos costumes bruxos, mesmo que fizesse parte de sua vida, havia aquela linha de excentricidade que não compreendia. Se perguntou se Harry concordava com seu pensamento.

— Hermione?

A voz veio de andar de baixo, sabia ser de Harry, poderia reconhece-lo em meio a uma multidão. Girou nos calcanhares e então refez o caminho de volta para a sala.

— Estou aqui! — Parou no meio das escadas, onde podia enxerga-lo. — Vou me trocar e já podemos ir, tudo bem?

— Claro! Rony vai nos esperar nos nossos lugares. — Avisou.

***

— Como você a convenceu? — Rony perguntou a Harry, ainda sem tirar os olhos de Hermione, bastante surpreso com a curiosa imagem na sua frente.

— Acredite, estou tão surpreso quanto você.

Hermione vestira-se novamente como uma fã fanática dos Cannons. A calça jeans e os tênis eram as únicas peças que não possuíam qualquer tipo de referência ao time, diferente da camiseta laranja, do cachecol com letras garrafais pretas sobre o tom alaranjado, as listras pintadas em seu rosto e a bandana amarrando o cabelo.

Sua composição vibrava Quadribol!

— Do que estão reclamando? Estamos em um jogo! — Passou pelos dois com um sorriso brincalhão nos lábios. — Além do mais, onde eu usaria todas essas roupas?

Aproximou-se do gradil e passou os olhos por todo o estádio. Havia milhares de bruxos ali, gritando e entoando os hinos de seus times, competindo para ver quem cantava mais alto. Os ingressos lhes permitia uma visão privilegiada do campo, bastante centralizado e na altura dos arcos de gol. Em poucos minutos os times entraram em campo, sob gritos das torcidas e posicionaram-se para dar início a partida.

***

Exatos vinte e sete minutos após o início da partida a torcida dos Cannons pode gritar e comemorar. No segundo em seu o apanhador fechou a mão ao redor do pomo Rony abraçou e Hermione e tirou-a do chão enquanto gritava e ria.

— Ganhamos, Mione! — Soltou-a e continuou a gritar, juntando-se aos torcedores — quase pendurados — no gradil enquanto entoavam o hino do time.

Sequer havia se recuperado do abraço de Rony quando foi surpreendida pelos braços de Harry.

— Vencemos! — Ambos riam, animados.

— É você e todo essa cor laranja! — Harry disse, sem afastá-la. — Desde que começou a assistir aos jogos não perdemos mais.

Hermione riu alto, mas o som foi abafado pela torcida ensandecida.

— Foram dois jogos!

— Não importa, você não perderá mais nenhum!

— Desde que você me leve para beber algo depois, estou dentro! — Gritou em resposta, e teve de aproximar para ser ouvida.

Harry aproveitou a proximidade para deslizar sua mão pela cintura de Hermione, mas antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, Rony chegou e se infiltrou entre os dois, abraçando-os animadamente pelos ombros.

— Vamos comemorar!

***

— Acha que devemos leva-lo para casa?

Hermione olhava Rony, abraçado em outros quatro torcedores cantando pela quinta vez o hino dos Cannons. Harry sentado ao seu lado parou com o caneco no meio do caminho e olhou o amigo.

— Ele está bem.

— Harry, ele está dançando com uma garrafa de cerveja, não acho que possamos considerar isso “bem”. — Levantou-se, pronta para tirar o amigo do meio daqueles torcedores, mas Harry puxou-a de volta pela mão.

— Os Cannons acabaram de ganhar o título de melhor time Europeu, deixe ele comemorar! — Puxou-a delicadamente até que se sentasse novamente. — E o agradeça.

— Pelo o quê?

— Por tirar a atenção de você!

Harry estava certo. Pouco depois que chegaram no bar alguns torcedores começaram a convidá-la para participar dos jogos envolvendo bebidas e canções em homenagem ao time, tudo por causa de sua vestimenta exageradamente laranja. Rony se sacrificou, e juntou-se aos torcedores. Não que fosse algum tipo de tortura para ele, mas ainda assim, teria que agradecê-lo pela gentileza.

Ou talvez não.

Passara tanto tempo naquela mesa que já não conseguia ignorar os olhares de Harry. Sentia-se nervosa, principalmente quando suas pernas se esbarravam por de baixo da mesa, ou suas mãos se encontravam no tampo de madeira.

Não sinto nada por Harry!

Não sinto!

Sentiu sua mão ser pega pela dele, envolta nos dedos ásperos, até que estivessem entrelaçados. Harry olhava com concentração para o toque, parecia perdido, como se não tivesse se dado conta do que fazia. Era algo natural, sabia disso, mas não a impediu de levantar-se abruptamente e derrubar a cadeira.

— Está tudo bem? — Harry também levantou-se.

— Sim, eu vou... Eu vou ao banheiro. — Assentiu e afastou-se sem lhe dirigir o olhar.

Trancou-se no banheiro e parou de frente para o espelho. Sentia sua pele quente, e sabia que a causa tinha nome e sobrenome, não podia mais negar. Harry a fazia sentir-se livre, protegida, corajosa e capaz de conquistar o mundo, alguém que gostava de ser. Mas, ao mesmo tempo, sabia que por trás disso tudo haviam pessoas que se magoariam e era motivo suficiente para não deixar acontecer mais nada. 

Lavou o rosto, livrando-se do calor e das listras laranjas e pretas pintadas em seu rosto.

Quando abriu a porta do banheiro estava decidida a dar fim àquilo, encaixou os ombros, ajeitou a coluna e começou a dar passos firmes em direção ao salão. Um torcedor cambaleante vinha em sua direção a barrou-a.

— Está faltando isso! — Ele então tirou da própria cabeça um chapéu laranja com bolas de cachão saindo do topo. — Vai, Cannons!

O bruxo seguiu seu caminho, escorando-se nas paredes enquanto cambaleava.

— Hermione?

Saltou de susto e virou-se para encarar Harry.

— Harry, eu...

Empertigou as costas novamente, mas foi tudo o que teve tempo para fazer. No segundo seguinte Harry avançou em sua direção, tomou seu rosto entre as mãos e juntou seus lábios bruscamente. Com o susto, cambaleou alguns passos pra trás e sentiu perfeitamente quanto suas costas tocaram a parede de maneira e o corpo de Harry moldou-se ao seu.

Podia até ser errado, mas naquele momento pouco se importava com o acontecia ao seu redor. Quando tornou-se necessário que se afastassem, Harry trilhou um longo caminho de beijos em seu pescoço, tempo suficiente para recuperar o fôlego e retornar a seus lábios mais uma vez.

No salão um copo se quebrou e fez com que afastassem-se minimamente um do outro, com os corpos ainda unidos e rostos próximos demais, encararam-se de forma intensa.

— Vamos sair daqui? — A voz de Harry saiu rouca, e um arrepio perpassou por seu corpo, eletrizante.

Sacudiu a cabeça em concordância, e no segundo seguinte era puxada para dentro de uma aparatação.


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Notas finais do capítulo

Capítulo um pouco mais longo... Espero que gostem! ;)