The Divorce escrita por Amanda


Capítulo 24
Capítulo vinte e três




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Nenhum dos dois voltara no assunto, e frequentemente ignoravam a tensão que se formava quando ficavam em silêncio por muito tempo, como se a memória do beijo trocado voltasse constantemente para assombrá-los. Harry sentia que deviam falar sobre, tentar chegar a uma explicação juntos, mas sabia que Hermione queria enterrar aquela história e fingir que nada acontecera.

Estava indo aos poucos, não queria que ela tornasse a fugir. Não agora que voltara a sua rotina normal, aquela em que chegavam quase sempre no mesmo horário, jantavam juntos e depois sentavam-se em frente a lareira para conversar sobre o dia. Mas de certo modo o acordo silencioso o incomodava muito mais do que poderia admitir. No início realmente achava que seria a melhor decisão, que Hermione devia estar certa quanto a ser errado — porque ela sempre estava certa, sobre tudo! —, mas tão rápido o pensamento chegou, foi embora. Não era o que queria.

Hermione era a resposta dos seus problemas, e também a causa de seu coração acelerado e do formigamento em seu baixo ventre. Era também a responsável por uma tarde inteira de procrastinação, em que passara lembrando-se da última semana.

Como no dia em que buscou-a no hospital e fez questão de fazer o percurso até o Largo caminhando, pois lhes daria tempo para conversar um pouco mais. Apenas não contava com o vento que passou a soprar com mais força depois de um dia inteiro de temperatura amena. Depois de algumas quadras Hermione tremia, e não pensou duas vezes antes e pará-la e cobri-la com seu casaco. O sorriso que recebeu em resposta o perseguia até na hora de dormir — há dias.

Na noite anterior haviam feito o jantar, e o modo que trabalhavam juntos ainda o impressionava. Enquanto picava tomates Hermione mexia o molho apimentado, havia sincronia em seus movimentos, quase como se antecipassem a ação um do outro. Mas não fora o jantar que o distraia, mas a imagem de Hermione com as bochechas afogueadas pelo calor das panelas e do vinho que bebericava vez ou outra. Além é claro de seu olhar concentrado, o brilho de satisfação, que reconhecia como o mesmo de quando trabalhava em alguma poção, ou quando tentava um feitiço pela primeira vez. Pura concentração e atenção nos detalhes. Era difícil desviar os olhos, parecia errado fazê-lo.

E era por causa daquela imagem que passara a tarde ignorando a pilha de relatórios na ponta de sua mesa. Tinha de fazer alguma coisa em relação ao modo que estava se sentindo, não podia mais ignorar sua frustração toda vez que quisesse abraça-la.

— Harry?

Levantou a cabeça, um tanto perdido quanto a situação que se desenrolava ao seu redor. Sorte sua que era apenas Rony entrando em sua sala.

— Vai ficar até mais tarde?

Seu olhar buscou o relógio preso na parede e piscou duas vezes até que conseguisse ler os números. Já era tarde.

— Não, já estou de saída! — Levantou-se e pescou a varinha sobre os pergaminhos e a capa no encosto da cadeira.

Entrou no elevador ao lado de Rony, e suspirou quando o ruivo virou-se para olhá-lo.

— Está tudo bem? Você parecia distraído hoje.

— Está tudo ótimo, o dia só foi um pouco longo.

Era mentira e sabia que Rony percebera, mas agradeceu à Mérlin por não ter de responder mais nenhuma pergunta. Seguiram juntos pelo Átrio e despediram-se quando entrou numa das cabines telefônicas disponíveis, enquanto Rony seguiu até as lareiras.

Pisou na Londres fria e escura pouco tempo depois, encolhido sob a capa pensou por um momento e tomou o caminho do Hospital como se a escolha fosse bastante óbvia. A vitrine de manequins mal vestidos ficava a poucas quadras de onde saíra do Ministério, de modo que num piscar de olhos já caminhava pelos corredores do hospital.

Draco saiu da porta dupla que dava acesso aos consultórios e escorou-se no balcão da recepção, ainda aproximava-se, mas escutou parte do que dizia.

— Preciso que cancele meus próximos atendimentos. — Entregou duas pastas para a recepcionista. — Veja se alguém pode pegá-los...

— Malfoy. — Cumprimentou-o sem muitos rodeios. — Viu Hermione?

Draco olhou-o e soltou um longo suspiro.

— Venha comigo, Potter. — Indicou o corredor dos consultórios.

Seguiu, esperando receber alguma informação sobre o motivo de seu comportamento, mas teve de insistir.

— O que está acontecendo?

Draco parou a alguns passos de seu consultório e olhou-o, sua postura rígida não parecia um bom sinal.

— Uma paciente não resistiu aos procedimentos, Hermione estava fazendo os últimos exames quando aconteceu. — Enterrou as mãos nos bolsos do jaleco. — Você a conhece, está tentando ser forte e ignorar o problema, mas seria bom se você pudesse leva-la para casa.

— Certo, eu...

— Potter, essa é uma situação comum quando se é médibruxo, mas a primeira vez que acontece é marcante. — Contou, e por um momento não se parecia mais com Draco Malfoy confiante e arrogante de sempre. Era apenas um médibruxo que já passara pela mesma situação. — Só esteja lá por ela.

— Sempre!

Entrou no consultório e encontrou-a sentada na poltrona de frente para a mesa, tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos escondiam o rosto. Seus ombros caídos expressavam o peso do dia.

— Hermione?

Afastou as mãos do rosto e olhou-o rapidamente.

— Draco te chamou? — Levantou-se e cruzou os braços sobre o peito, defendendo-se.

— Na verdade não, só achei que poderíamos jantar em algum lugar! — Explicou-se um tanto sem jeito.

— Claro. — Baixou o rosto, envergonhada por estar na defensiva. — Se importa se formos para casa? O dia foi... complicado.

Em resposta apenas ofereceu sua mão para Hermione, que aceitou de bom grado, entrelaçando seus dedos e deixando-se ser guiada para casa. Não estava em condições de negar qualquer coisa, e muito menos evitar o contato gentil que ele lhe proporcionava.

Chegando ao Largo ofereceu-se para cozinhar e deixou que Hermione subisse para se trocar, não tinha certeza se havia algo que pudesse fazer para animá-la. Quando o jantar enfim ficou pronto, três quartos de hora depois, encontrou-a sentada no sofá de frente para a lareira. Devia ter acendido o fogo há pouco, suas mãos tremulas ainda seguravam a varinha. Foi o soluço baixo e sôfrego que a denunciou.

Aproximou-se com calma e sentou-se ao seu lado, puxando-a para um abraço. Lenta e gradativamente sentiu quando Hermione, um tanto relutante, relaxou em seus braços e permitiu-se ser abraçada. Os soluços se intensificaram por alguns minutos, mas passaram, assim como os tremores. Seus corpos, no entanto, continuaram juntos por mais um longo período.

Quando Hermione afastou-se notou que limpava o rosto molhado pelas lágrimas.

— Quer conversar sobre o que aconteceu? — Pousou sua mão sobre o joelho da amiga, e recebeu em resposta um aceno.

Aos poucos e suprimindo um soluço Hermione lhe contou sobre a bruxa idosa que não resistiu aos procedimentos pós-cirúrgicos. Já estava no quarto, e reagia bem ao tratamento, estava até mesmo conversando enquanto a examinava quando, de repente, apertou-lhe o pulso e arregalou os olhos. Depois disso seu coração bateu duas vezes e parou.

— Tentei reanima-la por quase dez minutos, os auxiliares me ajudaram, mas não consegui. — Uma nova lágrima escorreu por sua bochecha. — Nem sei quando Draco entrou no quarto e não tenho muita certeza de tudo o que fiz depois.

— Não foi sua culpa, tenho certeza que fez tudo o que estava a seu alcance. — Apertou-lhe o joelho gentilmente, um sorriso incentivador chegou brevemente em seus lábios.

— Sei que não. — Sacudiu a cabeça e olhou-o. — Mas não deixa de ser triste.

— Tem razão.

Permanecerem em silêncio por mais alguns momentos e então, levantou-se, puxando-a consigo.

— Você precisa descansar, Mione. — Segurando suas mãos, começou a guia-la pelas escadas. — Vá dormir, amanhã estará bem melhor.

— Harry, você fez o jantar!

— Duvido que você esteja com fome. — Hermione concordou com sua linha de raciocínio. — Além do mais, tenho a impressão de que não ficou tão bom...

De sua fala, conquistou um breve sorriso.

— Descanse, está bem? — Segurou seu rosto ainda marcado pelas lágrimas e aproximou-se, deixando um beijo em sua testa.

Surpreendeu-se quando, no instante seguinte, Hermione o abraçou apertado.

— Obrigada, Harry!

Quando afastou-se, no entanto, parou com seus rostos a poucos centímetro um do outro. Seus olhares se encontraram e tudo o que acontecia ao redor pareceu congelar, inclusive suas respirações. Hermione desviou o olhar para os lábios de Harry, aproximou-se um pouco mais e fechou os olhos. Esperando o contato. Quando o pensamento de desistir passou por sua cabeça sentiu os lábios do amigo juntar-se aos seus, leves e rápidos.

— Boa noite, Hermione. — Disse baixinho, seus lábios roçaram novamente quando falou.

Viu quando ela assentiu e soltou-o, subindo as escadas em seguida.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que demorei, mas cá estamos com meu pedido de desculpas!
Aproveitem o capítulo! ;)



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