The Divorce escrita por Amanda


Capítulo 12
Capítulo onze




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Hermione passou o dia organizando a casa. Gostava do suave aroma de limpeza, além é claro, de ter sido a única tarefa que lhe restara para a tarde chuvosa. Draco estava ocupado salvando vidas, como ele mesmo dissera logo após o almoço. E seus livros haviam sido todos devorados nos dias anteriores, não lhe restando nada, a não ser organizar o Largo Grimmauld.

O lugar lhe trazia lembranças, algumas boas e outras nem tanto, mas gostava da sensação de estar ali. Era nostálgico arrastar as meias pelos tapetes puídos e antigos da família Black, quase um desrespeito ao nobre legado de sangues-puros nascidos e criados ali.

A noite entrou lenta e estrelada, passara da hora do jantar e Harry ainda não chegara.

Sozinha em casa, vestiu o pijama e acendeu a lareira. Atirou-se no sofá e pegou um exemplar velho de páginas amareladas, mas a sonolência foi muito lentamente dominando-a e então adormeceu.

Despertou o que pareceram horas depois, o som de algo se quebrando a fez saltar e por pouco não cair do sofá. Sentou-se confusa e com os batimentos erráticos pulsando em seu peito. E então o som de mais alguma coisa se partindo no andar de cima.

Saltou sobre os calcanhares e pegou a varinha esquecida sobre o tapete.

O som vinha do quarto de Harry e ao entrar arquejou surpresa com a bagunça. A cômoda estava virada, o espelho quebrado e alguns livros caídos e espalhados no chão.

— Harry...

— Hermione não é um bom momento. — Sequer a olhou, a mão apoiada na parede sustentava o corpo, o rosto voltado para o chão.

— Fale comigo. — O silencio foi tudo o que teve. — Por favor, Harry.

Harry passou a mão no rosto e bagunçou o cabelo nervosamente, como se tentasse controlar a respiração. Sentou-se na ponta da cama e suspirou cansado.

— Assinei meu divórcio. — Abriu os braços e tornou a baixa-los. — E eu estou estressado!

Sua voz oscilava.

Percebendo que Hermione não sairia, seguiu.

— Estou irritado porque Gina sequer falou comigo, estou indignado com o juiz que queria terminar com tudo logo para voltar para seu escritório. — Sua voz passou a elevar-se, seu rosto enrubescia a cada palavra. — E acima de tudo, estou frustrado com o rumo que minha vida tomou.

Hermione ouvia, pacientemente.

Observava-o preocupada. Seu amigo não era a pessoa mais aberta que conhecia e vê-lo daquela forma a deixava surpresa de tal forma que sequer sabia como proceder.  Harry estava no limite. Estava esgotado emocionalmente e naquele segundo, despejava tudo de uma só vez como se fosse a única alternativa para manter-se vivo.

— Desde que iniciamos essa porcaria de divórcio estou perdido, me sinto perdido. Não sei mais quem sou, Hermione! — Riu nervosamente.

“Eu assinei meu nome em um pergaminho e todos os meus problemas chagaram milagrosamente ao fim. Ou ao menos, eram para ter terminando. Só que eu não sei, não acho que estou livre dessa situação. Sinto como se estivesse caindo no abismo, sem saber quando chegarei ao fim ou o que encontrarei.”

“Agora que tudo terminou não sei o que fazer. Não creio que haja algo a se fazer... Devo estar ficando louco, mas a questão é que não consigo pensar no futuro. Concentrei toda as minhas forças em resolver isso, por tanto tempo e, agora que terminou, estou sem um rumo. Não sei mais quem sou.”

Hermione aproximou-se e tocou gentilmente o rosto do amigo e olhando-o nos olhos disse suavemente:

— Você é Harry James Potter. — Sorriu minimamente. — Você é o escolhido. Derrotou Voldemort com dezessete anos. Salvou o mundo bruxo.

Harry a olhava com firmeza.

— Você é um auror desde os dezoito. — Revirou os olhos para aquela antiga piada que compartilhavam. — Harry Potter se casou. Tentou me impedir de viajar para a Holanda. Ascendeu eu sua carreira. Se separou. E é meu melhor amigo desde os onze..

Sorriu novamente, encorajando-o.

— A casamento não muda quem você é. — Sua voz era suave. — O divórcio muito menos!

Inesperadamente, Harry passou os braços pela cintura de Hermione e puxou-a para mais perto, colocando-a entre suas pernas. Ainda sentado na beirada da cama, apoiou a cabeça no abdômen da amiga e ali ficou por longos minutos. Sentiu-a relaxar e realmente compartilhar daquele momento tão intimista.

— Me desculpe por gritar. — Seu maxilar movia-se de encontro ao abdômen de Hermione, que acariciava-o gentilmente nas costas.

***

— Dormiu bem?

Harry ainda vestia pijama quando entrou na cozinha, os pés descalços arrastavam-se pelo assoalho e depois de coçar os olhos, sentou-se de frente para Hermione com um longo bocejo.

— Acho que depois da nossa conversa consegui tirar um peso dos ombros. — Serviu-se de café e adicionou um pouco de açúcar.

Mastigando um muffin, apontou para as roupas do amigo em questionamento.

— Não vou trabalhar hoje, se é o que está perguntando. — Experimentou o café e adicionou um pouco mais de açúcar. — Não serei boa companhia para ninguém hoje.

Hermione abriu um largo sorriso.

— Bom, esteja pronto depois do almoço. — Levantou-se rapidamente. — Tenho uma ideia!

E enquanto a amiga desaparecia pelo corredor, Harry gritou:

— Você ouviu o que acabei de dizer?

***

— Preciso confessar que estou, no mínimo, curioso!

Hermione o esperava do outro lado da calçada, um sorriso maroto dançava em seus lábios, gesto esse que o fez lembrar de como era quando dividiam aventuras em Hogwarts. Os melhores anos de sua vida, sem dúvida.

Ela vestia calça jeans, botas e um casaco pesado, trajes convencionais de inverno que não davam sequer uma pista do local para onde iriam. O cabelo estava preso num coque, mas pela corte mal alcançar seus ombros, vários fios soltavam-se e dançavam ao seu redor por conta do vento gélido.

— Espero estar vestido apropriadamente! — Girou na frente de Hermione e abriu os braços, para mostrar as roupas que vestia. — Você não me deu muitas dicas sobre nossa saída.

— Confia em mim?

Ela o olhava com tanto carinho que seria impossível fazer qualquer brincadeira ou dizer qualquer outra coisa que não fosse:

— Com a minha vida!

Satisfeita com a resposta estendeu o braço e ofereceu a mão para o amigo.

***

Com um puxão no umbigo, desaparataram em uma floresta. Harry rapidamente reconheceu o local e olhou ao redor com curiosidade, estava tudo igual.

— Floresta do Deão! — Disse para si mesmo.

— Ontem você quebrou seu quarto, pensei que seria bom destruir coisas que não fosse se arrepender depois! — Explicou-se incerta e apontou para uma clareira próxima ao rio semicongelado.

— Mione...

Hermione havia desaparecido depois do café, e voltara somente para almoçar. Não havia conseguido pistas sobre o local para onde fora, ou do que se tratava aquela “ideia” que tivera de supetão. Mas estava tudo ali.

Na clareira montara alguns alvos sobre as rochas e troncos caídos, pendurara até mesmo um saco de areia num galho. Uma pilha de vasos descansava ao lado de um tronco, além de um par de bastões de quadribol.

— Como você organizou isso em tão pouco tempo? — Questionou maravilhado.

— Tenho alguns contatos.

Harry riu.

— Por onde começamos?

Hermione levantou um rádio antigo e puxou a antena para cima.

— Pela música!

Após sincronizar uma boa estação, aumentou o volume em um rock pesado e virou-se para Harry com um sorriso largo.

O bastão pesado girou na mão de Harry com familiaridade, e logo o primeiro vaso foi despedaçado. E então um segundo, terceiro... quinto e sexto. As batidas fortes da música pulsavam no mesmo ritmo de seu coração acelerado, e conforme acertava os vasos que partiam-se em milhares de pedaços, sentia os músculos mais soltos e leves.

Quando pensou que a diversão terminaria, Hermione maneou a varinha e fez com que os vasos se duplicassem e mais algumas dezenas se formasse do seu lado.

— Pega esse!

Hermione lançou um dos vasos no ar e Harry prontamente o acertou em cheio.

— Poderia fazer isso montado numa vassoura, você sabe!

Arqueou uma sobrancelha em desafio e lançou dois vasos. De supetão, Harry acertou um, mas deixou que o outro caísse e quebrasse na terra dura.

— Você dizia...

— Quando a música terminar. — Soltou esbaforido. — Quem quebrar menos vasos paga a cerveja amanteigada!

Accio Bastão.

No segundo seguinte Hermione segurava o bastão.

— Prepare-se, Potter!

1...2...3!

Hermione deixou o corpo girar e acertou com força o primeiro, quase como se quisesse se libertar e aproveitar o peso do bastão em sua mão. Sacudindo-o e testando o peso quando tocava a cerâmica delicada dos vasos. Mas os outros foram mais simples, batidas fortes e ritmadas que uniam-se ao som da bateria, misturando-se numa sinfonia estranha e raivosa.

Quando a música terminou uma gota de suor escorria pela testa de Hermione, enquanto Harry puxava as mangas da jaqueta até os cotovelos.

— Você contou? — Perguntou para a amiga.

— Não! — Gargalhou.

Empolgara-se tanto em quebrar os vasos e simplesmente despejar todas as inseguranças, raiva e medo ali, que sequer contara quantos quebrara e agora que jaziam em pequenos pedaços pelo chão, seria impossível calcular.

— Que bom. — Sorriu. — Também não contei!

***

Após várias músicas e muitos mais vasos do que podia imaginar, Hermione sentou-se num tronco e ficou analisando Harry. Ele quebrara até mesmo os pedaços maiores, e agora, batia no saco de areia pendurado no galho grosso de uma árvore. Minutos antes dissera que já estava relaxado, mas ainda concentrava todas suas forças no oponente imóvel.

Harry despira-se da jaqueta, e agora apenas a camisa xadrez o protegia do frio. As mangas enroladas até os cotovelos mostravam o quão aquecido seu corpo estava com todo aquele exercício. Seu rosto corado permanecia focado no saco, o qual acertava socos intercalados entre curtas respirações.

Estava tão concentrada analisando sua postura que não notou quando ele a chamou.

— Você ainda está aqui?

Piscou rapidamente e sorriu sem graça.

— Estou!

Havia notado que Hermione o observava fazia alguns bons minutos, e um instinto em seu íntimo não o permitia parar com o exibicionismo, por mais que os nós de seus dedos doessem.

— Venha aqui, vou lhe ensinar a bater!

Harry não notou, seu peito estava estufado demais para que notasse, mas Hermione revirou os olhos e levantou-se lentamente. Parou em uma distância perfeita para acertar o saco de areia, mas deixou que o amigo a instruísse quanto ao resto dos movimentos.

— Mantenha as mãos próximas do queixo. O primeiro soco vem da esquerda e só depois de retornar ao queixo, sai o soco da direta. — Explicou. — Vá em frente.

Acertou o saco, e fez exatamente o que Harry lhe dissera.

— Muito bom. Mas...

Harry se posicionou atrás de Hermione e segurou suas mãos, os braços cobrindo om ombros da amiga, o peito colado em suas costas estreitas. Movimentou o soco em direção ao soco e ajudou-a a girar o tronco.

— Tente fazer assim...

Continuou mostrando o movimento, o giro do tronco, o suave movimento do quadril e Hermione já não conseguia mais focar no que fazia. O máximo de proximidade que tinha com Harry eram seus abraços em momentos muitos específicos, e aquilo era simplesmente demais. Não queria, mas sentia o corpo de seu melhor amigo colado atrás do seu, desde os braços e peito ás coxas coladas as suas.

Pigarreou alto.

— O que acha de limparmos essa bagunça? Está ficando meio tarde...

Harry afastou-se, como se nada tivesse acontecido, e olhou ao redor.

— Realmente, fizemos um estrago.

A limpeza foi fácil, os objetos quebrados logo desapareceram, bem como o saco de areia que se desmanchou.

Hermione checava ao redor para garantir que nada ficara para trás, assustou-se quando Harry a abraçou repentinamente.

— Obrigado por tudo isso!


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Notas finais do capítulo

Olá!
Por conta da quarentena (espero que vocês também estejam), acredito que as postagens serão mais frequentes. Nos lemos e breve!
Se cuidem!



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