A Terra das Sombras - Pov Jesse escrita por Ane Viz


Capítulo 6
Capítulo 4 : parte 1


Notas iniciais do capítulo

No último capítulo:

Após isto ela saiu do quarto e fechou a porta. A menina, estranhamente, ficou parada escutando os barulhos dos passos dela se afastarem do quarto enquanto descia e escada. Cada segundo que passava entendia menos desta garota que estava diante meus olhos. Suas atitudes eram sempre inusitadas, mas o que veio a seguir foi o que mais me chocou. Nunca, me minha vida...morte... eu pensei que poderia acontecer. Ela se voltou então na minha direção e falou de forma rude.

— Ok – disse olhando para mim – Quem diabos é você?

Boa leitura!



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   Levei um choque tremendo ao vê-la voltar-se para mim por dois motivos. Bom...o primeiro é que eu estou morto. Óbvio. E o segundo, bem, pelo jeito com o qual ela me interpelou. Estava tão desnorteado que olhei ao redor procurando por alguém com quem ela pudesse estar falando. E não havia nada. Somente a janela atrás de mim e a minha frente somente ela. Esta foi a minha vez de voltar-me para ela. Minha cabeça estava a mil. Como ela podia estar falando comigo? Como ela conseguia me ver? As perguntas passavam voando por mim e nenhuma resposta plausível ficou evidente.  Meu maior susto foi ao virar-me em sua direção e ver que seu olhar estava focado em meu rosto. Sem conter-me escapou algo de meus lábios.

- Nombre de Dios1 – disse suspirando.

    A menina não parecia estar estranhando a situação como eu, pois continuou fitando-me  e quis “conversar”.

- Não adianta invocar seus espíritos superiores – comunicou-me enquanto arrastava a cadeira com bordados cor-de-rosa para a penteadeira sentando-se de frente para o encosto. Prosseguiu. – Se ainda não notou, ele não está prestando muita atenção em você. Caso contrário, não o teria deixado por aqui apodrecendo todos estes anos... - falou-me.

     Eu reparei que ela parecia perdida no meio de tanto rosa. De fato, ela não combinava em nada com aquela cor. Ela, a cor, me lembra delicadeza e a menina a minha frente pode ser tudo menos delicada.  Ela olhou firmemente para mim e analisou-me dos pés a cabeça. Parecia fazer uma análise de minha roupa e continuou.

 – Quantos anos mesmo?...Uns cento e cinqüenta anos? Já passou mesmo este tempo todo desde que você bateu as botas?

   Sinceramente não estava entendendo o que ela tentava me dizer. Por Dios o que significa “bateu as botas”? Agora posso afirmar que ela realmente tem problemas com o linguajar. Esta foi a minha vez de olhar fixamente para ela. Parecia ser algo importante, mas não conseguia entender o que tentava me falar. Decidi que o melhor seria perguntar.

- Que quer dizer...bateu as botas?- por falta de uso minha voz saiu rouca.

   A garota a minha frente revirou os olhos demonstrando impaciência com a minha falta de conhecimento em relação a sua linguagem.

- Esticou as canelas. Dobrou o Cabo da Boa Esperança. Foi desta para melhor.

    Continuei parado olhando para ela sem entender. Acredito que ela percebeu isto pela minha expressão de perplexidade que eu seguia sem compreender. Notando isto ela disse.

- Morreu. – Devo dizer que foi algo exasperada.

- Ah – eu fiz – Morri.

   Ao invés de responder a pergunta feita por ela eu balancei a cabeça. E decidi falar o que realmente me interessava no momento.

-Não estou entendendo – disse com ar de espanto – Não entendo como você consegue me ver. Durante todos esses anos, ninguém nunca...

 - Claro – disse ela me cortando como se estivesse cansada de ouvir esse tipo de coisa. – Olha só, os tempos mudaram um bocado, sabia? Então, qual é a sua?

    Eu pisquei tentando processar o que esta garota tão diferente queria dizer-me. Aproveitei o momento para analisá-la. Suas feições eram finas e tinha olhos verdes como esmeraldas. Pude notar que conforme se irritava seus olhos ficavam mais claros. Seus cabelos eram castanhos e longos. Sua franja por vezes caia em seu rosto. Ela, tirando os modos, era bem feminina. Reparei que ela permanecia muda e vi que encarava minha blusa. Qual era o problema dela? Eu sabia perfeitamente que os tempos eram outros, mas o que queria dizer com “qual é a sua?” e porque não olhava para meu rosto. Devia querer evitar o contato visual. Afinal, não deve ser algo legal ficar conversando com alguém que não devia estar lá. Seu olhar continuava focado onde minha camiseta se abria e ela continuava muda. Como ela não se explicou decidi dialogar.

- A minha?- repeti tentando entendê-la.

   Seu olhar continuava cravado em minha camisa, mas dessa vez ela falou.

- É – disse limpando a garganta.

  Eu me voltei para ela e apoiei uma botina na almofada do assento da janela. Estava cansado de permanecer na mesma posição Sei que não precisava, mas o assunto me interessava. Então fiquei mais confortável, pois queria dar atenção a ela. Continuava a encarar minha camisa. A sua próxima atitude chamou minha atenção. Ela engoliu em seco e seguiu com seu discurso.

- Sim, a sua. – ela falou. – Qual o seu problema? Por que ainda está aqui?

     Olhei para ela sem entendê-la novamente. Nossas “conversas” estavam bem complicadas. Olhei interessado para ela, mas sem nenhuma expressão no olhar. Vendo minha confusão tentou se explicar.

- Por que você ainda não foi para o outro lado?

    Balancei a cabeça e ela nada dizia apenas me fitava. Parecia estar perdida em seus próprios pensamentos.

- Não sei o que você está querendo dizer.

  Expliquei-me com o intuito de facilitar a comunicação já complicada.

- Como assim não sabe o que eu estou querendo dizer?

Ela rebateu enquanto tirava uma mecha de cabelos de seus lindos olhos verdes.  Continuou.

- Você está morto. Não tem mais que ficar aqui. Deveria estar em algum outro lugar fazendo alguma coisa que as pessoas devem fazer depois que morrem. Cantando entre os anjinhos, ardendo no inferno, reencarnando, subindo para algum outro plano da consciência, ou o que seja, Você não devia...estar simplesmente andando por aí.

   Eu fiquei olhando para ela. E senti uma necessidade incrível de implicar. Sentia-me vivo por alguns momentos. Lembrava-me quando eu implicava com as minhas irmãs. E também quando podia conversar com outras pessoas. Fitei-a pensativo equilibrando o cotovelo no joelho levantado, com o meu braço meio vacilante. E retruquei.

- E se por acaso eu gostar exatamente de andar por aí?

 

 

Tradução:

 1-Em nome de Deus!


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Notas finais do capítulo

Bom, gostaria de agradecer a Mila e a Suze pelos reviews! Obrigada meninas!

Espero que gostem deste capítulo e deixem reviews eles são muito importantes para mim! Assim sei como estou indo!

Beeeeijos,
e até o próximo capítulo!