A Terra das Sombras - Pov Jesse escrita por Ane Viz


Capítulo 7
Capítulo 4: parte 2 (final)


Notas iniciais do capítulo

No último capítulo:

Eu fiquei olhando para ela. E senti uma necessidade incrível de implicar. Sentia-me vivo por alguns momentos. Lembrava-me quando eu implicava com as minhas irmãs. E também quando podia conversar com outras pessoas. Fitei-a pensativo equilibrando o cotovelo no joelho levantado, com o meu braço meio vacilante. E retruquei.
— E se por acaso eu gostar exatamente de andar por aí?

Boa leitura!



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    Eu quis saber, mas se minha ouvisse isso eu estaria em apuros. Onde já se viu tratar uma dama assim? Mesmo que ela não pareça uma ela ainda é. Pude notar que ela não gostou muito da minha atitude. Então, decidiu falar.

- Olhe aqui – foi dizendo enquanto levantava de um salto e passava a perna por cima do encosto da cadeira. – Você pode ficar andando por aí o quanto quiser, amigo. Vai fundo. Não estou dando à mínima. Mas aqui, não.

    Fiquei um pouco desconcertado, com a forma que ela falou, mas decidi implicar novamente. E por algum motivo eu queria que soubesse o meu nome. Então agi.

- Jesse. – disse sem me mexer.

- O quê?

- Você me chamou de amigo. Achei que gostaria de ficar sabendo que eu tenho um nome. Eu me chamo Jesse.

 Ela fez que sim com a cabeça e terminou seu raciocínio anterior.

- Certo. Faz sentido. Muito bem então, Jesse. Você não pode ficar aqui, Jesse.

   Dios, porque ela ficava repetindo meu nome em todas as frases? Ela estava falando e eu não estava nem aí. Ignorei-a e perguntei o que queria saber desde que a vi conversando com a mãe. Gostaria de saber seu nome.

- E você?

    Agora eu estava sorrindo para ela.  Ficou me olhando desconfiada. Como se eu fosse alguém muito perigoso.

- E eu o quê?

Retrucou rude e não me parecia se importar nem um pouco. Deixei de lado a grosseria e insiste na pergunta anterior.

- Como se chama? - Ela me olhou bem fixo e falou.

- Olha aqui. Vai dizendo logo o que você quer e cai fora. Estou com calor e quero trocar de roupa. Não tenho tempo para...

Dios essa garota fala tanta coisa desnecessária. Eu interrompi-a com perfeita amabilidade como se não estivesse a ouvindo.

- Aquela mulher, sua mãe, chamou-a de Suzinha – eu disse com meus olhos brilhando para ela.

- É apelido de Susan?

   Eu realmente queria saber o seu nome. E de jeito nenhum ela me falava.

- Suzannah- disse-me corrigindo automaticamente. – Como naquela canção, “Não chore por mim.”

Eu sorri por conhecer o nome como a música.

- Eu conheço.

- Isso aí. Provavelmente estava entre as 40 mais tocados no ano em que você nasceu, certo?

Ela havia acertado e por isso continuei sorrindo. Estava muito calado e decidi falar. Aproveitar o momento em que alguém me ouviria.

- Quer dizer então que este agora é o seu quarto, Suzannah?

Perguntei querendo ouvir a sua voz novamente e não querer terminar esta conversa.

-Isso mesmo. – Respondeu-me. – Isso aí, este agora é o meu quarto. De modo que você vai ter que se mandar.

   Achei graça desta niña1. Quem pensa que é para falar assim comigo? Decidi implicar de novo.

- Eu vou ter que me mandar?

Eu disse levantando uma sobrancelha. Completei.

- Esta aqui é a minha casa há um século e meio. Por que eu teria de sair?

 Eu pensei nesta hipótese, mas ela não precisava saber disso. Claro, ela é uma mulher quase formada. Jamais dividiria o quarto com uma dama. E se alguém deveria sair daqui era ela e não eu. Este era o ponto principal.

- Porque sim – disse-me ficando realmente irritada. Vi-a às vezes alternar seu olhar entre mim e a janela. – Este quarto é meu. Não vou dividi-lo com um caubói morto.

      Neste mesmo instante a brincadeira acabou e não tive dificuldade alguma em entender o que queria falar-me. Levei-me meu pé de volto ao piso batendo-o com força, e me endireitei. Havia conseguido me irritar de verdade. Quien ella piensa que eres? Esta niña no debía quedarse hablando tonterias.2

   E eu não me importei em como ela era pequena perto de mim ou se tratar de uma dama. Eu estava realmente irritado com o que dissera. Como pode desonrar a minha família assim? Por Dios, dou graças a Deus por meus pais não escutarem este insulto desmedido. Então decidi falar com a fúria aumentando.

- Não sou nenhum caubói. – informei-a zangado. - ¿ Cómo puedes decir algo tan tonto? ¿Tienes idea de lo que has hablado?3- Acrescentei em espanhol sem me contar. As palavras fluíram de minha boca sem eu ter controle por conta da raiva.

   Sua expressão perplexa não me deu dúvidas de que nada sabia sobre espanhol. A fúria ainda era tão grande que nem reparei que ao mesmo tempo em que proferia essas palavras o espelho pendurado sobre a penteadeira começou a balançar violentamente no gancho no qual o prendia à parede. Dando a idéia que de iria cair a qualquer segundo.

   Não me julguem geralmente eu sou muito bem controlado. Tenho 150 anos de prática com os meus poderes, mas esta garota conseguiu realmente me tirar do sério.

- Uaaau! – Disse ela, esticando os braços para cima, com as palmas das mãos voltadas para fora. – Menos! Calma aí rapaz!

-Todos na minha família – continuei falando, ignorando a Suzannah. E sem me conter levantei o dedo em riste no seu rosto – trabalharam feito escravos para conseguirem alguma coisa neste país, mas nunca, nunca houve nela nenhum vaqueiro...

Então foi aí que ela fez aquilo.

-Ei!- interrompeu-me e agarrou com força o meu dedo torcendo minha mão.

   Esta atitude realmente me surpreendeu. Ela havia encostado-se a mim. Sei que tinha torcido minha mão, mas ainda assim me tocou. Era algo que nunca tinha me passado pela cabeça. Dios! Isto foi totalmente inusitado. O fato de me ver e falar comigo já tinha sido... aceito,mas... Encostar-se a mim? A sensação de sentir alguém tocando minha pele era incrível. Ainda mais sentir o toque de sua pele quente e macia na minha fora um choque.

    Não durou por muito tempo, pois ela puxou-me para perto de si e sussurrou raivosa:

- Pare com o espelho agorinha. E tira esse dedo do meu nariz. Se fizer de novo, será um dedo quebrado.

   A fúria que havia sentido por Suzannah e pelo que dissera sumiu. Ela empurrou minha mão para o lado e olhou na direção do espelho, que por ter me desconcentrado e acalmado parara de balançar. O único gesto capaz de fazer no momento era olhar para meu dedo surpreso com o fato que acabara de acontecer e assim o fiz. Claro que estava surpreso com o fato de poder me tocar, e também, surpreso com o que causara ao fazer isto.

     Eu queria tocá-la na mão outra vez, somente para sentir o seu toque aveludado, mas isto era errado. Uma postura incorreta e eu não faria isso. Não iria agir desta maneira com uma dama. Ainda que a mesma em questão tenha acabado de ameaçar quebrar meu dedo. Reparei que enquanto mantinha meu olhar focado no dedo ainda tentando entender todo o acontecido ela recomeçara a falar. E agora mais séria do que com raiva.

-Agora ouça bem, Jesse. Este quarto é meu, entendido? Você não pode ficar aqui. Ou você me deixa ajudá-lo a ir para onde deve estar ou vai ter de achar outra casa para assombrar. Sinto muito, mas é assim.

     Com as suas palavras tirei minha atenção do dedo e fitei-a. Devo dizer que devia estar com uma expressão engraçada em meu rosto. Não estava conseguindo acreditar nisto. Ignorei-a mais uma vez e perguntei o que estava entalado em minha garganta. Sabia que ela não era uma pessoa normal, pelo menos, não de acordo com o meu tempo.

-Mas quem é você?-perguntei-a suavemente. – Que tipo de... - parei por um momento para refletir. Não acredito que ela gostaria de ser chamada de dama. Então emendei-... garota é você?

-Pois vou dizer-lhe que tipo de garota eu não sou – ela foi dizendo realmente irritada.

  Dios, o que deu nessa menina? Porque ficou tão irritada do nada? Não pode achar que eu pensei que ela não fosse feminina, podia? Ela não pode ser tão absurda a este ponto. Fui retirado de meus pensamentos por ela continuar falando.

-O que eu não sou é o tipo de garota disposta a compartilhar o quarto com um membro do sexo oposto. Deu para entender? De modo que ou você se arranca ou eu vou botá-lo daqui para fora. Você decide. Vou lhe dar algum tempo para pensar. Mas quando voltar aqui, Jesse, não quero vê-lo mais.

   Acabando de falar isto ela deu-me as costas e saiu. Simplesmente foi embora sem falar mais nada. Ouvi-a descer as escadas e encostei-me em uma das colunas da cama. Sim, Suzannah era uma dama. Estava tendo a reação de uma e isto ficou bem claro. Notei o seu desgosto em compartilhar o quarto com alguém do sexo oposto. Talvez ela não fosse tão diferente assim das damas de minha época.

   Mas com tudo isso eu deparei-me com um grande problema. Eu não posso ir embora. Eu me sinto preso de alguma forma a esta casa. Principalmente a este quarto. E agora a Suzannah também. Seu jeito chama minha atenção e provoca-me curiosidade. Não iria sair de lá. Não mesmo. Por mais que tenha pensando nisso está complicado de fazê-lo. Mesmo que eu quisesse não poderia deixá-la. Ficarei um pouco afastado para que não me note por um tempo até se acalmar. E depois voltarei. Sim, não a deixarei sozinha.

   Desmaterializei-me do quarto e fui dar uma volta na praia da Carmel. Desta vez, a sensação era diferente. Não me sentia mais tão frustrado e nostálgico. A tal mudança que eu tanto desejara surgira inusitadamente na forma de uma garota. Suzannah. Suspirei e sentei-me em uma pedra próxima a água. Passei um bom tempo por lá e depois me materializei em seu quarto, mas só encontrei... bem...nada.

    Estava totalmente vazio. Sentei-me no assento do banco e fiquei lá pensando. Realmente decidi-me depois de um bom tempo pensando. Pensando sobre Suzannah. Eu não poderia ir embora então deixar-lhe-ia pensar que fui. E eu daria a ela toda a privacidade que precisasse, mas não partiria. Estava ficando tarde em breve ela voltaria para descansar depois de um dia desses tão movimentado e com tanta novidade.

     Meus pensamentos foram quebrados por ouvir passos cansados subirem as escadas. Olhei para o relógio do quarto, também rosa, vi que já eram mais de 11h. ¡Dios! Fiquei horas aqui sentando pensando nesta menina. Balancei a cabeça e desmaterializei-me no exato momento em que Suzannah abriu a porta do quarto. Eu a vi abrindo a janela bruscamente e aparentava estar feliz por eu não estar ali.

    Escutei todos os passos desde ao abrir a mala e pegar uma bolsinha até ela se dirigindo ao banheiro. Pude acompanhar o barulho do chuveiro sendo ligado. E pouco tempo depois ela saindo do banheiro com uma roupa um tanto... Como posso dizer? Não havia muito pano ali. Desviei meu olhar dela até que estivesse embaixo dos travesseiros. Finalmente bateu palmas e a luz apagou. E sem me controlar me vi cantando a música. Aquela a qual usou para dizer-me seu nome “Ó Suzannah, não chores por mim, pois eu vim lá do Alabama tocando o meu bandolim”. Fiquei cantando até ela dormir não parei mesmo vendo-a fazer uma pequena careta ao ouvir a canção. Por fim quieta, desmaterializei-me para o reino dos mortos.

 

Tradução: 

1-    Menina

2-    Quem ela pensa que é? Esta menina não devia ficar falando besteiras.

3-    Como podes dizer algo tão idiota? Tens Ideia do que falou?


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Notas finais do capítulo

Gostaria de agradecer a Suze, Milaa-07 , Bia_scabbia e Adaryrml pelos reviews!

Espero que gostem! Amanhã eu ou sexta posto o próximo capítulo se tiver reviews, ok?

E queria agradecer a Suze pela recomendação da fic!Muito obrigada mesmo! De coração!

Beeijoos, e até o próximo capítulo!