Capítulo 15:

Posso garantir que ele sente um grande carinho por ela. E por mais de uma vez, o vi procurar pela casa alguns livros antigos. Lembrando-me que gostava de estudar deixei de lado isto. Porém, mesmo que este seja o caso o que tanto procurava nesses livros. Movido por uma curiosidade absurda entrei ali. Como havia esperado diversos livros estavam sobre a mesa, e alguns pareciam estar marcados. Aproximei-me dele, e franzi meu cenho ao ler a capa de um.

- A minha Monterey escrita por Harold Clemmings. – Falei espantado.

Balancei minha cabeça novamente. Por Dios! No creo que él ha buscado todo sobre este casa, pensei. Bom, não é tão estranho assim, afinal de contas, este menino parece ser super curioso. E como já provou muitas vezes, tem o costume de estudar e acreditar o que muitas pessoas não tem a coragem, ou a sabedoria para entender. É mais fácil ignorar do que acreditar em fatos sobrenaturais.

Eu lembrei-me vagamente de ter ouvido falar sobre um livro que narrava à história da cidade, mas pensei que fosse somente um boato. E, uma vez mais, a esperteza de David me espantou. Como alguém tão novo pode ter um conhecimento de mundo tão grande? Em minha época sua única preocupação seria brincar, e conhecer melhor os arredores.

Antigamente ninguém tinha o hábito de ficar lendo... Era um costume raro. Tempos depois é que isso se tornou normal, acredito eu... Deixa-me ver... No século XIX. E neste, bem, eu já estava cansado de observar os outros. Tomei o livro em minhas mãos, e o folheei. Tinha algumas gravuras, e notei ser toda a história de Carmel. Conforme as páginas passavam, notei que seguia uma ordem cronológica.

E assim notei que quanto mais eu passava pelas folhas, fui aproximando-me de meu tempo. De minha época. Alguns folhas depois, meus olhos pararam ao encontrarem uma gravura da casa, ou melhor, uma pintura antiga. No mesmo formato que era antigamente. Estava diante da pensão dos O´neil. Um tempo do qual eu fazia parte.

Observei saudoso, e antes da nostalgia que há muito havia me abandonado retornasse mudei de página. E com choque me deparei com um rosto conhecido. Uma raiva tomou conta de mim, ao ler a legenda na parte inferior da foto. Depois de tudo, ela havia tido a sua família. Maria se casara com Diego e tiverem filhos, e netos. Tudo o que me fora tirado.

A imagem da foto, me fez fazer os quadros no quarto de David tremerem. Com um pouco de esforço fiz com que parassem e fitei a imagem. Ela estava sentada, com um leve sorriso nos lábios, cabelo preso como a maioria das vezes usava. Ou pelo menos, como da maior parte das vezes em que a vi. Usava aqueles vestidos rendados, e nenhuma maquiagem.

Este era o normal. Este costume de usar maquiagem é um hábito atual. Um hábito, usar maquiagem, que as garotas herdaram de um tempo para cá. A dor das lembranças me invadiu com força. Eu fechava os olhos e a imagem dela permanecia flutuando em minha mente. A foto da pessoa que fez com que minha vida mudasse completamente.

Estas são memórias que nunca irei ver-me livre. Senti um grande remorso, ao lembrar-me que sai de casa após ter tido uma briga com uma de minhas irmãs. A desilusão no rosto de minha mãe, e a dor da traição nos olhos sérios de meu pai. Ele nunca fora muito emotivo, mas nós o conhecíamos muito bem. Chegar ao seu conhecimento o plano de minha noi... De Maria fora um grande golpe.

Passei a mão por meus cabelos, e apertei inconscientemente o livro em minhas mãos. Agora isto não tem mais importância. Eu estou morto, e nada mudará minha condição. Pelo menos eu a conheci. Suzannah. Esta menina forte e delicada. Seu jeito grosseiro. É somente uma tentativa tola de mostrar-se invencível. Algo que se vê de longe ser totalmente errado.

Lembrar dela me fez querer agir. O meu caso não tem mais solução, mas de jeito nenhum deixarei algo similar acontecer a ela. Sei que este é o desejo de Heather, porém ela verá que a garota não está sozinha. Ela é forte só que eu sou muito mais experiente nestes aspectos do que ela. Sei que posso lhe der com ela. A parte difícil é manter a Suzannah fora de perigo.

-O que eu farei? – Falei comigo mesmo olhando pela janela. – Preciso protegê-la.

Sim, ainda que ela discorde. Precisa de ajuda, necessita de mim. Pensar nisto fez um sorriso sincero surgir em meus lábios. Eu era importante para ela, e mesmo que não tenha sido diretamente, ela reconhece isto. E ficou claro quando me agradeceu por tê-la ajudado com a Heather. Naquele momento eu não esperava nada dela, mas foi ali que eu soube que não passava de uma garota como qualquer outra. Medo, tristeza, raiva e insegurança. Sentimentos que perseguem a todos.

O som de passos me fez pular de susto, e me virei para descobrir o que havia acontecido. A voz de Andy estava alterada, ele parecia nervoso e preocupado. Por um instante pensei que algo houvesse acontecido com Suzannah, mas não. Materializei-me na sala com o intuito de me informar sobre o que tinha acontecido para vê-lo assim irritado.

 E para meu alivio não era nada demais. Somente alguém havia feito algo errado durante o trabalho. E ele como chefe, tinha de resolver o problema. Passou a mão pelos cabelos, pegou o que precisava e saiu de casa uma vez mais. Devia ter sido algo serio, pois todo o tempo que convivi com eles aqui, jamais havia o visto tão chateado quanto agora. Bom, vamos ao que interessa, pensei decidido.