— Pensei que tivéssemos um acordo. – Fu disse calmamente, encarando as próprias mãos entrelaçadas.

— E nós temos. – Marinette confirmou com o semblante fechado.

— O que você tem até agora?

— O Miraculous da raposa, do dragão, do rato e... – também tinha o da joaninha, porém hesitou – E só.

— O da abelha, da tartaruga e da serpente ainda estão em circulação. Pelo que eu sei.

— Eu os deixarei por último. Não quero atrair atenção indesejada. – sua voz quase falhou. No entanto, não deixaria Fu pensar que poderia fraquejar.

— O relógio não para, Marinette. – levantou, fazendo a azulada estremecer – Você está ficando sem tempo. – dito isso, saiu pela porta que dava para a rua, deixando Marinette paralisada.

Suas pernas fraquejaram e ela caiu de joelhos. Sabia que os cacos do vaso estavam no chão, mas não pode controlar a queda e quando deu por si, estava com pequenos cortes nos joelhos e nas mãos.

Lágrimas se formaram nos olhos dela.

Fu tinha razão, ela estava ficando sem tempo.

***

Marinette não queria ver Adrien naquele dia. Não queria que ele visse os cortes e perguntasse o motivo, porque ela poderia até omitir a verdade, mas com certeza não seguraria a emoção e desabaria na frente do namorado.

— Aqui. – Duusu alcançou mais um curativo.

— Obrigada.

— A Chloé ligou de novo enquanto você estava no banho. – disse o kwami – Você avisou que não iria trabalhar hoje?

— Eu já avisei. Mas ela deve estar preocupada. – sorriu de leve – Vou mandar uma mensagem pra ela. – Marinette pegou o celular e digitou uma mensagem para a melhor amiga.

— Agora você acha que é uma boa contar tudo para o Adrien?

— Não. – respondeu sem encarar Duusu, se concentrando em colocar os curativos. – Não acho.

— Mas isso está ficando sério, Marinette.

— É um problema só meu.

— Em breve não vai mais poder ser somente seu. Você sabe. – a azulada fitou o kwami e ficou de pé – Você vai precisar de ajuda. – Marinette sabia que ele falava a verdade. Mas o medo de perder Adrien falava mais alto. Quanto menos ele estivesse envolvido nisso, melhor.

— Não quero que nada aconteça com ele e por isso é mais seguro que ele não saiba de nada.

***

— Eu sei que ela está escondendo algo. – disse Fu. – Mas não sei o que pode ser. – tinha essa impressão desde que havia voltado da casa da Dupain-Cheng. A postura de Marinette poderia até passar despercebida, contudo, o tom de voz trêmulo, não.

Algo não estava certo. Mas o que poderia ser? Ela não estava em condições de contrariá-lo.

— Talvez você devesse perguntar. – Chan sugeriu, arrancando um olhar quase que incrédulo do Mestre. Como se fosse tão simples.

— Acha mesmo que ela diria? A garota é teimosa, assim como a mãe. – revirou os olhos. – Ela precisa de um alerta, para saber que não pode esconder nada de mim. – Chan o encarou com certa dúvida.

— Então o que pretende fazer? – Fu sorriu de lado.

— Você vai ver.

***

— Ela é um criminosa, entendeu? Criminosa!

— Tá, mas você ao menos sabe o motivo de ela ter roubado? – Nino rebateu a fala de Luka. Enquanto isso, Adrien segurava a cabeça com as duas mãos, tentando não surtar no meio da lanchonete com aquela discussão sem fim.

— E justifica? É roubo igual!

— Cara, você tá xingando a namorada do seu amigo!

— Porque ela é uma ladra!

— Mano...

— Chega! – Adrien finalmente se manifestou. – Eu já disse que falei com ela e...

— E ela te enrolou de novo. – Luka cruzou os braços, encarando o amigo – É sempre assim, Adrien. Eu não quero ser o chato e pessimista do grupo, mas você sabe que eu estou certo. A Lady Paon faz e acontece e nós nunca fazemos nada.

— Se ao menos eu descobrir o motivo...

— De novo, o que pode ser tão importante que justifica tudo isso? – Adrien ficou em silêncio. Tinha em mente que Luka poderia ter razão de certa forma, mas sempre foi difícil ser racional se tratando de Marinette.

— Eu vou tomar um ar. – anunciou depois de uma pausa em silêncio. No entanto, quando fez menção de sair, notou que chovia na rua – No vestiário. – acrescentou mudando o rumo e quando saiu, Nino fez careta para Luka. Sabia que o amigo estava certo, mas também sabia que ele tinha sido muito duro com as palavras.

— Ei, Adrien? – o de cabelos azuis chamou, depois de ter entendido o recado.

— Sim?

— Desculpa, cara. – Adrien sorriu.

— Tudo bem. Você tem razão de qualquer forma.

Adrien foi até o vestiário dos funcionários e sentou em um dos bancos. Em seguida, olhou para o celular aonde o papel de parede era a foto dele com os amigos. Desbloqueou o aparelho e agora o papel de parede era ele e Marinette.

Estava começando a se tornar difícil equilibrar o namoro, a amizade e a vida como herói, sendo que os três estavam totalmente interligados. O que era irônico, normalmente os problemas das pessoas eram por conta da distância entre os três.

Sem pensar muito, discou o número de Marinette.

Chamou algumas vezes até que ela atendeu.

— Oi.

— Oi. Como você está?

— Bem.— estranhou o tom dela. Talvez ainda estivesse magoada pelo que aconteceu ontem.

— Olha, eu só queria dizer que...

— Espera!— ele franziu o cenho, porém ficou em silêncio. – H-Hã... Eu preciso desligar.

— O que foi?

— Nada, nada. Coisa no trabalho, sabe como é. Tchau.— desligou a chamada sem esperar a resposta do loiro.

Adrien estranhou, já que Chloé tinha ligado pra ele mais cedo, perguntando sobre Marinette, logo ele sabia que ela não estava no trabalho. Imaginou que ela ainda estivesse abalado pela discussão de ontem e por isso tinha ficado em casa, mas agora... Alguma coisa não estava certa.

***

Marinette estava na cozinha enquanto conversava com Adrien pelo celular. Assim que ouviu uma movimentação estranha do lado de fora da casa, tratou de desligar a chamada o quanto antes e pegar uma faca que estava no seu alcance.

Durante alguns segundos, não ouviu nada. Poderia ser apenas algum pombo, ou algum outro animal. Porém continuou em alerta.

— Duusu? – chamou pelo kwami, que devia estar no quarto, com a intenção de se transformar.

Antes que pudesse ouvir uma resposta, a porta da cozinha – que dava para o pequeno quintal – foi aberta violentamente por alguém vestido inteiramente de preto, somente com alguns detalhes em vermelho.

Um ninja da Ordem.

A pessoa avança e ataca, fazendo Marinette recuar e se defender dos golpes. Felizmente a azulada tinha o treinamento necessário para bloquear os chutes e socos, contudo, não foi o suficiente para segurá-lo por muito tempo.

— O que você quer aqui? – ele chutou a mão dela, fazendo-a derrubar a faca. Marinette segurou o pulso, por conta da dor e correu até a sala. Parou repentinamente ao ver mais um ninja entrar pela porta da frente – Droga! – a azulada se abaixou, antes de levar um golpe. O ninja que estava atrás chutou a parte de trás do seu joelho, fazendo com que ela caísse ajoelhada. O outro, acertou um chute certeiro no rosto dela, e Marinette tombou de vez.

Um deles puxou o seu braço, a levantando de mal jeito. Ela conseguiu socar o rosto dele com a mão livre, porém foi derrubada novamente.

— Fazendo uma festa sem me convidar?  – os olhares se voltaram para Bumblebee que estava escorado no batente da porta. – Que rude da parte de vocês! – o loiro avançou, iniciando uma luta com os ninjas.

— Não faz isso! – Marinette exclamou com dificuldade, ainda no chão.

— O que está acontecendo? – Duusu surgiu e encarou a sua portadora com um olhar preocupado.

— Eu explico depois. Duusu, spread my feathers! – se transformou e pegou uma pena, a transformando em amok. Em seguida, lançou na direção de um dos ninjas, amokizando sua espada. Um ninja sentimonstro surgiu ao lado deles e avançou com Lady Paon, ajudando Bumblebee.

— Venom! – o herói acionou o seu poder especial, encurralando um dos ninjas da Ordem.

O outro então fugiu de Marinette e do sentimonstro e atirou Bumblebee para trás, liberando o parceiro. Os dois usaram uma bomba de fumaça e sumiram.

Lady Paon rapidamente estalou os dedos e retirou o amok. Em seguida, caiu de joelhos sem forças para continuar de pé.

— Fall my feathers!

— Marinette! – Adrien se ajoelhou ao lado dela rapidamente, encarando os hematomas que ela possuía. – Buzz off! – o loiro a segurou – Ei! Você está bem? – Marinette parecia meio em choque ainda. Quando olhou na direção de Adrien, voltou para a realidade e abraçou forte o namorado. – Calma, já passou. Eles já foram.

— Não, Adrien. – disse enquanto chorava. O coração do loiro apertou ao ver a mulher que amava daquele jeito – Eles não vão embora. Eles sempre voltam.

— Shh! Calma, calma. – acariciou as costas dela. Não entendia sobre o que ela falava e estava completamente curioso para saber quem eram aqueles ninjas, mas sentia que não era o momento certo para falar disso. Marinette precisava de apoio emocional agora, precisava de Adrien ali ao seu lado. E ele ficaria, não importava o que acontecesse.

***

— Cadê o Agreste? – Sr. Jacque esbravejou, fazendo Luka e Nino darem um pulo no balcão por conta do susto.

— H-Hã, o Adrien tá... Ele tá... Hum...

— Com ebola. – Nino completou desesperado, recebendo um olhar estranho de Luka. O moreno começou a gesticular com a cabeça, para que o outro entrasse na mentira.

— É. Hã... E é raro e contagioso. – apontou – Por isso ele teve que sair.

— E quanto tempo demora pra curar essa ebola?

— Em algumas horas, eu acho. – o moreno deu de ombros – Logo ele está de volta.

— Tá bom. Enquanto isso cubram ele. – dito isso, Sr. Jacque saiu e os dois amigos soltaram a respiração. Não sabiam como o chefe tinha caído na mentira, porém era um alívio.

— Ebola curada em algumas horas? Sério?

— Foi o que eu consegui pensar no desespero, ué. – protestou – E falando em algumas horas, aonde será que ele foi?

— Não sei. Do jeito que ele saiu apressado, parecia algo importante. – o loiro não tinha dado muitas explicações, apenas saiu e disse que precisava fazer uma coisa. Luka e Nino não questionaram e ficaram responsáveis por cobrir Adrien, como os verdadeiros amigos que eram. Mas certamente iriam querer detalhes mais tarde.

— É. Vou mandar uma mensagem.

— Boa ideia.

***

— Quem eram aqueles ninjas, Duusu? – Adrien indagou baixinho, enquanto Marinette cochilava na cama. Tinha sido difícil acalmá-la e não queria correr o risco de acordar ela agora.

— Eu sinto muito, Adrien, mas não estou autorizado a falar. – o loiro assentiu. Marinette não costumava colocar restrições no seu kwami, e se havia impedido Duusu de falar sobre algo, era porque se tratava de algum assunto muito importante.

Adrien recebeu uma mensagem de Nino, perguntando se estava tudo bem. O garoto olhou na direção de Marinette e respondeu que conversaria com eles mais tarde, mas que a princípio estava tudo bem, embora não tivesse como voltar para a lanchonete. Em seguida, passou uma mensagem para sua mãe, avisando que dormiria na casa de Marinette essa noite.

— Pollen, pode pegar alguma coisa pra comer na geladeira. Vamos ficar aqui hoje.

— Certo. – a kwami saiu para a cozinha, acompanhada de Duusu. Enquanto isso, Adrien deitava com cuidado ao lado de Marinette. Não conseguiria dormir, porém ao menos estaria ali cuidando de sua namorada.

O garoto lembrou rapidamente dos ninjas, vasculhando a sua memória atrás de algo que pudesse ajudar. Rapidamente lembrou que os trajes deles pareciam familiares, pretos com detalhes avermelhados.

Aqueles detalhes... É claro! A caixa em que estavam os Miraculous quando ele, Luka e Nino encontraram.

Antes que seu pensamento pudesse ir mais além, Marinette acorda em um sobressalto.

— Adrien? – chamou pelo nome do namorado, que tratou de segurá-la.

— Calma, eu estou aqui. Shh! Calma. – a azulada o viu e pareceu se acalmar. Em seguida, o abraçou forte. – Está tudo bem.

— Adrien? – falou em um tom mais baixo e se separou dele, o encarando profundamente.

— O que é?

— Eu te amo.

— Eu também te amo, Marinette. – os dois se beijaram calmamente e quando se separaram, Marinette apertou os olhos e se escorou no travesseiro. As dores causadas pelos golpes dos ninjas foram sentidas de uma vez, já que antes quando estava em estado de desespero, sequer lembrou delas. – Está com dor? Quer um remédio? – fez menção de levantar.

— Não, não. Só fique comigo aqui, por favor.

— Tudo bem. – ficaram em silêncio por alguns segundos. Marinette encarou o namorado e sabia que ele se segurava para não fazer perguntas, embora ela sentisse que devia respostas a ele.

— Aqueles caras são ninjas da Ordem. – disse com calma, atraindo o olhar do loiro – E a Ordem é tipo organização...

— Dos Miraculous. – Marinette o fitou.

— É. Como adivinhou?

— Os símbolos nos trajes, são os mesmos da caixa a qual eu, o Nino e o Luka encontramos os nossos Miraculous há um tempo atrás. – explicou, lembrando de um detalhe importante sobre aquela época, mas que contaria para Marinette depois, no momento certo.

— Ah claro.

— E por que esses ninjas vieram atrás de você?

— Eu não sei.

— Marinette...

— Eu realmente não sei, Adrien. – se ajeitou na cama – Honestamente, não era para eles terem vindo.

— Como assim? – ela respirou fundo.

— É uma longa história.

— Eu tenho tempo.