— Eu sei que a gente brigou, mas não precisava ter ido para outra Terra! – Adrien exclamou, enquanto Marinette esfregava as têmporas, com dor de cabeça.

Recém haviam voltado da Terra-616, aonde conheceram outras versões suas. O que foi assustador na visão da garota, e emocionante na do Agreste. Mas não tinham tempo para discutir os seus pontos de vista.

— Eu já disse que foi sem querer. – falou com a voz baixa – E eu fiquei presa lá. Não fazia ideia de como voltar.

— Tudo bem. – abriu a gaveta da cômoda de Marinette e pegou um remédio pra dor de cabeça, em seguida, alcançou um copo de água pra ela. – Toma isso.

Ela não disse nada, apenas pegou o remédio e tomou. Ingerindo a água logo após.

— Eu sinto muito em voltar ao assunto, mas eu preciso que confie mais em mim.

— Eu confio em você.

— Não parece. – a azulada suspirou, não acreditando que teria aquela conversa de novo. – Por que, Marinette? Por que você é a Lady Paon? E como você conseguiu o seu Miraculous?

— Já disse que não quero falar sobre isso. – Adrien balançou a cabeça em negação.

— Eu sempre fiz de tudo por você. Por que não confia em mim? – ela levantou e parou na frente dele. O loiro pôde notar os olhos marejados da namorada, se arrependendo instantaneamente por ter insistido no assunto. Mas por outro lado, precisava entender as motivações dela.

— Viemos de mundos diferentes, Adrien. Minha vida não é um livro aberto. – cruzou os braços – Você é a única pessoa que sabe muitas coisas sobre mim. E se depender de mim, ninguém vai saber de tudo. Mas se um dia eu resolver me abrir sobre, quem você acha que vai ser a primeira pessoa que eu vou procurar? – ele ficou em silêncio, enquanto Marinette colocava o dedo no peito dele – Então não diga que eu não confio em você, porque eu mataria e morreria por você, se fosse necessário.

— Marinette...

— Me deixe sozinha, por favor. – abraçou o próprio corpo e desviou o olhar, se afastando dele.

Adrien engoliu em seco e assentiu. Indo para a sala. Não iria embora da casa dela, porém a deixaria sozinha no cômodo como tinha pedido.

A azulada andou até a janela, encarando a vista da noite fria. Colocou as duas mãos sobre o Miraculous do pavão, que estava preso em sua blusa.

— Quando isso tudo vai acabar? – murmurou baixinho, arrancando um olhar entristecido de Duusu.

— Você pode acabar isso, Marinette.

— Não. Ela precisa de mim, Duusu. – foi até a sua penteadeira, pegou a chave escondida atrás do espelho e abriu uma das gavetas, retirando uma caixinha preta com detalhes vermelhos. – Depois de me ver na outra Terra... Eu fico pensando se... – abriu a caixa, encarando os brincos, cuja estampa remetia à joaninha. – Não, é melhor não. – a fechou novamente e guardou no fundo da gaveta.

— Eu gosto de ter você como a minha Mestre.

— Também gosto de você como meu kwami. – sorriram um para o outro – Acho que vou pedir desculpas ao Adrien, acabei surtando.

— Ele vai entender. Mas você também precisa entender o lado dele. – ela suspirou. – Se você contasse a verdade, aposto que ele seria compreensivo.

— Não, isso está fora de questão. – disse e saiu, antes que o kwami dissesse mais alguma coisa. – Adrien? – chamou o namorado, notando que ele não estava na sala. Em seguida, sentiu um cheiro agradável vindo da cozinha. Foi até o cômodo e sorriu, se escorando no batente da porta ao ver o loiro cozinhando.

— Ah, olá my lady. – sorriu – Estou preparando um jantar de "me desculpe por insistir no assunto que você não se sente confortável para falar sobre". – ela riu e foi até ele, o abraçando por trás.

— Obrigada por isso, honeyboy. – Adrien girou o corpo e se escorou no balcão ficando de frente para ela.

— Me desculpa por insistir. É que eu sempre fui muito aberto, então eu não imaginava que as pessoas tivessem dificuldade de falar sobre determinados assuntos. – acariciou o rosto dela, depositando um beijo nos lábios da namorada – Quando você estiver pronta, eu vou estar aqui. – Marinette assentiu e o beijou novamente.

— Vou colocar os pratos na mesa. – se afastou, o deixando com um sorriso bobo no rosto.

***

— Eu tive o pior encontro da minha vida ontem! – Luka esbravejou, enquanto limpava as mesas com Adrien e Nino. – Está decidido, chega de romance! – os outros dois riram.

— O que foi dessa vez, ela disse que ia no banheiro e foi embora? – o de cabelos azuis fez careta, só de lembrar do triste fato.

— Não. Ela disse que o filme do Capitão América era um lixo. – Adrien e Nino abriram a boca surpresos, não acreditando no que tinham escutado – É, eu sei. Tive a mesma reação.

— Até a Marinette que não gosta desse tipo de filme, admite que é muito bom.

— O problema com certeza era a garota, não você. – Nino colocou a mão sobre o ombro de Luka.

— Sei disso. – Adrien olhou no relógio.

— Hora do almoço. – disse sorridente.

— Ao contrário de você, Luka, tem alguém que vive nas nuvens.

— Ou melhor, nas penas. – os dois riram, fazendo Adrien balançar a cabeça em negação.

— Por que eu sou amigo de vocês, mesmo?

— Porque você não vive sem a gente.

— É, talvez.

***

— Olá, Chloé.

— Ah! É você. – a loira disse, ao ver Adrien passar pela porta.

— Uau! – exclamou baixo.

— Adrien? Oi. – Marinette adentrou o local – Chloé, a sua mãe pediu pra você ir até a sala dela assim que der.

— Tá bem, obrigada.

— Vem, vamos almoçar. – largou os papéis em cima da mesa e saiu puxando o namorado pela mão.

— Por que a Chloé me odeia? – a azulada riu.

— Ela não te odeia. Ela só te acha meio estranho.

— Ah, valeu! Agora me sinto ótimo. – ela riu ainda mais.

— Os seus melhores amigos também me acham estranha, não é? – Adrien não respondeu – Mas eu não ligo pra isso. Então você não precisa ligar para o que a Chloé pensa. No fundo ela é uma boa pessoa.

— Hum. – murmurou – Eu acho que ela precisa de mais amor no coração. – brincou.

— Também acho. Estou tentando arrumar um encontro pra ela. – o loiro sorriu, como se uma lâmpada tivesse se acendido sobre a sua cabeça – Por que está sorrindo assim?

— Eu acho que tenho a pessoa perfeita para ter um encontro com ela.

— Quem?

— O Luka. Ele está todo desiludido e tem uma lista enorme de encontros péssimos. Ter um encontro razoável, pra ele já é lucro.

— Não tinha pensado nisso, mas podemos ver. – os dois chegaram no restaurante e Adrien fez questão de abrir a porta para ela. – Mas antes, vamos comer. Estou morrendo de fome.

— Eu também.

***

Lady Paon corria pelos telhados da cidade, segurando o colar com o pingente em formato de cauda de raposa em sua mão direita. Viper estava logo atrás, quase a alcançando. Marinette precisava pensar em algo, sabia que Luka provavelmente era um corredor muito melhor do que ela.

O herói jogou a sua lira na direção dela, fazendo com que a azulada tropeçasse no objeto e nas próprias pernas e caísse rolando em um telhado qualquer. O Miraculous da raposa acabou escorregando da sua mão e caindo de cima do telhado.

— Não! – Lady Paon foi atrás, porém Viper segurou o seu braço e a derrubou de costas na estrutura de concreto.

— Não tão rápido, Lady.

— Me solta, seu idiota! – puxou seu braço de volta, sem sucesso. O de cabelos verdes era muito forte.

— Desculpe, mas eu não sou o Bumblebee e não vou fazer o que você quer, só porque você pede. – ela não respondeu, apenas derrubou o leque no chão e pegou uma das penas com a mão livre. Em seguida, a transformou em azul escuro e mandou na direção dele. Viper arregalou os olhos e se afastou assim que notou o que estava acontecendo.

Lady Paon pegou o leque de volta e se jogou do telhado, caindo com os joelhos flexionados no chão.

Olhou em volta rapidamente, não vendo nem sinal do colar. O desespero começou a tomar conta de si, porém logo avistou uma garota meio ruiva e de óculos, segurando o Miraculous.

Sem pensar duas vezes, Lady Paon foi até ela, pegou o colar e a chutou para trás. Não tinha intenção de machuca-la, apenas queria pegar a joia o quanto antes.

— Ei! – a garota reclamou.

A azulada sorriu satisfeita e estalou o dedo, desfazendo o amok que perseguia Viper. No entanto, logo sentiu algo a atingir nas costas, fazendo com que ela caísse no chão. Era o escudo de Tortue.

Marinette rapidamente colocou o Miraculous da raposa no bolso. Não podia correr o risco de perde-lo novamente. Em seguida, ficou de pé.

— Devolva o que você roubou! – Tortue disse ao lado de Viper.

— Não devia se meter aonde não é chamado. – colocou o leque em frente ao rosto – Isso é assunto de gente grande.

Antes que dissesse algo, Bumblebee pousa no meio dos dois garotos sem dizer uma palavra, com uma expressão indecifrável, mas que com certeza não era boa.

Lady Paon já tinha o que queria, não queria lutar e não podia correr o risco de perder o Miraculous novamente.

Só precisava sair dali o quanto antes.

Então, pegou uma das suas penas no leque e a transformou em um amok. Em seguida, segurou a garota de óculos pelo braço e colocou a pena no celular dela que ela estava segurando para filmar a batalha. Um sentimonstro em formato de celular gigante foi formado.

Enquanto os três heróis se preocupavam em salvar as pessoas e derrotar o amok, Lady Paon tratou de sair dali o mais rápido possível.

***

— Eu te amo, você sabe disso. Mas não dá mais, Marinette! – esbravejou, enquanto a azulada o observava com uma expressão de tédio – Roubar? Você não precisa disso, não precisa fazer esse tipo de coisa! Você tem mais dinheiro que eu e os meus amigos juntos! Eu não entendo!

— Já acabou? – o loiro fitou a namorada, incrédulo.

— Eu é que pergunto, você já acabou com essa história de ser uma vilã?

— Já disse que não sou uma vilã.

— Você roubou um joalheria e amokizou uma garota. Além de quase ter amokizado o Viper. Isso só hoje!

— Eu não tive escolha, precisava ir embora. – deu de ombros.

— Isso é bobagem. Nós sempre temos escolha.

— Nem sempre, Adrien. – disse em um tom sério. – Às vezes a gente faz o que é preciso. Não o que quer. – o loiro se calou. Aquela fala de Marinette parecia ser muito significativa – Agora se já terminou o seu discurso heroico, pode ir embora. – cruzou os braços, virando de lado.

— Você não vai mesmo desistir disso, não é? – ela não respondeu. – Foi o que eu pensei. – virou as costas para ir embora, porém parou no meio do caminho. – E se eu dissesse que só podemos continuar juntos se você parar? – indagou ainda de costas para ela.

Marinette abriu a boca surpresa, deixando seus ombros caírem. Instantaneamente seus olhos ficaram marejados, só de pensar na possibilidade de perder Adrien.

Mas ela sabia que em algum momento haveriam consequências. Só não estava pronta e não queria lidar com elas. Se recusava sequer a pensar.

— Não me faça escolher.

— Não estou fazendo. Mas se eu estivesse, o que você escolheria?

— Você sabe que te amo, Adrien.

— Não foi isso que eu perguntei. – o semblante dela ficou mais rígido.

— Eu estou fazendo o que é preciso. – o loiro suspirou – Me desculpe, honeyboy. – baixou a cabeça. Adrien virou na direção dela, se deparando com uma cena de partir o coração. – Por favor, não me deixe. – foi até ela e a abraçou apertado. Não conseguia ser ríspido quando se tratava da Dupain-Cheng.

— Eu nunca vou te deixar, Marinette.

— Você é tudo que eu tenho. – ele não disse nada, apenas aconchegou melhor a mulher que amava em seus braços.

***

Marinette estava na sua mesa improvisada na sala de estar, terminando de rabiscar um vestido. Logo decidiu ir dormir. Terminaria o resto do croqui amanhã.

Antes de desligar a luminária, notou que a janela estava aberta. Então foi até ela e fechou, porém sem querer bateu no pequeno vaso de flor decorativo e o derrubou no chão. Por sorte não havia quebrado.

A azulada se abaixou para juntar o vaso e assim que levantou, se deparou com uma presença inusitada na sala, sentada sobre sua poltrona.

O vaso caiu das mãos dela, porém dessa vez quebrou em vários pedaços. Enquanto Marinette encarava o homem e se perguntava o porquê de ele estar ali.

— Olá, Marinette. – disse Fu – Precisamos conversar.