Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 44
E o grande leão dourado voou sobre as pessoas




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Capítulo 42

E o grande leão dourado voou sobre as pessoas… 

 

Barcelona, Catalunya, Espanha

23 de abril de 2016

 

Dia de São Jorge, Padroeiro da Catalunya, no passeig de gràcia.

 

I

 

— Esse São Jorge daqui é legal, né? Tá cheio de barraca de livro na rua, tem uns que até tem magia… — disse Kero. O guardião estava no ombro de Tomoyo, farejando o ar de Barcelona.

— Então, Kero, dá até pra sentir o cheiro de mofo também, se você ficar com esse narigão farejando onde não deve! — berrou Sakura.

Sonomi e Marcela sorriam com a confusão.

— Ora, que isso! O Kero gosta muito de livros, apesar de não parecer. Esse é o melhor dia de venda de livros do ano, tem muito sebo e muita editora que coloca os livros na rua! — explicou Somoni.

— Ainda bem que alguém me entende… — disse Kero. — Senão, eu 'taria perdido!

— Ah, é? Então me diz uma coisa, Kero. Entre o livro do Zelda, com as ilustrações das armas, dos gráficos, e o um livro de culinária, que te ensina a cozinhar, já que você gosta de comer mesmo, qual dos dois você prefere? — perguntou Sakura. 

Kero baixou a cabeça um pouco para pensar. 

— Olha, já que eu sou o viciado oficial de videogames da família, entre comprar um livro de culinária, que me ajuda a cozinhar mais pratos pra eu comer, e o livro do Zelda, eu prefiro comprar o livro do Zelda do que o de culinária. — respondeu o guardião.

— Então toma! — disse Sakura, batendo no guardião com dois livros grossos do Zelda que ela pegou numa barraca: "Art & Artifacts" e "Hyrule Historia".

— Doeu, sua monstrenga! — berrou Kero. Todo mundo olhou para a turma. Tomoyo tentou disfarçar, imitando a voz de Kero.

— Sua monstrenga! Você não precisava ter batido com o livro nas minhas costas! Toma, toma! — disse Tomoyo, puxando os livros das mãos de Sakura e batendo nela de volta. O povo riu. Assim que a poeira baixou, as meninas suspiraram aliviadas. 

— Puxa vida! Quase que a gente toma multa da Dona Beatriz! — disse Tomoyo. — Sakura! Toma cuidado! 

— Desculpa, só queria fazer uma brincadeira! Você me deve uma, Kero, depois daquele bolo esquisito que eu comi! Tirou uma com a minha cara mesmo, hein? Eu tava morrendo de fome e comi aquele negócio estragado! Minha barriga doeu uns três dias! — disse Sakura.

— Que negócio é esse de bolo? — perguntou Marcela.

— Isso foi semana passada. Eu tentei dar pra Sakura um bolo de presente que o Chi fez, mas o bolo estragou no caminho! Quem manda morar tão longe! — explicou Kero. 

— Mas, pelo menos, você ganhou seu presente de Sant Jordi. — disse Sonomi, sorridente.

— Que maneira mais esquisita de ganhar presente! — disse Kero, apontando a língua para Sakura. 

— Você mereceu por estragar o bolo de caneca do meu filho! — disse Sakura, devolvendo o deboche.

— Por que eu tenho que ganhar livro, hein? — perguntou Kero.

— Kero, você é hominho! É normal os homens receberem livros das meninas e as meninas receberem rosas nesses dias! As floriculturas também vendem muito por aqui hoje, sabe? — explicou Sonomi. 

— Entendo… Por falar em flores, olha lá! — disse Kero, apontando para um homem bonito de jaqueta jeans e óculos escuros que vinha na direção delas com um buquê nas mãos. Era Felipe. Ele estava ao lado de um homem de cerca de cinquenta anos e uma mulher jovem de cabelos castanhos curtos. 

— Felipe! — disse Tomoyo. Ela correu até o namorado e deu um beijão na boca dele. Todo mundo ficou impressionado com o gesto surpresa da costureira e Sakura virou o rosto e olhou para o chão, para não segurar vela, segundo ela.

— Tomoyo… Acho que não apresentei eles… Esse aqui é o Toni Soler e a filha dele, Clara Soler. Ele é o dono da oficina onde eu trabalho… A Clara é florista e trabalha numa floricultura… — disse Felipe.

— Prazer, Toni, Clara… — disse Sonomi. Sakura e Kero estranharam.

— Mas… 

— Deixe estar, Sakura, deixe estar! depois eu te explico… — disse Marcela. 

— O prazer é todo nosso! Aliás, eu quero saber a sortuda que vai ganhar esse buquê de rosas e magnólias! — disse Toni. 

— Esse buquê é o maior que a gente tem! Pra comprar um desses na loja, tem que gostar muito da pessoa. — disse Clara. Os olhos de Tomoyo brilharam. 

— Pra mim, Felipe? — disse Tomoyo, com o rosto rubro.

— Sim, nada menos para quem já me ajuda demais com a minha filha… — disse Felipe. Tomoyo correu e abraçou o homem demoradamente. Sakura ficou só tocando a pontinha do dedo indicador, não escondendo o desconforto por segurar aquela vela.

— Boneco engraçado esse que você tem ai Tomoyo… — reparou Clara, sorrindo. 

— Que nada, ele é o grande Kerberos! — disse Tomoyo sorrindo. 

— Eu também tenho um jacaré de pelúcia em casa… Eu chamo ele de Punt! — disse Clara, puxando assunto. 

"Vai nessa! Sou mais que um jacaré!", disse Kero, dentro da cabeça.

Ao lado delas, a carroça de flores trazia um outro buquê. Toni tirou de lá e entregou para Felipe. 

— Isso é para você, Sonomi. Sei que você sabe do valor das coisas e… Procurei fazer o possível pra mostrar o quanto eu gosto de vocês… 

— Felipe! Nossa! Isso deve ter sido caro! Minha nossa senhora de Montserrat! — disse Sonomi, sem fôlego. Todo mundo gargalhou, menos Sakura.

“Por que eu tô me sentindo assim, hein? Eu devia ficar contente, não?” — perguntou-se Sakura.

— Nada é tão caro para a senhora! — disse Felipe. De certa forma, Felipe tinha quase a mesma idade que a executiva. 

— O Felipe deve ter um dinheiro guardado. Nada melhor que um dinheirinho pra mostrar pras pessoas que a gente gosta o quanto a gente dá valor pra elas! — disse Toni.

— Eu gostaria de ganhar um buquê assim algum dia! — disse Clara. 

— Bem, vamos indo, aproveitem o Sant Jordi! — disse Toni.

— Feliç Sant Jordi. — disse Clara. Tomoyo tirou um embrulho de uma sacolinha que carregava.

— Olha, Felipe, isso aqui não deve ser nada comparado ao buquê que você me deu, mas… Eu sei que você gosta dessas coisas militares… — disse Tomoyo. Ela pediu para Sakura segurar o buquê e entregou com as duas mãos um livro para ele. 

— Ah! “Reflexões do General Shen Yi-Ming sobre defesa global e autodeterminação dos povos”! Estava querendo ler esse livro mesmo! — disse Felipe, beijando suavemente a testa de Tomoyo. Sakura coçou-se toda. 

— Aqui tá o meu Felipe… — disse Sonomi. Ela entregou o buquê para Marcela e tirou um livro da sacola para ele. 

— Que coisa! “Vida e Obra do General Qassem Soleimani”! Também queria ler esse! Adoro ler esses livros de estratégia militar! — disse Felipe. As meninas sorriram. — Quem sabe, eles não me ajudam na minha defesa… 

Sonomi e Tomoyo ficaram pensativas. 

— Vai dar tudo certo, Felipe! — disse Sonom, agarrando as mãos dele. Felipe sorriu.

— Obrigado, Sonomi, obrigado mesmo. Preciso de toda a energia do mundo pra eu enfrentar o que eu estou enfrentando. — disse Felipe. Só de lembrar do julgamento de Felipe que ela viu na televisão, Sakura sentiu um pouco de pena dele e parou de sentir aquele comichão pelo corpo, segurando aquelas rosas misturadas com magnólias.

— Por que a gente não vai no desfile de Sant Jordi na Rambla pra gente descontrair um pouco? — sugeriu Sonomi.

— Hey, peraí! Eu não vou me enfiar no meio do povo segurando a vela de vocês! — disse Marcela. Sakura se sentiu aliviada por ter alguém do lado dela que pensa a mesma coisa.

— Eu também! Isso tá me dando coceira! — disse Sakura. Todo mundo olhou estranho e a Cardcaptor se sentiu mal usando aquelas palavras para descrever o presente que a amiga recebeu. — Eh… Acho que o cheiro delas é forte, né? Faz tempo que eu não ganho flores, nem tô acostumada com isso… — disse Sakura.

— Dá pra colocar no meu carro! Na volta, eu deixo no apartamento… — disse Felipe.

 

II 

 

A turma foi para a Rambla de Barcelona. Havia um grande desfile de carros alegóricos no lugar, cercado por uma multidão de gente que veio para ver o percurso. Antes de começar os desfiles, Sakura, Sonomi, Tomoyo, Kero, Felipe e Marcela encostaram perto de uma das grades de segurança e ficaram olhando os discursos que aconteciam no meio da avenida.

— Faz trezentos e dois anos que Neus Artells e o Presidente Santi Castell morreram na batalha de Barcelona. Não vamos deixar que o sacrifício deles seja em vão! Visca Catalunya lliure!

— Visca! — gritaram todos.  

— Essa Neus Artells deve ser muito famosa por aqui, acho que eu já ouvi esse nome em algum lugar… — disse Sakura. 

— Não era famosa nada! Só foi há dois anos atrás que o povo daqui ficou sabendo quem ela era. Arqueólogos da Universidade de Barcelona escavaram o porão do Parlamento da Catalunha e descobriram uma série de túneis feitos há mais de trezentos anos… — disse Marcela.

— Mais de 300 anos? É um pouco difícil encontrar coisa tão velha assim no Japão! A gente fazia as coisas com madeira e, sabe como é, não dura muito… — disse Sonomi, surpresa. 

— E o que acharam lá de tão importante? — perguntou Sakura.

— Acharam um monte de documentos da Guerra de sucessão espanhola. Um desses documentos eram vários diários escritos por Santi Castell, centésimo vigésimo presidente da Generalitat que falavam de Neus Artells, a verdadeira heroína da guerra de sucessão e como ela liderou as tropas em batalha! Imagina uma mulher general, liderando uma monte de tropas! — explicou Marcela, empolgada.

— Lembrando que ela era amiga pessoal do presidente Castell. Ela perdeu tudo o que tinha na guerra e a única opção foi lutar… — complementou Felipe.

— Nossa! Que legal essa Neus Artells! — disse Sakura.

— Sabia, Sakura, que diziam que ela usava bruxaria para lutar na guerra? Falavam que as tropas espanholas usavam armaduras resistente à balas. — disse Tomoyo.

— A prova de balas? Como pode há tanto tempo assim? — perguntou Sakura.

— Pois é. Falam que foi bruxaria e que o General Gerard Bernat fazia magia. Por isso, chamaram a Neus para lutar contra ele! — sussurrou Tomoyo.

— Hoe!!! Sabe que bruxaria ela pode ter usado, Kero? 

Kero, por incrível que pareça, ficou encolhido dentro da bolsa de Sakura, sem soltar um pio durante toda a conversa deles.

— Depois o Kero responde, a apresentação vai começar… — disse Felipe.

Na rua transformada em palco, vários biombos apareceram perto do público. Um homem de cabelos castanhos e farda azul saiu de dentro de um desses biombos.

— Nosso reino está sofrendo uma cruel agressão! O presidente Castell não nos escuta mais! A gente tem que mostrar nosso poder!!! — disse o homem. Um segundo homem de farda azul saiu do biombo.

— General Gerard Bernat! Como ousa permitir que um reles governador usurpe o controle de uma região do reino! Nem mesmo o Rei indicou esse tal de Santi Castell para presidente e vem ele usurpando o direito de El Rey! — disse o segundo homem de farda.

— General Enric Miró, que solução propõe, então, pra mostrarmos nosso poder aos separatistas? — perguntou Gerard. 

— A gente tem que queimar eles até a última cinza da carne deles ficar tão fina que nem mesmo dê para ser soprada pelo vento! Devemos queimar suas fazendas, suas cidades e toda sua população até que saibam que o único rei de Espanha é Dom Felipe da casa Borbón, terceiro de seu nome, rei dos Catalães, dos Bascos e dos Galegos! Até que o arquiduque da Áustria seja visto como legítimo usurpador que é! Vamos atear fogo nos separatistas, general! — disse Enric, cerrando os punhos com força.

   — Mas isso é crueldade demais, Enric! A gente pode até queimar as casas e fazendas deles, mas as marcas dos incêndios vai ser difícil de retirar das pedras das casas! Eu escolho lutar! — disse Gerard.

— Lutar? E arriscar mais a vida preciosa dos nossos soldados que poderia ser usada para combater os índios nas Américas? — disse Enric.

— Sim! Eu escolho lutar! — disse Gerard.

— Mas… Os separatistas arranjaram sua Joana D’arc! Isso pode ter consequências!

— Pois que arranjem! Resta agora mostrar que essa tal de Neus Artells não tem nada de santo e muito de humana! Que ela pode morrer diante dos golpes de espada e dos tiros dos fuzis e Deus nenhum vai aparecer para ajudar ela! — disse Gerard.

— Pois eu não conto com a ajuda de Deus, nem de Rei, nem de Lei nenhuma pra enfrentar vocês! Que o povo da Catalunya seja minha força, que a razão seja a minha justiça e que a luz da liberdade me guie até a vitória! — disse uma voz. Gerard e Enric ficaram confusos e uma mulher de farda vermelha saltou de um biombo e acertou as costas de Enric com uma espada. O homem gritou e caiu no chão.

Dentro da bolsa de Sakura, Kero gemia e chorava como ninguém com a atuação da atriz que representava Neus.

— Neus Artells de Sabadell! 

— General Gerard Bernat! Me causa arrepios saber que o senhor também nasceu na minha cidade! Como ousa se voltar contra seu próprio povo, sua própria gente? 

— Como ouso? Minha senhora, foram vocês que se voltaram contra o legítimo rei em primeiro lugar, contra o estado de direito! Vocês só querem romper Espanha e vou fazer tudo ao meu alcance para manter o reino unido! — disse Gerard, sacando uma espada.

— Então, não vejo outra alternativa, General, senão me erguer contra o senhor! — Neus levantou a espada contra Gerard. — Me diz, General: seu rei está disposto a escutar a voz do povo e ouvir o que eles querem? Se for assim, ele também pode ser meu rei… 

— Como assim voz do povo? Garota, entenda: Catalunya é tão parte da Espanha quanto o México é terra da coroa! Não existe esse negócio de voz do povo! A Catalunya é parte da Espanha por herança legítima de casamento de nosso Rei, passada de geração em geração pelos seus antepassados! Não me venha com esse negócio de voz do povo! 

— Esse é o seu erro, General! Quando o Rei Fernando de Aragão passou o principado da Catalunya para a sua filha Joana, ignorou completamente a nossa história! Há quase mil anos (falando numa perspectiva de 1714) nós temos nosso conde, nossas leis, nosso povo, nossa língua! O seu rei só quer tomar uma coisa que já tem dono, o dono da Catalunya é o povo! 

— Visca! — Toda a plateia gritou. A atriz que interpretava Neus continuou:

— Da mesma forma que há gerações passadas, o rei da Espanha ignorou que o México já tinha sua gente, suas leis e seus reinos e estabeleceu o seu! Impôs sua língua, suas leis, sua religião em cima de gente que já tinha tudo isso! Esse é o erro de vocês! E contra esse erro, eu levanto minha espada! — disse Neus, partindo pra cima de Gerard, golpeando de um lado e de outro o ombro dele. O homem se defendia como podia.

— Era isso mesmo! Era isso mesmo! Eles souberam pegar o espírito da coisa! — disse Kero, chorando a fio solto na bolsa de Sakura. 

— Hey, Kero, vai encharcar tudo! — disse Sakura, agarrando o guardião com a ponta dos dedos. O leão amarelo agarrou a manga da blusa de Sakura e assoou o nariz com ela. Sakura ficou doida com aquilo, mas a turma em volta dela gargalhou com o gesto do guardião. 

No palco, um estalo de metal atraiu a atenção de todo mundo. A espada de Gerard voou para perto dos pés de Sakura. O general estava caído no chão e Neus apontava a sua espada para a garganta dele. 

— Pois bem, General! O senhor perdeu! O senhor gosta de lógica, não é? Eu também! Da mesma forma que eu, como mulher, não tenho menos habilidade que o senhor, eu expulso as tropas do senhor de toda a extensão do nosso país por perder esse duelo!

— Visca Catalunya lliure! — disse uma voz na plateia. 

— Visca! — todos corearam mais uma vez.

— Você está enganada! — disse uma voz.

— General Enric? — disse Neus. 

O homem saiu de trás de um biombo e deu uma coronhada na cabeça de Neus. Ela caiu no chão e uma multidão de soldados do exército espanhol, de farda azul, cercou a mulher. Eles estavam com fuzis nas mãos, apontados para ela. Um dos soldados agarrou o pulso da menina e levantou-a.

— Tola Neus! Poder é poder! E você não tem poder além da ponta da sua espada! Mas eu tenho todos os fuzis dos soldados de Espanha apontados para você! Entende de matemática agora? — disse Enric.

Neus, cabisbaixa, levantou a cabeça para ele e disse, orgulhosa:  

— Vocês podem até acabar com a minha liberdade, podem acabar com a minha vida, mas jamais vão acabar com os clamores de liberdade do nosso povo! — disse Neus. Um biombo apareceu e escondeu todos os atores. A cortina se fechou e sons das balas de festim saíram de dentro do biombo.

A plateia ficou espantada. 

— Não foi assim… disse Kero. Sakura e Marcela olharam o guardião com estranheza. 

— Não foi assim o quê? — perguntou Sakura. Kero, ainda estava enxugando as lágrimas e não respondeu. Sakura nem ligou. A ação na rua se passava mais rápido ainda e os atores já estavam alinhados, saudando o povo. Eles inclinaram o corpo e se deram as mãos. Uma salva de palmas circulou por toda a multidão. A atriz que interpretou Neus pegou o microfone e disse algumas palavras: 

— Essa aqui foi uma pequena apresentação da vida e do martírio da Neus Artells, nossa heroína, uma das mais importante de todas! Uma mulher forte e valente que levou nosso povo à luta. A chama da luta dela não acaba aqui, continua dentro de todos nós! 

— Llibertat! Llibertat! Llibertat! — gritaram todos, aplaudindo a cada sílaba pronunciada. O desfile de alegorias começou. Os primeiros carros representavam os soldados do exército espanhol, de trezentos anos atrás. Eles eram vaiados pelo povo à medida que passavam. Atrás deles, vieram as alegorias dos Miquelets e dos Coronelas, soldados que lutaram pela República Catalã há 300 anos. Eles usavam fardas azuis e vermelhas e eram muito saudados pelo povo. Uma chuva de confetes e serpentinas caíam sobre eles.

Atrás deles, vinha a alegoria principal, mas antes, o ator que fazia o presidente da Generalitat, Santi Castell, vestido com roupas negras, desfilava sobre um cavalo e saudava a multidão. Atrás deles, um Miquelet, de farda azul, e um Coronela, de farda vermelha, segurava uma bandeira cada um. O Miquelet trazia a bandeira branca com a cruz vermelha da cidade de Barcelona e o Coronela trazia a bandeira amarela com quatro listras vermelhas da Catalunha.  

A alegoria principal tinha dez metros de altura e vinte de comprimento. Na ponta, tinha um boneco enorme do Rei Felipe III e dos Generais Enric e Gerard. Estavam caídos, com as mãos no rosto. Na frente deles, estava um grande leão dourado alado, com armadura de jade. Neus Artells estava montada nele, com uma enorme espada rosa em riste. O leão da alegoria ainda cuspia fogo, o que encantou a multidão. 

Sakura ficou chocada na hora.

— Sonomi-san! Esse leão dourado… 

— Lembra o Kero, não é? Que surpresa! — disse a executiva. 

— E aquela espada na mão dela não é diferente da carta espada, Sakura! — disse Tomoyo. 

— Hoe! — Kero-chan, me explica o que é aquilo? 

O guardião ficou encolhido dentro da bolsa da mestra. 

— Bem, eu não conheço as cartas Clow, mas eu conheço da história do meu país… — disse Felipe. 

— Agora estamos salvas! — comentou Sonomi.

— Muito ainda falta a ser decifrado da história de Neus. Inclusive, encontramos um diário escrito por ela que tá todo rasgado por conta da água no túnel…  

— Que pena! — lamentou-se Marcela.

— E outro que, foi escrito pelo General Germà Gordò, comandante dos Miquelets. Ele estava sempre com Neus no campo de batalha e El Rey Felipe III, meu tataravô, deu a permissão para ele dizer a história dele antes de ser fuzilado.

— E o que ele contou, Felipe? — perguntou Sonomi.     

— Contou que Neus não costumava usar fuzil. Quando usava, ela acertava com uma precisão de espantar, como se cada bala dela fosse um homenzinho de cabelo espetado que corresse até o alvo… 

Sakura se espantou. 

— Tomoyo… Você ainda tem aquele desenho das cartas? — perguntou Sakura. 

— Tá aqui… — A amiga sacou o celular e colocou no aplicativo de fotos. 

— Como esse aqui, Felipe? — disse Sakura, mostrando para ele a foto da carta “tiro”.

— Acho que sim… Ele sempre dizia que Neus andava com uma bolsa que ela nunca desgrudava. Ninguém sabia o que ela levava, mas o General Gordò viu ela tirando um livro de capa vermelha com detalhes dourados na borda… 

— Detalhes dourados na borda… — repetiu Tomoyo. Ela estava pensativa, com o dedo no queixo. resolveu olhar para Kero, mas ele já havia se escondido mais ainda na bolsa de Sakura. 

— Tomoyo… Você não tá percebendo que isso tá claro demais? — perguntou Marcela.

— Claro que sim! A Neus usava as Cartas Clow! — disse Tomoyo.

— Como assim? — disse Sakura, tirando Kero da bolsa. Não era você que dizia, Kero-chan, que as cartas eram minhas? — perguntou Sakura, chorando de dúvidas. 

— Se acalme, se acalme! — disse Kero.

— Sakura, eu me lembro o que o Interventor da Catalunha disse pra gente na Cosmosquare, na Les Glóries, faz cinco anos! Ele disse que as cartas eram deles há mais de 300 anos! É claro que Clow deve ter usado elas no passado! — disse Sonomi.

— Agora, como usou, só o Kero pode dizer pra gente… — disse Felipe, olhando para o guardião. Kero não falava nada e El Rey prosseguiu:

— Tudo o que eu sei é que, na batalha de Barcelona, no dia 11 de setembro de 1714, Neus estava montada num grande leão dourado. Os diários dos quatro generais confirmam isso. 

— Os quatro generais, é? Que droga! — disse Kero.

— Mais engraçado é que no momento que as tropas da Espanha avançaram sobre o monte tibidabo, Neus levantou a espada rosa e grande leão dourado voou sobre as pessoas… Voou sobre El Rey e saiu queimando toda a retaguarda… Essa é a história oficial, até antes dos diários. Quando eu vi você naquela luta de cinco anos atrás… Pensei na mesma coisa… Era você, Kero? — perguntou Felipe.

Todas as meninas olharam para o guardião. 

— Tá bom, tá bom, eu falo… — respondeu o Guardião. — Eu vou explicar toda essa história minha com a Neus, com as Cartas, com o Clow… Como a gente se meteu no meio disso tudo… Mas não aqui… 

 

Continua… 


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