Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 43
Vim fazer uma visitinha




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Capítulo 41

Vim fazer uma visitinha 

 

Barcelona, Espanha

1 de Abril de 2016

 

I

 

— É dose mesmo! Eu devia tá em Bilbao agora! Eu tinha que fazer uma cirurgia! — disse Sakura, sendo arrastada por Marcela pelo braço quando saiu do carro. 

— Sósia, relaxa um pouco! Eu já falei com a sua professora Begoña… 

— Orientadora, Sósia, orientadora… — corrigiu Sakura. 

— Então… eu falei com a Dona Begoña que hoje era o seu aniversário e ela te liberou! É o meu aniversário também e sabe o mais engraçado? Ela não sabia, sósia! Como explica uma coisa dessas, hein? Fazer cirurgia no próprio aniversário! Que feio! 

— Não é feio nada! Se um paciente tá precisando de mim, como é que eu posso deixar ele na mão? 

— Só tem você de médica no mundo? — Perguntou Marcela. Sakura não soube o que dizer. 

— O que você me diz, Sakura, de deixar uma amiga que veio lá do raio que o parta na mão? 

— Você diz da Naoko? 

— Quem mais seria! Ela tá aqui só pra te prestigiar!

— Ela vai me expor mais ainda! Puxa vida, não tô pronta pra virar celebridade!

Sakura e Marcela pararam diante de um banner enorme rosa onde se lia “As aventuras da bela guardiã das Cartas, Sakura, e seus amigos! Venham ler a história da heroína que luta usando cartas”. Havia um grande desenho da cardcaptor segurando o báculo rosa. Ao lado dela, estava Kero e Yue. Para não dar tão na cara que aquilo se tratava de uma história real, o báculo da estrela havia mudado para um báculo de cristal com uma estrela de oito pontas. Tudo para fugir da fiscalização da autoridade mágica.

O cabelo de Sakura estava maior também. Parecia que a cabeça de Kero estava num corpo de lobisomem e Yue dava uma risada histérica que Sakura jamais viu. Tomoyo, Syaoran, Meiling, Yamasaki, Naoko, Rika e Chiharu também estavam no banner.    

— Brincadeira o que a Naoko fez comigo! A princesa Hinoto e a Dona Beatriz não viram isso não, hein? Isso é violação das regras! 

— Não quando se deixa claro que é um trabalho de ficção! 

— Eu devia ter falado pra ela que aquela briga com a Gotzone também foi ficçao! Aí, eu queria ver! 

— Sakura, para com isso, vai! Não se recrimina!

Sakura parou de se lamentar e ficou abraçando o próprio braço. Marcela continuou:

— Tem mais: nós somos duas arianas que adoram ser paparicadas! 

— Não ligo pra zodíaco… — disse Sakura, com a boca meio aberta. O rosto dela estava vermelho só de pensar no povo olhando para ela no evento. 

— É seu niver, Sakura! Meu niver! Como você vai pensar em fazer cirurgia num dia tão especial como esse?

— Sabe o que é, é que antigamente eu ficava feliz quando meu aniversário chegava. Agora, toda vez que eu faço aniversário, eu me lembro que meu irmão não tá aqui, meu pai não tá aqui e que o Eriol me ligava direto pra me desejar feliz aniversário. Perdeu a graça comemorar e… Eu me lembro da falta que eles fazem… 

— O Shoran também não vai estar, né? O primeiro aniversário sem ele… Ele sempre preparava alguma coisa especial… 

Sakura ficou melancólica ouvindo Marcela.

— Você tá lendo a minha mente, né? Jogo sujo isso, viu? 

— Relaxa, eu só quero que você aproveite… 

Sakura sorriu um pouco.

— Vai me dizer que não vai gostar de ser o centro das atenções hoje? A Tomoyo já tá lá, o Kero também! Vem, vem! — disse Marcela. Ela pegou a mão de Sakura e arrastou a Cardcaptor.

 

II

 

Aquele era um evento organizado pela editora espanhola Norma, com alguns dos mangakás das obras editadas por ela. Havia palestras, estandes e shows de bandas da terra do sol nascente. Em um desses palcos, estava um dos mangás shoujos mais vendidos pela editora: "As aventuras da bela guardiã das Cartas, Sakura, e seus amigos". Kero já estava lá, dando palestra, enquanto Naoko não aparecia. 

Todos os otakus ficavam vidrados com as palavras que ele dizia. Para enganar o povo, todo mundo falava que ele era uma das últimas criações da tecnologia japonesa, de uma firma que  tinha parceria com um poderoso conglomerado espanhol. Aos olhos deles, Kero não passava de uma criação resultante da fusão de inteligência artificial, aprendizado de máquina e a robótica. Para o teatro ficar perfeito, havia três pessoas mexendo no computador atrás dele, que na verdade não estavam controlando nada, exceto o botão de curtidas de suas redes sociais.

Uma das pessoas atrás dos computadores era Dona Beatriz Fanjul. Quando viu a dupla de sósias, ela apontou o dedo para o olho e puxou a pálpebra de baixo. 

— Dona Beatriz, a senhora aqui? — perguntou Marcela.

— Meu marido é editor e eu tô acompanhando ele. Coincidência encontrar vocês aqui… Ou não? Tô sabendo desse negócio de “Aventuras de Sakura” — perguntou a Ministra, com ar severo. 

— Eu que me pergunto como você pode deixar o Kero na forma verdadeira na frente de todo mundo e me prender por sete dias! — disse Sakura, brava.

— Não tem problema falar de magia em mangás, livros ou qualquer obra de ficção.

— Não tem problema? Como assim? — perguntou Sakura, indignada.

— Bruxos, vampiros, dragões, é irrelevante o que os comuns especulam sobre o mundo mágico.

— É irrelevante, é? Eu fiquei presa por conta disso! — disse Sakura, escandalizada.

— Você mostrou na frente dos comuns o que um mago é capaz de fazer. Se você usasse seus poderes como mera obra de ilusionismo, eu não falaria nada, desde, é claro, que você explicasse o truque depois. A Naoko explicou os seus poderes, Sakura, como mera obra de ficção. Agora, você me vem usar um báculo e cartas Clow no meio da rua. Como eu explico isso? 

— Elas se chamam Cartas Sakura! 

— Que seja! Você vem usar as cartas Sakura, uma coisa incompreensível, na frente de pessoas que não estão preparadas pra entender a gente, sem explicar de onde vem toda a sua pirotecnia! Compreende? As pessoas não iam acreditar no que estavam vendo e ficariam chocadas!

Sakura calou-se.

— O Kero-chan vai ver só… 

— Deixa ele se divertir um pouco… Se lembra do que eu falei de coisas explicáveis? — disse Dona Beatriz. Sakura ficou contrariada, pensou um pouco e retrucou a ministra.

— Não se como uma ministra de estado vem num evento de uma editora sem toda aquela frescura de segurança… 

— Eu sou a ministra menos conhecida de todos os ministros do presidente Sanchez. Simples assim. Eu nem trabalhista sou! Sou do partido conservador pra você ter ideia! 

Sem querer entender nada da complexidade política espanhola, Sakura saiu de perto dela e foi ver Kero. Marcela ainda continuou conversando com a ministra. 

— Sim, gente. Eu tô na história pra divulgação mesmo. Apesar de eu ter poderes, eu sou fruto da tecnologia! — disse Kero.

— Nossa, a coisa tá avançada no Japão! Quero um Kerberos pra mim! — disse uma fã.

— Corrigindo: Grande Kerberos. — disse Kero.

— Sim, sim, vou querer um grande Kerberos pra mim um dia.

O guardião sentiu a presença da mestra e deu uma piscadela para ela. Alguns da plateia perceberam e reconheceram Sakura.

— Olha lá, olha lá! A valente Sakura! 

— Nossa, ela é tão diferente da obra! Nem tem o cabelão grande! — disse um fã.  

Sakura arregalou os olhos com a surpresa e sentiu-se encurralada com tanta gente à sua volta. Mas não deixou de ver que graças à presença dela, seu guardião perdeu quase toda a plateia que tinha. Os poucos que ficaram apenas esperava para pegar um autógrafo ou tocar o corpo dele. A cardcaptor aproveitou para devolver a piscadela de volta. 

— Hoe!!! — exclamou Sakura.

 

III

 

— Bem, gente, acho que durante esses dias, deu pra vocês conhecerem minhas amigas né? — perguntou Naoko. Tinha muita gente em volta do palco onde ela estava. Rika, Yamasaki e Chiharu vieram ontem. Eriol e a professora Mizuki foram citados e homenageados. Havia um grande retrato de Meiling também, que infelizmente não pode estar. Sakura e Tomoyo eram as únicas a estar do lado da quatro olhos naquele momento. — Alguém tem alguma pergunta a fazer? 

— Só queria dizer que, pra você ser uma japonesa, você fala catalão muito bem! — disse uma menina da plateia. As três sorriram no palco.

— A Tomoyo já é catalã de longa data! A Sakura também sabe falar euskera, alguém se arrisca? — disse Naoko. Tomoyo era quem traduzia a conversa para todo mundo. Sakura fez uma cara de doer ouvindo a tradução da costureira.

“Naoko, sua cretina, me trouxe aqui pra me encrencar, hein?”, pensou Sakura. A plateia viu as caras e bocas de Sakura e gargalhou.

— Só queria dizer que sua obra é muito boa, Yanagisawa-san! — disse um fã.

— Obrigada! — disse Naoko.

— Fico até imaginando a Sakura voando naquela vassoura de cristal! Ela tá idêntica! 

Todos gargalharam.

— Essa coisa da vassoura de cristal é meio enrolada mesmo, né? Como deve ser voar naquilo, né, Sakura? — respondeu Naoko, traduzida por Tomoyo. 

— Só queria fazer um comentário do porquê a Sakura não ter terminado com o Yamasaki ou com o Shoran. Ela ficou com o Yue mesmo? O cara é guardião dela, puxa! Esse Yue é meio doidão! — disse um fã. As meninas ficaram sérias, Sakura mais ainda.

— Bem… A Sakura não termina com ninguém na história… O Yue tá lá só pra proteger ela mesmo… — disse Naoko.

— Agora entendi. O Shoran daqui é o mesmo Shoran que joga no Real Madrid? — perguntou o fã.

— Sim, é ele mesmo… — respondeu Naoko.

— Nossa! Eu torço pro Espanyol de Barcelona, deixei de ver meu time jogar hoje contra o Real só pra ver você aqui! Pena que o evento acaba hoje e eu não possa ver o Shoran! Ele é demais! Imagina se ele não tivesse optado por dar as cartas pra Sakura naquele pôr do sol na praia! Nossa! Pensei que eles pudessem ser um casal!

Metade da plateia concordou com o que ele disse. Sakura ficou mais triste, cabisbaixa e silenciosa ainda. Naoko e Tomoyo tentaram contornar a situação.

— Bem, gente, eu convidei o Shoran, pode ser que ele apareça quando terminar o jogo, mas… Aí, meu tempo vai ter acabado! Acho que dá pra falar com ele sim! — disse Naoko, sorrindo amarelo. 

 

IV

 

— Qualquer dia desses, você podia fazer uma obra sobre mim também, Naoko! Eu sei ler mentes, sabia? — disse Marcela. 

— Até que foi fácil falar da Sakura. A Tomoyo já deixou meio caminho andado… — disse Naoko. 

— Tô vendo esse meio caminho andado… Eu fugiria de medo se uma menina fizesse todos esses vestidos pra mim… — disse Marcela. 

Marcela, Naoko, Sakura e Tomoyo andavam por um enorme salão de exposições fechado ao público. Havia uma série de caixas de vidro com as roupas que Sakura vestiu durante a captura das cartas e havia também muitos desenhos e ilustrações feitos por Naoko e Tomoyo. 

— Acredita que eu achei que estava tudo perdido? Nunca pensei que alguma coisa pudesse se salvar depois que o banco tomou nossa casa! — disse Tomoyo, admirando as roupas com um ar nostálgico no rosto. 

— Nem o banco quis! Achei uma parte delas numa loja de fantasias e a outra numa loja de roupas que já ia queimar elas! 

— Queimar, é? — perguntou Marcela.

— Sim, a gente queima lixo no Japão e usa pra fazer energia. Agora aquele vestido vermelho com a boina com um laço enorme se perdeu pra sempre. — disse Naoko.

— Puxa vida, era a minha roupa favorita! Se lembra Tomoyo, que você ficou filmando durante dias e dias aquela cena de abertura que você queria fazer comigo? Parecia Tokusatsu aquilo! — disse Sakura, sorrindo de nostalgia.

— Então! Na época, você achou ruim, Sakura, mas no final, até gostou. Ainda bem que deu pra mostrar aquele vídeo para o povo daqui! Acho que era o único que a dona Beatriz ia permitir! — disse Tomoyo.

— Olha que eu já cheguei a odiar tanto essas roupas… — disse Sakura, envergonhada com o que pensava no passado.

— Por que eles não destruíram as roupas, Naoko? — perguntou Marcela.  

— Eles só não conseguiram por que as roupas eram feitas de tecidos diferentes… Umas de poliéster, outras de lã… Daí, pra reciclar tudo, tinha que rasgar… — explicou Naoko.

— Vários tecidos, é? Isso deve ter dado um trabalho pra fazer, né, Tomoyo? — perguntou Marcela, com um olhar malicioso para ela. Tomoyo ficou envergonhada por dentro, mas não conseguia demonstrar, mesmo tendo a pele branquíssima como leite. Apenas sorria e olhava para o chão. Todas as meninas olhavam para ela.

— Nunca medi esforço para fazer as roupas para a Sakura, por mais que ela não gostasse. 

— Nunca mediu esforços, é? — disse Marcela, dando uma cotovelada em Sakura. — Isso deve ter custado um tempo, dinheiro… 

— Nunca me preocupei com isso. Nunca foi dor de cabeça gastar com as fantasias. — disse Tomoyo.

— Gente rica é assim! — disse Naoko.

— Não é bem assim. Sabia o quanto custava, mas também era minha forma de dizer que estava feliz por fazer alguma coisa por ela… Apesar de não ter poderes mágicos para ajudá-la nas lutas contra as cartas. Eu só queria poder fazer parte daquilo, fazer parte da vida de cardcaptor da Sakura, de alguma forma, como… como… — disse Tomoyo. Suas bochechas ficaram vermelhas por fim e ela não sabia como continuar aquilo. 

— Como eu fazia, Tomoyo? — disse uma voz masculina, saída de trás de uma das caixas de vidro onde estava a fantasia rosa que Sakura usou para pegar a carta trovão. 

Era Syaoran. 

Estava vestindo uma jaqueta de couro preta e segurando uma sacola na outra mão. As meninas ficaram surpresas com a visita dele.

— Syaoran? — disse Marcela.

— Shoran? — disse Sakura.

— Shoran, você veio! — disse Naoko, sorrindo naturalmente, mas sentindo a tensão no ar.

— Atrasei, mas consegui vir. Vim fazer uma visitinha, pena que a palestra acabou. O técnico me liberou depois do primeiro tempo… 

— Já no primeiro tempo? Que raro! — disse Naoko.

 — Combinei de fazer uns dois gols no Espanyol e o treinador me liberou… Essa cidade de Barcelona só tem trânsito… Madrid é muito melhor pra essas coisas. — disse o Chinês. Depois, ele olhou para a costureira e continuou o assunto. — Como eu, Tomoyo? 

— Como você, Syaoran. Eu queria ter magia também pra ajudar a Sakura… Que nem a Sailor Vênus e a Sailor Moon…  

Os dois se encararam. Uma tensão crescente inundou o ambiente. Uma tensão quebrada pela própria Tomoyo.

— Eu queria ser forte como você, como a Meiling. Eu queria ter sua espada, o talento da Meiling para proteger a Sakura naquela época. Até hoje eu me lembro o que a Sakura falou de você quando vocês transformaram a carta Névoa… Você parecia ter saído de um filme de ação que nem "Vingadores"! 

Syaoran e Tomoyo sorriram.  

— Força sem coragem não adianta de nada. É como as águas de uma represa que não podem sair do lugar. Elas podem até inundar a margem de um rio, mas se continuar presa, nunca vai poder fazer nada, nem vai mostrar do que é capaz… 

— Filosófico… Esses chineses! — disse Marcela, elogiando o cardcaptor. 

— Essas roupas, por mais que a Sakura reclamasse que eram desconfortáveis, que ficava mostrando a calcinha e deixava ela ridícula, era tudo o que dava coragem pra ela. — confessou Syaoran.

Sakura arregalou os olhos ouvindo aquilo.

— Naquele dia, quando a gente transformou a carta névoa, a gente tava com a roupa da escola. Eu fui a coragem que direcionou a força dela… 

As meninas se olhavam sem saber o que falar.

— Incrível, né, Shoran? — disse Naoko.

— Há coisas mais incríveis. Essas roupas, esses desenhos, esses retratos. Nunca dediquei minha vida pra essas coisas, mas sempre admirei a sua capacidade de costurar, Tomoyo. 

— Obrigada, Syaoran. — disse Tomoyo.

— For por isso que eu decidi comprar o kit do ursinho e participar disso… — disse Syaoran, retirando da sacola o ursinho que Sakura deu para ele no ônibus, enquanto ele partia para Hong Kong. Ele deu alguns passos e entregou para Sakura. — No fundo, a gente foi influenciado pela Tomoyo, a mais esquisita de todos nós… 

— Foi sim… — disse Sakura, pegando de volta o ursinho que ela havia feito há muito tempo. 

— É o seu aniversário, não é? Não tinha muita coisa pra dar, achei melhor que ele voltasse a ficar com você… Obrigado. No fim, essa história de ursinhos não passa de uma lenda mesmo… — disse Syaoran, se afastando de Sakura. — Eu já vou indo, tenho que voltar pra Madrid… Meu voo já vai partir… — O chinês andou alguns metros e se afastou das meninas. 

Mal ele pôs os pés para fora do salão de exposições e uma multidão veio atrás dele.   

— Você é o Shoran, né? Nossa! Nunca imaginei encontrar você por aqui! — disse o mesmo fã torcedor do Espanyol de Barcelona que ansiava por ele. 

— Que história é essa de ursinho de pelúcia, hein? — perguntou Marcela. 

 

V

 

Sakura e Tomoyo andavam pelos estandes, recordando o passado, e Marcela aproveitou a oportunidade para deixar as duas à sós. Naoko também fez a mesma coisa. Quando menos se tocaram, estavam diante de um grande retrato de Sakura. O retrato era exatamente do tamanho da cardcaptor. Pendurado na parede, parecia que tinha o dobro da altura de Sakura. A borda inferior do quadro batia exatamente na cintura de Sakura. 

No retrato, Sakura estava com a boca levemente aberta, a postura sorridente. Uma série de pétalas de cerejeira cercava a cardcaptor e um céu azul com faixas de nuvens servia de fundo para a cena. A médica usava um vestido branco, levemente rosado e tinha laços rosas atados aos pulsos e ao pescoço. Uma echarpe com listras vermelhas e rosas complementava a obra de arte. 

Sakura ficou tão impressionada com o retrato que demorou-se um tempo nele. Encostou as costas na parede, ao lado dele, e levantou a cabeça para o lado para olhá-lo melhor, de outro ângulo.

— Foi você quem fez isso, Tomoyo-chan?  

— Me tomou três meses, mas eu fiz sim… Pintar demora mais que tirar fotos… Por isso, eu não faço muito, só quando… 

— Se trata de coisas importantes? — perguntou Sakura, olhando fixamente para ela.

— Sim, coisas importantes… 

Aquele era o único quadro da cardcaptor no salão. O resto das imagens de Sakura eram leves esboços dela, vestindo as roupas que Tomoyo fazia. Muitos dos desenhos eram apenas projetos de futuras fantasias que nunca saíram do papel. Outros, desenhos incompletos de Sakura, feitos no simples calor do momento. Aquele quadro era o único modelo complexo de uma arte feita de Sakura.

— E você deixou uma coisa importante dessas dentro da mansão pro banco levar? — perguntou Sakura, levemente irritada.

— A gente não tinha onde colocar. Seja lá onde eu e a minha mãe fosse morar em Barcelona, a gente não teria espaço pras fantasias, pros quadros… Além disso, qualquer objeto de mudança ia ser tachado no aeroporto… Imagina a fortuna que seria colocar um quadro desses no avião…  

— Eu aceito suas desculpas… Mas você podia ter me falado… 

— Falar pra quê? A maioria dessas coisas eu fiz pra mim mesma… Não pensava em mostrar pra você… — disse Tomoyo, se esquivando dos olhares de Sakura. A cardcaptor pegou a cabeça dela e faz Tomoyo olhá-la olho-no-olho. 

— É importante sim que você falasse, pra eu te pedir desculpas… 

— Desculpas?

— Desculpas por eu não ter te entendido naquela época, ter entendido o seu talento pra essas coisas mais artísticas… Eu via você fazendo um desenho melhor que o meu e… Eu ficava com inveja, sabe? Ficava pensando porque umas pessoas nascem com inteligência e as outras não… Acho meio injusto isso…

— Sakura…

— Mas então, quando eu comecei a estudar pra Medicina, eu vi que não era bem isso… A Rika me falou que você se dedicou a vida toda pra isso… Eu acho isso muito bonito, sabe? Se eu deixasse de dormir pra fazer lição de casa, eu teria me dado melhor nas provas…   

— Sem você, acho que eu não teria esse talento todo que eu tenho… Acho que as câmeras estariam pegando poeira até hoje lá em casa! — disse Tomoyo, rindo de vergonha.

— Sem você, acho que eu não teria me dedicado a estudar metade do que eu estudei pra prova da Kansai… — disse Sakura, sorrindo o mesmo riso de vergonha da parceira querida. A cardcaptor e Tomoyo ficaram caladas, sem querer olhar uma para a outra, envergonhadas. Foi então que a costureira pegou a mão dela e falou:

— Vamos embora, vai! Chega de nostalgia por hoje… 

— Posso ficar com esse retrato que você fez pra mim? — perguntou Sakura, segurando a mão dela por um momento. Tomoyo fez um olhar estreito terno e disse:

— Pode sim… Acho que cabe no apartamento de Bilbao… Vou falar com a Naoko… 

As duas sorriram novamente, envergonhadas com seus próprios sentimentos. 

 

Continua… 








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