Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 42
A grande questão é...




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Capítulo 40

A grande questão é… 

 

I

Madrid, Espanha

8 de fevereiro de 2016

 

— Podem pegar um, gente, tá tudo na minha conta! — disse Sakura, sorrindo. A turma toda estava numa barraca de guloseimas de um parque de diversões. Tomoyo pegou um churro e Felipe escolheu a mesma opção. Marcela pensou um pouco e ficou com um algodão doce. 

A cardcaptor tinha levado Felipe, Marcela e Tomoyo para um parque de diversões. Depois daquele julgamento pesado, sentia que era o mínimo que podia fazer pela amiga e pelos amigos dela.

Fazia uma semana que havia se libertado da prisão que Dona Beatriz Fanjul havia lhe imposto por usar as Cartas Sakura em público e não pensava em outra coisa a não ser aproveitar a liberdade. 

Estava em Madrid, fazendo uma pesquisa com sua professora orientadora e acabou coincidindo com Tomoyo. Acompanhou o julgamento da televisão do hospital e ficou chocada com a reação acalorada de alguns dos presentes. 

— Não sabia que você era tão boazinha, Sósia! Se tá a fim de pagar uma pra gente, me dá uns euros pra eu ir com a Tomoyo na barraca de tiros… — disse Marcela.

— E você é bem sem vergonha, né? — disse Sakura, entregando cinquenta euros para sua sósia. — Por que não chama o Felipe?

— Eu sempre perco pro Felipe… Ele sempre ganha de todo e a Tomoyo fica com tudo no final! — disse Marcela. A costureira ficou vermelha e El Rey apenas sorriu. 

— Por que você não vai com o Felipe, Sakura? 

— Eu?

— Sim, você… — disse Tomoyo, agarrado a mão da Marcela. Eu tenho umas coisas pra conversar com a Marcela e já vamos comprar os ingressos da roda gigante pra não ter que pegar fila depois, tá certo?

— Bem… é… — Sakura estava indecisa e balbuciava algumas palavras. Foi quando El Rey tocou no ombro dela e desafiou.

— Vamos, Sakura, a gente precisa se falar mais… 

 

II

 

Sakura pegou a espingarda de chumbinho e tentou atirar no centro do alvo. Passou longe e acertou a borda. 

— Droga! Nunca fui boa com tiro! 

Felipe pegou a espingarda e acertou o alvo no centro. O homem da barraca ficou admirado. Outros dois homens que também estavam na barraca admiraram-se com a habilidade de tiro do monarca.

— Você é bom mesmo, meu rapaz! Toma esse urso pra você! — disse o homem, entregando uma pelúcia branca de um metro e oitenta dentro de um plástico lacrado com um lacinho.

— E eu ganho o quê, hein? — perguntou Sakura. O homem apareceu com um mentos para ela. — Puxa vida, eu mereço, viu? 

Felipe se preparava para conquistar um outro presente para Tomoyo quando os dois homens que admiravam sua habilidade com tiro reparou um detalhe estranho no seu braço. Puxaram a manga da jaqueta de frio de El Rey e viram a tatuagem de uma árvore cercada de palavras e o número 14 bem destacado. 

— Ah-ha! Agora dá pra entender… Esse cara é facha (fascista)! — disse o primeiro homem. 

— Não é só facha, não! É lambe-botas do Rei da Espanha! — disse o segundo homem.

— Hey, Artur, vai deixar esse fascista continuar a jogar na barraca mesmo? — perguntou o primeiro homem. 

Os dois homens gargalharam de Felipe. Sakura olhou preocupada para ele, mas o militar olhou de volta para a cardcaptor e tentou acalmá-la.  

— Apesar de estar aqui em Madrid, Sou catalão! — disse Felipe.

— Catalão? — Os dois homens continuaram a rir de El Rey, sem saber quem ele era. Ninguém reconhecia Felipe com os cabelos aparados e o cavanhaque feito, apesar de ter o mesmo nome e os olhos do monarca. — Muito bem, seu catalão, qual é o seu nome? — perguntou o segundo homem. 

— Felipe Ferrer.

— Até o nome daquele desocupado ele tem! Fantástico! — disse o primeiro homem. — Nada mal para um lambe botas real! 

— Lambe-botas um escambau! Servi com orgulho na décima quarta brigada de infantaria de Gernika e faria tudo de novo! Minha mãe era basca, se quer saber! — disse Felipe. O povo ao redor ficou espantado só de ouvir o nome da décima quarta brigada. 

— Sim, faria tudo de novo! Estupraria e jogaria um monte de gente inocente pra morrer queimado dentro de uma igreja, isso sim! De fascistas como você, ninguém precisa aqui em Madrid! — disse o primeiro homem.

— Você está me ofendendo! Eu sou filiado ao Partido do Trabalho da Catalunya, não sei por que me chama de facha! — disse Felipe, mostrando sua carteirinha de filiado. Os dois homens olharam com desconfiança para ele, enquanto Artur, o homem da barraca, tentava acalmar os ânimos. O povo já estava inquieto com aquele clima de briga e alguns até foram chamar a polícia. 

— Catalão e monarquista, sei… Isso não combina! Os caras já sabem que tem um facha no partido? — disse o segundo homem. Todo mundo ao redor riu de Felipe. —  Eu li o artigo que o próprio irmão do Rei escreveu! Faz vinte anos, mas ainda é atual! O cara é um vagabundo, boa vida, só vive dormindo com mais mulheres do que eu já me deitei na vida e ainda por cima, vive do dinheiro dos meus impostos! Tô cansado de sustentar gentinha como teu rei! — disse o segundo homem, cuspindo nos pés de Felipe. 

 — Cai fora daqui, Felipe! — disse o primeiro homem.

— Fora fascistas! — disse uma pessoa da multidão. 

Felipe fechou os olhos e sacou algumas notas de euros do bolso. 

— Eu tenho direito de ir e vir onde eu quiser! Vocês não podem me expulsar! — disse Felipe. A multidão vaiou ele. 

— Senhor, não sei o que fez no passado, mas essa gente não gosta do senhor! Peço por favor… — disse Artur. 

— Não gostam de mim porque não sabem o que eu fiz de verdade em Euskadi, não sabem nem um terço da minha luta! Só vivem de hipóteses da cabeça dos outros e nem têm o trabalho de pensar! Usam suspeitas por conta de uma coisa ou outra feita por uns poucos e querem generalizar! O senhor acha certo isso? Julgar sem saber? Julgar sem ouvir?   

Mais vaias vieram da multidão para Felipe. 

— Tudo bem. vão me julgar, é? Pois que julguem! — disse El Rey.

— Felipe… — disse Sakura, preocupada, mas o militar não a escutou. Seus olhos azuis olhavam com fúria o povo ao redor. 

— Eu tenho dois mil euros aqui comigo. Se vocês quiserem me ver fora daqui, vão ter que me desafiar! Quem vai cobrir a aposta? — disse Felipe. Todos pararam. — O alvo vai ser aquele cara ali… — O militar pegou um cartaz do Partido Republicano pendurado na parede com uma foto do próprio Felipe usando um nariz de palhaço. — Quem acertar no nariz, ganha! Tá fácil, Quem vem? São dois mil euros, gente, eu posso dobrar a aposta se quiserem… — disse Felipe, segurando a arma de chumbinho com confiança. 

 

III 

 

Sakura e Felipe não conseguiram parar de gargalhar desde que saíram da barraca de tiros. O homem estava com um maço de dinheiro na mão e não parava de contar. A cardcaptor segurava os brinquedos e pelúcias que El Rey ganhou na tenda. 

— Você viu a cara deles? cansaram de perder tanto dinheiro que tiveram que chamar a polícia! — disse Felipe.

— Sim, eu vi! Eles até falaram “Moços, tira esse cara daqui! Vou ficar falido se isso continuar!” — disse Sakura, gargalhando. 

— Ganhei mais dois mil nessa brincadeira! Quem mandou falar mal de quem não conhece! — disse Felipe.

— Só que agora, a gente não vai poder voltar pro parque, né? — disse Sakura. 

— Daqui a pouco a gente volta lá… — disse Felipe. 

— Meio triste isso daí, né? A vaia do povo… Eu te entendo, Felipe, eu te entendo mesmo depois de hoje… Deve ser muito ruim atirar contra sua própria cara… — disse Sakura, apagando o resto de gargalhada que restou no rosto.

— Eu atiro contra a minha própria cara todos os dias, já estou acostumado.

— Todos os dias? — perguntou Sakura, confusa.

— Eu nem ligo mais… Aquela não era minha cara mesmo, só uma máscara, uma máscara daquilo que eu quero que eles pensem que eu sou. 

— Puxa vida, você é poeta! Sei lá, sabe, é meio ruim ser xingado na rua… Isso dói… 

— O que me doeu mesmo, Sakura, foi o que o meu irmão escreveu sobre mim quando ele abandonou a família real… Coisa que vem da família sempre dói mais… Você se dedica tanto só pra receber patada depois… — disse Felipe. Sakura ficou cabisbaixa.

— Esse artigo… 

— Dá pra encontrar na internet… Faz vinte anos, mas ainda tá por aí… Não tenha medo de procurar se estiver curiosa… 

Sakura não soube o que dizer.

— Não se preocupa não, pode ler… — insistiu Felipe.

— Seu irmão escreveu coisas horríveis contra você? 

— Eu mereci… Há vinte anos, eu vi esse problema crescer e eu não fiz nada pra impedir. Agora, esse problema já virou um monstro e a minha imagem tá mais arranhada que nunca… 

— Você diz… A briga com o seu irmão? 

— Não é só a briga com o meu irmão. Isso começou mais cedo que há vinte anos. Digo também dos meus companheiros da décima quarta brigada que agora estão me delatando. Eu tive a chance de denunciar todo mundo que se envolveu realmente nesses crimes hediondos. Eu resolvi calar a boca e deixar rolar… Foi a pior coisa que eu fui fazer… Não faça o mesmo, Sakura. 

A cardcaptor ficou cabisbaixa, só digerindo as palavras que escutou do Rei. 

— Eu sei o que aconteceu com seu casamento… 

— Você fala… do meu casamento? 

— Sim… Você não cometeu o mesmo erro que eu fiz há vinte anos… 

Sakura respirou fundo. Ela entendeu onde ele queria chegar.

— Felipe… Não foi fácil pedir o divórcio pro meu marido depois de sete anos de casados… A gente já namorava faz outros sete anos… Sabe o impacto disso nas nossas vidas? Principalmente quando a gente se conhecia desde novo, sabe? 

— Isso foi traumático, eu sei, se separar de alguém que você já conhecia faz tempo… Isso mostra que você é uma mulher forte… Uma das mais fortes que eu conheci até agora… — disse o Monarca. Sakura se sentiu lisonjeada com o elogio.

— Tá pensando que você vai me seduzir junto com a Tomoyo, é?

— Foi ela mesma que me diz direto essa característica sua…

Sakura ficou mais vermelha que nunca. Felipe continuou:

 — Você se separou de um marido que conhecia faz tempo em vez de simplesmente perdoar a traição e continuar a coisa como estava… Você, com certeza, amava seu marido, sua vida, seu filho, mas resolveu largar tudo pra um caminho incerto no desconhecido… 

— Pois é, "into the unknown"... 

— "Into the unknown", oh… — coreou Felipe. Os dois gargalharam.

 — Por isso, você não cometeu o mesmo erro que eu cometi… Você se torna a mulher mais forte do mundo só por se atrever a apostar tudo a troco de nada, correndo o risco de perder o pouco que conquistou até agora… 

— Felipe… O que você está querendo dizer? — perguntou Sakura, com o rosto envergonhado.

— A Tomoyo me disse tudo. Me disse do beijo que vocês deram quando se despediram pela primeira vez em Tomoeda, me disse do papo que vocês tiveram quando se reencontraram…

— Contou, foi?  

— Contou. Contou que você queria ter tido a oportunidade de conhecer outras pessoas… Que você daria a oportunidade pra ela… Se tivesse uma… 

Sakura ficou vermelha como morango.

— Linguaruda… 

— Que nada! Eu já tenho uma relação aberta com a Tomoyo faz um tempo e… Ela sempre me diz que a gente tem que ser o máximo transparente nas nossas relações… Não quis começar essa nova etapa das nossas vidas com segredos… Contei tudo da minha vida pra ela e ela contou tudo da vida dela pra mim…

— Tudo? 

— Tudo. Ela me contou de você e como ela te ama tanto de um jeito especial até hoje… 

Sakura ficou sem reação com o que ouviu. Apenas sorria como se tivesse perdido uma oportunidade. 

— A Tomoyo tá certa… Nenhum relacionamento pode viver de segredos… Bendita sabichona!

— Sabe, quando ela fala de você, eu sinto que… Eu sinto que tô me intrometendo numa história que já acontecia antes de eu conhecer a Tomoyo e eu me sinto mal com isso… 

Os dois calaram-se.

— Felipe… Isso é besteira! Você está com ela agora.

— É aí que você se engana. A gente só tem uma amizade colorida juntos, nem é namoro de verdade. Ela formalmente tá solteira agora. Na prática, eu também estou. Só acho meio injusto essa coisa de mal precisar entrar na disputa pra já ser o campeão… Mas eu entendo… Há um passado entre vocês duas e… 

— Felipe, não é nada disso que você tá pensando! Eu mal acabei de entrar na solteirice e você tá me empurrando pra uma coisa que eu mal me lembrava! Não tô com cabeça pra pensar em promessas antigas agora…   

— Sei. Uma coisa que eu sei é quando o gosto da gente comanda nossas decisões, não há nada no universo que dê apoio a razão e a lógica. Gostar é uma coisa que não precisa de explicação nenhuma… 

— Ela gosta muito de você também, Felipe!

El Rey sorriu melancólico. 

— Acho que o que ela faz por mim é mais por causa da minha filha, Sophia… Ela até chama a Tomoyo de mãe… 

— Mãe? Como assim?

— Minha esposa, Helena Paleologos, morreu uns dois meses depois que a Sophia nasceu. 

— Puxa vida! Eu também perdi a minha mãe quando eu tinha dois anos...

— Pois é… Em março de 2010, eu conheci a Tomoyo. No final do ano, no natal, ela conheceu a minha filha. Foi amor à primeira vista entre as duas.

— A Tomoyo me contou…    

— Sabe o que eu acho engraçado? A Sophia não gostava muito de rezar antes de dormir. A Madre Belén, a freira que cuida da educação religiosa da minha filha, fala que isso é essencial pra uma princesa, mas a Sophia não gosta de ser obrigada a fazer uma coisa que ela não entende direito. Então, a Tomoyo mostrou pra ela o retrato da Helena e falou “Tá vendo aqui, sua mamãe Helena? Ela sempre tá do seu lado te protegendo! Fala com ela, Sophia!” A minha filha começou a rezar antes de dormir e a dar bom dia pro retrato da mãe, ela faz isso sempre… Com quem será que ela pegou isso, hein? — disse El Rey, olhando para Sakura com os olhos estreitos. A Cardcaptor sorriu.

— Com quem será, né? Puxa vida! A Tomoyo fica ensinando minhas manias pra menina! Que é isso!

— Então… Isso mostra que ela ainda gosta muito de você. Muito mesmo.

Sakura e Felipe ficaram calados. A cardcaptor entendia onde ele queria chegar. 

— Felipe, por que você não deixa ela decidir isso, hein?

— Ela já decidiu. Só falta você decidir se aceita a proposta dela ou não… 

— Felipe, você é o Rei da Espanha, mora num palácio. Tem tudo do bom e do melhor e…

Felipe riu de si mesmo ouvindo Sakura.

— Não te culpo, Sakura, não te culpo. Todo mundo pensa que a minha vida é fácil, mas ninguém escuta da minha própria boca. Sou um homem de 50 anos, vou fazer 51 em agosto. Tô mais sujo na justiça que pau de galinheiro… 

Sakura sorriu.

— Você ri, é? Pois bem. A Tomoyo tem metade da minha idade, sabia? Quando a Tomoyo tava nascendo no Japão, eu já era um homem feito. Ela podia ser a minha filha, sabia? 

— Puxa, é mesmo! Eu tive o Chitatsu quando eu tinha só 21 anos. Quase a sua idade na época!

El Rey ficou cabisbaixo por se lembrar da diferença de idade entre ele e Tomoyo. 

— Não fica assim, Felipe! Tem tanto casal com tanta diferença de idade por aí que ninguém fala nada! A Tomoyo vai fazer 28 anos em Setembro… Daqui a pouco ela fica velha também! 

— Você é engraçada, Sakura! Não tem como não deixar de ser seu amigo…

— A honra é minha por ser amiga de um Rei! 

— Mas… Você, ao mesmo tempo, é a minha rival… Você vai conseguir se segurar, Sakura? Vai conseguir segurar essas suas asas de liberdade, querendo conhecer aquilo que você não conhece? 

— Peraí, é muita pergunta de uma vez!

— Vai conseguir segurar dentro de você a curiosidade de saber como é gostar de uma mulher? 

Sakura ficou o olhar perdido, sem saber para onde olhar diante das perguntas do monarca. A primeira reação foi berrar. 

— Eu mesma te disse que tenho preconceito com lésbicas! 

— Você tem medo de assumir que também pode gostar de uma mulher. Não é preconceito, é pavor.

— Como é que você fala uma coisa dessas? 

— A Tomoyo me contou quando você conheceu os amigos de faculdade dela, quando ela voltou pro Japão. Você ficou um tempo conversando com a Laura e ela só te elogiava, só te atiçava e ficava te jogando ideia…

Sakura ficou vermelha. 

— Não foi bem assim… 

— Laura, não era? 

— Eu acho que é… 

— Agora, acho que ela trabalha num escritório de arquitetura daqui de Barcelona. A Tomoyo me contou. A Laura é gay, sabia? Ela só não ficou com a Tomoyo porque, bem… A Tomoyo não levava a sério nem ela mesma… Mas, com você, ela se divertiu, sabia?

— Se divertiu comigo? Às minhas custas sem eu perceber nadinha? 

— Foi divertido! Você ficava toda vermelha! Quase que ela te rouba um beijo e você nem ia reparar… 

— Não fala assim… 

— Tá vendo, Sakura? Você tem medo de se descobrir. Mas quem sabe um dia… 

— Eu não vou virar gay do dia pra noite só porque vocês acham que eu sou enrustida! 

— Eu não tô achando nada… Só tô dizendo que… Você tem que tirar suas dúvidas, está bem? Você tem que descobrir o que você quer pra você, até mesmo voltar pro seu marido, se você sentir que você tem que voltar… 

Sakura olhou para o lado, pensativa.

— Só quero, Sakura, que você não se reprima nessa nova etapa de descobertas. Voe livre pelos céus do seu coração, está bem? Não se incomode comigo. — disse Felipe, dando um tapinha fraternal nas bochechas rosadas da japonesa. Sakura sorriu e os dois apertaram as mãos.

— Você sabe falar com uma mulher, Felipe, você é muito conquistador! Não é à toa que você conseguiu conquistar a cabeça dura da Tomoyo… 

— Que nada! Se eu fosse mais raparigueiro, minha filha teria 30 anos e não 5…

Os dois gargalharam.

 

IV

 

— O que será que eles estão falando, Tomoyo? — perguntou Marcela, olhando para os dois, afastados por cerca de 100 metros de distância. 

— Falando de mim… Não tenho dúvidas… Olha só a cara vermelha dos dois! Eles não me enganam! Conheço! — disse a roxinha.

— Você não perde um detalhe deles! — disse Marcela, sorrindo. 

As duas amigas correram para a barraca dos tiros assim que souberam da confusão que deu lá. 

— Meu Deus! Viram a tatuagem do Felipe… Eu falei para ele esconder aquilo! — disse Tomoyo na hora, preocupada.

Quando chegaram, só viram os policiais conversando com um povo revoltado que perdeu muito dinheiro tentando desafiar o monarca nos tiros. Artur, o homem da barraca, apontou para saída do parque e lá estavam os dois, conversando por um tempo. A costureira achou melhor não se aproximar e esperar que terminassem tudo o que tinha para falar. 

— Claro que eles vão falar de você, Tomoyo, você é a alvo dos dois.

— Eu?

— Não minta. Por um lado, você enrola o Felipe até hoje e não respondeu o pedido de casamento dele. Por outro, tem seu “amorzinho” de infância voltando com tudo… Agora solteira e pronta pra badalar!

— Eu só quero a felicidade da Sakura… — disse Tomoyo, com os olhos fechados. Ao contrário de Sakura e Felipe, era difícil Tomoyo mostrar uma emoção com o rosto vermelho, apesar de sua pele ser branca como leite. Aqueles olhos fechados era sinal que ela queria fugir daquele assunto e partir para outro. 

Depois que Tomoyo soltou aquilo, Marcela gargalhou tanto que doeu a barriga. Ela ficou com o rosto tão vermelho que tentou se sentar no chão de concreto para ver se o riso passava. Então, ela começou a imitar os gestos e o tom de voz de Tomoyo, debochando da amiga.

— Ah, eu só quero a felicidade da Sakura… A sua felicidade é como se fosse a minha… Ah, se eu gosto de uma pessoa e ela não olha pra mim, eu prefiro que venha outro e tire ela de mim, sua felicidade é como se fosse a minha! Eu só prefiro sentir! Daí, eu vou gostar dela calada e vou amar na minha mente! Ah, Sakura, seja feliz, mesmo sabendo que eu te amo muito e fico te mandando indireta toda hora! Sakura, eu não tô me aguentando! A qualquer hora eu vou… Eu tô fazendo isso pensando em você na minha cama! Eu vou… Ah! — disse Marcela, terminando por deitar a cabeça nos ombros de Tomoyo, não deixando de rir por um segundo dela. 

— Eu mereço… Pelo menos, eu tentei, tá? Eu também nunca me toquei pensando na Sakura!

— Ah, é mesmo? Eu sou a mamãe noel então… 

— A Sakura não quis nada comigo naquela época e nem depois. Me dá um crédito!

 — Falou tudo, garota! Na época! Mas… E agora?

Tomoyo olhou para Marcela com uma cara de estranheza quase beirando ao deboche.

— Hello-o? Você está se esquecendo que eu tenho o Felipe agora. Eu tenho a Sophia e… 

— O cara é Rei, é velho, vai ser preso daqui a pouco, QUEM MANDOU ELE NÃO SEGUIR MEU PLANO DE DEFESA? E você quer isso pra você? — interrompeu Marcela, gritando de frustração.

— Você está sendo fútil, Marcela… 

— E você tá querendo ser muito santinha pro meu gosto. No fundo, você tá usando ele como escudo pra não admitir que ainda hoje pensa naquela sonsa da Sakura! Cruzes! Ainda bem que eu já te deixei claro lá atrás que não curto esse negócio de mulher com mulher! 

— Sua homofóbica!     

— Agora é sério. Você vai se segurar?

— Marcela… O meu relacionamento com o Felipe é sério… 

— Até o ponto que ela chegar em você e falar “Tomoyo, eu tô aqui, tá? Vem lamber minha…”

A costureira tapou a boca da amiga antes que ela continuasse. 

— Você não me conhece direito menina! Nem a Sakura, por mais que você consiga ler a mente dos outros! Vamos! Estou cansada desse assunto… — disse Tomoyo, agarrando o queixo de Marcela. Depois de tanto mugir, Marcela se soltou daquele aperto.

— A grande questão é: você vai conseguir segurar esse seu amor, Tomoyo? — perguntou Marcela, sorrindo maliciosamente.

— Não sei… — respondeu Tomoyo, desconversando. Marcela ficou tão irritada com aquilo que berrou:

— Tá bom, tá bom! Vamos na droga da roda gigante e vamos embora! Já perdeu o clima mesmo com esse tanto de polícia aqui por perto… — disse Marcela, se soltando do aperto da costureira.

 

Continua…  


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