Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 41
Tudo o que eu fiz foi pensando nos meus amigos




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Capítulo 39

Tudo o que eu fiz foi pensando nos meus amigos… 

 

Madrid, Espanha

8 de fevereiro de 2016

 

I

 

— Senhores juízes da suprema corte, finalizando a leitura dos depoimentos dos acusados, chegamos ao suspeito de ser mandante de todos esses crimes. — dizia um homem de óculos, cabelos ralos na copa da cabeça, revelando um calvície precoce que teimava em aparecer e uma barba espessa na face. 

Seu nome era Antxon Aguirre. Era o procurador geral do Reino e viveu todos os dias da sua vida apenas para solucionar o que realmente aconteceu com sua mãe morta numa igreja em Zumaia durante a guerra civil basca dos anos 80. Os olhares dele para o homem barbudo à sua frente eram sérios, firmes e frios, como se quisesse estraçalha-lo diante de si. Ele tossiu e continuou a leitura da sua tese de acusação.

— O senhor Felipe Albert Tossel Ferrer de Borbón i Lekuauribe é acusado de usar a imunidade constitucional de seu cargo para cometer crimes de guerra. É acusado de se deixar manipular pelos finados General Andoni e General Iker para cometer crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Ele deu a ordem para incendiar a igreja em Zumaia, matando 93 bascos e bascas, sem direito à defesa, em uma operação ilegal que nada tinha que ver com o Exército de libertação popular Basco. Nem que fosse. Além disso… 

A acusação continuava. As palavras do promotor Antxon trituravam a mente de Felipe e remexiam suas memórias, apesar de estar sério e impassível na mesa ao lado de sua advogada, Marcela Binyamin. Ela era sósia de Sakura e amiga de Tomoyo. Se não fosse pela presença de Tomoyo naquele tribunal, o rei jurava que enlouqueceria. Estava farto de ouvir aquelas acusações, ouvir aquele mesmo discurso usado contra sua pessoa por gente que não sabe os horrores que teve que enfrentar no campo de batalha e ver o pai assassinado à queima roupa, pensava ele.   

— Por fim, Felipe VII é acusado também de participação na violação e assassinato de Arantxa Oñati, reconhecida terrorista basca que, em vez de ser entregue às autoridades competentes da lei, foi humilhada por aqueles que deviam dar pleno cumprimento à lei. Por isso, por tomar justiça em suas mãos da forma mais injusta do mundo, a pena vai aumentar para 1415 anos de cadeia, sem direito à progressão de pena, dada à natureza hedionda dos seus crimes… 

O tribunal ficou em silêncio diante da leitura da Advocacia. O silêncio só foi quebrado quando Antxon se aproximou de El Rey e encarou-o olho no olho. E disse:

— Pelo meu envolvimento com o Partido Nacionalista Basco, não espere ser tratado como “sua majestade” por mim… 

— Então… Tire essa toga e se junte aos nacionalistas bascos de uma vez, promotor! — disse Felipe. 

— Você está me desafiando? — perguntou Antxon. 

— Eu estou apenas lembrando-o do seu lugar. O senhor é advogado-geral do reino e deve fazer justiça com imparcialidade. Se o senhor mesmo diz estar envolvido pessoalmente com esse caso, como posso esperar alguma justiça do senhor? — respondeu Felipe.

— Eu sou a acusação popular! Não sou eu quem vai dar a minha palavra final sobre seu destino! Pra isso, existe os juízes desse tribunal, metade deles indicada pelo Partido Conservador! — disse Antxon.

— O senhor está insinuando que o tribunal vai ser parcial comigo, pela indicação dos juízes dessa suprema corte por parte dos conservadores. Muito bem! Agora me responda você: o senhor foi justo quando calculou essa pena que eu mereço? — perguntou Felipe.

— Sim! 15 anos de cadeia por assassinato, multiplicado pelas 93 almas que foram mortas! Nem coloquei os agravantes que iam aumentar mais a pena! Fora os 20 anos por estupro! E eu nem coloquei a parte de “execução sumária” ainda. Isso eu deixo para o tribunal! 

— Entendo… Agora me diga: quantas vezes o senhor pensou na sua mãe redigindo essa acusação? 

— Eu não tenho que responder nenhuma pergunta sua, Felipe! Você é que tem que responder as nossas! — disse Antxon, um pouco nervoso, elevando o tom de voz. As marteladas do Juiz Presidente da sessão, Dom Luis Sanchez, ressoou pelo tribunal. 

— Ordem! Eu te chamo a Ordem, Procurador Antxon! Devo lembrá-lo que o senhor está lidando com o chefe de estado. Precisa usar o pronome de tratamento equivalente à sua honra! 

— Perdão, excelência, não quis me exaltar… — disse Antxon.

— Mas se exaltou, promotor! Não quero ver mais isso nesse tribunal! o senhor ofendeu a honra e a profissionalidade dos juízes dessa corte. Sei que não deseja mais continuar como Advogado geral do Reino depois desse juízo, mas se acalme! A defesa pode entrar com um recurso de parcialidade contra o senhor a qualquer instante, entendeu? — disse Dom Luis. O Promotor Antxon respirou fundo antes de fazer sua próxima pergunta.

— Majestade, como estava dizendo, por minhas convicções e por ser vítima dessa guerra, eu poderia ser parcial, mas estou fazendo um esforço hercúleo para ser justo. O senhor me entende? — disse Antxon.

— Sim, perfeitamente. Fui eu quem o indicou para esse cargo… — disse o Juiz Luis Sanchez.

— Ótimo. Diante dessas acusações, permita-me uma pergunta retórica: o senhor se considera culpado ou inocente? — perguntou o 

— A imprensa e os tablóides já me detonam faz tempo. Tanto faz se eu disser ou não que sou culpado. Já sou culpado faz tempo!

Uma onda de choque e surpresa se alastrou pelo tribunal. Dom Luis Sanchez deu algumas marteladas e o povo se acalmou. Tanto Tomoyo, quanto a advogada de El Rey não estavam nada surpresas, já sabiam que ele faria aquilo.       

— Culpado? — Antxon sorriu levemente, com o canto da boca. — O que faz o senhor produzir provas contra si mesmo, antes da leitura da tese da defesa? 

— Eu apenas estou confirmando a condenação que os jornais da Espanha previamente já fizeram da minha pessoa. Só o ABC ainda resiste, mas não por muito tempo, não depois de hoje. Se é para ser culpado, que eu seja de uma vez! Agora, eu falar que eu sou inocente, que não sei nada dos crimes que eu sou acusado, é uma ingenuidade sem tamanho, não é contar a realidade. Então, vou jogar limpo e revelar tudo o que eu sei. 

— O senhor confirma que sabia de tudo? — perguntou Antxon.

— Eu estava na chuva e me molhei. Como um membro da Décima quarta brigada de infantaria de Guernika, eu não estava inocente de tudo isso… Agora, ser acusado de assassinato, isso é uma coisa que eu nunca fiz e vou me defender até o fim! Se eu mantive silêncio até agora, é porque tudo o que eu fiz foi pensando nos meus amigos… Os amigos da 14° brigada…  

Mais uma onda de choque e indignação apareceu ao redor dos presentes no tribunal antes do Rei terminar de falar. Houve discussões, teve gente que desmaiou e outros que começaram a brigar. A polícia teve que interferir para retirar os revoltados do tribunal e nem as marteladas de Dom Luis Sanchez foram o bastante para colocar Ordem. 

— Silêncio! Basta! Hoje, a defesa deveria ser escutada, mas devido ao caos e a instabilidade que foram ouvidas aqui, essa sessão está encerrada! Retomaremos semana que vem! 

 

II

 

— Felipe!

— Tomoyo!

Numa sala anexa do tribunal supremo, Tomoyo e Felipe se abraçaram por um bom tempo. A advogada de El Rey também estava lá. 

— Vai ficar mais difícil, Felipe, pra te defender agora, você têm consciência disso? Aquele cara vai querer comer seu fígado vivo e você deu mais combustível pra raiva dele! — disse a advogada. 

— Eu sei disso, Marcela, eu sei disso. Ele não passa de um garoto com medo das balas e da guerra. Ele ainda deve se lembrar dos sons de tiros que ouvia na infância. Agora, ele não passa de uma ferramenta nas mãos dos nacionalistas bascos! A questão é que a minha arma não deu sequer um tiro naqueles bastardos! 

— Ele pode ser uma ferramenta, mas sabe muito bem te atacar. Se ele carrega esse medo até hoje, é porque alguém provocou isso nele. 

El Rey não quis responder Marcela. 

— Fora que ele se preparou a vida toda pra esse momento, pra enfrentar esse medo, pense bem antes de falar qualquer besteira dos seus adversários, Felipe! Você é general de brigada, sabe disso mais que ninguém! — disse Marcela.

— É… Eu pensei que sabia… — disse El Rey, melancólico.

— Seus inimigos não lutam mais com armas de fogo e bombas! Lutam com coisa pior! Espero que pense nisso com seriedade. — disse Marcela.

— Eu sei, eu sei… Jordi sempre disse que eu sou um mau rei, que nunca soube ser um rei… Talvez ele esteja certo… Estaria mais feliz agora num quartel do que num trono… 

— Felipe, para de bobagens! Uma bomba quase explodiu na minha cara em Israel há sete anos e eu não fiquei nessa depressão toda! Não fica assim só porque um cara te xingou de assassino na tribuna! Seja homem nesse momento difícil! Homem pra aceitar as consequências dos seus atos! — disse Marcela. 

— Eu tô aceitando, mas é difícil aguentar a dor sozinho, sabe? — disse Felipe. 

— Você não está sozinho nessa! Solta essa dor! Aqui tem eu, a Tomoyo… 

— Quem me dera ter Cartas Clow pra sumir de vez ou enfiar minha cara na terra! — disse Felipe, lembrando-se das histórias que Tomoyo contava de Sakura para a filha. Ele resolveu se calar por um momento e Marcela respeitou o silêncio dele. No fundo, ela acha que exagerou no tom. Estava estressado com o fracasso da sua estratégia de defesa também e queria mostrar isso para ele de alguma forma. 

A advogada pegou um copo de água e ficou se olhando no espelho que havia na sala, pensando na Cardcaptor e o quanto era parecida com ela.

Marcela Montserrat i Binyamin era a amiga de Tomoyo desde que a costureira pôs os pés na Catalunya e sósia de Sakura. Diferente dela, havia diferenças entre Sakura e Marcela na fisionomia e na personalidade. O cabelos da cardcaptor eram pontudos, os cabelos da advogada eram loiros com pontas curvadas. O nariz de Marcela era redondo e chato, enquanto o de Sakura era pequeno e pontudo. Sakura era esquentada e sonsa, Marcela era mais esperta. Por incrível que pareça, as duas nasceram dia primeiro de abril. Ela parou de se olhar e voltou-se para seu cliente.

— Felipe, Você entende que sabe de coisas que todo mundo quer saber? Sabia que todo mundo da décima quarta brigada te defendeu até a morte? Nem sob ameaça de prisão, quiseram revelar o que você fez na guerra… Agora você vem e joga o trabalho deles no lixo! Você podia ter continuado na linha de defesa deles e o tribunal não ia te punir. Agora, eu vou ter que mudar toda a sua defesa pra, pelo menos, tentar afastar o risco de você ser preso, mas eu não garanto o resto… — disse Marcela.

— Que resto? — perguntou Tomoyo, preocupada. 

— Ficar em silêncio ia me ajudar em alguma coisa? — disse Felipe.

— Pelo menos, você não passaria pela possibilidade de parar na cadeia! Ficar longe da Sophia… Seu irmão ficaria feliz em te despachar mais cedo do que ele quer, sabia? Isso que eu quero dizer com resto, mas ainda não é tudo… — disse Marcela. As palavras dela pareciam fazer efeito no rei. Ele estava cansado mentalmente, tão cansado que sentiu uma tontura seguida de dor de cabeça. Ele colocou as mãos sobre a mesa, tentando equilibrar o corpo e Tomoyo ficou tão preocupada que correu para segurar o braço dele.    

— Felipe… — disse Tomoyo, preocupada, tocando a pele dele.

— Eu sei que resto é esse… Minha reputação já está na lama, se vocês querem saber. Matar o Oskar na cadeia foram a pior coisa que a décima quarta brigada pode fazer para me ajudar e você fala pra eu continuar na linha de defesa deles… Fantástico! — El Rey sorriu ironicamente. — Junto com a minha reputação, se vai a reputação da monarquia… Só falta mais 14 anos pra refazerem o referendo entre monarquia e república e é bem capaz de a Espanha nem ter mais rei até lá ou até antes… Nem sei se ainda vamos ter a Catalunya e Euskadi com a gente… 

Marcela e Tomoyo não falaram mais nada. Estavam cabisbaixas, apenas escutando o homem, olhando para o chão.

— Sabem o que é mais engraçado disso? Meu irmão ri de mim! Ri da desgraça da própria família, do próprio país… Eu pude ver no tribunal… Ele tava lá! Não sei de onde vem tanta crueldade na alma… Meu pai não era assim… — disse Felipe, sentando-se no sofá, olhando para um ponto vazio no nada. Estava profundamente triste, querendo se afundar no vazio da alma. Tomoyo correu e se sentou do lado dele.  

— Felipe… É assim que você vai reagir? Vai deixar seu irmão rir de você mesmo? Você ainda tá vivo! Você ainda pode se defender! É isso que você vai fazer na frente daqueles juízes, daquele promotor! Você vai lá e vai se explicar por tudo o que aconteceu naquela guerra! Todo mundo merece saber a verdade, eu sei! Mas eles merecem saber mais ainda que o rei deles não é o assassino que eles pensam que é! — disse Tomoyo, segurando a mão dele. Felipe sorriu um pouco e deu um breve beijo de alguns segundos nos lábios da morena. 

— Eu não sei o que eu faria sem você, Tomoyo… Obrigado pelas palavras, pena que elas não vão servir nada. Eu disse o que eu disse no tribunal porque o “El Mundo” já fala na Sophia como rainha! Eu fiquei louco quando li aquilo! Ela só tem cinco anos, droga! Respeita minha família! — disse Felipe, socando o sofá.

— Felipe, eu vou queimar esses jornais… Eu juro! — disse Tomoyo.

— Queimar pra que? Pra esconder a verdade? A droga do “La Razón” já imagina até como vai ser a coroação! Sugeriram até trazer meu irmão Antoni de Roma pra fazer a cerimônia! Olha só como são precavidos! Só o “ABC” não caiu nessa loucura… Ainda! 

— Felipe, a gente vai ter uma conversa séria quando a gente chegar em casa… — disse Tomoyo. O Monarca nem prestava atenção para ela. 

— Os jornais de esquerda nem se fala… Já sou carta fora do baralho faz tempo! O “El País” já sabe que vai ter regente e fica pensando na possibilidade de meu irmão ser vice-rei e presidente de governo ao mesmo tempo! Isso é, se ele for eleito líder do Partido Conservador no conclave do ano que vem! Palhaçada! 

— Felipe! — gritou Tomoyo, segurando o rosto dele. — Para, está bem? Não me deixa mais ruim do que eu já estou! A gente anda tem muita coisa para enfrentar juntos e eu não vou sair do seu lado! Jamais! Está entendendo? Enquanto esse inferno durar, eu vou ficar aqui com você! — disse Tomoyo, olhando fixamente nos olhos dele. El Rey deu um beijo longo na testa dela. 

— Eu sei… Muita guerra, muito inferno mesmo… A primeira já tô vendo agora… — disse Felipe, segurando o celular de Tomoyo. Enquanto ele segurava, uma ligação de Sakura estava chegando. 

— Ela deve estar preocupada com a confusão que deu aqui… — respondeu a roxinha. — O que você quis dizer com esse negócio de ‘Guerra’ envolvendo a Sakura, Felipe? — perguntou Tomoyo, confusa.

— Nem te conto… — respondeu o Monarca, um pouco enciumado.

 

Continua…     


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