Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 30
Então, pega ele pra você!




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Capítulo 28 

Então, pega ele pra você!

 

Donostia, Espanha

10 de janeiro de 2008

 

Fazia um dia de frio e tudo estava coberto de neve no palácio da Ordem em Guipúscoa. Alguns homens e mulheres com armadura vermelha como sangue se revezavam nas rondas em cima das muralhas. Um homem e uma mulher com a mesma armadura vermelha estavam olhando para cinco soldados da Ordem ajoelhados aos pés deles, dois homens e três mulheres, no pátio do palácio.

O homem de armadura de sangue era Zigor Iñigitz. Ele tinha cabelos brancos como aquela neve e uma fina barbicha que descia de seu queixo. Ao lado dele, estava Gotzone Bengoetxea, sua discípula, a loira de tranças. 

Os dois homens eram Mikel Uralde e Aitor Aguirre. Mikel era magro, cabelos negros longos e alto. Aitor era gordo, cabelos castanhos e rechochudo. 

As mulheres atrás dele eram Argiñe Zabala, uma mulher de cabelos castanhos e encaracolados, Usoa Garrastazu, uma mulher jovem e alta, de cabelos longos e testa larga, e Lore Ibarra, uma mulher gordinha de cabelos castanhos.

Todos eles estavam com armaduras vermelhas como sangue, capa escarlate e espadas de duas mãos presas em bainhas nas suas costas. Cada bainha estava presa nas ombreiras da armadura, para melhor manejar a espada. 

Zigor andou alguns metros e disse:

— Mikel, Aitor, levantem-se.

Os dois homens se levantaram. 

— Agora vocês são Interventores da Ordem do Dragão. Por essa capa nas suas costas, vocês têm toda a autoridade em suas regiões: Bizkaia, Arabá… Quanto a Guipúscoa, Usoa, você, como sub interventora da Ordem, vai assumir temporariamente essa condição… Sei que você não quer se tornar Interventora, eu respeito a sua decisão, mas peço pra segurar as pontas até lá… 

— Sim, Zigor, vou substituir a Gotzone nesses tempos difíceis que estão pra vir… 

— Excelente! Lore, Argiñe, vocês entenderam, não? Com a promoção do Mikel e do Aitor, agora vocês são sub interventoras da Ordem em Araba e Bizkaia… Por favor, não em decepcionem! — Zigor percebeu que uma das meninas estava pensativa e cabisbaixa. — Argiñe! Não fica assim! 

— Meu senhor Zigor, eu tenho medo. Não sei se sou capaz de segurar essa responsabilidade. 

Zigor sorriu. Pediu com um gesto para a mulher se levantar e segurou os ombros dela, olhando dentro de seus olhos. 

— Argiñe! Se você não segurasse essas espadas nas costas, você não seria capaz… Eu sei que você é, porque você está segurando elas! — disse o homem grisalho, dando um leve tapa na face dela. Argiñe fez sim com a cabeça.

— Bem… Agora… Aparezca, Dragón! — A armadura da Ordem em volta do corpo de Zigor explodiu no ar e remontou na frente dele. Ele só ficou vestido com uma roupa comum.     

— Por quatrocentos anos, eu fui o Interventor de Euskadi. Não tem nenhum Interventor com mais tempo de serviço do que eu. Eu vesti a armadura de Gaizka Amorebieta e defendi o seu legado durante todo esse tempo. Agora, os tempos mudaram e forças sinistras estão de volta. Pra proteger o povo do nosso país, Euskadi, e do reino de Espanha, eu preciso renunciar à essa armadura e lutar em outra frente de batalha. Espada Eguzki, venha à minha mão! 

Uma espada enorme de duas mãos voou até as mãos de Zigor. 

— Desaparezca, Dragón! — A armadura em volta do corpo de Gotzone descolou dela e remontou no ar. Depois, voou até Usoa e colou no corpo dela. — A partir de agora, essa armadura é sua! Você é a décima primeira interventora de Euskadi!  

A armadura de Zigor colou no corpo da discípula na hora. Peitoral, manopla, capa e ombreiras, tudo se fundiu numa espiral de vento e energia. O homem grisalho entregou a espada para ela e uma aura dourada envolveu o corpo da loira. Todos ficaram impressionados. Parecia que Gotzone era um pequeno sol iluminando o pátio, mais resplandecente que o branco das nuvens e da neve.

— Muito obrigada pela confiança, meu mestre! — disse Gotzone, beijando as mãos frias e pálidas dele.

— Não precisa agradecer… Isso só acontece quando um Interventor morre, mas eu já tô morto faz tempo, então, a armadura não te rejeitou… Foi bom mesmo que ela te acritou, senão eu mesmo enfiava ela dentro de você!

Todo mundo gargalhou. 

— Mas… As minhas horas extras na terra estão pra acabar… Esta vai ser minha última guerra. 

Todo mundo ficou sério. 

— Eu espero que vocês estejam prontas pra ela também… 

— Meu senhor, o senhor vai partir pra essa outra frente de batalha sem proteção? 

Zigor estalou os dedos e uma armadura cobriu o corpo dele. Era vermelha como sangue como as demais, com uma espada de duas mãos na bainha das costas, só que sem a capa.

— Eu vou com essa aqui por enquanto… Uma armadura não quer dizer nada, o poder que a gente carrega dentro de nós é que conta…

De repente, um golpe de espada acertou Zigor pelas costas. Ele cuspiu sangue e sua barbicha branca ficou tingida de vermelho. Todos os interventores e sub interventores ficaram surpresos.        

— Shorancito? — disse Gotzone, tapando a boca com o choque que tomou.

— Goti, você conhece ele? — perguntou Mikel, nervoso. 

Syaoran estava péssimo. Veias pulavam de sua testa e suas mãos. Seus dentes caninos pareciam maiores que o normal e seus olhos brilhavam em vermelho. Uma luva preta estranha estava em suas mãos.   

— Essas são as forças sinistras que o Zigor falou? — perguntou Usoa.

— Atrás dele! — disse Aitor.

— Espera! — berrou Gotzone. 

Não foi difícil para os interventores e sub interventores dominarem a situação. Argiñe, Usoa e Lore fizeram um ataque triplo e golpearam o chinês com força na barriga. Mikel deu uma espadada na nuca dele e Aitor deu o golpe final pelas costas. O jogador caiu no pátio nevado e uma série de soldados do palácio se reuniu em volta deles.

— Zigor! — gritou os soldados. 

Aitor agarrou o Chinês pelos cabelos e arrastou-o pela neve. Ele parecia uma animal selvagem se contorcendo. Suas mãos e seus braços se moviam irracionalmente, tentando acertar o gordinho. Nesse instante, Zigor se regenerou com o poder da Ordem e andou até Aitor. 

— Aitor! Que merda é essa que me atacou? 

— É um pirralho, Zigor! — disse Aitor, apertando com mais força ainda os cabelos bagunçados do chinês. Pela primeira vez, Syaoran gritou de dor. 

— Pirralho nada! Ele é um mago que nem a gente! — disse Gotzone, sem acreditar na situação.

— Mago? — disse Mikel, sem acreditar. — Que droga de mago é esse que ataca a gente do nada?

— Ele deve ser teleguiado da Torre! — disse Lore. — Esses dias mesmo, eu matei um perto de Gasteiz! O cara também era mago e tinha uma armadura nossa com essas luvas ridículas!

— Eu vi também, Lore! Em Portugalete, eu achei um desses também! Os safados ainda por cima usam nossas armaduras! Pode? — disse Argiñe.  

— Tá vendo, Goti? Todo mundo é mago aqui! Não é, rapaziada? — disse Mikel para os soldados em volta, tentando retrucar Gotzone. 

— É! É! — todos disseram. 

Depois, Mikel olhou para Gotzone desconfiado.

— Qual foi, Goti? Tá com pena dele, é? — disse Aitor. 

— Não é questão de dó, é questão de entender o que tá acontecendo, só isso! — disse a jogadora. 

— Entender o quê? Ele atacou o Zigor pelas costas! — disse Usoa.  

— A gente não tem que enteder nada! Tem que passar ele! — disse Lore, chutando a cara de Syaoran. O chinês bateu com a cabeça na parede e os outros Interventores começaram a pisotear o rapaz.   

Zigor só ficou olhando para as agressões. Gotzone ficou desesperada. 

— O senhor não vai fazer nada? — perguntou a loira.

— Eu conheço ele… Ele é o China, né? 

— Que China? Ele tem nome!

— Acho que os caras da Torre pegaram ele… Pelo visto, fizeram um trabalho e tanto manipulando a mente dele… 

— O senhor tem que pedir pra eles pararem! 

— Parar o quê? Esse filho de uma rapariga me rasgou as costas e eu tenho que pedir pra eles pararem? Quero que se dane! Minha preocupação ia ser se os caras da Torre usassem ele pra atacar a Sakura! Ele veio pra cima da gente! Vamos acabar com ele antes que faça mais merda por aí! 

Gotzone se desesperou e colocou a espada no pescoço de Zigor.

— Eu exijo que parem com essa farra toda! Que droga de Interventora sou eu se eu não consigo parar isso? Eu não sou a Interventora dessa bagaça agora? Sou ou não sou?

Todos os interventores que batiam em Syaoran pararam na hora. 

— Aitor, cai fora daqui! Vai pra Cantábria, pra alguma buraco onde precise de uma rolha de poço que nem você! — disse a loira.

— Qual foi, Goti? Vai me xingar mesmo, é? — disse  Aitor, olhando para Gotzone sem acreditar no que ouvia. 

— Vai! — Goti gritou. Asas transparentes vermelhas apareceram nas costas do gordinho e ele pulou no ar. A loira andou até Mikel com um ar ameaçador. Parecia que ela fatiaria o colega ao meio com aquela espada enorme que tinha nas mãos. 

— Eu tenho que te lembrar que Gaizka nunca foi um homem cruel. Mesmo assim, você se orgulha de usar essa armadura sabendo disso, Mikel? 

— Me orgulho sim! Gente como o Lluis Soler e o Enric Miró usou ela também! 

Aquilo foi o bastante para a loira dar um tapa na cara do colega na frente de todo mundo.    

— Não fala o nome desses nojentos! Já que você conhece tanto da história da Ordem, me fala do Florêncio Erkoreka, nosso quinto Interventor de Euskadi! Aquele que acabou com a tortura dos árabes nas muralhas desse castelo! Você tá pisando na memória dele fazendo isso! 

— Me fala também dos meus cinco soldados mortos pela Torre mês passado! Você também pisa na luta deles defendendo esse filha da mãe! 

Todos ao redor fizeram coro e concordaram com Mikel. 

— Eu conheço esse “teleguiado”! Eu sei que ele não é da Torre coisa nenhuma!

— Quem me garante isso? — perguntou Mikel.

— Eu garanto! Eu conheço ele e sei que ele não vai ia vir caçar briga desse jeito com a gente. Agora, me diz: vocês conheciam os caras que mataram nossos homens em Bizkaia? Eles sempre foram assim ou foi a Torre transformou eles? 

Todo mundo olhou para a loira com espanto.

— Nossos inimigos são eles ou é a Torre?

Mikel ficou sem responder. Uma parte daqueles soldados parecia concordar com Gotzone. Lore e Argiñe tocaram no ombro do superior. 

— Mikel, a Goti tem razão. A Torre tá usando gente da gente pra nos atacar! O cara que eu matei em Portugalete era soldado nosso! — disse Argiñe. 

Todo mundo recomeçou a cochichar até Zigor levantar a mão. Todos voltaram a fazer silêncio em respeito ao homem. 

— Eu também conheço esse cara. Ele é o namoradinho da Sakura, não é? — disse Zigor, caçoando da enteada.

— Não gostei disso! — berrou Gotzone. 

— Que seja! Ele é um teleguiado de merda que me atacou, mas… A gente tem que entender melhor esses teleguiados de merda pra saber como eles funcionam… Já que os nossos soldados tão sendo usados pra fazer o trabalho sujo que aqueles covardes não querem… — Zigor agachou-se e pegou o corpo de Syaoran como se ele fosse um saco de batata. Arrastou-o pela neve e jogou no colo da afilhada. — Não vá pensando que eu tô dando ele de presente pra você! Quero que você se vire pra entender como a Torre quer ferrar com a gente! Entendeu? 

Gotzone não falou nada, nem fez gesto algum. Só ficou olhando para o rosto escoriado do chinês, deitado em seu colo.

— Se você não conseguir descobrir que merda que fizeram com ele, você vai passar ele ou eu mesmo passo! Entendeu? — disse Zigor, sério, dando as costas para ela.

— E se eu conseguir descobrir? E se ele voltar ao normal?   

O homem grisalho parou e sorriu.

— Então, pega ele pra você! 

Asas transparentes vermelhas apareceram nas costas de Zigor e ele voou pelos ares. Todos os homens e mulheres ao redor deles se ajoelharam perante Gotzone. Mikel andou até ela e disse:

— Você é a Interventora de Euskadi agora, mas eu não vou aceitar que esse pirralho fique dento desse castelo! Ele pode ter um feitiço de localização nele, sabia? 

— Ele vai pra minha casa, Mikel! Tá feliz? 

— Mais ou menos… Talvez esses sejam os campos de batalha que o Zigor tá lutando… Mais tarde, quero me juntar à ele, portanto, descubra o que deu no China! — Mikel fez aparecer asas em suas costas e voou pelos ares também. Gotzone olhou para Syaoran com ternura no olhar. Ele dormia serenamente em seu colo, como se nada estivesse passando ao redor, nem mesmo ele se tocava da surra que levou. 

Ela levantou a cabeça para olhar a tropa ajoelhada e a ternura se transformou em uma seriedade fria como aquele gelo de inverno.

— Dispensados! — gritou a loira.

Todos voltaram a fazer o que estavam fazendo antes daquele tumulto. 

 

Continua… 


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