Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 31
Ele pode ficar assim pra sempre




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Capítulo 29 

Ele pode ficar assim pra sempre

 

I

 

San Sebastián, Espanha

10 de janeiro de 2008

 

Era noite de inverno.

A mansão da família Bengoetxea era um casarão enorme estava construído na encosta de uma falésia. No complexo do casarão, havia um pequeno monte com uma caverna e, em volta da casa, havia um pequeno bosque particular. 

Dentro da casa, na sala de jantar com vista para o mar, três homens com cabelos finos e loiros traziam para a sala pratos e bexigas para decorar o cenário.

— Ander, cadê a faixa? — perguntou um rapaz, trazendo alguns pratos para a mesa. 

— A tia Amaya foi pegar no sótão, Iker! — respondeu Ander. Ele era o encarregado de fazer a decoração da sala. Havia peixes e lagostas na mesa que já haviam sido postos por Iker antes e mais estavam sendo preparados na cozinha.

— Koldo, já terminou de descascar as batatas? A Goti tá pra chegar! — perguntou Iker.

— Já vou, já vou! A gente ainda tem tempo e o Tio Koldo não chegou ainda com as bebidas! — berrou Koldo da cozinha.

De repente, a porta da sala se abriu.

— Quem disse que eu não estou aqui? — disse o Koldo mais velho, um homem de cabelos grisalhos e finos. 

— Ora, demorou, hein, mano? — disse uma mulher de cabelos brancos, finos e curtos que descia das escadas com uma faixa na mão. Ela entregou o cartaz para Ander e ele subiu nas escadas para pregar em cima da porta que dava acesso a o jardim. Nela, se lia “Zorionak!” (felicidades!). 

— Amaya, o Mercadona tava lotado! Quase não saia de lá! Quanto mais frio, mais o povo gosta de comprar, puxa! — respondeu Koldo. 

— Cadê o Xabi? Se perdeu por lá também? — perguntou Amaya.

— Tô aqui! Tô aqui! — disse o homem de cabelos meio loiros, meio grisalhos, trazendo uma sacola cheia de confetes, cones e bexigas. — Também quase não consegui comprar! Tava sem estoque por conta do dia de reis. 

— Agora sim, a família tá completa! Uma pena que as mulheres de vocês não puderam vir… — disse Amaya. 

— Elas quiseram ficar num lugar mais quente no dia de reis… Eu entendo elas, até eu não aguento esse frio todo e só tô aqui por causa da promoção da Goti! — reclamou Koldo.

— Isso é o aquecimento global… — respondeu o Koldo mais jovem, trazendo o prato de batatas para a mesa. — Vamos ligar pra Goti antes que esfrie!

— Espera sua irmã chegar! Ela também deve estar comemorando no castelo da Ordem com os amigos dela! — respondeu Amaya.

Do nada, a porta da sala se abriu com um chute. Era Gotzone, trazendo nos braços o corpo inconsciente de Syaoran. 

— Goti, o que é isso? — perguntou o tio Koldo assustado.

— Depois eu respondo, tio, preciso usar a caverna! — disse Gotzone. Ela até que reparou na faixa com os dizeres “felicidades” e a  mesa cheia de comida, mas não tinha tempo aquilo no momento. Lamentou-se por dentro, mas Syaoran era o mais importante naquela hora. 

 

II

 

A caverna era uma gruta rodeada puramente por paredes de pedra. Algumas tochas forneciam toda a iluminação que precisavam. No centro da caverna, havia uma mesa de pedra onde a loira colocou o corpo de Syaoran. O Chinês se contorcia de olhos fechados, gemendo e suspirando. Ele ainda estava com a armadura da Ordem, mas sem as luvas negras nas mãos. Os irmãos de Gotzone, Koldo, Ander e Iker, estavam do lado dela, usando túnicas brancas cerimoniais bascas. Eles olhavam preocupados para o centro da mesa. A jogadora estava atrás de Syaoran, segurando a cabeça dele, de olhos fechados. 

Do nada, o chinês se levantou e vomitou uma substância negra. Um círculo mágico branco que estava desenhado no chão brilhou. A substância escura evaporou no ar, soltando fagulhas e raios. Gotzone não perdeu a concentração, nem desgrudou as mãos dele. Depois que ele vomitou, ela colocou a cabeça dele de volta no lugar. Koldo torceu a cara com o odor daquela substância.

— Essa droga fede a estrume! — comentou o cozinheiro.

— Nem sei como um cara desse tá vivo depois disso! Se ele não fosse morto pela Ordem, já estaria morto pela magia negra da Torre! — respondeu Iker.

— Eu queria entender porque a Goti se preocupa com um teleguiado desses! Ele podia ter um feitiço de localização com ele! — disse Ander. 

— Ter ou não, isso não importa agora. A Torre pode mandar um cara desses a qualquer momento atrás da gente. — comentou Koldo.

— Pelo jeito, esse cara é mago sangue puro! Ele deve ser de família tradicional… Os caras não tão querendo gente fraca mais não! — disse Iker.

Gotzone abriu os olhos e estava péssima. 

— E então, mana, o que aconteceu com ele? — perguntou Koldo.

— O feitiço que colocaram nele era forte demais… Vieram preparados… — respondeu a loira, cabisbaixa.

— Ele já era? — perguntou Iker.

— Não. Ele tá dormindo. Tentei colocar um inibidor pra ver se ele para de ter espasmos, mas não sei se vai dar certo… 

Ander e Iker se olharam.

— Mana, por que você trouxe um cara desses pra cá? Quem é ele? — perguntou Ander.

— Não te interessa quem seja ele, Ander! Não tá vendo? Ele tá com a armadura da Ordem! Eu preciso entender por que ele tá usando essa armadura e quem da Ordem tá ajudando a Torre! 

Ander parecia que não tinha se convencido com a explicação da irmã. Ela insistiu.

— Imagina a seguinte coisa, Ander: se alguém de armadura vermelha vem atrás de você e você pensa que é aliado. Quando você menos espera, ele te ataca pelas costas. Não é ele que quer fazer isso, ele tá sendo controlado por alguém! Preciso saber quem é… 

— Então, ele tá com um feitiço de controle mental? — perguntou Iker.

— Isso mesmo… — respondeu Gotzone. — Como a gente é especialista nisso, eu achei por bem examinar ele pra ver como reverter isso… 

— Isso pode demorar… Pelo que eu vi, esse é um feitiço que mexe até com o corpo! Não tão tentando controlar ele por telepatia como sempre fazem, tão tentando mudar o organismo dele! — disse Koldo.

— Se tão tentando controlar pelo corpo, ele pode ficar assim pra sempre, né? Imagina viver a vida como um peão descartável? — comentou Ander. Os outros dois entraram em acordo.

— Você entende a minha luta, mano? Se eu tô usando a armadura de décima primeira Interventora, é porque eu tô começando a assumir responsabilidades. Descobrir o que é isso, é parte delas também… 

— Então, boa sorte, mana! Só vim te avisar que tem algúem te esperando na sala. — disse Ander. Koldo e Iker deixaram a irmã em paz. Ela encostou as costas nas paredes de pedra, aliviada pelo fim do interrogatório do irmão e pensando em quem poderia ser naquela hora da noite. Ela deslizou as costas pelas rochas e ficou apenas olhando o chinês na mesa de pedra, sentada no chão. Ele era a sua única preocupação.

 

III

 

Uma mulher de cabelos loiros e sobretudo branco estava parada, na frente da porta da entrada, com as mãos no bolso. Ela olhava para a mesa de jantar e dava um leve sorriso.

— Gabon On (boa noite), família Bengoetxea. Desculpa por estragar o jantar de vocês, mas… — Ela tirou as mãos do bolso e mostrou um frasco de vidro para eles. Dentro do objeto, estava Kero, se debatendo em sua forma falsa de boneco. — Acho que vocês sabem de alguma coisa a ver com esse pequeno incidente num hotel daqui, não tem?

— Alguém me tira daqui! — disse o guardião.

— Quanta insolência com as criaturas mágicas! — disse Amaya, indignada ao ver Kero preso no frasco. 

— Quanta insolência com Euskadi, você quis dizer, Amaya! Uma família tão tradicional envolvida com os bandoleiros da Ordem do Dragão! Sabia que eu podia prendê-los? 

— Então prende pra você ver! A gente não tá nos anos 80 pra você entrar assim na casa dos outros, perguntando se a criatura mágica é minha ou não! — disse Koldo, indignado.

— Irmão, para! — disse Xabi, resignado.  

— Ora, ora! Se não é o Xabi, meu colega de parlamento Basco! Imagina o que o PNV vai fazer se ver um parlamentar preso… Você vai jogar o nome do partido na lama! 

— E a gente joga o seu também, Dona Beatriz Fanjul de Bizkaia, e o do partido conservador junto com essa sua invasão fascista de vocês! — disse Koldo, entrando na sala de jantar pela porta do jardim. 

— Pensa que seu jogo político só serve com a gente? Vai se achando a boazona só porque é do partido conservador e deputada! — disse Iker.        

— Você se lascou quando colocou o pé nessa casa! — disse Ander.

— Pensam que podem me ameaçar? Eu sou parlamentar basca, mas também sou subdelegada do ministério de assuntos especiais! E eu tô por aqui com a Ordem do Dragão e suas merdas. O ministério também tá por aqui com esses caras e seus cúmplices! Já é a décima coisa que vocês aprontam só nessa semana em Euskadi! Nas outras comunidades autônomas deve ser mais! Pelo menos, vocês não são covardes como os outros e não ficam se escondendo! Talvez, eu possa atenuar a pena de vocês junto com Dom Alfredo e… — disse Beatriz. Ela parou de falar quando sentiu uma fria lâmina de aço no pescoço. 

— Gotzone? 

— Seu assunto é comigo, Bea! deixa a minha família em paz! Se tiver alguma coisa pra falar, acerta comigo! 

 

IV

 

Beatriz e Gotzone foram para a praia, abaixo da falésia. A lua cheia começava a minguar nos céus e as ondas do mar iam e vinham. Beatriz não tirava a mão do bolso por nada. 

— Não acredito numa palavra do que você me disse! Como eu vou constatar esse “ataque” num castelo que eu nem sei onde fica? 

— Você não precisa saber e nem tô interessada em te levar lá! — disse Gotzone, pressionando na palma das mãos a enorme espada claymore que tinha. Bea sorria. 

— Vocês têm mais que se ferrar mesmo! Já me poupa o trabalho sujo de acabar com a sua reputação. O bom é que nessa luta de bandoleiros vocês se matam de uma vez.

Os olhos de Gotzone brilharam em vermelho.

— Eu até gostaria de lutar com você, Gotzone, mas eu não tenho tempo. E duvido que você ia ganhar de mim, por mais que tenham te promovido a chefe da milícia em Euskadi…  — disse Bea. 

— Nós não somos criminosos! — respondeu Gotzone.

— Será? — A cor dos olhos prateados de Bea mudou para o prata lunar e um enorme poder mágico fluía dela. Era tanto poder que até as areias em volta do pé dela viraram vidro.. — Pelo menos eu sei de quem cobrar as merdas que acontecem por aqui… 

— O que você quer de mim? 

— Esse menino, o Syaoran, quanto tempo ele vai ficar nesse estado?

— Eu não sei, dias, meses, talvez anos…

Bea sorriu. 

— Tá tirando uma com a minha cara, né? Ele tem família na China! O cara é jogador e vai se casar esse ano! Já pensou nisso? E você não tem nenhuma estimativa de melhora? 

Gotzone não soube o que responder. Beatriz caminhou até a loira de tranças como um superior repreendendo um subordinado.

— Sabe porque eu pedi pro ministro a ilegalização dessas Ordens mágicas irregulares? É por conta disso! Desses feitiços sem antídoto que vocês inventam toda hora! Pensa que vai ser fácil empurrar essa sujeirada toda pra debaixo do tapete?

— Não, não vai ser! Eu sei! 

— Você não sabe de nada! Não é você quem limpa! Sou eu! — berrou Beatriz.

Gotzone, mais uma vez, não soube o que dizer. 

— Olha aqui, Dona Beatriz! Eu me dou uma semana pra encontrar uma cura pra isso! Se eu não conseguir… Pode me prender, fazer o que você quiser! Mas deixa a minha família em paz! — disse Gotzone, olhando decidida para Bea. A subdelegada chegou perto da loira e tocou em seu queixo com o indicador. Depois, deu dois tapas leves no rosto dela.

— Você é corajosa mesmo, Goti! Aí, eu vi coração nessas suas palavras! Uma semana! Se não der certo, eu quero saber que castelo é esse que vocês tanto escondem da gente… — disse Beatriz, trombando de propósito no ombro dela. 

Gotzone queria falar, berrar, bater na mulher, mas não podia. Por mais que fosse forte, não podia bater de frente com o ministério. 

— E mais uma coisa: aqui é alvirrubra de Bilbao! aqui é do leão de Bizkaia! — disse a maga, provocando Gotzone.

— Que droga de leão de Bizkaia! Txurri Urdin Aurerra! (alviazul pra cima)! — respondeu a jogadora.  

— Meu prazer vai ser ver um filho seu usar nossa camisa vermelha e branca! Haha! — disse Beatriz, sumindo da praia.

— Vai se ferrar! Não vem jogar praga em cima de filho meu que ainda nem nasceu! — Gotzone falou com tanta raiva que jogou a espada de duas mãos onde Beatriz estava. Bea aparatou antes de a arma acertar nela, mas a espada acertou o vidro criado debaixo dos pés da mulher com tanta força que balançava. Assim que tocou o chão, a espada quebrou um frasco. Era o pote onde estava Kero. 

— Pelo menos, eu saí daquele pote de picles! Ninguém se lembrou de mim! — disse Kero, saindo da areia. Um mar de cacos de vidro estava em volta dele. Gotzone olhou para a criatura mágica um pouco intrigada.

— Foi você quem trouxe ela pra cá? — perguntou a loira. 

 

Continua…    


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