Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 22
Eu nem sei o que eu faria




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Capítulo 20

Eu nem sei o que eu faria

 

Barcelona, Espanha

9 de dezembro de 2015

 

— Obrigada, moço, não quero nada não, mas toma uns trocados aí! — respondeu Sakura para um homem negro que lhe oferecia um calçado. O homem estava com uma sacola enorme nas mãos, vendendo mercadorias a qualquer um que estava por aquelas varandas dos restaurantes, nas calçadas da cidade condal. 

Muita gente se incomodava com aquilo, mas Sakura reconhecia o esforço que fazia. Deu para ele uma nota de 50 euros. Não fazia falta ser solidária, ganhava bem como médica em uma área meio isolada como o País Basco. Não se importava em ajudar o vendedor negro que sabe-se lá as infinitas dificuldades que sofreu em seu país e agora tentava sobreviver na Catalunya. 

Mesmo satisfeita com o gesto de bondade desinteressada, o olhar de Sakura era vazio e triste. Olhava para o horizonte e fixava o olhar em uma mãe de família, carregando seus dois filhos pela rua. La Rambla de Barcelona era como se chamava aquela via. Tinha só pedestres e não passava carros. Havia um grande mosaico do artista catalão Joan Miró no caminho, feito exclusivamente de ladrilhos. 

Aquela mulher era tão parecida com Gotzone que Sakura pensou se se tratava de uma mulher independente que não precisava de marido para criar os filhos. Como a jogadora bem disse, é difícil ser mãe no Japão, por isso, a taxa de natalidade era tão baixa no país asiático. Na Espanha, a coisa parecia ser diferente, mas nos últimos tempos, com a crise econômica e os aluguéis caríssimos, muitos casais pensam mais entre ter uma criança ou ter o que comer. 

Sentiu-se um pouco feliz por pensar na sorte que teve em ter Chitatsu ainda jovem, com o homem da sua vida. Ou, pelo menos, era o que Sakura pensava. 

A Cardcaptor nunca namorou ninguém além do Chinês. Não há registo de ter outra pessoa que desejou o coração dela além do Chinês, exceto por uma pessoa e não era do sexo oposto ao de Sakura. 

Mal tinha 13 anos, Sakura já decidiu que Syaoran era o homem de sua vida. Não havia quem competisse com o chinês: ele tinha saído de Hong Kong só pra ela, ele fez um ursinho só pra ela e, em troca, Sakura passou duas madrugadas em claro só para costurar um quimono e um ursinho para ele. Sakura derramou sangue por Syaoran e o chinês, em troca, ajudou a Cardcaptor a transformar as cartas Clow em cartas Sakura. Mas será só isso mesmo?

Sakura sondava a memória e lembrou-se que o marido tinha os mesmos objetivos da Ordem do Dragão: capturar suas cartas Clow, cartas essas que recebeu de Kero a responsabilidade para capturar. Ela era a Cardcaptor oficial, mas o chinês alegou motivos históricos para ter as cartas, alegou ter o mesmo sangue da mãe de Clow, da mesma forma que a Ordem do Dragão alegou ter um papel escrito com o sangue do próprio mago para ter a posse delas. Mas Syaoran mudou, a Ordem rachou e, no fim, Sakura se sentia como um objeto de disputa desde que tinha dez anos. 

As cartas Clow uniram Sakura e Syaoran, mas será que só esse elo e a compatibilidade das magias deles era o suficiente para fazer com que os dois se amem até a eternidade? A vida mostra que pode-se ter muitas coisas em comum, mas amizade e romance são coisas distintas que não dependem só de coisas em comum. 

Mais uma vez, Sakura se sentiu frustrada, naquela tarde fria de outono em Barcelona. O chá verde que tanto amava parecia perder o calor e o cachecol vermelho que usava parecia que nem a aquecia mais. 

Parou para pensar uma última vez e Sakura sentiu inveja de Tomoyo. A mais esquisita das suas amigas a amava desde sempre, um amor puro e platônico. Quando Tomoyo se declarou, tomou um claríssimo fora de Sakura. Elas eram melhores amigas, Sakura nunca imaginou esse tipo de coisa acontecendo. Talvez, Tomoyo já tivesse dando pistas desse amor, mas ela nunca soube interpretar, da mesma forma que ela nunca entendeu as indiretas de Syaoran para. Como se sentia burra pensando em tudo isso. 

O que mais dava inveja de Tomoyo era a experiência com relacionamentos que ela acumulou depois daquele fora. Assim que se reencontraram há oito anos, Sakura sempre soube dos romances da amiga, nada muito sério e nada com o sexo masculino. E nada muito duradouro também. As companheiras que Tomoyo arranjava até que queriam estender o vínculo, mas ela não queria isso. O foco de Tomoyo era o trabalho no FC Barcelona, clube de coração da roxinha. Depois que conheceu Felipe, parece que a amiga se aquietou um pouco mais e passou a encarar de outro ângulo os relacionamentos. O primeiro relacionamento com um homem era o mais duradouro que ela teve. Foi mais pela persistência de Felipe. Por que não dizer do apego que a pequena Sophia teve por ela, um apego que ela só conhecia da boca dela e nunca viu pessoalmente? 

Outra coisa que mais invejava Sakura era que a amiga esquisita e lésbica poderia ser uma rainha a qualquer instante, mas ela não queria isso. Ela não era ambiciosa à esse ponto, nem muito menos interesseira. Foram essas qualidades que cativaram e cativam o Rei até hoje. O rosto frio de Sakura ficou rubro só de pensar na fidelidade de Tomoyo aos princípios dela. Quem sabe, isso também seduzisse Sakura, mas é claro, se Tomoyo não fosse sua amiga. Tomoyo acumulou uma experiência que ela, a boba da Sakura, não tinha.

“Será que se eu tivesse mais experiência… Eu seria outra pessoa? Será que eu teria me casado com o Shoran?”, pensou. “Será que… Eu teria aceitado o pedido da Tomoyo? Ai, ai, ai, ai! Hoe! Eu tô pensando até nisso! Isso é esquisito”

Sakura coçou as bochechas com a palma das mãos só de pensar nesse tipo de coisa, no amor entre duas pessoas do mesmo sexo. Foi quando uma mão quente tocou em seu ombro e seu corpo frio esquentou de vez.

— Que jeito esquisito de se esquentar, olha que eu sou a esquisita! — Era Tomoyo, sorridente para ela. O sorriso da amiga querida aqueceu um pouco sua alma, seu coração. Era um sorriso bonito, simples, de olhos fechados que Sakura começava a perceber a beleza só agora. — Demorei muito? 

— Não… Não mesmo… Eu que tava pensando demais… 

— Pensando no que? — perguntou Tomoyo, sentando-se na mesa e apoiando o queixo com as mãos. Seus profundos olhos violetas pareciam que sugavam Sakura para dentro deles e o sorriso maroto dela era muito sedutor. A cardcaptor corou e desviou os olhos.

— Pensando besteira! No que eu não devia pensar! — Sakura se levantou e bateu em Tomoyo com a bolsa. Tomoyo apenas sorria, sorria como se estivesse dando gargalhadas ao assistir um programa de televisão. Sakura tinha esperanças de que Tomoyo se esquecesse de perguntar que besteira seria essa, mas ela era Tomoyo e isso não era pergunta que ela fugisse. Tomoyo sempre prestou atenção em tudo, principalmente quando era sobre ela, Sakura. E o foco hoje era ela, Sakura.

— Estou até imaginando… Eu vi você olhando para aquela mulher com os dois filhos. Era a Gotzone, não era? Não duvido nada que você esteja ainda desconfiada do Iñigo e do Iñaki… Da origem deles… — começou Tomoyo. A costureira sentou-se e pediu uma xícara de café quente. 

— Bem… 

— Lembra-se o que eu te disse no whatsapp? O Syaoran não é seu inimigo, Sakura! Nem a Gotzone… Ela ia te entregar os filhos de bandeja? Pra inimiga, Sakura?  

Sakura ficou contemplando a xícara vazia de chá verde.

— Eu não tô pensando só nisso, Tomoyo. Me incomoda e muito saber que a Gotzone é da Ordem do Dragão e só fica me espionando! Só fica de olho em mim… Mas… Me incomoda mais ainda… Esse mistério dela, esse mistério todo do Shoran com esses meninos…  

— Já parou pra pensar que o Shoran pode não saber de nada? 

— Eu já acho que ele já sabe de muita coisa. Aqueles meninos tem olhos puxados, Tomoyo! O Shoran sempre levou o Chi pros treinos dele com o Gamba. Pensa que eu não desconfio que o pai desses meninos deve ser alguém que o Shoran conhece? Conhece sim! Eu que sou uma boba! 

— E se for, Sakura, o que você vai fazer? Esses meninos não tem culpa de nada. Nem você tem nada a ver com a vida dela.

Sakura ficou contrariada com as palavras da amiga.

— Pensa bem: esses meninos devem ser tão vítimas de tudo isso quanto você pensa. Você não me disse que a Gotzone peitou a Ordem do Dragão? Você pensa que esses meninos estão em posição de vantagem? Eles podem ser tão vítimas deles quanto o Chitatsu… 

— O irmão da Gotzone já me disse a mesma coisa… 

— Então! Do que você tem medo? 

Sakura percebeu que Tomoyo praticamente nivelou todos os seus temores “superficiais” e medos bestas. Não tinha mais onde inventar desculpas. A Cardcaptor respirou fundo antes de começar a falar os reais motivos das suas inquietações.

— Eu tenho medo… Eu tenho muito medo, sabe? — Sakura começou a chorar — Essa Gotzone, sempre é tão boa, sempre teve tudo de bom em volta dela, é bonita, boa jogadora, ganhou a copa do mundo duas vezes, tem o respeito da Espanha e do país dela e ainda por cima… Se contenta em ser mãe solteira e… Se formar como enfermeira! Enfermeira! Pode uma coisa dessa? Essa mulher ganha milhões e vive como… Como eu e você! Não entendo! 

Tomoyo afagava as mãos trêmulas de Sakura com um sorriso constante no rosto. 

— Eu estou começando a te entender… Os bascos são um povo simples, sem muitas ambições e muito apegados à terra deles. Eles são um povo pacífico que já sofreu muito durante a história… 

— Sei… 

— Sakura, olha pra mim… Se a Gotzone é o que ela é hoje, ela teve que trabalhar muito na vida pra ganhar o respeito de todo mundo daqui… Não teve? 

— Sim… 

— Ela não pediu pra nascer loira, bonitona, do jeito que você tá pensando! Cada um nasce de um jeito e usa o que está a sua disposição pra melhorar a própria vida. Tudo bem que teve um pouco de sorte no meio do caminho, mas a vida dela não é fácil como a gente pensa. E muito menos despreze a sua luta! Você também quer ser jogadora de futebol, Sakura? Aparecer na TV, ser modelo, entrevista toda hora… Ela nem deve ter tempo pra ficar com os meninos dela e é o tio quem cuida deles… 

— Ora, tá dizendo que a vida dela é parecida com a minha? Hoe! — A jovem médica sorriu um pouco e se desprendeu das mãos da amiga. — Tomoyo, pra você me entender mesmo, acho que você tinha que pensar como uma mulher! Não como uma mulher que gosta de mulher! Agora coloca uma mulher que ama sua família e seu marido. Não como você, que fica esnobando o pobre do Felipe! — disse Sakura, um pouco nervosa. Tomoyo ficou séria escutando aquilo.

— Agora você me ofendeu, Sakura… 

— Como assim te ofendi? Não é a realidade! Você sempre não esnoba todo mundo que se relaciona com você?

— Bem, Sakura, antes de eu continuar a falar sobre você, vou falar sobre mim: eu nunca quis nada sério com ninguém até agora e sempre deixei isso claro pra todo mundo… Pode ser que eu pense em coisa mais séria daqui há uns anos, mas não agora… 

— Mas por que?

— Porque eu quero assim, Sakura. Eu respeito e te admiro muito por você ser mãe e esposa cedo, mas eu não quero isso pra mim agora. Você entende? Eu já deixei isso bem claro para o Felipe e mantemos uma amizade muito bonita entre a gente… 

— Sério mesmo? — disse Sakura, franzindo a sobrancelha com desconfiança.

— Está bem, eu admito: eu tenho uma amizade colorida com o Felipe.

— Agora melhorou! Você sai com ele, cria a filha dele, né? Se isso não é esnobar, isso é o que?  

— Está bem, Sakura, crio sim. Com muito amor… Olha! — disse Tomoyo, mostrando o plano de fundo do celular para a amiga. Lá estava uma selfie da princesinha Sophia com Felipe e ela de fundo. — Todo mundo que vê pensa que é a minha filha, sabe? Acho isso muito engraçado… 

— Essas mulheres modernas da Espanha, né? Você já parou pra pensar que essa menina pode virar rainha do dia pra noite? 

— Sim. E só eu tenho essa foto dela… — disse Tomoyo, guardando o celular.

— Acho que você virou uma espanhola completa agora… — comentou Sakura. Agora, a cardcaptor estava mais animada do que quando começou aquela conversa com a amiga.

— Eu já estou há mais tempo na Espanha do que eu já estive no Japão. Sou catalã de coração sim, mas nunca deixei de ser quem eu sou… 

— Uma sabichona, né? 

— Não fala de mim assim; agora que já terminamos de falar de mim, vamos falar de você. Eu sei o que você quer dizer, Sakura: você tem ciúmes da Gotzone, ciúmes e medo.

— Ai, ai, ai, ai! 

— Você tem medo que esses dois tivessem alguma coisa no passado… Eu não vou nem falar de relacionamento porque você já tá paranoica…

Dessa vez, Sakura voltou a fazer a cara de tristeza de antes. Uma lágrima escorreu do olho dela.

— Sabe… Eu te invejo, Tomoyo. Você pelo menos teve tempo pra pensar se queria ou não se relacionar… Se queria ou não se casar… Se queria ou não ter filhos… Eu não tive esse tempo, sabe? Eu acreditei que seria pra vida toda, mas que droga! Mas que droga! A vida não é um conto de fadas da Disney, onde a gente enfrenta o vilão e fica tudo bem no final! Daí, vem a parte do príncipe encantado e do felizes pra sempre! Mas que droga! Eu devia saber! O Shoran é homem! Ele não ia querer passar a vida inteira com essa boboca sem peitos! 

Vendo que a amiga chorava sem parar, Tomoyo aproximou sua cadeira e abraçou a amiga querida.

— Para de ser machista e se desmerecer só porque você não tem peito, nem traseiro… 

— É assim, sim, Tomoyo! Eu que sou uma boboca.

— Você não é boboca… 

— Sou sim! 

— Para de se xingar! Eu já te disse: você é a menina mais bonita que eu tive o prazer de conhecer  

Sakura não escutou. Apenas chorou.

— Beleza não é cabelo loiro e olho azul… Beleza é o que a gente tem dentro da gente… Isso basta! Para com essa besteira! — disse Tomoyo, chorando com a tristeza e as dúvidas da amiga querida. 

Tomoyo abraçou Sakura pelo tempo que ela precisou, chorou com ela o tempo que ela soluçou nos seus ombros. As coisas que a Cardcaptor falou eram duras demais para que a costureira continuasse falando racionalmente com ela e esperou o tempo passar, acariciando os cabelos dela. Sakura levantou a cabeça com os olhos inchados. Tomoyo também estava com toda a região dos olhos vermelha. Na pele branquíssima que ela tinha, aquilo foi um destaque e tanto. 

— Olha aqui, Sakura. Você e o Shoran criaram a história mais bonita de todas… A história mais bonita que eu pude filmar e cantar… Vocês não podem deixar isso morrer assim tão fácil por conta de ciúmes! Isso é horrível, sabe? Vocês tem que se conversar mais… 

— Eu nunca tive tempo pra conversar com o Shoran direito… 

— Você tem que arrumar, Sakura! O natal tá chegando! 

Sakura não disse nada.

— Vou te contar uma história. Foi numa época do ano como essa que São Jose, o pai de Jesus, sabendo que Maria ficou grávida de um filho que não era dele, pensou em abandonar a mulher pra não culpá-la de nada, sabe? Pra que o povo visse que aquilo era um milagre de Deus! Naquele tempo, o pessoal era duro com a moral, sabe? Não podia nem beijar antes do casamento… Imagine filho!

Sakura sorriu um pouco com a história divina. Tomoyo continuou: 

— Foi então que, Deus vendo que não tinha maldade no gesto dele, enviou um anjo para ele. Ele chegou e disse para ele: não fique assim! Aceite Maria e ninguém vai te culpar de nada! E sabe o que aconteceu? 

— Não… 

— Ele criou por cerca de trinta anos um filho que não era dele. Ele protegeu o menino, deu o que podia pra ele, criou uma pessoa de bem sem ficar martelando na cabeça que o filho não era dele. Ele só pensou em criar mais uma pessoa de bem no mundo e mais nada. Porque cada criança no mundo é um fio de esperança para uma amanhã melhor, sabe? Eu penso assim… 

A Cardcaptor enxugou as lágrimas que ainda caíam e continuou a prestar atenção em Tomoyo.

— Sakura, nem tudo no mundo é material, sabe? O amor é uma coisa que nasce dentro da gente e a gente ganha muito com isso quando mostra pro mundo… 

A hora avançava. Sakura se levantou da mesa e deu um abraço forte em Tomoyo. Não era como daquela vez que chorou há alguns minutos atrás. Era um caloroso abraço de agradecimento. 

— Muito obrigada mesmo, sabe? Muito obrigada por você ser essa sabichona que você é e fazer esse discurso bonito pra mim… 

— Que isso, Sakura! Eu não tirei isso de mim. Isso foi uma homilia que eu ouvi de Dom Miquel Tossel, cardeal de Barcelona no exílio e centésimo vigésimo quinto presidente da Generalitat! Hehehe!   

— Você respeita esse cara, né? Só vive falando nele…  

— Bastante… 

Foi difícil para Sakura dizer aquelas palavras para alguém, aquelas dúvidas, mas nunca se sentiu melhor em toda sua vida. Tomoyo era um ponto de equilíbrio que sempre esteve do lado dela e agora, naqueles tempos difíceis, ela aprendia a valorizar.

Quando estava no voo de volta para Bilbao, além do abraço enorme que levou de Sonomi, outra recordação saiu do subconsciente de Sakura direto para seus pensamentos: o que mais gostava em Syaoran. A Cardcaptor se lembrou quando conheceu o chinês melhor e os dois começaram a dar os passos para ele se tornar no seu marido de agora. 

Foi no teste de coragem do Colégio elementar de Tomoeda, quando tinha dez anos e estava começando a capturar as cartas. Tomoyo havia desaparecido por causa da magia da carta e não sobrou mais ninguém para salvá-la do escuro e do medo. Foi então que o pequeno lobo apareceu com um ofuda queimado, iluminando o caminho. Ela chorou e abraçou o pequeno guerreiro, até que os dois caminharam juntos, de mãos dadas, até o ponto onde estava a carta. Até mesmo ele começou a desaparecer com a magia da carta, mas Sakura foi forte, foi valente e capturou a carta sozinha. O mesmo se pode dizer quando Sakura transformou a carta apagar em carta Sakura, também sozinha. Ela caiu em amores vendo o chinês batendo, em vão, no tampão transparente embaixo da estátua do rei pinguim, segundo o que Tomoyo pode gravar. 

Esse era o Syaoran que amava, um Syaoran que a protegeria todo o tempo e seria seu ponto de equilíbrio, seu porto seguro para todo o sempre, uma pessoa que nunca mentiria para ela, não importa a situação. O problema era que ela queria um Syaoran de onze anos de idade em pleno 2015 e isso não era mais a realidade. Tomoyo já a tinha alertado que a imagem que ela projetava de Syaoran era uma inverdade, pois capturar as cartas ao lado dela era uma coisa, vida real era outra coisa diferente.

O Syaoran ser humano de agora, homem de carne e osso, com 26 anos nas costas, era um homem que tinha medo, apesar da cara arredia. Ele era um homem que não gostava de estar em Euskadi, ao lado de Gotzone, e se sentia inseguro por conta disso, se sentia pressionado com a presença dela, com os filhos dela. Quem sabe fosse por conta da magia da Ordem? Era um Syaoran que não podia garantir a própria segurança e temia pela sua vida, pela família e pela esposa, mas tentava disfarçar essas deficiências com gritos de coragem e gestos de defesa.

Sakura não se importava com isso. Syaoran não tinha culpa de nada. Ela se chamou de boba mais uma vez por querer uma coisa que não existia, apesar das advertências da amiga. 

Bastava que ele continuasse a ser um rapaz honesto e verdadeiro que sempre conheceu. E isso basta. Ela não saberia o que fazer se aquela única centelha de ilusão se desfizesse como um castelo de areia.

— Eu nem sei o que eu faria se isso acontecer… — pensou Sakura.

Continua…   



                   


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