Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 21
Uma proposta de Madrid




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Capítulo 19

Uma proposta de Madrid

 

San Sebastián, Euskadi

7 de dezembro de 2015

 

A campainha tocou na casa dos Kinomoto. Sakura já sabia quem era só de sentir a presença atrás da porta.

— Pode abrir, tio Koldo.

— Com licença! — gritou o homem atrás da porta. Koldo Bengoetxea era o irmão mais velho de Gotzone. Da mesma forma que todos os Bengoetxea, ele tinha cabelos finos, loiros e olhos claros bem destacados. Ao contrário da irmã famosa, ele era um anônimo. Funcionário público, recebia um bom soldo no porto de Donostia e tinha tempo livre de sobra para cuidar dos sobrinhos. Tal como Nakuru, Kero e Meiling cuidavam de Chitatsu.

Os meninos já aprenderam como aquela casa funcionava e trouxeram uma bolsa com sapatos para trocar na entrada. Toda vez que eles chegavam, Chitatsu e Kero corriam animados para falar com os amigos.

— Sakura, esse aqui é um dos livros de magia que eu prometi pro Kero.

— Oba, oba! — disse o Guardião, flutuando até o objeto. 

— Ele tá escrito em basco antigo, mas com o dicionário que eu te dei, acho que vai ser fácil entender os pontos mais obscuros.

— Muito obrigado mesmo! — disse o Guardião.   

O irmão de Gotzone era um homem bondoso e, para compensar a permanência dos meninos na casa dela, o homem trazia cristais, mandalas e livros de magia. Sakura não se importava com isso, afinal tinha uma especialização para terminar, mas Kero gostava. Da mesma forma que Chi e os gêmeos forjaram uma amizade duradoura, Kero gostava de falar com Spinel Sun coisas muito além do videogame, pois o guardião de Eriol tinha um vasto conhecimento de magia. Com a morte dele, Kero não encontrou ninguém para conversar sobre esses assuntos. Mesmo assim, a cardcaptor, no fundo, desconfiava daquela troca de favores. 

— Vocês são da Ordem do Dragão, não são? 

— Mentiria pra você se dissesse que não temos laços com a Ordem.

— Sabia! O que vocês ganham com isso? 

— Bem, se você pensa que nós somos os vilões, está enganada. Os Bengoetxea são amigos de Zigor Iñigitz e Carlos Garaikoetxea há séculos. Mas só agora é que tivemos um Interventor na Ordem. — respondeu Koldo.

— Sei, um Interventor… E o objetivo de vocês é pegar minhas cartas, não é? 

— Esse nunca foi o objetivo da Ordem. 

— Como assim isso nunca foi o objetivo? 

— Eu tenho os documentos, se a senhora quiser, eu mostro… 

Sakura sentia que o homem estava sendo sincero e não soube como responder.

— Esses meninos são uma isca pra me pegar, né? 

— Senhora Sakura, eles são tão isca pra gente quanto seu menino é para a senhora. Eles sempre usam nossas crianças pra fazer mal pra gente… 

Sakura olhou para o lado não disse mais nada. Koldo continuou:

— Eu sei o que o Zigor fez com o irmão e o pai da Senhora. Se a senhora quiser, eu posso tentar falar com a minha irmã para ver se ela consegue que, pelo menos, ele libere o seu irmão pra fazer uma visita… 

Sakura sentia verdade na mente daquele homem, não por conta do jeito de falar, mas porque ele falava por telepatia. A cardcaptor conseguia ler os pensamentos dele e viu que ele não sabia de nada a respeito do pai e do irmão. Além disso, como tio, ele tinha uma grande estima pelos sobrinhos e temia que eles fossem alvo da Ordem, pois Gotzone se rebelou contra eles.  

— Foi você quem criou isso, né? 

— Não encontrei outra forma de me explicar…

— Sakura, acho melhor a gente dar um crédito pra ele… Ele também já fez isso comigo e não encontrei nada… — disse Kero

— E outra: vocês viram que a Maitê e o Victor estão sendo perseguidos pela polícia, não viram? 

Sakura calou-se. 

— Eu não quero ter o mesmo destino deles! Somos uma família tradicional de magos e não queremos ser varridos do mapa! Vocês sabem o que o ministério pode fazer com a gente se descobrir que a gente tá envolvido com essa outra facção da Ordem? 

  No final, Sakura aceitou as explicações de Koldo e os meninos continuaram a visitar Chitatsu sempre e quando o filho saía mais cedo da escola. O mais interessante foi ver a reação de surpresa de Syaoran. Bastou o jogador entrar nos jardins para que Iñigo corresse até o jogador com os braços abertos, mais animado que Chitatsu ou qualquer um dentro daquela casa. Iñaki, o mais velho dos gêmeos, ficou no canto dele, olhando para baixo.

Sakura e Kero olhavam para ele, vendo o que ele ia fazer. Dessa vez, Syaoran pegou o menino no colo e não disse nada. O menino abraçou tão forte o pescoço dele que só faltava beijá-lo no rosto, tamanho o carinho que ele tinha pelo chinês. 

— Isso é uma das coisas que eu não entendo, Kero-chan! — disse Sakura, vendo a cena toda.

— Eu entendo menos! Você quer ler a mente dele, Sakura?

— Não! Deixa pra lá!

Tinha vezes que os meninos chegavam a jantar na casa de Sakura e de Syaoran. Nakuru preparava a refeição e todo mundo comia. Até mesmo na mesa, Iñigo era o mais animado e contava as coisas da escola para Syaoran, o que estava aprendendo e o que precisava melhorar. Depois, Chitatsu complementava o que o amigo dizia. Iñaki não falava quase nada com o pessoal da mesa, nem quando era mencionado, limitando-se a dizer 'sim' ou 'não', o mais monossilábico possível. Dos três, ele era o que mais se sentia incomodado, ou melhor, ele achava que incomodava e, por conta disso, não abria a boca para quase nada.

Nas outras vezes que os meninos vieram, Iñigo trouxe um presente para Syaoran: um frasco de perfume. O pior de tudo era que era um dos favoritos de Syaoran. Agora era Sakura quem ficava surpresa. 

— Como é que ele sabe? — perguntou Sakura.

— Sei lá, eles viram no armário… Ou leram a mente dele… Vai lá entender… — disse Kero, lendo o livro de magia que Koldo deu para ele.  

Um dia, quando estava dormindo no sofá, Sakura sentiu uma presença familiar em cima de sua barriga.

— Syaoran?

Ela abriu ligeiramente os olhos e viu a cara do rapaz vinte anos mais jovem, olhando-a em sua barriga. O problema era que a face tinha olhos azuis e cabelos bagunçados.

— Hoe!!!

Não era ele. Era Iñigo. Ela abriu os olhos com o susto que levou e se levantou de imediato. Iñigo correu para trás da mesinha da sala e Sakura viu que ele tinha deixado uma caixa na barriga dela. Ela abriu e viu que era uma caixinha de música. Havia um casal com roupas tradicionais bascas, dando voltas e voltas num palquinho.

— Iñigo? O que é isso? 

— Uma caixinha de música…      

— Por que isso agora?

— Pensei que você quisesse uma lembrancinha daqui…

Sakura deixou um pouco de lado o susto e olhou melhor aquele presente.

— É… Até que ela é bonitinha, né? Quem te disse que eu queria uma caixinha de música? 

— Eu li seus pensamentos… 

— Você leu a minha cabeça?

— Você ficou chateada quando eu dei o perfume pro Ai… pro Shoran, não foi? Queria dar um pra você também…   

Depois do incidente do perfume e da caixinha de música, uma semana se passou e nada de os meninos aparecerem. Sakura até que ficou um pouco preocupada e perguntou para Chitatsu o que tinha acontecido. O filho respondeu para ela que os meninos estavam conversando com Gotzone. Sakura estranhou, mas imaginou que ela tivesse descoberto o que os meninos estavam fazendo enquanto ela dormia ou estava no treino e tratou de desfazer tudo. 

Por um lado, Sakura ficou preocupada, pois os meninos haviam desenvolvido uma boa relação com o filho, mas por outro, quanto mais convivia com os meninos, mais cresciam suas suspeitas sobre eles: os meninos tinham cabelos castanhos bagunçados e olhos puxados. 

Pelas fotos de infância que Sakura tinha visto de Syaoran, ele também tinha cabelos bagunçados e volumosos quando tinha cinco anos. A cardcaptor balançou a cabeça e tentou dissipar aquele pensamento. Aquilo já estava beirando a paranóia e não deixaria que suas suspeitas com a Ordem interferissem na sua vida, no seu casamento.

Naquele 7 de dezembro, a campainha da sala tocou. Sakura sentia que os meninos estavam atrás da porta. Kero, que estava no quarto de Chitatsu, chegou voando até a sala. Dessa vez o guardião estava bem acordado. 

— Iñigo, Iñaki? Vocês aqui?

Tinha mais uma pessoa atrás da porta. Era Gotzone.

— Oi, Sakura, olá, Kerberos quanto tempo, não é? — disse a loira de tranças. Sakura não via mais o ar alegre e animado deles. Estavam tão sérios como no primeiro dia que vieram visitar aquela casa com a mãe. 

— O Chi tá na escola agora e vai voltar tarde… — disse o Guardião, receoso com a presença dela. 

— Não precisa dele aqui… Eu queria conversar com você, Sakura… Posso entrar?

— Eu também quero conversar com você… Entra, entra… 

Os três entraram e se sentaram no sofá. 

— Vocês querem alguma coisa? 

— Não… A gente já está de saída. 

— Tem muita coisa que eu quero entender, Gotzone… 

 — Eu sei… — Sakura olhou para Kero e ele parecia ler a mente da mestra. — Meninos, vão com o Kero, vão… 

O guardião de Sakura levou os meninos até o quarto de Chitatsu para jogar videogame. Só ficou Sakura e Gotzone na sala. 

— Bem… Você primeiro, Gotzone, o que você quer falar comigo? 

— O meu irmão Koldo me contou tudo… Faz tempo que os meninos visitam aqui? 

Sakura não soube o que responder.

— Isso não foi uma coisa que eu procurei, Gotzone. Os meninos que vieram pra cá primeiro.

— Eles usaram o “Kaixo” pra vir pra cá, não é? 

— Sim. Achei muita esperteza deles… 

— Isso é coisa do Iñigo. Ele arrasta o irmão pras traquinagens dele… Bem, isso se o Iñaki concordar e, pelo visto, ele concordou… 

Sakura, mais uma vez, não soube o que responder. 

— Sabe que eu não entendo… — disse Sakura.

— Não entende o quê, Sakura? 

— Como esses meninos se afeiçoaram ao Chi… Eu nunca vi isso… Desde o primeiro dia eles correram, abraçaram ele, sabe? Isso não existe!

— Isso não existe mesmo, Sakura. acho que foi culpa minha não prever essa situação antes… 

— Me diz: tem certeza que isso tem a ver com o fato dos meninos terem poderes mágicos ou não? Até agora, eu não vi o Chi fazer nada de anormal… 

— Não, não tenho, Sakura. A afinidade mágica ajuda, mas não é tudo… — disse Gotzone, seca e fria. Sakura ficou tensa com aquela negativa. — Acho importante que os meninos tenham desenvolvido esse afeto pelo Chi. mas acho mais importante ainda que isso tenha que parar, sabe?

— Que isso tem que parar? Como assim? 

— Eu vou pra Madrid. Recebi uma proposta pra formar um time de futebol feminino.

Sakura quase se levantou do sofá com o susto que teve com aquela notícia.

— Como assim?

— Eu vou ficar na Real Sociedad até o fim do mês. Depois, vou ficar sem jogar uns seis meses até ficar tudo pronto lá.  Eu vou coordenar tudo, entende? O time feminino do Real Madrid tá começando do zero…  

Sakura passava a mão no pescoço, incomodada com aquela notícia.

— Isso significa…

— Isso significa que os meninos vão querer se encontrar com o Chitatsu de qualquer jeito… E, como Madrid é uma cidade grande, eu tenho medo que eles se machuquem, tentando ir atrás do amiguinho. Eu não queria isso, sabe? Mas impedir a aproximação deles tem sido difícil pra mim… Então, eu vim aqui pra me desculpar com você, por conta daquele puxão de orelha que eu dei no Iñigo… Eu sei que você não gostou… 

Sakura não entendia como reagir. Por um lado, queria ter escutado aquele pedido de desculpas faz tempo. Por outro, não tinha certeza se realmente queria escutar aquele pedido, daquela forma. Ainda com dúvidas, Sakura fez sua última pergunta daquela noite:

— Gotzone… Quem é o pai desses meninos, hein? 

— Isso é uma coisa pessoal minha que eu não faço questão que ninguém saiba, nem mesmo meus tios e minha família sabem…

— Mas… Como você pode fazer uma coisa dessas? Deixar esses meninos sem pai! — disse Sakura, furiosa. 

— Acho que quem não entendeu aqui foi você. Eu tô cometendo algum crime em ser uma mulher independente? 

Aquela era um final de tarde cheio de questões que Sakura não sabia como responder. 

— Acho que isso não é muito comum no oriente, de onde você veio. Afinal, o pessoal só trabalha, trabalha, trabalha, nem tem tempo pra ter filhos. Foi uma sorte você ter tido o Chi com a rotina que você teve…

— Você tá lendo minha mente, é? — disse Sakura, incomodada com aquela verdade inconveniente.

— Eu sempre estive te acompanhando, Sakura. Vocês, japoneses, são um povo muito curioso… — Gotzone se levantou do sofá e chamou os meninos. — Iñigo, Iñaki, zatoz (vamos)! 

Os dois rapazes correram escadas abaixo, com Kero na retaguarda.

— Vou indo, Sakura. Espero conversar com você mais tarde. A gente se vê em Madrid… 

Mal a jogadora basca abriu a porta e Syaoran apareceu logo na frente, atônito com o que acabou de escutar.

— Eu não posso estar escutando isso… — Disse o Chinês. 

Sakura ficou mais confusa ainda. 

 

Continua… 


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