Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 23
Nunca disse que a verdade fosse bonita




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Capítulo 21 

Nunca disse que a verdade fosse bonita

 

San Sebastián-Donostia, Euskadi, Espanha

Madrugada do dia 11 de dezembro de 2015

 

I

 

Era de noite, Sakura dormia a sono solto. Passou um dia desde que visitou Tomoyo na cidade condal e, quando voltou, não quis perguntar nada a Syaoran. Ele era o mesmo: o sorriso simples, a timidez de sempre. Como tinha chegado mais cedo do treino, aproveitou o dia para brincar com Chitatsu. Aquela imagem de pai e filho brincando não era nada para ela se preocupar. 

Ele sempre foi o Syaoran de sempre, não tinha que ficar pensando besteira. 

Mal fechou os olhos e algumas imagens foram projetadas em sua mente. Estava em uma sala circular, com dois lances de escadas subindo para uma parte de cima onde Sakura não via porta alguma. Havia duas janelas aos pés da escada, com vista para as rochas do litoral. As ondas do mar iam e vinham e uma fraca luz de um farol ao longe projetou a imagem de dois meninos naquela sala, como se fosse uma impressora 3D. Um deles era Iñaki e o outro era Iñigo. 

— Ai, ai, ai, ai! O que eles estão fazendo aqui? 

Sakura tocou em Iñigo e o menino caiu duro no chão. A cardcaptor tomou um susto e tratou de levantar o rapaz, dizendo infinitos pedidos de desculpa antes de se tocar que era um boneco. 

— Como eu sou idiota! — Pensou.

— Ora, Sakura, você não é nenhuma idiota! A sua inteligência está no coração. — disse um homem todo de preto que estava em cima do lance de escadas. Ele foi descendo vagarosamente pelos degraus e o coração de Sakura palpitava com violência. Era um homem loiro, muito bonito, pele lisa e olhos profundamente azuis claros. Havia uma luva preta encobrindo a sua mão. O homem tocou nos ombros dela e sorriu. O sorriso dele era lindo e seus cabelos estavam penteados de lado. Mesmo assim, Sakura não sossegava.

— Quem… É você?

— Eu sou apenas um colaborador da roda do destino… Você, Sakura, a capturadora de cartas, você é a engrenagem que gira essa roda… 

Sakura não entendia.

— Eu digo mais: você tem capacidade pra ser o motor de tudo isso! — disse o homem, dando um leve tapa na bochecha dela. Sakura tocou no pescoço e o báculo da estrela apareceu em suas mãos.

— Quem é você! Qual é o seu nome?

— Sou Enric. 

— Enric? 

— Isso mesmo… 

— Por que você tá aqui?

— Eu vi a sua preocupação com os meninos e resolvi fazer uma vistinha… 

— Que visitinha é essa?

— Eu sei quem é o pai do Iñigo Bengoetxea e do Iñaki Bengoetxea… 

Sakura ficou sem ar.

— Aqui na Espanha, cada sobrenome leva o nome do pai e da mãe. O primeiro sobrenome vem do pai e o segundo vem da mãe. E, investigando nos cartórios, eu vi que o pai registrou as crianças… Mas o mais curioso foi que essa ordem foi invertida para não dar tão na cara assim… O nome da mãe veio primeiro e o do pai veio depois… 

Nas mãos cobertas pela luva preta, Enric fez aparecer dois documentos de identificação, chamado na Espanha de documento nacional de identificação o DNI. Lá estavam as fotos de Iñigo e Iñaki, com o último sobrenome escondido.

— Como assim? o que significa isso?

— Eu estou disposto a te revelar quem está por trás dos sobrenomes, aqui e agora. Mas têm um preço… 

— O que você quer de mim? As cartas? 

— Eu quero a sua colaboração para transformar esse mundo injusto onde vivemos… — disse Enric, segurando os ombros dela e olhando fixamente para os seus olhos verdes.

Sakura sentia que Enric estava sendo sincero, mas Tomoyo sempre a alertou a ficar esperta com essas presenças estranhas que aparecem no sonho dos magos oferecendo presentes. Sakura olhou com firmeza para ele.

— Eu não tô a fim de saber de nada, não! O pai dessas crianças deve ser que nem saco de lixo: quanto mais mexe, mais malcheiroso fica!

Enric sorriu.

— Nunca disse que a verdade fosse bonita… Bem, eu vou indo… Adéu! — Um redemoinho apareceu no ar e Enric entrou dentro dele. A estátua de Iñaki e Iñigo virou pó assim que ele saiu.  

Sakura despertou-se com tudo da cama, suando e tremendo. Syaoran percebeu.

— Tá tudo bem, Sakura? — perguntou o pequeno lobo.

— Tá, tá sim… Tá tudo bem sim… Vamos dormir, vai… — respondeu a flor de cerejeira.

— Se tiver alguma coisa acontecendo pode falar, está bem?

“Por que eu tenho que falar se você não é claro comigo sobre aquela mulher, Shoran! Eu não vou falar nada não!”, pensou Sakura, um pouco rebelde. Talvez Tomoyo a repreendesse por pensar assim, mas a cardcaptor precisava ter um pouco de orgulho dentro de si. Sakura voltou a se cobrir e custou a dormir naquela noite.

 

II

 

— Sakura, já parou para pensar que isso que você está me dizendo é grave? 

— Sei sim, Tomoyo! Um cara aparece do nada nos meus sonhos me vendendo segredo dos outros! Como pode! — Sakura fechou os olhos com as mãos e encostou a cabeça na poltrona, respirando fundo. De dentro do consultório no hospital universitário, Sakura telefonava para Tomoyo. Dormiu pouco e ficou tão agoniada com aquele sonho que ligou para a amiga para desabafar. 

— Sakura, ele disse que os meninos tem o sobrenome do pai, não disse?

— Eu tô entendendo onde você quer chegar… Eu sei que eu posso olhar os prontuários deles e matar essa dúvida, mas eu já fiz isso. A Gotzone não leva os meninos pra cá, pro trabalho dela. Eu posso tentar olhar na escola… Sei lá, atravessar as paredes, invadir a escola de noite, sabe? Que nem a gente fazia quando a gente pegava as cartas! Mas, daí, você ia ter que passar uma noite aqui com a gente… 

Sakura explicava seu plano para a amiga, mas Tomoyo apenas gargalhava do outro lado da linha.

— Sakura, eu estou vendo que você não falou com o Shoran nada sobre isso, não é?

— Não, não falei mesmo não… 

— Você está se deixando dominar pela paranoia, Sakura? 

— Não sei, Tomoyo, não sei mesmo! Mas eu tô querendo saber, sabe? 

— Está querendo saber assim, sem nada às claras, dominada pelo medo? Sakura… Pensa que a Ordem não está tentando te atacar? Com certeza esse sonho foi coisa dela para você perder a concentração… 

— Será que é mesmo?

— Claro que sim! Olha para você! Está toda preocupada, desesperada! Você nem dormiu direito, imagine comer! 

Sakura respirou fundo e não soube como responder para a amiga. 

— Sakura, no domingo tem jogo do Barça contra a Real Sociedad aí em Donostia. O Barça sempre perde jogando em Guipúscoa e, no sábado, eu quero conversar com vocês dois, está certo? 

Sakura respirou fundo, percebendo que não dava para vencer Tomoyo nos argumentos. 

— Tá bem, Tomoyo, vou te esperar… 

— Graças à Virgem de Montserrat você se convenceu de uma ideia minha, garota! 

— E tem como não me convencer, sua sabichona? 

— Está certo. Vou indo, está bem, estou com muito trabalho para fazer. 

— Manda um abraço pra Sonomi, tá bem? 

— Está bem, tchau! 

Sakura desligou o telefone e tentou relaxar na poltrona, processando dentro do cérebro toda a conversa que teve com Tomoyo. Foi quando a porta do consultório se abriu e um soldado de farda branca do ministério de assuntos especiais entrou.

— Sakura, o Chitatsu… Perdemos o Chitatsu! 

— Ai, meu Deus! Meu filho! — Sakura gritou desesperada. Seu sangue desceu para o pé.

— Acalme-se! Ele está em Bilbao numa hora dessas! 

— Bilbao? Como assim? 

— Sim, na praça Unamuno. Parece que os sequestradores eram gente amadora e foi fácil pro ministério rastrear.

— Vocês são tudo um bando de burros! Isso sim! Como deixaram uma coisa dessas acontecer com meu filho? — disse Sakura, histérica, jogando alguns papéis na mesa. 

— Eles tiveram a ajuda de um superior da Ordem, mas já interceptamos ele… Agora só resta pegar os sequestradores, pode ficar tranquila que… 

— Ficar tranquila uma ova! Vou atrás do meu filho! — Sakura correu até um canto isolado dos jardins do hospital. Acionou as cartas “corrida” e “voo” e pulou nos céus.     

 

III

 

Na frente da prefeitura de San Sebastián. 

 

O mesmo soldado de farda branca, que deu a notícia do sequestro de Sakura, parou diante de um homem de terno e gravata e batendo uma continência para ele. 

— Senhor Victor! 

— Diga… Mandou o recado? 

— Sim, ela saiu que nem louca pra Bilbao.

— Você falou pra ela usar as cartas? 

— Nem precisei falar, ela mesma pegou que nem uma louca e saiu voando… 

— Excelente… Daí, quando ela se cansar, a gente cata ela e a Gotzone… 

De repente, uma mulher apareceu detrás dos arbustos da praça em frente ao prédio da prefeitura. 

— Victor, o que você tá fazendo? 

— Maitê! Eu que me pergunto! Eu tô acionando nossos espiões no ministério pra pegar as cartas! Sabe o que vai significar pra gente pegar a Gotzone e a Sakura?

— Seu idiota! — Maitê bateu no colega interventor com uma bolsa que tinha nas mãos. — Você tá chamando a atenção do ministério, isso sim! Já pensou se a Sakura fala desse encontro com ele?

— Até lá, a gente já vai ter pegado a Sakura e as cartas! A gente tirou a vigilância dela. Você podia me ajudar!

— O comandante falou pra gente não tentar pegar as cartas agora. Você não ouviu? 

— Sim, eu ouvi sim! Sabe que isso me deixa muito puto mesmo! Até quando ele vai querer que a gente fique nesse marasmo?

— Até as nossas armaduras aguentarem aquelas balas, seu retardado! A gente tá se preparando, poxa, e você vem estragar tudo de uma vez! Ou você já se esqueceu que a gente foi cortado ao meio pela Nerea? Pensa que a Goti não vai fazer a mesma coisa?

— Mas que merda, Maitê! É uma chance das boas! A Sakura não sabe se controlar e… 

— Eu já sei! A gente também tá de olho nela! E na Goti também. A gente vai agir quando a gente tiver que agir, está bem? Agir antes é querer ferrar mais ainda com o plano… 

Victor Delgado, Interventor de Castela, respirou fundo antes de continuar. 

— Pode voltar ao seu posto e continue mandando os relatórios! 

— Sim senhor! 

— A nossa conversa aqui não existiu, tá? 

O homem fez sim com a cabeça e correu daquela praça. Só ficou Maitê e Victor.   

— Você pensa que dá pra vencer a Sakura agora, revelando pra ela um segredinho besta desses?

— Talvez sim… Talvez não… Talvez elas se matem quando se verem e a gente já se livra da Gotzone… Mas, de qualquer forma, a minha esperança é encontrar uma Sakura mais fraca depois de hoje… — disse Victor. — Isso também é importante pros nossos planos, não? 

Maitê fez sim com a cabeça.

 

Continua… 


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