Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 20
A gente tava com saudades




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783908/chapter/20

Capítulo 18

A gente tava com saudades… 

 

I

Donostia, Euskadi.

9 de Outubro de 2015

 

— Tadaima! Estou de volta! Syaoran? Chi? Sonomi-san? Tomoyo?

Depois de um dia exaustivo de trabalho, Sakura entrou em casa e trocou os sapatos na entrada. A conversa que teve com Tomoyo a ajudou a superar aquelas inquietações do jantar, mas, mesmo assim, parecia que elas não foram superadas de todo. Quando chegou na Universidade, descobriu que Gotzone não estava mais lá. Ela não seria mais sua enfermeira assistente, pois precisou trocar de horário. Agora, ela fazia aulas à noite e estagiava de madrugada. A cardcaptor foi perguntar as razões daquilo para a professora coordenadora Begoña e ela simplesmente respondeu que isso era uma medida de segurança para ela. Gotzone era muito famosa e as aulas e estágio durante o dia chamavam muito a atenção. Sakura quis esperá-la e ouvir aquilo da boca da loira de tranças. Queria também reclamar da forma que ela tratou o próprio filho. O problema era que Sakura tinha família e filho e não pode esperar por muito tempo. Outra hora resolvia isso, não tinha pressa. Agora era dedicar-se à família, ao filho e ao marido. Da porta de entrada, andou mais alguns metros só para ver Syaoran sentado na mesa da sala de estar com uma cara séria e uma papelada debaixo da mão. Ele não estava só. Chitatsu estava com ele.

— Mas… o que é isso, hein, gente? 

— Precisamos conversar, Sakura. — disse o chinês.

 

II

Donostia, Espanha

16 de Outubro de 2015

 

— Chi, tá tudo certo na sua lancheira? — perguntou Syaoran. 

— Sim, papai. Tá tudo certo sim… 

— Tá com a sua maçã e seu suco? 

O menino abriu a mochila para verificar. Depois de um minuto, fez sim com a cabeça para o pai. Enquanto isso, Sakura dirigia o carro pelas ruas de San Sebastián. A cidade tinha dois nomes: um em basco, Donostia, e outro em espanhol, San Sebastián, e geralmente as placas da rua estava nas duas línguas. Isso às vezes causava uma dor de cabeça em Sakura, mas depois de quase três meses vivendo na cidade, já tinha se acostumado àquilo.

O que Chitatsu talvez não se acostumasse tão cedo era a mudança de rotina repentina. Saiu de uma escola onde se ensina só basco pras crianças para outra que ensina em espanhol. Depois de deixar o menino na escola, Sakura deixaria Syaoran no centro de treinamento da Real Sociedad e, logo após, iria ao trabalho. Nem Sakura, nem Syaoran falavam nada dentro do carro, o que era esquisito, pois os três juntos eram muito comunicativos.

— O que foi, Sakura? Agora é você que tá quieta… 

— Shoran… Têm certeza disso?

— Tenho sim, Sakura. Eu já devia ter feito isso faz tempo. Sei que foi você quem escolheu aquela escola pra ele, você não tem culpa, mas o menino precisa começar a aprender espanhol. Daqui a dois meses, a gente vai pra Madrid, isso é certo. Não faz sentido ele continuar aprendendo basco. Quem fala basco fora daqui? 

Sakura não quis discutir com o marido. A lembrança do puxão de orelha que Iñigo tinha levado ainda era persistente em sua mente. Quem sabe, os meninos sentissem falta de Chitatsu e ele, a mesma coisa sentisse dos amiguinhos novos, mas isso era pergunta para outra hora. Os muros da escola começaram a aparecer e uma série de carros estava parada na calçada, com pais prontos a deixar seus alunos na escola. Era hora de pensar no presente. 

A cardcaptor percebeu que os veículos estacionados na rua eram mais caros que os carros parados na frente da pré escola basca. Segundo o que ouviu de Syaoran, muitos empresários e jogadores deixavam os filhos naquela escola, inclusive muitos colegas de clube de Syaoran. Um deles até mesmo acenou da calçada para cumprimentar a família.   

O carro parou e os três saíram do veículo. Fazia um dia bonito de sol e nada diria que o tempo pioraria. Não tinha sinais de ventania, nem de neblina naquela região com clima de montanha, mas o vento frio de outono era insistente, por isso, agasalharam bem Chitatsu.

Na primeira vez, Syaoran não pode estar do lado deles, mas agora ele estava lá, sorridente. O que mais entristecia Sakura era que naquele dia, há dois meses atrás, todos estavam mais animados que agora. Kero não estava mais escondido na mochila de Chitatsu e o pequeno não estava tão alegre como antes, quando recitava suas primeiras palavras em basco. Estava calado, silencioso, aceitando tudo aquilo com resignação. 

Ele nem mesmo contava os tijolos da calçada como adorava fazer. Caminhou para a porta do colégio novo apenas observando os outros alunos fazer o mesmo. Sakura ficou muito preocupada com Chitatsu. Torcia para que um dos filhos dos companheiros de clube de Syaoran corresse para abraçar o menino. O pequeno andou até a porta da escola sem nada disso acontecer. Milagres não acontecem a todo momento. Sakura pôs a mão na boca e quis, no fundo, chorar. As lágrimas não vieram, mas o menino se curvou para Sakura e o pai antes de atravessar o portão, como se ele também sentisse o que a mãe sentia. Sakura deu um simples “tchau” com as mãos e voltou-se para o marido, abraçando-o. 

O Chinês entendeu o que a cardcaptor sentia e abraçou-a também. 

— Sakura, não fica assim! Seja daqui há dois meses, seja agora, ele não ia ficar a vida inteira do lado… Do lado daqueles meninos… 

— Mas ele nunca foi bem tratado com foi por aqueles meninos, como você mesmo diz! Espero que esteja tudo bem com eles…

Syaoran tentou dizer que as amizades não se formam na porta da escola, mas dentro delas. Não conseguiu. A situação exigia sensibilidade para não se tornar pior do que já estava e disso ele tinha bastante consciência.   

 

III

San Sebastián, Euskadi

23 de Outubro de 2015

 

Sakura estava lendo uma revista no sofá da sala quando a campainha tocou:

— Quem é, hein? 

A campainha voltou a tocar várias vezes e, só então, se levantou para atender.

— Já vai!

Bastou calçar as pantufas para sentir uma presença que ela julgou ser conhecida.

— Essa presença… É tão parecida com a da Goti… — disse para si mesma. Sakura lembrou-se que fazia mais de duas semanas que não ouvia falar de Gotzone. Todos os professores com quem falou guardavan sigilo, afinal, era raro que esportistas fizessem curso superior e, de certa forma, isso servia como um exemplo para os demais. Para que isso acontecesse, era necessário que a loira de tranças sentisse que teria paz e não seria perseguida pela imprensa ou pelos fanáticos de plantão. Só agora entendia porque havia uma delegacia da Ertzaintza, a polícia do País Basco, dentro da Universidade. Havia outras pessoas famosa fazendo universidade por lá também. 

Isso também poderia ser um truque da Ordem do Dragão. Fazia mais de três meses que ela tinha enfrentado os vilões e, segundo o que Bea Fanjul lhe disse, o golpe que eles deram neles foi tão duro que demoraria para eles se recuperarem. 

O problema era que a médica não sabia quanto tempo ia demorar. Como ela estava de folga da faculdade, Syaoran não estava em casa e Chitatsu estava na escola nova. Nakuru também foi procurar o que fazer para não ficar parada em casa. Só podia contar com Kero e Yue. O anjo prateado estava no Japão, afinal ele era Yukito! Kero dormia a sono solto. O guardião ficou a noite toda acordado, vigiando a casa dos Kinomoto-Li. A cardcaptor, tecnicamente, estava sozinha naquela casa.

Por tudo isso e mais um pouco, Sakura pegou a maçaneta da porta e abriu aos pouquinhos, segurando a chave do lacre no pescoço para qualquer eventualidade.

— Quem é? 

Abriu a porta com tudo e sua paranoia se dissipou. Era Iñigo e Iñaki. Iñigo estava com uma bola debaixo do braço e Iñaki trazia um cachorro pela coleira. Nenhum adulto estava acompanhando os dois.  

— Meninos, vocês por aqui? 

— Arratsalde On (boa tarde), Sakura! — disseram os dois.

— Arratsalde On! — respondeu Sakura. — O que vocês tão fazendo aqui, gente?  

— Chitatsu tá? A gente tava com saudades. — disse Iñaki.  

— Ele saiu da escola, né? Ele nem se despediu da gente… — disse Iñigo.

Sakura sentiu um corte no coração ouvindo os dois meninos, mas aquela visita naquela tarde sem nenhum adulto por perto era estranha demais. A cardcaptor, então, chamou a atenção deles.

— Meninos, me diz uma coisa: quem que trouxe vocês aqui, hein? 

Os dois se entreolharam, como se estivessem combinando uma resposta. 

— Nada de mentir pra mim, hein? 

— O “Kaixo” trouxe a gente aqui… — disse Iñaki, segurando o cachorro com as mãos. Ele fungava e lambia as mãos de Sakura. Iñigo tirou um lenço do bolso e a cardcaptor reconheceu que era do filho.

— O Kaixo sentiu o cheiro do Chi… 

Sakura ficou mais sentida ainda com a honestidade dos meninos e ficou sem saber o que falar. 

— Olha, meninos, a mãe de vocês sabe que vocês estão aqui? Pelo visto, não sabe, né?

— O tio Koldo sabe… — disse Iñaki.

— Tá. O tio Koldo sabe como vocês vão voltar? 

— O Kaixo leva a gente… — disse Iñigo, tirando uma boina da mochila que trazia nas costas. Sakura ficou impressionada com aquilo, com a esperteza daqueles meninos para se orientarem com o cachorro. Quando crescessem, aqueles dois virariam dois malandrinhos, pensou.

— Pode ligar pra ele… — disse Iñaki, tirando o celular do bolso. Sakura pegou o celular do menino e viu que a tela não tinha padrão de bloqueio. Passou o dedo nela e viu o nome de Koldo na agenda de contatos. Pensou em apertar e ligar para confirmar a história, mas também sentia que aqueles olhos azuis claros puxados diziam a verdade. Iñaki e Iñigo eram tão bonitinhos que os dois, de alguma forma, lembravam Chitatsu. Se arrumassem mais aquele cabelo, talvez ficassem a cara do filho. Sakura respirou fundo e foi firme com eles.

— Meninos, eu entendo o esforço de vocês, mas o Chitatsu não está. A mamãe de vocês tá muito brava com a gente e eu não sei o porquê dessa braveza toda, vocês entendem? 

Sakura entregou o celular para Iñaki e os dois olharam cabisbaixos para o chão. O cãozinho Kaixo latia.

— Vem aqui, eu vou levar vocês dois de volta pra casa antes que sobre pra mim… — disse Sakura, virando-se para pegar a chave do carro na bolsa. Quando entrou dentro de casa, ouviu a gritaria dos meninos e o cachorro latindo mais que nada no mundo.

— Laguna! Anaia! 

Sakura arregalou os olhos e correu para ver o que estava acontecendo. Viu Nakuru carregando Chitatsu pela mãozinha e viu também os meninos correrem até o filho. Chitatsu também caminhou até eles de braços abertos, mas os meninos foram mais rápidos e derrubaram Chi na grama. O cãozinho estava empolgado, saltitando em volta deles. Nakuru até se agachou para fazer carinho no animal. 

— Nakuru, o que é isso? 

— O Chi saiu mais cedo da pré escola hoje, eu fui buscar ele, o Shoran me mandou a mensagem… — explicou a moça de cabelos de fogo.

— Hoe! Acho que me esqueci de olhar o celular… — disse a Cardacaptor. — Acabou a bateria… 

Os meninos de Gotzone estavam felizes com Chitatsu, mas isso não bastava, eles mesmos sabiam disso. A chave do carro ainda estava nas mãos de Sakura. Os meninos deixaram Chitatsu de lado na grama e correram até a jovem médica.

— Mesedez (por favor)! — disse Iñaki.

— Mesedez! — disse Iñigo.

Os dos meninos curvaram o tronco na frente de Sakura, como Chitatsu fazia também. Nakuru sorriu. O menino foi o próximo a fazer coro à eles.

— Mamãe, deixa o Iñigo e o Iñaki brincar comigo até o fim da tarde, Eu juro que eles não vão fazer bagunça! — disse Chitatsu,juntando as mãozinhas e implorando para a mãe. O menino só falava quando tinha alguma coisa importante para falar e Sakura, como mãe, sabia que o filho sentiu a falta dos amiguinhos. A cardcaptor olhou para Nakuru e viu que ela sorria, pensando a mesma coisa. O celular dela estava descarregado, mas o celular que Iñaki trazia estava esticado para ela. Hesitante, Sakura pegou o telefone das mãos do menino e disse:

— Eu vou ter uma conversinha com o seu tio Koldo… — disse a Cardcaptor.

Os dois abraçaram as pernas dela e derrubaram Sakura na porta de casa.

 

Continua…   

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.