Cassis (Série Alestia I) escrita por Jane Viesseli


Capítulo 28
Saindo do Controle




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Semanas se passaram depois da caçada e da fuga dos rebeldes de seu refúgio original, totalizando três meses de suas inatividades em Alestia. O esconderijo abandonado havia sido descoberto momentos depois da fuga de ambos, numa floresta ao norte do reino. No entanto, seu cheiro não pôde ser seguido por muito tempo, perdendo-se em algum ponto entre o grande rio e a região habitada no lado norte.

Cassis não poderia ter ficado mais contente e mais preocupado com a notícia, tudo ao mesmo tempo. Se Tibérius havia fugido, era porque sentia-se caçado e em perigo, porém, se ele estava ciente da perseguição, por que não havia revidado ainda? A caçada estava além dos meses de treinamento concedidos em seu termo rebelde e o rei sabia que ele não toleraria tal iniciativa, mas, por que ainda se mantinha em silêncio? O que estava esperando?

O exército alestiano estava fortificado e havia rastreadores do conselho vampiro procurando-o em todo o reino, durante todas as noites. Contudo, o rei sabia que isso não seria o suficiente para intimidá-lo, que o rebelde poderia fugir do clã durante a noite e se infiltrar no reino durante o dia, porque, no fim das contas, os soldados poderiam não ser um empecilho tão grande para ele, mesmo que tivessem o fervor das batalhas correndo nas veias.

― A pior parte de tudo isso – lança o rei certa tarde, enquanto colocava Sir Thorkus a par do assunto, em uma conferência que já durava uma hora –, é desconhecer as habilidades de Tibérius. Não sei do que ele é capaz e, portanto, não posso prever seus planos, movimentos ou intenções. Ele simplesmente desapareceu depois de nosso primeiro encontro e não consigo encarar isso com um bom sinal.

― E não deve! É certo que sempre desejaremos a melhor das opções e eu poderia facilmente lhe consolar com coisas positivas, como os humanos fazem, mas estás ciente de que nossa realidade é bem mais arisca e por isso prefiro ser racional, sensato e alertá-lo: esteja sempre preparado para o pior, não descuide da rainha por nenhum minuto e destrua-o antes que seu herdeiro nasça, ou ele obterá dupla chance de lhe atingir.

Cassis suspira profundamente, deixando um breve silêncio predominar entre eles, interiormente se felicitando por Sara raramente deixar a segurança do castelo, devido aos seus rotineiros estados de cansaço, o que lhe proporcionava uma chance ainda maior de mantê-la fora de perigo.

Contudo, ao passo que os vampiros se entretinham com sua longa reunião, Sara bufava em seu quarto pela milésima vez naquele dia, sentada em sua cama e irritada com todos os incômodos sintomas que a gravidez lhe impunha, agora que beirava os oito meses de gestação.

Os dias pareciam intermináveis já que sua barriga estava grande e pesada. Ela sentia-se exausta com muito mais frequência do que antes, sequer conseguia segurar o xixi e, às vezes, o bebê remexia-se tanto que parecia querer subir pela sua garganta, o que estranhamente acontecia quando Cassis estava presente, como se o bebê tentasse demonstrar alegria por tê-lo por perto, quase a sufocando. Todas as suas roupas preferidas estavam apertadas e as novas não possuíam a mesma beleza, apesar de lhe servirem bem, e até mesmo os seus pés se recusavam a entrar em seus sapatos favoritos, por estarem inchados e com um aspecto esquisito.

― Estou gorda, feia e estranha – retrucava mentalmente, apesar de amar seu bebê e nunca se referir a ele de forma negativa. – Se mais alguém me disser que estou bonita ou me pedir para ficar calma, eu matarei!

Sara respira profundamente, levantando-se da cama e sendo logo abordada pelas suas damas de quarto, que, assim como suas damas de companhia, pareciam ainda mais pegajosas do que no princípio de sua gravidez. Ela precisava de ar, precisava respirar e se ver livre da perseguição de todas aquelas mulheres e soldados, que pareciam nunca deixá-la só, impedindo-a de ouvir até mesmo os próprios pensamentos. Se ficasse ali por mais tempo, a rainha sentia que enlouqueceria.

― Mandem preparar minha carruagem de passeio – ordena às damas, que se entreolham preocupadas.

― Madame, não é adequado que deixe o castelo neste estado, ainda mais com a ameaça rebelde pairando sobre nossas cabeças. O vampiro ainda não foi capturado e todo o exército continua em alerta máximo.

― Não estarei sozinha, minhas damas de companhia e guarda pessoal estarão presentes. Solicite a preparação de minha carruagem ou eu mesma o farei. Quanto antes sair, mais cedo voltarei. – ordena com mais autoridade, fazendo as moças se curvarem levemente e se retirarem do aposento.

A rainha se aproxima de sua penteadeira, ajustando seus cabelos e recolocando sua coroa, antes de se retirar rumo ao hall de entrada, com passos tão lentos que a faziam pejorativamente se lembrar de um jabuti. Quando chegasse à entrada do castelo certamente a carruagem, as damas de companhia e os cavaleiros já estariam a sua espera, tamanha era a sua lentidão.

― Vossa majestade, não seria apropriado – choraminga o chanceler ao vê-la, com medo de ser castigado por deixá-la partir. – Sua majestade, o rei, não está ciente de sua saída e não se agradará deste fato, ainda mais com…

― Com a ameaça rebelde pairando sobre nossas cabeças – repete Sara irritada, o interrompendo, porém, amenizando a voz logo em seguida ao perceber que havia sido arrogante demais. – Já estou ciente desse discurso, chanceler, mas irei assim mesmo, com as devidas escoltas e companhias, para que nada de ruim me aconteça. Respirar ar puro e contemplar a paisagem de Alestia fará bem tanto para mim quanto para o filho de sua majestade. Garanto-lhe estar de volta pouco antes do anoitecer.

― Sim, vossa majestade – diz Jonas, sem nada poder fazer, mas confiando que os soldados de sua guarda pessoal poderiam protegê-la do rebelde que espreitava toda Alestia.

A rainha se aproxima da carruagem, recebendo auxílio do cocheiro e de suas damas durante a subida, para enfim se aconchegar em seu esplendoroso interior. As quatro moças, que possuíam a função de acompanhá-la, adentram o veículo sem demora, sentando-se ao lado e a frente de Sara com uma mistura de alegria e preocupação no olhar.

Ninguém se atrevia a ir contra uma ordem direta de sua majestade, e, mesmo receoso, o comboio partiu ao comando dos cavaleiros da guarda, que estavam equipados com todo o novo armamento forjado pelos mestres narbornianos. De dentro da carruagem, Lucy gritava orientações ao cocheiro sobre o trajeto que deveria fazer, de acordo com as vontades da rainha, sendo a primeira parada o Bosque dos Refugiados, ao sul.

Coberta de belas árvores, sendo algumas delas frutíferas, o bosque compunha um dos mais belos cenários de todo o reino, e quando a carruagem parou em sua beira, as damas de companhia pareceram esquecer-se de suas preocupações e finalmente apreciar a excursão. O ar era agradável e havia uma grande variedade de pássaros e pequenos bichos, que encheram os olhos femininos de fascínio e doçura, enquanto os soldados permaneciam ao seu redor como um cordão protetivo.

Saindo do Bosque dos Refugiados, a carruagem seguiu caminho rumo ao oeste, percorrendo a margem do grande rio rumo ao norte até chegar ao lago, onde mais uma agradável parada pôde ser realizada. O sol do entardecer havia sumido, coberto por grossas nuvens que pareciam prenunciar uma tempestade, poupando as donzelas de mais um belíssimo cenário de Alestia, que se formava exatamente quando os raios solares cintilavam sobre as águas do lago, como se ele estivesse coberto de pedras preciosas.

Sara se coloca a caminhar pelo extenso local, não ousando se afastar muito devido ao peso extra que carregava, e sendo seguida de perto por quatro de seus seis cavaleiros, enquanto os dois mais jovens vigiavam a carruagem. Ela estava feliz, constatando da melhor forma possível o quanto aquele passeio lhe fazia bem. Seus lábios se abrem de contentamento, ameaçando uma canção, mas antes que qualquer nota pudesse ser pronunciada, os gritos de suas damas de companhia rasgam o ar com violência, fazendo um arrepio subir-lhe a espinha e todos os olhos se voltarem para as moças, que agora corriam desesperadas, com exceção de uma.

Os soldados se aproximam da rainha, prendendo-a em um círculo de proteção ao mesmo tempo em que ela observava, horrorizada, o corpo ensanguentado de Maria cair às margens do lago, aos pés de uma mulher de cabelos negros e roupas encharcadas de água e sangue, munida de um punhal.


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Notas finais do capítulo

Eita!!! Novamente a tensão paira no ar...
Espero que tenham gostado do capítulo :D



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