Cassis (Série Alestia I) escrita por Jane Viesseli


Capítulo 27
A Fuga




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Tibérius adentra seu novo esconderijo com impaciência, seguido de perto pela mulher que escolheu por parceira, entre as árvores densas e tortuosas da Floresta do Lodo. Ele trajava uma roupa diferente da de costume, um vestuário de camponês roubado de Aurora numa tentativa desesperada de camuflar o próprio cheiro e ocultar seu paradeiro dos rastreadores do conselho vampiro, que pareciam estar por toda parte.

O rebelde urra furioso, inconformado com a petulância de Cassis em organizar uma caçada junto ao seu clã, algo que interferia e burlava enormemente os termos de treinamento que havia proposto ao rei. Tudo estava calmo e fácil de lidar quando somente os humanos estavam em seu encalço, eles não podiam farejá-lo, não sabiam de sua localização e não chegaram nem perto de descobrir o local de seu verdadeiro esconderijo.

Entretanto, com a mobilização dos não-vivos no conselho, sua gruta na floresta ao norte de Alestia se tornou exposta e insegura, obrigando-o a fugir antes que captassem seu cheiro no ar e seguissem o seu rastro. A nova caçada havia começado há apenas três dias, depois da correspondência de Cassis chegar ao clã e ser aceita pelos anciões, mas Tibérius já sentia-se raivoso e encurralado, pois se ele fosse pego, Merryn, sua criança da noite, também seria e ela era a única com quem ele realmente se importava.

Zino poderia morrer, Justino poderia morrer, mas a vampira de longos cabelos negros e olhos levemente puxados não poderia encontrar a morte final, pois o rebelde não aceitava perder a dona de seu afeto agora que finalmente a havia encontrado.

Já era madrugada quando o casal chegou à Floresta do Lodo, percorrendo a maior parte do trajeto nos domínios aurorianos como parte de sua camuflagem, pois um reino que não era adepto à aliança não poderia ser vasculhado pelo conselho local. O período noturno foi escolhido unicamente por causa de Merryn, visto que, apesar de já possuir quase um ano de não-vida e demonstrar aptidão para a luta, não possuía a habilidade de caminhar sob o sol, o que obrigou o rebelde a agir na escuridão e correr o sério risco de ser pego pelos rastreadores, apenas para não deixá-la para trás.

― Maldito rei – grita Tibérius, socando o tronco da árvore que o segurava antes de encarar sua parceira, que permanecia quieta no galho ao lado, balançando as pernas sobre o vazio. A floresta fechada e densa se encontrava silenciosa como um túmulo, fazendo a voz do rebelde soar ainda mais assustadora. – A Floresta do Lodo a protegerá da luz do sol, só precisa se lembrar de mover-se sobre as árvores ou poderá ficar presa neste solo lodoso.

Merryn assente com a cabeça, encarando-o fixamente e esboçando um nítido semblante de desagrado. Quando ainda era humana, ela havia pertencido a uma família nobre da Terra dos Portos, conhecida principalmente por liderarem o comércio em alto-mar. Entretanto, ao conhecer Tibérius e o caminho que a levaria para a beleza eterna, a fútil e mimada jovem não hesitou em abandonar a tudo e a todos para ingressar na não-vida, apesar das coisas não estarem saindo como ela esperava.

― Quando terei tudo o que me prometeu? – questiona, referindo-se a todas as maravilhas da imortalidade que Tibérius a havia anunciado durante os seus dias humanos, não suportando mais se esconder em lugares podres e fétidos por quase um ano.

― O mais breve possível, pois a insolência desse rei imundo não passará impune. Invadirei o palácio com o raiar do dia, quando os soldados trocarem os postos e farei da rainha humana, minha refém. Cassis pagará por seu erro assistindo a morte de sua parceira e de sua cria – rosna furiosíssimo.

― Não, espere! – pede Merryn, interrompendo-o, com os olhos brilhando devido a sua nova ideia. – Eu quero a criança, deixe-me ficar com ela.

― Para poupar a criança terei que conservar a vida da rainha e nenhuma outra investida afetará mais o rei além de sua morte. Pede-me mesmo para adiar meu ataque?

― Sim, meu amor, atenda ao meu capricho, dei-me a cria do vampiro e da humana – pede sedutoramente. – Quando cansar-me poderemos nos livrar dela, mas, até lá, deixe-me tê-la como meu passatempo.

― Está certo! Manterei a humana intacta até que tenha a criança nos braços – aceita Tibérius, resignado. – Isso atrasará nossa conquista à coroa e você precisará ter paciência, pois não sabemos quanto tempo levará até o nascimento. Ainda teremos de nos manter longe de Alestia por um tempo ou seremos pegos pelos rastreadores. Caçaremos em Aurora até que a situação esteja a nosso favor e, depois disso, voltaremos para retomar nosso território de caça.

Merryn concorda com a cabeça, sorrindo com malícia por mais uma vez conseguir o que queria. É claro que ela também o achava atraente e até gostava de seus momentos juntos, mas nada lhe fazia mais feliz do que ter seus desejos correspondidos e conquistar tudo o que ansiava, pois eram os bens materiais e a vaidade, e não o amor, que ela ambicionava desde sua mortalidade.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :3



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