Cassis (Série Alestia I) escrita por Jane Viesseli


Capítulo 25
Medos e Expectativas




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Os mensageiros levaram cerca de três dias e meio para retornarem de seus destinos, trazendo excelentes respostas de todos os seus destinatários. Os generais pareceram surpresos e preocupados a princípio, com a presença de mais um vampiro em Alestia, todavia, demonstraram tanto furor quanto os soldados da guarda pessoal do rei com relação à subestimação de suas habilidades de guerra, alegando que toda e qualquer força de batalha estaria pronta para a caçada ao rebelde, esperando apenas a autorização de sua majestade quanto à partida.

De Narbor vieram iguais notícias positivas e o emissário pôde levar, à presença do rei, todos os dez mestres ferreiros narbornianos, para que ocupassem as forjas das fortalezas e da Cidadela, e renovassem o armamento do exército. Dois mestres foram enviados para cada forte, permanecendo quatro na cidade principal para que o fortalecimento de suas unidades fosse mais rápido, afinal, era ali que Sara habitava.

Entretanto, ao contrário do que os mensageiros esperavam, uma nova tarefa lhes foi incumbida logo que chegaram, desta vez por Jonas, a mando do rei, que lhes entregou cinco pergaminhos idênticos para que as boas novas sobre o herdeiro de Alestia se espalhassem por todo o reino.

Cassis sabia que assim que a notícia se propagasse, Tibérius teria mais uma vantagem a seu respeito, contudo, o vampiro não se intimidou em ordenar ao chanceler que espalhasse as novas por dois motivos: primeiro, porque as línguas mexeriqueiras do castelo logo espalhariam a notícia pela Cidadela, e se uma nota oficial não fosse emitida pela coroa, as pessoas poderiam pensar que o rei não os achava dignos de saberem tão grande novidade, ou até mesmo que não se importa com a própria prole; e segundo, porque era o que qualquer rei humano comum faria e, portanto, era o que Sara esperava que fizesse.

Enquanto a rainha estivesse grávida, ela e a criança estariam protegidas pelas forças militares que estavam se reforçando naquele momento, e até que o príncipe ou a princesa de Alestia viesse ao mundo, o rei esperava dar ao rebelde a sua morte final, trazendo assim, a segurança que o bebê precisava para nascer e crescer.

Os mensageiros se retiram do castelo, às pressas, ignorando o próprio cansaço e partindo para o cumprimento de mais uma missão a mando do rei. E depois de três dias, todo o reino e alguns lugares além, já estavam cientes e felizes com a dádiva concedida à realeza de Alestia.

Cassis e Sara estavam na biblioteca no final daquele terceiro dia, ambos ainda se acostumando com a recém-descoberta gestação, enquanto se entretinham com livros diversos. A rainha lia um livro de poesias e Cassis conhecia as antigas histórias de rei Ofir, quando um soldado bate a porta e adentra o cômodo silenciosamente, reverenciando-os e sussurrando algo ao ouvido do rei.

― Deixe-o entrar – orienta o vampiro, fazendo o soldado se despedir com outra reverência e se retirar, deixando Sir Thorkus entrar no salão minutos depois.

― O que acontece com estes homens, que tão repentina e ousadamente tentam anteparar minha entrada? Por acaso desconhecem com quem estão lidando? Por que me afrontam dessa forma? – questiona exteriormente apático, mas interiormente aborrecido, fazendo com que ambos os leitores fechassem os seus livros.

― Eles não o afrontam, Sir, somente cumprem ordens. Sabes o quanto nossas forças têm sido robustecidas, dia após dia, não sabes? – responde Cassis, levantando-se e caminhando em direção ao pai, ao mesmo tempo em que modificava sua forma de falar para algo mais rebuscado e antiquado, além de adotar um leve sotaque, parecido com o de Thorkus. – Nenhum ser, vivo ou não-vivo, adentra a Cidadela ou o castelo sem ser abordado e minuciosamente revistado.

― Estou ciente de suas movimentações militares, todavia, não almejava que seus guerreiros me abordassem como um incógnito – bufa, deixando os caninos levemente à mostra para demonstrar sua irritação.

Os vampiros se cumprimentam com os punhos sobre o peito em uma reverência típica do clã vampiro. Antes que Cassis pudesse questionar o motivo de sua inesperada visita, Sara se aproxima do ancião, inclinando-se levemente e o reverenciando, porém, não sendo prontamente correspondida. Thorkus a observa, congelando na mesma posição e sem piscar por quase um minuto inteiro, fazendo a rainha pular de susto quando, repentinamente, ele se move e a cumprimenta.

― É verídico, estás grávida – diz o ancião, mais como uma afirmação do que suposição. – Seus olhos tornaram-se mais vívidos e seu cheiro encontra-se mudado, peculiarmente mais cítrico, o que me fornece uma teoria sobre o sexo da criança, caso lhe interesse saber.

Sara arregala os olhos, encarando Cassis momentaneamente como se buscasse uma confirmação para aquela informação, não imaginando que seu próprio cheiro fosse capaz de mudar devido à gestação. Entretanto, o rei ergue os ombros levemente, demonstrando não saber a resposta para seu questionamento oculto.

― Podes prever isso apenas pelo cheiro? – questiona surpresa.

― De certo. Não Cassis, ele certamente não saberia distinguir tal coisa, pois não é uma habilidade que lhe cabe, mas eu, sim. Gostaria de saber?

― Ainda não! – responde prontamente, temendo que, se fosse uma menina, as pessoas a desprezassem antes mesmo de nascer, afinal, os tesouros das famílias eram sempre herdados pelos homens e por isso o filho varão era sempre o mais valorizado pela sociedade humana. Se uma mulher era a única herdeira, os tesouros de sua família pertenceriam ao seu marido, quando se casasse, o que nunca era considerado vantajoso para os ancestrais da moça.

― Entendo. A revelação desse fator tão importante a impediria de aproveitar a surpresa do nascimento, correto? Não ousaria retirar-lhe este prazer, majestade, perdoe-me pela indiscreta proposta – pede o ancião com polidez, aparentando entender sua recusa de outra forma, mas dando à Sara a sensação de que sabia exatamente qual era o seu motivo.

― Agradeço sua compreensão, Sir Thorkus – diz ela, sorrindo educadamente para concordar com aquela versão da história, tentando dar aquele assunto por encerrado.

― Receio ter de abandoná-la por hora, milady – alerta Cassis, tomando-a pela mão e beijando o anel real, em sinal de respeito –, desejo aproveitar a presença do lorde para tratar de alguns assuntos referentes ao clã.

Sara sorri e o despede com cortesia, também o tomando pela mão e beijando-lhe o anel, como prova de que respeitava todo o seu trabalho. A rainha havia ficado a par da ameaça de Tibérius alguns dias antes, alarmando-se no início, mas logo se sentindo segura devido a todas as medidas militares que estavam sendo tomadas em todo o reino, já que, em sua mente, o exército alestiano era invencível. E, naquele instante, ocorreu-lhe que o assunto a ser tratado por ambos deveria ser exatamente os planos para a caçada ao rebelde.

Cassis se retira da biblioteca, sendo seguido silenciosamente pelo ancião até a sala de conferências. Seu semblante apático escondia com perfeição a apreensão que o consumia desde que tomou ciência da gravidez de Sara, e, se Thorkus estava ali, ele não hesitaria em fazer uso de sua sabedoria e arrancar-lhe todas as informações que pudesse.

― Conte-me a verdade – começa Cassis, quando as portas se fecharam, dando-lhes privacidade –, ela corre riscos?

― Sim – responde sem rodeios, não vendo necessidade de amenizar o impacto da revelação, quando a resposta era tão óbvia.

Thorkus não fazia uso do humor e tampouco tinha interesse em coisas comuns aos humanos, não tinha personalidade volúvel e não titubeava em sua opinião quando acreditava estar correto, por isso, se ele dizia haver riscos, o rei acreditava cegamente em seu julgamento.

― E quais são? – continua o vampiro, não se deixando abalar pela resposta e sustentando o olhar do lorde para demonstrar o quanto aquela conversa era importante para ele.

― Não há nada densamente estudado pelo conselho, mas cremos que o veneno dos não-vivos pode afetar o feto de alguma forma. A única teoria levantada a esse respeito elucida que: se a quantidade de veneno transferida para o feto for ínfima, o bebê poderá nascer inteiramente humano; se o veneno for transferido em quantidade considerável, a gravidez poderá apresentar aspectos incomuns e a criança exibirá características de um mestiço, mas nada que provoque a morte.

A primeira hipótese nunca foi comprovada, não passando, portanto, de uma suposição. Já a segunda era tida como a mais possível por Thorkus, que se lembrava de ter conhecido uma criança assim, um pequeno mestiço, bem antes de tomar Cassis como seu pupilo. Ele e os demais anciãos nunca o reconheceram como semelhante devido as suas características humanas, e, por isso, o vampiro desconhecia seu paradeiro ou destino.

― E se o veneno for abundante? – pergunta Cassis, apertando os olhos levemente, já esperando que a resposta não fosse agradável de se ouvir.

― A cria será inteiramente vampira e sugará Sara por dentro, como uma sanguessuga. Ele será um não-vivo e, devido a isso, carecerá do sangue e da energia vital da genitora para completar a formação de seu corpo.

Mesmo sem precisar respirar, Cassis sentiu-se ofegar, ao mesmo tempo em que seus olhos se tornavam mais intensos de preocupação. Algo na íris do ancião indicava que ele sabia bem mais do que aparentava, como se não apenas soubesse da veracidade daquela informação, mas tivesse visto acontecer com seus próprios olhos.

Thorkus nunca revelou tal história, pois não era ele o envolvido, mas já havia assistido a tal monstruosidade: a gestação de uma aberração. O progenitor era um amigo de épocas muito longínquas, do mesmo clã, mas pertencente ao conselho de uma região além dos mares. Ele se encantara por uma mortal e não havia pensado duas vezes em tomá-la por seu passatempo. Na época, a humana caíra facilmente em seus encantos naturais de predador, consequentemente ficando grávida de quem insistia em chamar de grande amor.

O vampiro não pretendia torná-la sua parceira pela eternidade, mas havia apreciado o fato de ter uma cria, deixando que a mortal enfrentasse sua difícil e dolorosa gestação sozinha, sem remorso. O feto não-vivo a sugou pouco a pouco, e com o passar das semanas o corpo humano já não conseguia suprir a demanda de sucção da criança. A mãe sentia suas forças se esvaindo e, bem antes de completar o quinto mês de sua gravidez, ela morreu.

O ancião assistiu o pesar de seu amigo pela perda da cria, que não conseguira completar sua formação, mas ele próprio não pôde se compadecer do pequeno monstro. Se um feto era capaz de fazer tal coisa, o que não poderia fazer depois de nascido? Sendo totalmente não-vivo e com a sede queimando sua garganta? Talvez colocasse em risco a existência dos não-vivos, que na época ainda era oculta, e diante disso ele agradeceu mentalmente pela criatura ter morrido.

Thorkus balança a cabeça levemente, afastando de sua mente a imagem seca e esquelética da mortal, e quando seus olhos se voltam para o rei, percebe que ele também estava perdido em pensamentos, embora com o maxilar trincado e os olhos vidrados, como se esperasse pelo pior dos três caminhos mencionados.

― Cassis! – chama o lorde, ignorando o devido tratamento dado à sua coroa, já que dentro do clã sua realeza humana não significava nada. Sua voz o desperta de seus devaneios, fazendo-o o encara com raiva.

― Se ele ameaçar matá-la – grunhi o vampiro –, eu o mato!

― Acalme-se – alerta.

― Não pouparei a criatura se Sara começar a definhar – rosna com intensidade, como se estivesse a dar uma ordem e não apenas um aviso. – O arrancarei de dentro dela eu mesmo, se for preciso, mas não permitirei que ela morra!

― Não podes odiá-lo até saber de fato o que o compõe – rebate o lorde no mesmo tom, fazendo com que sua autoridade sobrepujasse a do rei –, Sara perceberá sua aversão e como toda progenitora ficará ao lado de sua cria.

― Não suporto a ideia de perdê-la – confessa Cassis dois tons abaixo, sentindo a influência de seu pai pesar sobre seus ombros.

― De tempo ao tempo, Cassis, pois, por mais complexa que a condição aparente ser, certas decisões não podem ser tomadas às pressas. Se, porventura, tudo caminhar para o pior, faremos o que tiver de ser feito, visto que o clã não permitirá que uma criança inteiramente não-viva e descontrolada nasça.

― Está bem – concorda, calando-se por um longo minuto –, mas eu ainda não entendo, como isso aconteceu? Como ela pôde ficar grávida?

― É simples – reinicia o lorde seriamente, como se estivesse prestes a revelar algo extremamente importante –, você a levou para o leito, ambos se despiram e…

― Cale-se, por favor! – implora, esticando um dos braços como se isso pudesse impedir o ancião de continuar. – Já sei como os casais se relacionam e como nascem os bebês, não precisa detalhar ou sequer imaginar nada sobre minhas noites com ela, por favor. Argh, que coisa mais estranha. Quero saber como ela pôde engravidar de mim. – Suspira, seu rosto visivelmente confuso. – Eu não estou vivo!

― Sua majestade, a rainha, está e isso basta. Somente as vampiras não podem ter filhos, Cassis. – Pausa, esperando que o vampiro absorvesse a informação antes de continuar. – Nós, vampiros, podemos nos reproduzir naturalmente se nossas parceiras estiverem aptas para isso.

― Por que tão grande divergência?

― Sabes mais do que ninguém que temos mais domínio sobre as funções de nossos corpos do que os humanos têm sobre os deles, com exceção da sede, é claro, que excede todas as nossas forças e desejos. É preciso apenas que um vampiro irrigue seus pontos mais sensíveis para que ele possa desfrutar dos prazeres humanos e, devido à anormalidade de nossa existência, se tornar fértil de novo. Entretanto, uma gravidez exige muito mais do que um corpo não-vivo é capaz de proporcionar. Uma vampira necessitaria conectar muitas partes de seu corpo ao vitae para que a gestação pudesse acontecer, o que acabaria por consumir muito mais rápido o líquido ingerido.

― Isso significa que os intervalos de alimentação se reduziriam drasticamente – conclui corretamente, arriscando um palpite logo em seguida –, para uma hora, por exemplo.

― Para minutos, na verdade. Como não é possível que uma não-viva mantenha este ritmo de alimentação até o final, o feto padeceria antes mesmo de o ventre começar a crescer.

― Já viu isso acontecer?

― Não pessoalmente, apenas soube de algumas tentativas, que obviamente não deram certo. Entretanto, para as humanas o processo é mais simples, pois podem produzir em abundância o que o bebê carece para sobreviver.

― Pensei que era algo impossível, ou ao menos raro, difícil de acontecer.

― Difícil é o fato de um não-vivo se relacionar com um humano até este ponto, o que acabou se tornando inevitável para você, devido à aliança e ao matrimônio.

― Inevitável? O queres dizer com isso?

― Quero dizer que já esperava seu envolvimento com a parte humana – confessa, fazendo o rei arregalar levemente os olhos. – Atente-se, Cassis! Estavas inclinado a se interessar por sua majestade, Lady Sara, desde o primeiro momento, eu só não esperava que seu interesse pudesse romper as fronteiras do sentimentalismo e se transformar em um amor tão profundo. Talvez tenha julgado mal as capacidades de sedução de sua rainha, pois, pelo que suas ações me demonstram, sua preocupação pela vida de Sara não se deve unicamente a estabilidade da aliança.

― Sequer está ligado à aliança.

― Você a ama?

― Sim – responde somente, sentindo o coração efetuar algumas batidas involuntárias e seu rosto avermelhar. Ele definitivamente não queria ter aquele tipo de conversa com seu criador, deixando tão exposto todas as emoções e sentimentos humanos que ainda o dominavam, quando suas lições sempre lhe diziam o contrário. – Ela ainda corre risco e isso me perturba – continua ele, depois de algum tempo.

― Não pense nos riscos, pelo menos, não ainda. Lembre-se que é a sua cria com Sara e se satisfaça com isso. Aposto que sua rainha não se importa em ter sido fecundada por um vampiro, se é que deu atenção a tal fato.

― Talvez tenha razão. – Respira profundamente, colocando ordem em seu descontrole interior.

― É o que costumo ter, na maioria das vezes.

― Certo! – conclui, dando um meio sorriso e encarando a perfeita apatia do ancião, como se pudesse captar algo diferente sob ela, devido a toda àquela conversa. – Vieste até aqui somente para constatar a gravidez de minha mulher?

― Certamente, tudo o que acontece com a parte humana de nossa aliança consequentemente nos interessa.

― Se somente a confirmação desta informação interessa ao clã, por que não enviaram um mensageiro? Não havia necessidade de se deslocar até aqui, pessoalmente, para obter somente uma resposta – comenta com semblante irônico, fazendo o ancião se calar momentaneamente.

― Não faça esta expressão para mim, Cassis, como um tigre encurralando uma gazela. Se decidi vir e conferir com meus próprios olhos, é porque assim achei necessário, não devo satisfações de minhas ações ao meu pupilo – repreende Thorkus com falsa autoridade, tentando conter a estranha satisfação que invadira seu peito desde que soubera sobre a gravidez.

― Se estiver feliz, diga de uma vez, velho ranzinza – continua, provocando-o como costumava fazer quando ainda era uma criança da noite, antes de aprender a respeitar a hierarquia do clã.

― Moleque atrevido – resmunga o lorde aceitando a brincadeira, avançando rapidamente e enlaçando o pescoço do filho com um dos braços, como se pretendesse lhe dar uns cascudos –, se não fosse pela coroa que ornamenta sua cabeça, o colocaria em seu devido lugar diante de todos os humanos deste castelo.

Cassis solta uma pequena risada, contudo, quando o ancião repentinamente o soltou, sem nada lhe fazer, o rei pôde sentir seus ombros murcharem diante da influência que Thorkus novamente exercia sobre ele, lembrando-o do porquê de admirá-lo tanto. Aquele sim era um vampiro sem falhas e sem fraquezas. E, apesar de esperar uma repreensão por sua brincadeira, Cassis surpreendeu-se grandemente ao sentir os braços do ancião o envolveram em um abraço, a segunda manifestação inédita de afeto que recebia de seu criador em todos os seus anos de convivência.

― Um dia, o meu eu humano desejou ter uma família, mas há muito deixei sonhos e sentimentos para trás, tornando-me o não-vivo que sou hoje. Mas, apesar de ensinar-lhe tantas coisas contrárias aos costumes dos vivos, sinto-me satisfeito em saber que não me obedeceu completamente e que conseguiu alcançar esta façanha, afinal, vampiros nunca puderam se dar ao luxo de terem famílias.

― Você mesmo realizou essa proeza quando me escolheu para o clã e me transformou, estou apenas aumentando nossa linhagem – comenta Cassis, imaginando que o ancião deveria estar verdadeiramente contente para realizar uma manifestação tão humana de seu contentamento e de tentar exteriorizar isso, mesmo sem saber como se expressar.

― Tenho orgulho de você, meu filho – confessa, fazendo Cassis sorrir largamente, mesmo que isso não pudesse ser visto por ele. A aprovação do homem que tanto admirava estava além dos desejos mais profundos do rei e por muito tempo ele achou que era algo inalcançável. Receber tais palavras era como tomar posse de um precioso tesouro.

Thorkus, o vampiro responsável por mais mortes do que seus dedos poderiam contar, sentia-se realmente contente com a ideia de Cassis ter uma criança e dele próprio fazer parte de uma “família”. O ancião sentia um estranho calor se alojar em seu peito ao pensar no assunto, como um animal que estivera adormecido em seu interior por muito tempo e que agora decidia despertar e se espreguiçar. Era uma sensação estranha e, de certa forma, nova, já que ele não recordava mais o que era ter boas emoções.

O ancião logo se vai, levando consigo a mesma seriedade e postura superior com que chegara, apesar da recente mudança em seu interior, e deixando ao rei a esperança de que tudo poderia terminar bem, no fim das contas. Naquela noite, enquanto Sara dormia, ele se aproximou de seu ventre, tocando-o com delicadeza e, pela primeira vez, o encarando com a mente vazia, sem a antiga preocupação o assolar.

― Olá, pequeno – sussurra ele, como se quisesse contar-lhe um segredo, mas sem saber como se dirigir a própria cria –, ajude-me a cuidar dessa bela mulher que o abriga, lute para ser uma criança a qual ela possa gerar, está bem? Eu a amo e não consigo mais enxergar minha existência sem ela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D



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