WSU's Padre escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 5
IV




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Ponte Ítalo Casper

 

A multidão observava aflita ao homem, que espantado estava sentado de costas para uma queda livre de cima da ponte. Uma senhora de cabelos curtos e loiros, vestindo uma blusa amarela com os dizeres “você é mais do que imagina”, apontou um megafone na direção do rapaz e disse-lhe:

— Por favor, mantenha a calma! — Acenou, tentando tranquilizar o rapaz que a olhava espantado. — Não há motivos para fazer isso! Nós te amamos!

Ela observou o bem trajado barbudo, que retirou os óculos escuros e a encarou, também.

— Marcos Fonseca! — disse a mulher, entredentes.

— Mulher aleatória! — rebateu no mesmo tom.

— Não está na hora de parar de tentar incentivar todo mundo com seu comportamento “tudo por uma piada”? — continuou, agressiva.

— Não — novamente, imitando a senhora.

Ele sorriu e abriu os braços.

— Ah, qual é?! — gargalhou, mudando o tom. — Até parece que tem alguém prestando atenção em mim. Mesmo uma estrela a nível mundial como eu, passa despercebido em meio a um suicida nessa cidade! Bando de correio da má notícia!

A mulher virou o rosto e começou a gritar palavras de amor no megafone.

— É sério! — insistiu Marcos. — Para de gritar nessa porra! — pediu em meio a risadas não contidas. — Se o Temerário aparecer ali na rua agora, eles vão olhar pra lá!

Ele voltou a sua atenção para Lineker, desprezando a mulher.

— Esse pessoal de ONG é foda — murmurou negando com a cabeça —, acabam com o show cultural da cidade, que são os suicídios nessa ponte... e ainda lavam dinheiro dos políticos sujos.

Colocou novamente os óculos nos olhos e levou ambas as mãos a boca, para tentar fazer o seu grito chegar ao rapaz:

— Ei, sabe por que os dinossauros foram extintos?! — Esperou a resposta que não veio. — Eles cometeram um suicídio em massa, quando souberam que tu iria habitar esse planeta!

Lineker franziu o cenho de raiva, olhando para o homem sem acreditar no qual idiota e inconveniente ele estava sendo.

— Pai, faz alguma coisa — tentou apelar para Wellington, que já não estava do seu lado.

Confuso, olhou para ponte e viu o ex-padre a correr, subindo-a. Mirou para o outro lado e o barbudo estava a gargalhar, se divertindo com a situação. Mas o garoto tratou de cortar seu barato, pisando forte em seu pé.

— Filha da puta! — berrou abafado, em meio a dor. — Isso é couro de jacaré no sapato, você teria que vender dois rins e um pulmão pra comprar um desses!

— É mesmo? — ironizou o menino. — Eles seriam mais úteis se você enfiasse um na boca e outro no cu.

— Olha, moleque...

Marcos sorriu, apontado para Lineker com o indicador.

— Gostei de você.

— Sai pra lá, pedófilo pervertido.

— Quer ver uma coisa legal? — indagou o barbudo.

Enfiou a mão dentro da cueca.

— Eu sei o que é um pênis — respondeu o garoto. — Pode deixar na calça, “pédo”.

De dentro de suas calças, ele retirou um pequeno controle eletrônico semelhante a um alarme de carro.

— Pessoal, não deem circo ao palhaço! — tentou chamar atenção da multidão.

Linker saltou os olhos, olhando ao seu redor, constrangido com a gritaria do homem ao seu lado.

Marcos, então segurou um botão do dispositivo e gritou por fim:

— Alá, o Temerário na rua!

Logo, o motor possante estrondou chamando atenção de todos, que viram a chegada do Opala, soltando fogo de cano de escape e freando fazendo os pneus cantarem.

— Caraca! — gritou, Lineker. — É a Besta, o carro dele!

O garoto olhou novamente para o homem, mas dessa vez com os olhos brilhando e o barbudo lhe retribuiu com um sorriso. Contemplou novamente o automóvel que já estava cercado de pessoas.

O barulho estrondoso do motor novamente ligado fez com que a multidão abrisse espaço para a saída do automóvel. Lineker, encantado, sorriu com tudo aquilo e procurou novamente o peculiar Marcos com os olhos, mas ele desaparecera em meio à multidão.

Wellington aproximava-se da beirada, o que chamou atenção do garçom espantado. O suicida olhava ao seu redor, enquanto o uma gota de suor em meio a um mar de gotículas, escorria pela sua testa.

— Tuller, desce daí! — esbravejou o ex-padre.

Coçou a cabeça e reavaliou as palavras.

— Sai daí do parapeito — disse, levando a mão a testa em seguida. — Você entendeu o que eu quis dizer: não se suicide!

O barman o olhou confuso.

— Mas eu não quero me suicidar! — gritou, transbordando medo em seus olhos.

— Não? — indagou Wellington, aproximando-se lentamente e mostrando a palma das mãos. — E que caralho você tá fazendo aí?

— Fugindo dele!

— Dele quem, diabos?!

Tuller viu, por trás do ex-padre, a figura macabra com olhos negros e a boca repleta de dentes pontiagudos a se abrir perto de abocanhar o amigo na cabeça.

— Não! — gritou, em desespero.

Então, perdeu o equilíbrio do alto da ponte Ítalo Casper e caiu de costas. Porém, sentiu algo agarrar seu pé, evitando a queda letal.

— Seu filha da puta! — esbravejou o ex-pároco com o rosto corado, do esforço enorme que fazia.

— Atrás de você, padre!

Virou lentamente o rosto de lado e pode ver as unhas negras destacando-se na pele pálida, próximas de suas costas.

— Merda — lamentou, com um suspiro.

De repente, um rosnado foi ouvido e Wellington pôde ver os dentes caninos travando no braço do macabro homem atrás de si. Ganhou tempo para usar o outro braço e puxar o barman de volta, usando toda sua força.

— Viu, pai? — disse Lineker, chegando ao local a correr contente. — O Griggio é o seu anjo da guarda!

Foi então que o pálido homem jogou o seu braço com toda força, arremessando o cão da ponte. O garoto de cabelos cacheados assistiu à cena boquiaberto, viu tudo com seus olhos que ficaram instantaneamente marejados.

Foi então, que as atenções do possuído voltaram-se para os dois sentados no asfalto e exaustos.

— O que você fez pra ele te olhar assim? — indagou Wellington.

comendo a mulher dele — respondeu Tuller. — Aquela maluca lá do bar.

— E ele fez um pacto com Satã só por isso? — insistiu o ex-padre. — Que cara vingativo!

Os braços do rapaz estenderam-se até o chão, como se os braços fossem elásticos. Ele andou na direção deles, rastejando os membros superiores no asfalto, enquanto a cabeça descoordenada movia-se para todos os lados.

Antes que chegasse até às vítimas, um homem saltou à frente do possuído e chutou seu peito com força. Olhou para trás e falou em direção aos dois:

— Fujam — a voz deformada e os olhos vermelhos da máscara de caveira, impunham respeito.

Impressionado e de olhos arregalados, o barman soltou:

— É o Temerário, eu nunca tinha visto ele!

— Sim, mas você ouviu o homem — cortou Wellington. — Corre que o corno tá puto!

Ambos contornaram às pressas o herói da cidade e possuído. Enquanto o rapaz pálido tentava acertar os braços alongados no outro, ele rolava e saltava pelo chão esquivando-se dos golpes.

O ex-padre segurou firme o braço de seu filho, que olhava para o chão desolado.

— Vamos logo, filho!

O Caveira desferiu um chute alto na têmpora de seu oponente, agarrou a nunca dele e desferiu duas joelhas no rosto. Porém o possuído usou um de seus braços para puxar a perna de seu agressor por trás e arremessá-lo contra o chão com uma força sobrenatural.

Seus braços voltaram ao tamanho normal e ele correu em direção ao caído, abrindo a sua boca para tentar abocanhá-lo no rosto, mas a sola do coturno negro em sua garganta evitou o golpe.

— Ai, meu Jesus Cristinho — disse a voz deformada e assustada. 

O vigilante entrelaçou o pescoço do rapaz com as pernas e girou bruscamente o pescoço da aberração, provocando um estalo.

Para seu descontentamento, ele girou sua cabeça no movimento contrário ao golpe.

— É por isso que eu sempre troquei de canal na sessão do descarrego.

Wellington persistia, puxando o braço do filho.

Vamo, logo Link! — enfureceu-se. — O Tuller não queria se suicidar, só queria dar no pé e como ele não é otário, fez isso na primeira oportunidade.

O garoto, petulante, soltou o braço de seu pai. A medalha em seu peito começou a brilhar.

— É, mas esse desgraçado matou o Griggio.

No parapeito, o possuído empurrava a cabeça do vigilante que cedia à força descomunal e estava prestes a seguir.

Ipse venena bibas — disse o garoto, aproximar-se.

Os olhos do garoto incandescidos com uma luz branca e intensa semelhante a que saía de sua medalha no peito, chamaram a atenção da figurava bizarra, que perdia força em comparação ao Caveira. O garoto repetia seguidamente:

— Acha que ele gosta de você, Lineker?! — inqueriu o demônio. — Ele só te quer por conta dessa medalha, ela funciona com você e não mais com ele! Você tem fé e ele é só aproveitador!

O garotou olhou de longe para seu pai. Assustado, o homem negou com a cabeça.

—  Ipse venena bibas.  Ipse venena bibas.  Ipse venena bibas.

O possuído soltou o Caveira e rugiu como um leão, enquanto seus braços novamente se esticavam. Enquanto o menino aproximava-se, as unhas negras nas mãos do endiabrado também cresciam como facas.

O vigilante, vendo a situação de risco, agarrou o oponente pelo pescoço e jogou-se para trás agarrado com o mesmo. Os dois caíram da ponte em queda livre.

Os olhos de Lineker voltaram ao normal, quando o garoto foi até o parapeito e olhou a cena de cima. O vigilante gemia, com as costas na Besta, seu veículo. Já o possuído, parecia ter apagado com a queda direta no asfalto.

 A multidão embaixo correu e logo contornou toda a situação, os flashes de celulares tomaram o ambiente. Quando o Temerário levantou-se com dificuldade e fez um sinal positivo com o polegar, os aplausos e assobios ecoaram.

— Essa daí eu inspirei no final de O Exorcista! — gritou o vigilante.

Wellington se esgueirava no meio da multidão e gritava às pressas:

— Saiam da frente!

Quando conseguiu chegar ao local, tocou a jugular do rapaz debruçado na cratera aberta da queda e nada sentiu.

— Está morto — concluiu. — Você matou ele!

O vigilante aproximou-se do local.

— Não, não, não — respondeu o Temerário. — Eu quebrei o pescoço desse merda e de repente ele tava de boa. Seja o que ele for, não é coisa viva.

— É impossível que um demônio possua mortos — rebateu Wellington.

— E você é quem? — ironizou. — O Padre Quevedo?

— Só há um lugar para sabermos que espírito está nesse corpo e não é aqui — disse retirando um pequeno frasco de seu bolso.

O ex-padre despejou o azeite do vidro ao redor do corpo, no formato de um círculo, que evaporou ao ser completado.

— Isso vai me dar um tempo para descobrir — continuou, ao segurar e arrastar o corpo por debaixo das axilas.

— Tá, mas e ele? — perguntou o vigilante.

Seu indicador foi na direção do garoto de joelhos, que chorava segurando a pata do cachorro magro.

— Tá tudo bem — disse Wellington, ao se aproximar. — Ele foi um bom anjo da guarda

O garoto o ignorou, enxugando o catarro de seu nariz com a mão que segurava o boneco do Temerário.

— Eu não quero falar com você.

Um nó travou a garganta do pai, que olhou para baixo, como se um golpe de faca cortasse seu peito.

— É, eu sei — disse, lamentando. — Eu vou no carro e vou tentar arranjar uma gororoba pra comer.

Saiu arrastando o seu defunto na direção onde o carro estava, até chegar duas pessoas bem-intencionadas e ajudá-lo.

A multidão, que cercava o vigilante abriu espaço para que ele passasse imponente e caminhasse até o garoto. Agachou-se e levou a mão ao ombro dele.

— Eu sinto muito pelo cão — lamentou o Caveira.

— Ele era o anjo da guarda do meu pai, mesmo que ele não acreditasse. — Levou a pata magra à boca e beijou. — Morreu protegendo ele.

— Entenda, garoto: às vezes temos que nos sacrificar por quem amamos e foi um puta sacrifício. — Deu duas batidinhas no ombro de Lineker. — Agora ele deve estar trepando com setenta cadelas virgens, pelas regras que sei do cristianismo.

O garoto sorriu.

— Eu não queria te conhecer assim, feito o um bebê chorão.

— Você não é um bebê chorão, fez o demônio se borrar de medo! — falou, erguendo o queixo do menino. — É por isso que queria te dar isso.

Ele mostrou um dispositivo semelhante ao que Marcos havia segurado mais cedo.

— Eu não quero, tava no seu pau.

Constrangido, o vigilante riu sem graça.

— Eu não ia te dar não — continuou a risadagem forçada. — Eu queria só te dar informação da minha identidade secreta e contar com... o seu sigilo.

— É, sei...

Wellingon agradeceu aos rapazes que o ajudaram a colocar o corpo na mala.

— Tudo bem, padre!

— É, a gente confia em você! — disse o outro.

Ele apenas sorriu agradecendo. Quando ia fechar a mala, escutou a risada.

— Ninguém poderia confiar em você, nem o diabo confia.

— Mefisto, que agradabilíssima surpresa! — disse Wellington, fingindo empolgação.

— É por isso que eu preguei uma peça em você hoje, você me diverte.

— Eu não salvei o barman por isso, ele é meu amigo.

— Diga com quem andas e direi quem és — falou, ao olhar para a mala.

O demônio de pés sujos e descalços, aproximou-se da mala. Observou o corpo que antes pálido, possuía agora algumas marcas escuras, como se estivesse em apodrecimento.

Wellington olhou confuso para o defunto, não entendia como aquilo era possível, não tão rápido.

— Quer um conselho de um demônio para outro, padre?  — perguntou Mefisto, num tom irônico. — Eu acho melhor você averiguar bem esse caso, um morto possuído não é algo que se vê todo dia.

— É um dos seus?

— Nunca vi na vida, mas parece que ele implicou com você e seu garoto e sabe mais do que devia.

Wellington prestou atenção no demônio e segurou a porta da mala. Pegou o celular de seu bolso e tirou uma fodo do cadáver.

— E quem acha que está envolvido? — indagou, fechando bruscamente.

Só pôde ver a fumaça no lugar em que o demônio estava.

— Babaca.


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