WSU's Padre escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 3
II




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O resto da madrugada e do dia foram de total apreensão para mim. Peguei uma faca na cozinha e, trancada no meu quarto, passei as horas esperando pelo pior. Ninguém é de ferro. No primeiro de meus cochilos, ele teve destreza de sair de casa. Soube disso no instante em que o escutei bater a porta do quarto de visitantes. Tratei de fazer o mesmo, peguei minha bolsa e o segui até a saída do condomínio.

O vi na parada de ônibus, a esperar. Discreta, quando subiu em um dos carros, tratei de fazer o mesmo. Ele sentou bem à frente no lado esquerdo e eu fui no fundo. Haviam poucas pessoas, era um final de tarde de quarta-feira e ninguém pensava em ir para o lado do centro da cidade. Apenas queriam voltar para seus lares. Exceto por Funes, evidentemente.

Ele desceu na estação de integração das Graças, bem próximo ao centro comercial. Esperava que ele apanhasse mais um ônibus, mas o que fez foi deixar o local pelo portão de desembarque.

Minhas pernas bambearam no exato instante, amigos. O destino dele não foi dos mais agradáveis: Igreja de São José. Vendo-o abrir a porta trancada como se fosse a de sua casa, meu coração parecia querer pular para fora do peito. Não era dia de missa e, apesar de Funes vir de uma família hispânica e fervorosamente religiosa, era ateu.

Ali não era um simples local de culto cristão. Um ponto da Ordem dos Faustinos, essa era a verdade. Clérigos, até mesmo dos mais altos graus hierárquicos da igreja frequentavam aquele ambiente para rogar, não somente a Deus, mas ao próprio Diabo.

Tratei de recuar e voltar para integração o mais rápido possível. Um turbilhão de explicações para o comportamento estranho de meu marido minha vinham à mente naquele momento, todas embasadas nas maldades que poderiam acontecer comigo.

Àquela altura, eu só me importava em ir para o bar onde Tuller trabalhava. Me apavorava a ideia de ter que voltar pra casa e enfrentar a solidão até Funes voltar espantado exatamente às quatro da manhã.

Entrei no primeiro ônibus que fizesse a linha verde, da zona leste. Só assim, eu poderia tentar fazer meu atual companheiro entender o grau da loucura em que eu estava metida. Sentei-me do lado da porta de saída, para que assim que chegasse a minha parada, eu descesse.

Dentro da minha bolsa de couro preto da Louis Vuitton, tirei os fones brancos e os conectei ao celular. Escorei minha cabeça na janela de vidro ao lado, enquanto escolhia uma música.

Foi quando o ônibus parou e abriu a porta da saída. Em vez de descer algum passageiro, apenas uma senhora, de cabelos tão alvos como a pele, subiu. E ela o fez lenta e trípede com sua bengala curva em cima e um suéter vermelho. Puxou de um bolso de sua longa saia azul florida, a identificação de isenção de taxa. Com dificuldades, mostrou o documento para uma câmera no alto do ônibus.

Observei a cena mais calma, com a minha playlist de Backsteet Boys a tocar “Drowning”. Ao me ver a observando, a velinha me mostrou seus dentes, ou chapa, amarelos. Tive que disfarçar minha repulsa e que sorrir também. Porém, logo virei o rosto e olhei para a rua.

Incrivelmente, com quase todos os mais de quarenta acentos vazios, ela escolheu se sentar ao meu lado. Foi mais um motivo para me fechar totalmente, afinal, minha parada já estava próxima.

— Moça — me chamou, tocando o meu ombro.

Retirei meus fones por educação e atentei para ela.

— Pode puxar a corda quando chegar no baixo mangue? — perguntou, simpática.

Eu nada podia fazer, pois a dela era uma das últimas paradas.

— A senhora vai me desculpar  — falei, me justificando previamente —, mas desço antes.

Ela logo desviou o olhar, desanimada por ter escolhido a pessoa errada para incomodar. Mesmo assim, começou a me observar de ponta a cabeça e aquilo foi me dando um desconforto. Percebi que ela olhava para a minha barriga, tratei de a esconder com a bolsa.

— Quantos meses? — me perguntou, de repente.

Já havia algumas semanas que tinha descoberto a minha gravidez, era recente. Me admira muito como ela tenha percebido, já que nem Tuller e nem Funes haviam o feito.

— Ah, você ainda não sabe? — ela insistiu na conversa de olhos arregalados. — Sabe quem é o pai, pelo menos?

Como meu marido gastava dólares — sim, amigos, ele gastava dólares — em anticoncepcionais masculinos, era difícil que aquele fruto fosse do nosso casamento. Eu não ia dar essa resposta à velha, já que seu desaforo me subiu à cabeça.

— Escute aqui — falei irritada, apontando o indicador para ela —, arranje outro passageiro para incomodar.

Um torpor gelado me veio na barriga ao ver a expressão de raiva dela mostrando sua arcada dentária agora furada e preta em minha direção.

— Você é arrogante, vagabunda! — praguejou a senhora, com os dentes caindo da boca em cima de mim.

Assustada, gritei ao me levantar rápido e bati à porta para que motorista abrisse.

— Puxe a corda, vadia burra! — gritou a velha, com sangue negro escorrendo pelos lábios.

Cobri a boca, evitando mais um grito. Com meu coração batendo a mil, ergui minha mão trêmula e fiz o que ela disse.

No instante em que ônibus parou e abriu a porta, eu desci. Desesperada, percebi que estava ainda há uma parada do meu destino. Já havia escurecido e, naquele horário de pico, com a cautela que aquele dia estranho exigia, decidi olhar para os dois lados antes de seguir meu rumo.

O meu lado esquerdo estava limpo e do meu lado direito, o meu marido Funes. Levei minha mão ao rosto automaticamente, talvez impulsivamente achando que aquilo me defenderia. Porém, quando ele começou a andar apressado em minha direção, eu sabia que não havia outra escolha se não correr.

— Pare de me seguir! — esbravejou, possesso de raiva.

Um arrepio me subiu à coluna e chegou ao pescoço. Mesmo com as pernas bambas, não tive outra saída que não a de correr para o outro lado.

Um pouco à minha frente uma mulher, segurando uma bolsa parecida com a minha, disparou também. Talvez, a minha correria tivesse a assustado. Era uma cidade perigosa e assaltos aconteciam com frequência. Antes de dobrar num beco no meio do quarteirão, ela parou e fez um gesto com a mão, me chamando. Com Funes cada vez mais próximo, eu o fiz.

Então, a vi parada, bloqueando a passagem inteira. A desgraçada havia me trazido para uma ratoeira. As lágrimas desespero começaram a descer pelo meu rosto.

Foi quando ela entrou. Amigos, ela literalmente, entrou no muro. Não sei o que ela era, um fantasma, um anjo, um demônio. Só sei que havia uma porta ali, que eu tratei de empurrar o trinco. Para minha felicidade, estava destrancada.

Ofegante, peguei uma vassoura ao lado, escorei na fechadura e deixei o local, escutando as bruscas batidas na porta. Apressei meus passos e logo percebi que estava saindo da cozinha do bar aonde Tuller era o garçom. Seja quem fosse, aquela mulher havia me salvado.

Não demorou muito para que, em meio à toda agitação e música alta, eu o encontrasse servindo uma mesa. Ele se surpreendeu ao me ver e se aproximou de cenho franzindo.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Tuller, segurando uma bandeja.

Logo, percebi que estava preocupado ao me ver ofegar.

— Cruzes, seus lábios estão brancos!

— Cadê ela? — tentei falar algo com sentido.

— Ela quem, Julia? — me perguntou confuso.

Fechei os olhos tentando memorizar a mulher que me conduzira até ali.

— Bolsa preta de couro, cabelo louro, calça jeans e camisa branca — descrevi da melhor maneira que pude, com todo o nervosismo e falta de fôlego do momento. — Ela entrou aqui!

Ele sorriu, num misto de ironia e aflição.

— Que brincadeira ridícula — respondeu rindo sem graça a me encarar. — Ela bem na minha frente.

 

 

 

Horas antes

 

O Chevette 1970 parou no sinal vermelho. Wellington pegou um pente no porta-luvas e, usando o retrovisor, começou a pentear seus cabelos para trás.

— Então foi aqui que você escondeu o meu Temerário! — disse seu filho, no banco ao lado.

O garoto pegou o boneco com rosto de caveira e franziu a testa para encarar o pai, que já arrumava os bigodes com os dedos.

— Esse cara é um lunático — rebateu o pai. — Ele não é um bom exemplo a seguir. Se for ter ele como espelho pra alguma coisa vai acabar com uma bala na cabeça.

O sinal verde foi o sinal para ele partir.

— Eu quero saber é quando vai parar de mentir pra mim — reclamou o garoto, bufando.

— Do que você falando, Link? — indagou, preocupado. — Sou seu pai, tenho que te proteger.

Quando o motorista passou a marcha, o veículo deu um tranco brusco e o motor engasgou. No entanto, a viagem seguiu.

falando de tipo a gente estar indo exatamente na direção oposta do Eskina 10 — respondeu o garoto, insatisfeito. — Faz pouco tempo que a gente em Corsário, mas eu conheço aqui. A gente sai de cidade em cidade e nunca para numa casa!

— É, eu ia falar sobre isso agora mesmo — disse o pai, sorrindo forçado. — Papai está sem money no momento.

— E como vai comprar uma casa? — perguntou, espremendo os olhos.

— Vamos arrumar a entrada para um financiamento agora — respondeu animado, soltando uma alta risada. — Me pergunte como!

— Como? — cuspiu as palavras premeditas sem animo algum.

— Ótima qüestão, senhor Lineker Chagas! — gritou, ao frear bruscamente em frente a um casarão. — Exorcizando.

O garoto contemplou o casarão coçando a cabeleira afro, preocupado.

— E ainda hoje estarás comigo no paraíso do Eskina 10 — completou o padre, vestindo seu chapéu preto de vaqueiro.

Dentro da residência, os pais apreensivos esperavam pela chegada da dupla ao lado de um outro padre. Por sua vez, este tinha sobre a sua clerical um estetoscópio. Olhou apreensivo para o casal e não deu boas esperanças:

— Eu sinto muito, senhores — lamentou, olhando para baixo. — Ela não apresenta nenhum sintoma que a medicina possa resolver.

 A mãe se pôs a chorar no ombro de seu marido.

— Ela só tem quinze anos, padre Matias! — clamou o pai, preocupado.

— Como é recomendado pela Santa Sé — falou com o pesar nos olhos —, posso abrir o protocolo para requerer um exorcista.

A esposa o olhou, fungando o nariz.

— Já chamamos um — disse ela, já com a voz roca de tanto chorar.

— Por acaso estão falando de Wellington Chagas? — perguntou e os pais confirmaram com um aceno de cabeça positivo. — Saibam que ele não é um exorcista ordenado por Roma.

— Como não? — indagou o pai, desesperado. — Fizemos um depósito de dois mil adiantado na conta dele.

Impaciente, Matias suspirou fundo.

— É um charlatão — falou, explanando com seu sorriso irônico e os gestos de suas mãos abertas. — Percorre o país inteiro, como um circo itinerante. Se aproveitando de pessoas como vocês...

Foi então, interrompido pelo som do tradicional “ding-dong” da campainha. A mulher logo tratou de atender à porta e trazer os convidados para dentro.

— Wellington Chagas, pizzaria e exorcismos limitada! — cumprimentou, animado. — Foi aqui que pediram um camarão com chocolate belga?

Toda a sua excitação foi embora ao ver, dentre os rostos nada satisfeitos, um com colarinho branco.

Eita! — sussurrou Lineker, de olhos arregalados.

O silêncio absoluto e desconfortável fez com que aquilo fosse um grito audível para todos.

— Boa noite, padre — cumprimentou Matias, olhando sério.

— Boa noite, padre — cumprimentou Wellington, olhando sério.

— Se é que posso realmente te chamar assim — inflamou, o clérigo mais jovem.

Lineker boquiaberto, tentava a todo custo conter o riso.

— Que tal um pouco de respeito, filho da puta? — disse sorrindo. — Sou formado em teologia pela Universidade de Coimbra... e você de que buraco saiu? Taubaté? Simões Filho?

— Roma — respondeu o outro. — Formado em medicina e teologia... ao mesmo tempo.

De repente, um grunhido medonho invadiu o ambiente e uma voz grave deformada ecoou por todos os cômodos.

— Eu estou sentido sua catinga daqui, Wellington, seu lacaio do diabo!

O pai, apreensivo, decidiu se manifestar:

— É a minha filha Joana.

— Ela é adorável, senhor Guariba — disse o exorcista.

— Sim, muito bem-educada — frisou Link.

Eis então que o exorcista decidiu tomar a frente da situação.

— Bem, podemos estar entre pessoas com anéis nas mãos aqui — explanou, estendendo as mãos —, mas acredito que ninguém aqui é melhor no que eu faço. — Olhou para o rosto de cada um na sala. — E o que eu faço é exorcismo.

Porém, Matias, como representante da Igreja, não poderia deixar aquela situação seguir. Não daquele jeito.

— Se me permitem — dirigiu-se ao casal Guariba —, quero, de bom grado, acompanhar o padre Wellington no processo de libertação.

Com a concessão do casal, o trio caminhou pelo logo corredor de carpete vermelho, que ia da sala ao quarto da menina.

Ao adentrarem o local, avistaram a garota virada para o canto da parede. Em sua cabeça vestia uma abóbora, que protegia de suas batidas compassadas, como se fosse um capacete.

— Ela não estava amarrada por cordas de sisal nos quatro membros, presa na cama — disse Matias, apreensivo.

Eles a encaravam seriamente, quando Wellington se aproximou segurando em suas mãos uma corrente. Ao chegar próximo, abriu a mão deixando a medalha pendurada. A face de borda azul tinha uma cruz prata, com letras ao redor, era o rito de exorcismo. Na face dourada e de borda idêntica, a imagem do santo exorcista.

— É uma medalha de São Bento? — indagou o padre mais moço.

— Não é qualquer medalha de São Bento — respondeu o garoto.

Em poucos instantes, nenhum detalhe se pôde ver. O objeto sagrado parecia uma miniatura do Sol, o que fez com que Wellington guardasse de volta no bolso.

— Não mesmo — concordou o mais velho. — Esta pode filtrar e dar ao portador o poder da influência exercida pelo campo espiritual provocado pelo demônio.

E quão grande é o meu campo, padre? — perguntou a possuída, eram várias vozes misturadas e separadas por milésimos de segundos.

— Já vi maiores. Bem maiores — respondeu o exorcista, entregando a medalha ao seu filho. — Não vou mentir para lhe agradar, não é assim que trabalho. Não é da minha índole. Onde pegou essa abóbora, demônio? — indagou, tocando a fruta.

Lineker pendurou o objeto luminoso sobre seu peito.

Na cozinha — disse a entidade —, enquanto o padre de verdade te constrangia na frente dos pais da garota.

O menino puxou um livro da mochila escolar em suas costas. Não era um do tipo didático. Era completamente em latim. Abrindo-o, começou a ler e pronunciar palavras ininteligíveis, que iam aumentando o brilho da medalha.

— É o garoto quem vai exorcizar? — perguntou Matias, revoltado.

— Sim — respondeu o pai. — Faça silêncio e aprenda um pouco com ele.

A garota se virou para os três, enquanto os clérigos estavam a discutir e levou ambas as mãos para trás.

— Isso é loucura! — revoltou-se o mais moço. — Acabe essa palhaçada agora, homem! — Toda a sua exaltação parou, quando olhou para o rosto da garota.

A abóbora ensanguentada tinha talhados olhos, boca e nariz, como no Halloween.

— Santos Deus! — clamou Matias, levando a mão à boca. — Com o que você fez isso?

Uma peixeira! — responderam as várias vozes.

Instantaneamente, a possuída avançou como uma onça dando um bote em cima de Lineker, para tentar um golpe com a faca que suas mãos escondiam atrás das costas. Entretanto, o golpe foi bloqueado com a lâmina do crucifixo de Wellington.

— Hoje não, filhão!

A possuída abriu a boca descomunalmente, a ponto de soltar o maxilar de tão aberta, o que fez parte da abóbora se quebrar e seus olhos enegreceram por completo. Então, soltou um gritou bestial que ecoou pelo quarto.

Com seu crucifixo, Wellington desarmou a fera e arrancou a casca do fruto na cabeça da garota com sua mão livre. Pôde ver o rosto da garota com os cortes do entalho, o que fez ter um embrulho no estômago. Levou a cruz à testa da possuída e disse em voz alta:

Sancta Crux Iesu Christi, da, quod spiritus mali...

Caralho, bicho! — fingiu estar surpreendido, o demônio. — A Santa Cruz de Jesus Cristo?! — Mostrou a mão trêmula. — Estou tremendo!

O chute no peito de Wellington o levou à parede.

Descrente! — bradou a possuída. — Quando eu terminar aqui, você será o próximo!

Ela observou o garoto com sua medalha incandescente, de olhos fechados com sua prece quase muda.

Este sim tem fé — concluiu a entidade, ao ver o menino, que segurava seu livro. — É por isso que você exorciza, Link. Ele não te adotou, só está sendo aproveitador da sua bem-aventurança.

— Não o escute, Lineker! — disse Matias, segurando um crucifixo comum. — Cale-se agora, espírito imundo!

Quando o jovem padre encostou o objeto sobre a testa da garota, a pele queimou.

Fala pra ele, Wellington! — ordenou a entidade. — Já guardou sua fé e a medalha não filtra mais energia para você.

— É mentira dele, Link! — discordou, se levantando com dificuldade.

 — Eu não minto! Apenas fico feliz quando humanos mentem — a endiabrada devolveu, mostrando centenas de dentes pontiagudos na boca e se voltando para o menino. — Se mentisse, não lhe diria que as putas aidéticas como a sua mãe não herdam o céu, filho.

A afronta foi o que bastou para Lineker encostar a mão na cabeça dela, a fazendo grunhir de dor.

— Eu quero o seu nome, demônio! — pediu o pequeno exorcista.

Nunca! — discordou, estapeando o braço dele e dando um salto para se livrar dele.

Matias tentou a agarrar, para que não saísse do quarto e machucasse mais alguém. No entanto, a força da entidade era tamanha que o derrubou com uma cotovelada de lado e ficou o esganando no chão.

Lineker não conseguia reagir. Assustado com o que o demônio lhe dissera, enxugou a lágrima no seu lado esquerdo do rosto.

A língua de trinta centímetros da garota lambia o rosto de Matias.

Não se excite, padre — disseram as várias vozes. — Sei o que o ponto fraco de todo bom pároco são os coroinhas.

Não continuou com sua provocação, pois o punho direito de Wellington acertou o seu queixo. A agressão a fez apagar automaticamente, juntamente com a luz da medalha.

— Errado — falou o exorcista, ofegante. — O “calcanhar de Aquiles” de todo mundo é a ponta do queixo.

— Pai! — chamou Lineker, em tom repreensivo.

— Você tinha toda a força e o poder desse demônio — explicou sorrindo como um maníaco e apontando com as duas mãos para a garota. — E não estava fazendo nada.

— Na verdade — falou Matias, arquejando do chão —, seu próprio filho estava em choque com a sua canalhice.

De repente, a medalha acendeu-se. E num novo grito bestial, as mãos da possuída voltaram a esganá-lo.

— Eu não ajudo mais não — falou Wellington, negando com a cabeça. — Agora eu quero que ela lhe foda.

O garoto pousou manso a mão sobre a nuca de Joana, suja do sumo da abóbora, o que a fez grunhir.

 — Eu exijo o seu nome agora, demônio! — ordenou, Lineker.

A menina revirou os olhos, soltando o pescoço de Matias e grunhindo. Um zumbido fino invadiu os ouvidos de todos, enquanto a luz do quarto começou a falhar.

— Fala! — irou-se, o garoto.

Balaam! — o coral soltou, como se estivesse aliviado.

— Balaam, o Duque do Inferno! — usou toda autoridade que pôde em sua vozinha. — Teu nome me dá autoridade sobre ti e eu ordeno que deixe o corpo que habita esta pobre alma!

Depois de um longo suspiro, Joana caiu debruçada sobre Matias.

— Deixe eu fazer isso aqui — Wellington tratou de tirar a garota de cima do outro padre rapidamente —, antes que seus pais cheguem.

A tomou em seus braços e levou à cama.

Lineker, inerte, não parecia estar ali. Olhava para a parede, desnorteado, como se tivesse levado um soco de um boxeador.

— Seja forte, garoto — falou Matias, ao se levantar.

Nem toda força do mundo segurou suas lágrimas. Seu pai, ao perceber, tratou de o envolver em seus braços.

— Tudo bem, já passou — tentou consolar, beijando a cabeça do filho.


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