Era um final de tarde de verão como todos os outros, o sol, mesmo entre as nuvens, estava escaldante, e pequenas gotas de chuva começavam a despencar pela capital Londrina. Da janela do quarto, Hermione observava a repentina chuva enquanto arrumava seus pertences.

Ela andava de um lado para o outro, carregando livros, roupas e outros objetos mágicos, julgando quais seriam necessários para uma jornada rumo ao desconhecido, ao lado de Rony e Harry. Mas, enquanto separava alguns textos, fixou o olhar na última edição do Profeta Diário, que estampava a foto de Severo Snape, na capa.

Era estranha a sensação de perda que Hermione sentiu ao encarar aquela foto, ficou observando cada detalhe no rosto do rigoroso mestre de poções, recordando os traços do nariz de gancho, a oleosidade dos cabelos, a frieza do olhar e o desdém presentes nas sobrancelhas e na boca dele. Ela soltou um longo suspiro e uma lamentação:

— Queria que tivesse me beijado antes de ter fugido – disse a bruxa, colocando a pontados dedos sobre os lábios da fotografia de Snape e depois nos dela. – Igual àquela última vez.

Sentada na cama, Hermione lembrava-se do que passara no último ano em Hogwarts, antes da morte de Dumbledore, e antes mesmo de ter feito as pazes com Rony, de certo, não foi tão ruim para ela ter sentido ciúmes de Rony naquela época, pois isso lhe rendera um momento inesquecível e de pura “rebeldia”.

A garota estava andando pelos corredores escuros de Hogwarts, a luz lunar afetava a sensibilidade de céus olhos, ou seria as várias dozes de vinho que ela tomara depois de ver os amassos entre Rony e Lilá. De qualquer forma, ela sentia-se leve, usava vestes vermelhas despojadas e dava alguns rodopios. Tentava também colocar os espessos cabelos presos em um coque, enquanto olhava pelo chão, cuidadosamente, procurando seus sapatos. Porém, não fora exatamente um par de saltos altos que ela encontrou no meio do corredor.

Examinando a partir do piso, Hermione encontrou dois sapatos escuros gastos, com alguns sinais de poeira, ao subir o olhar, ela viu uma calça preta e, o pior que podia esperar, vestes negras e farfalhantes, típicas do indigesto mestre de poções. Diante dela, Severo Snape a encarava jubiloso, parecia que era a oportunidade que ele tanto esperava para preconizar a boa fama da “Intragável Sabe Tudo”.

— Ora, ora – começou Snape, com ares de desdém, sua voz era inflexível e desconcertante – procurando por algo, Srta. Granger? Talvez tenha acabado de encontrar sua advertência de detenção.

— L-lamento informar, professor, mas como monitora tenho permissão e livre acesso aos corredores durante a noite – respondeu Hermione, tentando sustentar uma aparência confiante o máximo que podia, enquanto controlava para fechar a própria mente contra Snape.

— E isto também lhe dá o direito de sair vestida...assim? – Questionou o bruxo, olhando a garota de cima a baixo, focando por alguns segundo no decote dela e depois encarou, friamente, os olhos castanhos da aluna, fazendo-a ficar envergonhada. – Ou será que sua petulância a fez pensar e agir desta maneira?

— O modo como me visto não lhe diz respeito, aliás, deveria saber que é indecoro meter esse nariz abissal... – dizia a bruxa, mas fora notar o risco e o erro tarde demais, pois o Prof. Snape abruptamente a pressionou contra a parede.

— Repita essa ousadia, garota...mostre o que uma Grifinória bêbada e irritante a sabe tudo consegue falar.

Desconfortável com aquela situação, Hermione percebera que entrara em um caminho sem saída. Deveria ter aguentado quieta as provocações do professor, como tantas vezes já havia feito. Porém, principalmente naquela noite, ela se sentia farta de tanto abuso e desgosto, sendo uma parcela de culpa de Rony e Lilá. Se o Roniquinho e a Lilazinha não estivessem se beijando como se não houvesse amanhã e ficassem de abraços pelos corredores, certamente Mione estaria mais tranquila e menos enrascada.

— Então... um diabrete cortou sua língua, Granger? – Perguntou Snape, aproximando-se ainda mais de Hermione, quase encostando o nariz nela, deixando-a perturbada.

Pensando em como evitar as perguntas do indigesto homem, a garota ficava com a respiração ainda mais arfante, pois não lhe vinha ideia alguma de despistá-lo. Além disso, a tamanha proximidade entre eles, fazia a bruxa sentir uma dor latejante em sua cabeça, deveria ser um sinal de que o professor ainda insistia em usar legilimência nela.

A cada instante, mais perceptível era descompostura do mestre de poções, e, pior, Hermione conseguia sentir a respiração agressiva dele, bem como um cheiro familiar, um cheiro de pasta de dente. Isso provocou na garota algumas recordações, aumentando sua dor de cabeça, e, consequentemente, abalo. Aquele momento não era muito apropriado para aquilo, porém um flashback passou pela cabeça da bruxa.

Era uma recordação da primeira aula de poções com Slughorn. Claro, como ela não percebera isso antes, e mais, ter confundido seus sentimentos por Rony. O aroma que ela descrevera da Amortencia, uma mistura de grama recém cortada, pasta de dente, pergaminho novo e...um cheiro que ela sentia com frequência em Hogwarts, não podia ser, senão, algo vindo das próprias masmorras, um perfume agridoce...que pertencia ao novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas!

Então, ainda embriagada de pensamentos, e da bebida, a bruxa enlaçou o diretor da Sonserina para mais perto e o beijou. Fora algo muito diferente do que ela experimentou com Victor e, talvez, completamente melhor do que se ela tivesse tentado com Rony. Era algo quente e molhado, e, apesar dele tentar refutá-la de início, os movimentos deles começaram a se complementar até lhes faltou o ar.

— Chega – disse Hermione, levantando-se da cama e jogando no lixo o jornal. – Não importa o que aconteceu, está no passado e enterrado. Agora é apenas... uma tristeza de verão...por sua causa, Severo Snape...ou será minha por não ter percebido antes?