Magia Literária escrita por Emiko


Capítulo 6
Inconsolável


Notas iniciais do capítulo

Indicação de música: Lovely, Billie Eilish ft. Khalid



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Era quase o horário de almoço, a Londres trouxa estava movimentada como de costume, muitos carros e pedestres transitavam, apressadamente, pelas ruas por conta da inesperada chuva. O clima era frio e soturno, nenhuma pessoa se encarava nos olhos, e, raríssimas, eram as vezes que alguém esboçava sinal de animosidade.

De certo modo, o comportamento frio e distante dos londrinos auxiliava a comunidade bruxa a se disfarçar e desaparecer na multidão. Mas, até que ponto o comportamento dos trouxas estava influenciando o modo de vida dos bruxos?

Após a Batalha de Hogwarts, muitas famílias de sangue-puro se distanciaram, a supremacia de sangue estava ficando ultrapassada e a ideia de casamento com nascidos trouxas, ou até trouxas, ganhava destaque sem precedentes. Contudo, havia alguns resquícios na comunidade de bruxa que continuavam contra essa “mistura”, uma minoria defendia os casamentos por causa de elo de sangue, sem qualquer aproximação emocional ou sentido sentimental.

Uma situação que, para Pansy, era um tormento, não somente por ter recusado todos os pretendentes, ou de ter sido recusada igualmente, mas, principalmente naquela tarde chuvosa, por ter, em milésimos segundos, tido um rápido vislumbre dos cabelos claros e longos de Draco Malfoy. Havia anos que os dois se distanciaram, o trabalho no ministério, juntamente com o casamento, mudou as atitudes e crenças de Malfoy radicalmente. Contudo, apesar da frieza e da distância entre eles, Pansy ainda sentia uma forte pontada no estômago quando se encontravam acidentalmente, e, por breves segundos, o coração e os pulmões pareciam que iam sair pela boca.

 Às vezes, sentia um impulso em se declarar, novamente, para o bruxo ou, quando não estava nos dias bons, voltava o mais depressa possível para casa, e se isolava por completo no quarto, debulhando-se em lágrimas e comendo inúmeros sapos de chocolate. E aquele era um daqueles dias ruins. Ela precisava ficar sozinha e, mal havia visto o corpo de Malfoy desaparecer na esquina, ela já estava retomando os passos em direção a uma rua sem saída, onde pode desaparatar, discretamente, para casa.

Por sorte havia conseguido alugar uma casa nos arredores de Nottingham, não se comparava com a mansão que seus pais tinham, mas era um lugar que poderia chamar de seu próprio lar. Era um local afastado e aconchegante, possuía uma vista para a Sherwood Forest e era perto de algumas “lojas” do mercado negro bruxo.

Mal chegara na soleira da porta, Pansy atirou os sapatos e correu para dispensa, havia um estoque de sapos de chocolate a sua espera e, para sua surpresa, um grande vidro de hidromel. Como se fosse um ritual, ela pegou algumas caixas do doce e a garrafa com líquido âmbar, e caminhou, vagarosamente, para o quarto. Mesmo sem ter necessidade, ela trancou a porta e encostou-se nela, deslizando o corpo até o chão. Utilizou a varinha para trazer uma coberta de pelos verde e, entre soluços, começou a comer e a beber como se fossem as últimas coisas da vida que ela podia fazer.

Entre algumas mordidas e goles, a mulher praguejava, insultava Hogwarts, os alunos, principalmente Hermione Granger e Harry Potter, a própria família, os amigos que nem sequer a visitavam, Draco, e até o Lorde das Trevas. Ela também imaginava como tudo poderia ter sido diferente se Voldemort tivesse vencido a guerra, se pelo menos ela tivesse trucidado Longhbottom, as coisas não teriam ficando tão ruins.

Lágrimas quentes caiam pelo rosto grosseiro de Pansy, “Como um fracote como Neville Longhbottom foi capaz de se manter vivo e, pior, ter conseguido matar Nagini e enfraquecido o Lorde das Trevas?” era a pergunta que ela insistia em fazer para si mesma. O que mais a machucava eram as mudanças que aconteceram depois da Batalha de Hogwarts, parecia que os bruxos de sangue puro não tinham mais valor, que até ela não era importante.

Tudo parecia não se encaixar, às vezes ela considerava que estava vivendo em um mundo paralelo, e às vezes ela percebia que esse era o real retrato da realidade, fria, solitária e dispensável. Como se lastimava pelos anos de estudante, fora anos ao lado de Malfoy desperdiçados, sem falar na tolice da hipótese de que o Lorde das Trevas iria conseguir lhe arranjar um casamento com Draco.

Ela tornou a garrafa de uma vez, e sentiu um grande ardor passar pela garante, sentiu um vazio no coração e uma dor, que era mínima, na cabeça.

— O que eu poderia ter feito para continuar do seu lado? – Perguntou Pansy, em sinal de súplica. Era a frase que ela mais falava naqueles momentos soturnos, e também quando estava diante de Draco, seja em sonhos, seja na vida real.

Olhando para a solidão do quarto, relembrou-se da última vez que encontrara com Draco, o quanto ele estava bonito, e insensível. Ela dizia que se doaria de corpo e alma para ele, mas o bruxo nem sequer a escutou, gritou-lhe palavras ofensivas e a intimidou para não se aproximar dele, muito menos de sua família, novamente.

A partir daquele dia, Pansy começou a odiar a família de Malfoy, a perfeita família de sangues puros loira, sentia náusea só de pensar no garoto Escorpius. Se tivesse sido ela a mãe do menino, certamente seria mais bonito, pensou a mulher, porém, logo se lembrara que era algo impossível, afinal, não podia ter filhos. Só descobrira que era histeria quando adulta, na época em que preparava os documentos para um casamento arranjado. Ela nem recordara mais do nome do rapaz, mas tinha uma lembrança marcante de sua própria família, pois o Sr. e a Sra. Parkinson demonstraram tamanho descontentamento para com ela, que obrigou-a a abandonar a casa, e até negligenciar o sobrenome.

Agora, ela não era nem Pansy Parkinson, nem a Sra. Malfoy, como tanto almejava. Era só Pansy, uma bruxa solteira, sem status, família, amigos, com um trabalho desvalorizado no mercado negro bruxo e com um passado que desejava apagar. Se ela tinha desejo de mudar tudo isso? Com certeza, ela começou a enxugar as lágrimas e inclinou a cabeça sobre as pernas, que estavam, fortemente sendo abraçadas pelos braços. Só pensava em uma única coisa, ou melhor, uma pessoa, Astoria Malfoy, e que como desejava que nunca tivesse existido.

Lentamente, a bruxa adormecia, dando os últimos suspiros e soluços, sem imaginar que no St. Mungus, suas mais intimas vontades estavam sendo realizadas, aos poucos, a respiração de Astoria ficava tranquila e os olhos repousavam, para um sono eterno.


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Notas finais do capítulo

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Até a próxima ♥



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