Magia Literária escrita por Emiko


Capítulo 4
Quebra de pacto


Notas iniciais do capítulo

Indicação de música: Natural, Imagine Dragons.



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 “Não posso agir contra Grindelwald, Newt. Tem que ser você.” Foi o que eu alertei a Newt uns tempos atrás, porém, tal afirmação não possui valor algum mais. Nada vem sem uma consequência ou custo, e, infelizmente, notei isso tarde demais. Agora, eu e Gellert, estamos cada um de um lado, batalhando por nossos próprios bem maiores.

 Quem poderia imaginar que dois amigos, que sonhavam com a união da comunidade bruxa, estariam se enfrentando por terem tomados caminhos opostos? Sei que a grande parcela de culpa de tudo o que está acontecendo agora é completamente minha, mas, o que eu poderia fazer para salvar-me de tantos pecados? Fui um tolo por deixar-me cegar pela ambição, mas os sonhos de Gellert completavam os meus, e vice-versa.

Contudo, vejo claramente a repercussão de minhas decisões, e cheguei a conclusão do quão falho eu fui por confiar em um pacto de sangue, que traria mais do que a morte da minha amada irmã Ariana. Leta, Queenie, Jacob, Credence, é pesaroso pensar no destino que vocês encontraram, e, pior, tenho consciência das marcas que ficarão em Tina e Newt, principalmente em Newt. E, olhando diretamente para Gellert, eu arrisco a afirmar que este conflito deveria ter acabado tempos atrás, somente entre nós dois.

— Então, Dumbledore...pensando no próprio epitáfio? – Zombou Grindewald, mantendo-se de pé e com os olhos penetrantes em mim, mais ameaçador do que jamais o vira. – Ainda posso lhe mostrar a força de um exército de um homem... ou melhor, de uma mulher só.

Com um movimento enérgico da varinha, Gellert fez com que o corpo de Nagini, que estava poucos metros perto de mim, ficasse estático e, em seguida, contorcido, até se transformar em uma grande cobra verde, com os olhos vermelhos vidrados na minha direção.  Instantaneamente, utilizei o feitiço escudo contra o ataque de Nagini, contudo, ela estava absolutamente fora de si, a cada investida ela aumentava sua força, e tamanho.

Gellert fitava-me com um olhar prazeroso, estava com a cabeça erguida e dava ares de insensibilidade, me pergunto por que me deixei iludir por tão pouco? E pior, o que poderei fazer agora para concertar meus deslizes? O escudo que conjurei começara a definhar e Nagini não recobrava sua consciência. Não demoraria muito para que o escudo se desfizesse...somente me restava uma única tentativa.

No horizonte, vejo a fênix que Gellert presenteara a Credence. Nas histórias da minha família, uma fênix sempre irá ajudar um Dumbledore em apuros, e também se manterá fiel a ele até o momento de sua morte, preparando-se para o seu último voou.  Mas, o pássaro ainda mantinha proximidade, observando atentamente os resultados de batalha, e não demonstrava sinal de que abandonaria o local.

— Fawkes – gritei o nome do pássaro, com um certo tom de súplica. Desconfiava se ela me consideraria digno, pois os meus poderes eram nada comparados aos de Ariana e Credence.

Com um sonoro pio, a ave veio em minha direção, parecia cantar uma melodia forte e encorajadora. Ela nem precisou atacar Nagini, pois a cobra parou seus incessantes ataques e retornou para sua forma humana, parecendo desorientada e envergonhada.

— Oh meu Deus, Dumbledore, eu não sei o que dizer...eu... – dizia a mulher, aproximando-se de mim com as mãos entrelaçadas.

— Não se preocupe, foi ele – apontei para Gellert, com os olhos e o rosto ardendo de raiva – que te controlou. Por sorte, me lembrei de uma velha crença dos Dumbledore.

Então, utilizei outra carta que estava na minha manga, ou melhor, na minha luva. Dei a mulher uma das luvas de aparatação e, ao simples toque, fiz com que Nagini desaparecesse e reaparecesse ao lado do pequeno grupo formado por Newt, Tina, Nicolau e Teseu. Sinto-me aliviado quando eles compreenderam meu último sinal, um aviso que eles não deveriam, por circunstância alguma, interferir no que estaria prestes acontecer.

— Enfim irá parar de mandar crianças para batalha e me enfrentar como um bruxo de verdade, Alvo? – Provocou Gellert, aproximando-se de mim astutamente, com movimentos precisos da varinha, ao passo que eu revidava todos os feitiços. – Pare com essa brincadeira e duele de verdade!

Em meios as investidas de Grindelwald, senti algo se partir no meio dos meus bolsos. Verifiquei rapidamente, e Gellert também percebeu, pois uma mancha de sangue surgira próximo ao meio peito, indicando que o antigo pacto que fizemos estava, finalmente, quebrado. Por assombro, ou desespero, os ataques cessaram, e nossos olhares se encontraram.

— Gellert, mais uma vez, peço que tente compreender os nossos erros, e que reconheça que há outras formas de melhorar este mundo. – Abaixei as minhas mãos, mas deixei a varinha de prontidão.

— Alvo, eu sempre me perguntei com você consegue se manter tão...otimista – ele também abaixou as mãos, mas brincava com a varinha entre os dedos na mão direita. - O que você vê de tão especial nisso em que vivemos? Olhe os problemas da sociedade, a hipocrisia, a arrogância, a intolerância, em grande parte vinda dos trouxas. Você não acha que devemos interferir, utilizar de nossas habilidades para um bem maior?

— Desde que esse bem maior não signifique dizimar metade da população não mágica e escravizar a outra metade – respondi, sem fugir do olhar feroz de Grindelwald, parecia desconfortável com o que acabei de dizer, mas era a pura verdade. – Considero que podemos viver em completa harmonia, necessitamos, apenas, de incluir e respeitá-los...

— Respeito? – Disse Gellert, com leve tom de cinismo. – Engraçado você falar disso, desde quando fomos respeitados pelos trouxas? A história está para comprovar as cruéis perseguições que nosso povo sofreu. Guilhotina, fogueira, envenenamento, afogamento, e tantas outras ações repugnantes, são provas de que eles não possuem escrúpulos, nem que pensam no impacto que causaram na nossa sociedade. Este é o momento para eles refletirem, provando as consequências de suas próprias ações.

— Discordo, novamente. Claro, é um fato que muitos bruxos morreram, mas devemos pensar também no outro lado da moeda. Quantas mortes também causamos? Quantas crises políticas...ou guerras, Gellert? – Ele revirou os olhos imediatamente. – Um derramamento de sangue não satisfaz outro...- aumentei o tom de voz ao ver que ele iria me interromper – e mais, é evidente que ambos os lados saem perdendo. Reconheça, também, que a cada tentativa de “correção”, novos conflitos são criados, mais sangrentos e destrutivos.

Houve um breve silêncio e Grindewald deu um longo suspiro, parou de brincar com a varinha dos dedos e deixou a mão esquerda sobre o início do nariz, fechando os olhos e, em seguida, disse, em tom calmo e convencido:

— Se sabermos a medida certa de controle, não haverá o que temer, Dumbledore.

— E você acredita que poderá controlar o desejo de sangue de algum dos lados? A maneira como está pensando soa bárbara demais para quem critica as atrocidades dos não mágicos – ele abriu os olhos, insatisfeito. – Ora, parece que está compreendendo o que estou dizendo, a melhor maneira para vivermos pacificamente é...

— Novamente, você está sendo otimista, Dumbledore – ele começou a andar, com os braços cruzados nas costas, como se estivesse em um colóquio no parque. – Quando vai entender que não existe esta utopia, onde esses trouxas, que tanto defende, irão nos respeitar por livre e espontânea vontade?

— Não estou pensando nisso – ele parou e olhou-me, incrédulo. – De início, acho que nós devemos dar o primeiro passo, demonstrando respeito e, com um processo lento e gradual, incluíssemos e compartilhássemos nossa cultura com a deles, e vice-versa.

Ele soltou uma risada, fria e irônica, depois, manteve-se em silêncio e aproximou-se de mim, levantei a varinha, enquanto ele abaixou as mãos.

— Isto só pode ser uma piada...ou você está completamente louco. Lecionar acabou com seu futuro brilhante, Alvo...o nosso futuro – ele me encarou carinhosamente, tempos atrás, eu teria caído nesse tipo de truque.

— Quem disse isso? Lecionar abriu portas que eu jamais havia imaginado. Estou, constantemente, aprendendo com os meus alunos e, além de melhorar minhas habilidades mágicas, aprimoro minhas capacidades morais e sociais  - Gellert revirou os olhos e demonstrou um sorriso debochado. – É verdade isso, pegue o exemplo de sua tia...

— Outra lunática, o que adiantou anos de estudo e ensino em Hogwarts, para, no final, viver em uma vila medíocre e sem expectativa de mudança?

— Cada um possui a visão de sucesso que lhe agrada mais – dei de ombros e retribui o sorriso irônico de Gellert. – Mas, acredito que não são importantes os nossos feitos, e sim quem somos. Posso possuir grande fama academicamente, porém, nada me atrai mais do que uma simples conversa com um estudante, ou uma boa leitura de um manual sobre tricô.

— Isto é um argumento para me convencer? – Perguntou Grindelwald, arquejando as sobrancelhas. – Pois bem, Alvo Dumbledore, você conseguiu. Estou absolutamente convencido...convencido de que você é tão lunático quando Bathilda! – Ao mesmo tempo, empunhamos nossas varinhas. – Enfim, vamos acabar com essa perca de tempo...vamos colocar um ponto final de vez nesta história.

Uma linha verde saiu da varinha dele, enquanto uma linha azul saiu da minha. O encontro dos feitiços causou um grande estrondo, tive de recuar dois passos e, com grande esforço, mantive a varinha apontada para Gillert, que, assim como eu, persistia em cortar aquela ligação.

Alguns “chicotes” de luz prateada saiam no meio da ligação dos feitiços, intensificando as pulsações de ambos os lados. Realizei um rápido movimento com a varinha, na tentativa de fazer com que a “ponte” entre as varinhas se desfizesse. Contudo, o tiro saiu pela culatra, recebi uma chicoteada de luz e acabei por cair no chão, com a varinha centímetros de distância.

Rastejei o mais rápido que pude na direção da varinha, mas Grindelwald me interceptou com um feitiço explosivo próximo ao meu joelho. Gritei por causa do impacto e rolei para trás, péssima decisão para o que veio em seguida.

Grandes labaredas de fogo azul me cercaram, não conseguia ver nada por trás das chamas. De repente, formas humanas aparecem no meio do fogo. Eram versões mais jovens minha, de Grindelwald, de Albertoth e de Ariana. Em pânico, fecho imediatamente os olhos e começo a respirar fundo, mas isso só piora a sensação de sufocamento, pois as chamas estão roubando todo o oxigênio.

Começo a escutar os gritos de Abertoth, depois os de Ariana e abro os olhos, vejo a expressão de temor dela no fogo azul vivo, e sinto que é ainda mais arrepiante ver a cena de sua morte acordado. O calor e a angustia pioram o meu estado, tento gritar mas a minha garganta está fechado pelo ar seco e quente. A última coisa que vejo é o rosto de quando era jovem, uma mistura de melancolia e culpa, encoberto por lágrimas. Pouco a pouco, vou perdendo os sentidos, as chamas começam a comer as minhas roupas, e escuto, ao longe, um sonoro pio de fênix, talvez seja a hora dela partir também.

Dou um último suspiro e, de repente, vejo o rosto de Grindewald, mas não no meio das chamas, fora delas, metros longe de mim, sendo atacado por Fawkes, que, surpreendentemente, consegue fazer com que as chamas cessem e derrubar Grindelwald. Com a minha cabeça ainda girando, tento me colocar de pé e Fawkes vem ao meu encontro. Ela começa a cantar, enquanto derrama algumas lágrimas em mim, deixando-me revigorado e, um pouco, animado.

Assim, corro para pegar a minha vinha e a seguro com confiança. Grindelwald pode ter a varinha das varinhas, mas eu sei de alguns feitiços e azarações que ele, dificilmente, saberia se defender. Preparo então para lançar um encantamento, mas Grindelwald se levanta e agarra a sua varinha ameaçadoramente.

Novamente, nossos feitiços se encontram, uma linha contínua com extremidades azuis e verdes se formou. De repente, consigo escutar algumas vozes, são de Credence e Ariana, me apoiando. Em seguida, vejo seus rostos começarem a se materializar, depois algumas partes de seus corpos, semelhante a fantasmas. Encaro Grindelwald, parece que ele não consegue vê-los também, pois mantinha uma pressão de intensa fúria.

Meus olhos se encontram com os de Ariana, e depois com os de Credence, não há sinal algum de raiva, ou de tristeza. Eles estavam preocupados e, de certo modo, contentes ao meu lado. Então, sinto algo quente segurar a minha mão e vejo que é a palma macia e delicada de Ariana, ela acena com a cabeça em sinal concordância, Credence fez o mesmo.

— Quando for a hora, iremos interromper a ligação – disse Ariana, seus olhos castanhos transmitiam-me confiança, ao mesmo tempo que sinto uma pontada forte de remorso em meu coração. – Não precisa se preocupar, tudo vai ficar bem.

Por algum tempo, a ligação se manteve estável, continuava com sua coloração verde azulada e não possuía feixes estralando pelas extremidades. Contudo, após alguns minutos, Grindelwald começou a agitar sua varinha, enquanto eu, Credence e Ariana, nos mantínhamos firmes a medida que a linha contínua se transformava em grandes pulsações verdes, depois vermelhas. Então, senti a varinha se estremecer e, com um olhar sutil de Ariana, movi-a confiantemente.

Em poucos segundos, a linha se desfez e vejo Grindelwald caído no chão, pude sentir um abraço de despedida de Credence e Ariana, que completou com um beijo na minha bochecha, antes de vê-los desaparecer. Dou um passo â frente e aponto a minha varinha na direção do meu antigo amigo, porém, sinto algo estranho embaixo do meu pé direito. A antiga varinha de sabugueiro, do conto dos Três Irmãos, estava mais alcançável do que eu jamais imaginara.

Instintivamente, peguei-a com segurança e, acreditando ser digno dela, usei-a contra seu antigo dono, que me encarava descrente e, aparentemente, abatido. Uma grande esfera de água começa a envolver Grindelwald, deixando-o nervoso e fazendo-o se debater, até que, com a falta de ar e de forças, não conseguiu mais se manter são, e, em seguida, encontrava-se imóvel.  Finalmente, o duelo entre nós se encerrara, não da melhor maneira, mas do modo como o destino definiu.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler o/
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Até a próxima ♥



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