Magia Literária escrita por Emiko


Capítulo 14
Estrelas de inverno


Notas iniciais do capítulo

Indicação de música: Counting Stars, One Republic.



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Desde que Rony os abandonou naquela difícil busca pelas Horcruxes, Hermione não conseguia fechar os olhos por muito tempo, os sonhos a perturbavam, mais que a realidade. Cada vez que tentava dormir, seus receios a atingiam, sentia que estava sendo observada, e que, a qualquer momento, Harry e ela sofreriam nas mãos de algum sequestrador ou, na pior das hipóteses, nas mãos de Voldemort. 

Ela até poderia ter esperança de que as coisas melhorariam, mas, ao passo que o inverno chegava, essa fagulha de bons anseios diminuía, E mesmo que procurasse algum consolo em observar as estrelas durante seu turno da noite, outro problema entrava em sua cabeça: o que teria acontecido com ela, se tivesse ficado ao lado de Severo Snape? Possivelmente seria morta por Voldemort, ou forçada a entregar seus amigos. Ou, na melhor e mais sombria das hipóteses, seria mantida em segredo pelo então diretor de Hogwarts, podendo agir como uma espiã, afinal, se Snape foi capaz de trair Dumbledore, porque ela não poderia fazer com que ele traísse Voldemort? Ou, pelo menos, ela fingiria que estava do lado dele para aproveitar qualquer oportunidade de defender a paz no mundo bruxo, e até mesmo ter, por algum tempo, a companhia de sua “cara-metade”. 

 

 

***

 

Com pensamentos distantes ao observar o céu estrelado, da torre de astronomia, Snape sentia um amargor na boca. Já faziam quase sete meses desde que executou a última, e suja, tarefa de Dumbledore. Como foi que as coisas se desenrolaram daquela maneira? Era a dúvida que mais o atormentava. E de tempos em tempos, não conseguia controlar a própria frustração. Se tivesse percebido mais cedo o que era amar, e ser amado, teria feito qualquer coisa para corrigir seus erros. Também era doloroso relembrar que havia perdido uma segunda chance, que, ao que parecia, reavivaria seus sentimentos. 

A procura de algum sinal vindo das estrelas ou do vento que era cortado pelo Salgueiro Lutador, Severo colocou duas coisas em mente. A primeira era que ele não era tão velho, possivelmente sairia vivo daquela situação, já que não era tão diferente e arriscada do que de tempos atrás, quando vivia entre dois lados extremos, repassando ora informações para Alvo, ora para o Lorde das Trevas; e seria um consolo se conseguisse redimir seus erros e ter um novo motivo para viver. Porém, o segundo pensamento lhe trazia de volta a realidade, ele também não era tão jovem e, muito menos, ousado, para poder esquecer, e fazer as pessoas esquecerem do que ele havia feito, e seria tratado como escória, por todos, sem exceção...ou talvez com uma única e intragável intrometida exceção...era nisso que ele tentava acreditar, mas, dificilmente, consideraria real, pois ainda lhe vinha na memória o rosto aterrorizado de Granger na última vez que se viram.

E isto, ele nunca iria se perdoar. Era mais um erro na conta, mais uma tortura que levaria consigo, e que não poderia deixar que descobrissem. Nem mesmo os esforços que ele tinha para que tudo terminasse certo, não apagariam seus rastros malditos e cruéis. Mentir para si mesmo até seria uma boa opção, conseguia enganar as pessoas à sua volta, por que não tentar consigo mesmo? Era uma ponderação que Snape fazia constantemente, e principalmente com relação tudo de errado que havia feito, e chegava a conclusão de que não foi isso que o manteve vivo? 

Só que ele mal considerava aquilo uma vida...era mais uma pseudo-existência, uma constante tentativa de sobrevivência, que poderia trazer, não mais, que noites mal dormidas e ansiosos desejos por um desfecho definitivo. 



***

 

Sozinha e imersa nas próprias memórias, Hermione se manteve, por um longo tempo, com o rosto no travesseiro, condenando-se pela inocência de pensar que estaria amando, e com a possibilidade de ser correspondida. Era um desejo que lhe ardia, e confundia seus pensamentos. Nem Harry estava ali para ajudá-la a voltar o normal, o que a deixava preocupada...havia quanto tempo que ele entrara na floresta? Seria insensibilidade dela não ir procurá-lo, pois queria apenas resolver aquela pendente questão amorosa? 

A mente da bruxa dava voltas e sempre retornava em fazer o certo ou não fazer...eis a questão. Ela poderia fazer o que queria, mesmo que precisasse de algumas mentiras, e até terminaria sendo feliz...ou talvez não, já que a vida nem sempre se resumia em finais felizes...muito menos românticos.

De súbito houve um som de galho sendo quebrado fora da barraca, parecia que estava muito próximo. Desconfiada, Hermione agarrou uma panela que estava do lado da cama. Torcia para que fosse Harry, ao mesmo tempo que o insultava interiormente, o que passou na cabeça dela para deixar que ele ficasse com sua varinha? 

Lentamente, a jovem se levantou, tomando cuidado para não tropeçar em algum objeto no chão, e nem fazer qualquer barulho. Aproximando-se da saída da barraca, segurou fortemente a respiração. Não acreditava na silhueta que estava vendo. Parecia ter  cabelos longos e um nariz consideravelmente grande. E o susto foi ainda maior quando viu que uma das mãos da pessoa de fora, mostrava uma parte das mangas pretas e que, Hermione logo deduziu, ter muitos botões e estarem muito justas no corpo de Snape.

Ela mal esperou que o homem entrasse na barraca e o puxou com todas as forças para si. Nem parecia o mesmo bruxo que havia matado Dumbledore e atacado Lupin. Estava atrapalhado e surpreso, olhando Hermione com a mesma intensidade que ela olhava para ele. E, sem muitas explicações, agarrou-a fortemente e lascou-lhe um beijo, mais enérgico e sincero do que a garota se lembrava. 

Quando se afastaram para recobrar o ar, ele lamentava no ouvido direito de Hermione pelos últimos acontecimentos, e ela soluçava em resposta, afirmando que sentia os mesmos pesares que ele. Mas não se demoraram muito com conversas, voltando logo a  se entrelaçar, sem carícias contidas.

 

***

 

Após notar que Potter estava seguindo sua pista, Snape passou, calmamente pelas árvores, olhando em volta com a expectativa de que encontraria com outra pessoa. Infelizmente, por poucos segundos, avistou os cabelos ruivos de Ronald Weasley, indo na mesma direção que Potter havia seguido. Certamente ela também iria até eles, e também nem o notaria, foi o que Severo pensou.

Já havia se distanciado consideravelmente para aparatar, quando uma pequena barreira chamou a atenção dele. Era uma defesa meio mal feita, fora dos padrões de uma aluna modelo de Hogwarts. Silenciosamente, ele caminhou na direção da barreira e, sem nenhuma dificuldade, atravessou-a, descobrindo a existência de uma barraca. 

O coração do bruxo deu um sobressalto, e, seguindo os próprios instintos, foi até a entrada da barraca, com passos cuidados e a respiração controlada. Deixou escapar um sutil sorriso ao ver o corpo da bruxa, deitado sob uma cama próxima, com o rosto escondido pelo travesseiro. Lentamente, ele entrou na barraca e foi se aproximando, até ser surpreendido por um longo suspiro da garota e de um abafado gemido:

Severo.

Como tivesse sido atordoado por um feitiço, Snape manteve-se paralisado. Seus ouvidos estavam pregando-lhe uma peça, ou ouviu a garota chamando seu nome? E, parecendo que havia lido os pensamentos do bruxo, Hermione soltou mais um gemido, acompanhado de um sobressalto do próprio corpo. Consequentemente, foi a vez do homem soltar um longo suspiro, já não tinha certeza de mais nada. 

Refletiu por um longo tempo, parado ao lado da cama. Chegou à conclusão que, obviamente, aquilo não deveria real, mas sim um produto de seus desejos, e estava agindo como um tolo. Não poderia correr um risco tão grande, nem mesmo deixar que as emoções controlassem sua mente. Sobretudo, seria muito problemático se alguém percebesse que estava fora do castelo. 

Então, sorrateiramente, ele esgueirou-se pela barraca e, dando um último olhar para uma adormecida Hermione, culpou-se mentalmente por não conseguir fazer o que ele gostaria.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura, até a próxima o/



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