Quarto de Azulejos escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 8
Sooyoung Reila




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Jung Hoseok tremia tanto que mal conseguia manter as pernas firmes no chão, engolindo em seco vez ou outra enquanto, escondido, esperava por Jimin, manifestado pela personalidade de Chimchim, aparecer naquele corredor que levava à sala da direção do hospital psiquiátrico. Praguejava-se mentalmente enquanto roía o que havia sobrado de suas unhas enquanto esperava pelo rapaz, pensando se estar ali era realmente uma boa ideia, levando-se em consideração os acontecimentos mais recentes.

Pensava nisso principalmente por estar sozinho. Namjoon estava confinado na solitária e Seokjin não estava em condições de ajuda-lo, e também não sabia se o rapaz seria capaz de ajudá-lo com aquilo.

Respirou fundo, espantando aqueles pensamentos quando ouviu passos leves se aproximando. Os olhos castanhos foram voltados para trás, onde a figura de um Jimin agarrado à pelúcia do Kumamon estava presente. Até mesmo sorriu por perceber que quem estava ali presente era Chimchim, virando-se para o rapaz para cumprimenta-lo.

— Ainda bem que não demorou. – Disse em um tom de voz baixo, atraindo os olhos gordinhos de Jimin para si.

No entanto, o sorriso que nutria nos lábios morreu no mesmo instante em que contemplou o semblante do Park para si. Os olhos frios e a expressão séria indicavam que aquela poderia ser mais uma das muitas personalidades que o rapaz tinha.

Hoseok sentiu um leve tremor tomar conta de seu corpo, porém conseguiu manter a postura. Engolindo em seco, respirou fundo para tentar manter o mínimo de autocontrole, bem como evitar que a voz acabasse saindo falha. Obviamente estava assustado por estar sozinho com uma versão de Jimin que não conhecia, mas, ao mesmo tempo, pensava que se o rapaz veio até ali, era porque precisavam continuar com aquela aventura louca de invadir a sala da direção.

— Bom... Quem é que está aqui? – Perguntou orgulhoso de si mesmo por não ter vacilado no tom de voz. Jimin inclinou o rosto levemente para o lado, apertando mais a pelúcia com os braços.

Este sou eu para todo o sempre. Um dos perdidos. Aquele sem nome.

Hoseok paralisou no mesmo instante, um arrepio subindo por cada célula do seu corpo. Aquela voz. Era ela, mais uma vez, manifestando-se através de Jimin.

Reila.

Até mesmo se encostou à parede, os olhos arregalados e a respiração extremamente mais pesada. “O que ela está fazendo aqui?” pensou, encarando um Jimin que de repente começou a se mover, caminhando lentamente na direção da sala da direção do hospital. Hoseok observou a certa distância Jimin abrir a porta e olhar para trás, mirando-o com os olhos frios antes de entrar na sala. Engolindo em seco, o Jung seguiu o rapaz, olhando em volta apenas para ter certeza de que não estava sendo seguido ou sendo vigiado por algum funcionário ou paciente, entrando ali em passos apressados.

Os olhos castanhos correram curiosos pelo ambiente até mais simples do que havia imaginado. As paredes eram brancas, uma mesa de trabalho no centro com uma poltrona que era provavelmente usada pelo diretor do hospital, e mais atrás havia uma fileira de gaveteiros de escritório. O Jung estreitou os olhos, observando Jimin caminhando lentamente até ali, um dos ombros arrastando pela fileira de gaveteiros até que de repente ele parou, os olhos pretos voltando-se para Hoseok de repente.

Estas linhas são o último esforço. Para encontrar a linha perdida da vida.— A voz de Reila se fez novamente presente pelos lábios de Jimin, que logo em seguida se afastou daquele gaveteiro.

Hoseok engoliu em seco, mas ainda assim conseguiu coragem o suficiente para se aproximar daquele gaveteiro, os olhos perceberam que ao lado de cada fechadura de cada gaveta, havia uma pequena gravação referente a cada letra do alfabeto. Os olhos procuraram rapidamente pela gaveta gravada com a letra “R”, abrindo-a imediatamente, revelando ali uma relação de pastas de papel pardo, ordenadas alfabeticamente. Naquele momento Jung Hoseok voltou os olhos para Jimin, que o encarava diretamente, apertando a pelúcia do Kumamon.

— Reila, certo? – Perguntou em um fio de voz, e Jimin piscou demoradamente.

Peça ajuda ao passado. Toque-me com o seu amor. E me revele o meu verdadeiro nome.— A voz de Reila se fez presente, e sempre que isso acontecia Hoseok sentia o seu corpo tremer.

Precisou filtrar aquelas palavras, o cenho franzido, e acabou interpretando aquilo como um sim, desta forma voltando o foco para as pastas. Os dedos começaram a trabalhar rapidamente, procurando pelo nome de Reila ou de algo parecido, e de fato não demorou muito para encontrar o tão procurado nome em uma pasta de papel pardo um pouco mais antiga que as outras que estavam ali, e Jung Hoseok mais do que depressa a puxou para ver o que havia escrito ali.

Sooyoung Reila.

Hoseok engoliu em seco ao ver aquele nome e, mesmo com as mãos um tanto trêmulas por conta do nervosismo, abriu aquela pasta para ver o que existia em seu interior, e por pouco não sentiu o corpo ir ao chão com o choque de realidade que teve naquele momento. Presa por um clip de papel, uma foto três por quatro de uma menina de lindos cabelos encaracolados em tom alaranjado chamou a atenção de Jung Hoseok, que encarava incrédulo para os olhos em um tom de violeta, brilhantes em uma alegria que não era muito comum de se ver em muitos pacientes naquele hospital, e em um sorriso lindo, que nada se assemelhava com a menina que o atormentava em seus sonhos todas as noites.

Engoliu em seco novamente, passando os olhos rapidamente pelo conteúdo que ali havia, sendo pego de surpresa por ver que Reila era uma paciente infantil e que havia sido internada há vinte anos atrás. Hoseok procurava por qualquer informação que pudesse ajudá-lo a entender melhor sobre aquela jovem de nove anos (informação que constava naquela pasta), mas tudo o que conseguia ter ali eram as suas informações psiquiátricas, o andamento de seu tratamento e médicos responsáveis pelo seu caso.

Por breves momentos sentiu-se um tanto frustrado, afinal, não entendia porque Reila queria mostrar aquilo para si. Talvez tivesse algum significado maior do que estava entendendo naquele momento, ou um detalhe tão minucioso que não estava sendo capaz de identificar. Naquele instante apenas conseguia pensar em como sentia falta de ter o Namjoon do seu lado para ajuda-lo, sabia que o Kim conseguiria encontrar alguma informação relevante muito rapidamente.

Foi então que voltou os olhos para Jimin, que ainda o encarava com os gordinhos frios e sem expressão.

— Eu devo levar isso comigo? Eu juro que eu quero te entender melhor, entender o que está acontecendo, mas eu vou precisar de ajuda! – Disse em um tom baixo, temendo que alguém no corredor pudesse passar e escutá-los. – Eu não vou conseguir sozinho.

Jimin continuou a encará-lo em silêncio quando voltou a se mover, aproximando-se em passos lentos. O Jung não deu para trás em nenhum momento, porém prendeu a respiração quando Jimin ficou na ponta dos pés, o rosto quase encostando no rosto de Hoseok, que conseguia sentir a respiração quente do outro se chocar contra o seu rosto.

Adeus, sem palavras para dizer ao lado da cruz em seu túmulo. Necessário em outro lugar para nos lembrar da falta de tempo. – Sussurrou, tão baixo e tão suavemente que Hoseok sequer conseguiu sentir o ar quente que saía dos lábios de Jimin se chocarem contra o seu rosto.

E então, tão de repente como se aproximou, Jimin começou a se afastar vagarosamente, girando os calcanhares e se dirigindo para a porta. Apenas naquele momento que Jung Hoseok percebeu que havia prendido a respiração, soltando-a em um suspiro prolongado enquanto apertava a pasta contra o corpo. De alguma forma, aqueles sussurros que na verdade eram versos de música, segundo Namjoon, começavam a fazer certo sentido em sua mente. Respirou fundo, e assim que Jimin abriu a porta, caminhou em passos rápidos, rumando para o corredor que levava ao quarto de azulejos.

[...]

Estava frustrado e com muito sono, além de estar com uma enorme vontade de rasgar aquela pasta de papel pardo em um milhão de pedacinhos. Estava lendo aquela infinidade de papéis a horas e não conseguia relacionar com nenhum dos acontecimentos mais recentes e muito menos com os sonhos que teve nos últimos dias.

Em um suspiro derrotado, jogou-se sobre a cama de maneira que ficasse deitado com a barriga para cima, encarando o teto por alguns segundos. Pelo o que aqueles papéis diziam, Sooyoung Reila era uma mestiça, filha de uma antiga funcionária do hospital psiquiátrico com um estrangeiro que, por conta da rotina da mãe, acabou crescendo dentro do hospital. Ao o que tudo indicava a menina começou a ter comportamentos estranhos e acabou desenvolvendo alguns distúrbios psicológicos por conta da convivência com os outros pacientes, acabando por se tornar uma também. Seu médico na época de chamava Park Seo Joon, um homem muito conceituado e que ainda trabalhava no hospital psiquiátrico.

Aquelas informações não eram interessantes para o Jung, de fato. A única coisa que chamou um pouco mais a sua atenção foi o atestado de óbito da menina, seguido dos registros que se antecederam a isso. Tudo indicava que Reila havia desaparecido misteriosamente da noite para o dia, e meses depois dada como morta pela polícia local. Porém seu corpo nunca fora encontrado.

Saber daquilo apenas encheu ainda mais o coração do Jung de dúvidas e curiosidade sobre o que de fato havia acontecido com Reila, e porque ela estava se manifestando e colocando os seus colegas em perigo, e ocupou a mente de Hoseok de tal maneira que o rapaz simplesmente não percebeu quando finalmente pegou no sono.

Quando despertou, percebeu imediatamente que estava sonhando mais uma vez. Porém, o ambiente não se assemelhava em nada aos cenários de filme de terror e horror que presenciou nos últimos dias. Na verdade, sentia como se não tivesse controle sobre o próprio corpo naquele momento.

Estava caminhando pelo já conhecido corredor do hospital que levava para a área externa, o campo de visão que tinha indicava que era muito mais baixo, principalmente quando ficava na ponta dos pés para olhar para o lado de fora pela janela, vez ou outra. Aquele corpo, que sabia que não era seu, correu saltitante para a área externa indo na direção de um dos vários bancos de madeira espalhados pelo local. O corpo pequeno se sentou ali, e apenas naquele momento Hoseok conseguiu ver as pernas finas parcialmente cobertas por algo que parecia um vestido branco, e um coelho de pelúcia também apareceu em seu campo de visão.

Reila? – Ouviu uma voz masculina chamar, e então voltou os olhos para o dono dela. Hoseok não conhecia aquele homem, que vinha em sua direção com as duas mãos escondidas dentro do jaleco branco que usava, os cabelos pretos perfeitamente alinhados e com um belo sorriso amigável estampado em seu rosto. Apenas quando o homem se aproximou o suficiente para se abaixar na sua frente que seus olhos repousaram sobre o nome “Park” bordado em seu jaleco, e o Jung mais do que depressa assumiu se tratar de Park Seo Joon.

Por mais que o médico estivesse sorrindo para si, Hoseok não conseguia entender porque o corpo onde estava havia ficado tenso de repente, e então, quando este abaixou o rosto, percebeu que as pequenas mãos agora apertavam o coelho de pelúcia com muita força.

Por que saiu tão cedo do seu quarto? Ainda não é hora de brincar com o tio Seo Joon. – A voz do homem se fez novamente presente, e então voltou os olhos para o médico, encolhendo o corpo quando o mesmo tocou em seu rosto com uma das mãos grandes. – Não conseguiu esperar, foi?

Hoseok sentiu os dentes daquele corpo rangerem um contra o outro com aquele toque, com aquela voz, e em um movimento rápido levou ambas as mãos aos ouvidos, como se não quisesse ouvir a voz daquele homem. O Jung estava com medo, muito medo, tanto que o seu corpo tremia violentamente, principalmente quando Seo Joon desceu vagarosamente o toque pelos ombros daquele corpo pequeno.

O que está acontecendo?” pensou, e então de repente a realidade ao seu redor começou a mudar mais uma vez. A paisagem escurecendo até dar lugar a um ambiente escuro, o sorriso de Park Seo Joon aumentando a um nível no mínimo medonho enquanto eu corpo derretia-se, transformando-se em algo que se assemelhava à uma gosma marrom que subia pelo seu corpo pequeno, seguido por uma risada gutural que parecia ecoar dentro de sua cabeça.

Hoseok tentava se soltar daquilo, mas quando menos percebeu, o corpo estava quase que todo mergulhado naquele material no mínimo nojento, mal conseguindo se mover pela densidade daquilo.

Foi então que Jung Hoseok levantou a cabeça, os olhos encarando algo que parecia ser um teto espelhado. No entanto, não era o seu reflexo que aparecia preso ali. Os cabelos encaracolados em tom alaranjado e os olhos em tom violeta indicavam que, na verdade, estava no corpo de Reila.

Todavia não teve tempo para processar aquela informação, sentindo alguma coisa se agarrar aos seus tornozelos e puxá-lo violentamente para baixo, fazendo com que mergulhasse por completo dentro daquele material viscoso. Como não conseguia se mover, apenas foi puxado cada vez mais para o fundo, os olhos fechados, apertados, e a respiração presa enquanto esperava pelo o que viria a seguir.

E então, um suspiro de alívio que não durou muito tempo. Hoseok sentiu o corpo se desprender daquela gosma densa violentamente antes de começar a cair em queda livre com as costas para o vazio. Era tudo tão escuro que não conseguia enxergar absolutamente nada naquele momento. Porém, logo aquilo mudou quando o corpo se chocou de forma violenta contra uma superfície dura, fazendo-o puxar o ar com força para dentro dos pulmões enquanto prendia a respiração mais uma vez, uma dor lancinante tomando conta das suas costas. Até mesmo sentiu um gosto de ferro na boca, e ao levar os dedos à ela, percebeu estar sangrando.

Com dificuldade e cuidado, virou-se de lado e, com certo esforço, conseguiu se levantar apenas o suficiente para conseguir se sentar, erguendo as mãos na frente dos olhos, em seguida olhando para as próprias pernas. Havia voltado para o próprio corpo novamente, porém continuava preso naquele sonho.

E, ao olhar em volta, percebeu que estava mais uma vez dentro do quarto com as paredes pintadas com giz de cera. Porém, os desenhos que estavam ali eram diferentes do que estavam gravados quando sonhou com Namjoon. Haviam silhuetas, diversas silhuetas desenhadas ali, de homens, mulheres e crianças, bem como uma palavra que Jung Hoseok tinha certeza que não havia visto nos sonhos anteriores.

Encontre-me.

Aquilo fez o Jung franzir o cenho. Tinha total certeza de que não tinha visto aquilo nos sonhos anteriores, principalmente porque aquela palavra estava se repetindo diversas vezes em todas as quatro paredes e até mesmo no teto.

Porém, não teve muito tempo para pensar nisso mais uma vez, pois sua atenção foi tomada por um movimento estranho dentro daquele quarto. Hoseok arregalou os olhos quando percebeu que uma das silhuetas começou a se mover, uma silhueta feminina, e então uma mão de uma pessoa atravessou a parede, como se aquele desenho estivesse tomando forma no plano material. E tão de repente quanto, não demorou para que o mesmo tomasse forma, para total incredulidade de Jung Hoseok.

Aquela mulher era idêntica a Park Jimin. Obviamente estava em um corpo feminino, com longos cabelos escuros na altura da cintura, mas o rosto era o mesmo, os mesmos olhos gordinhos, os mesmos lábios volumosos.

Logo em seguida as demais silhuetas também foram tomando forma no plano material, todas com o rosto idêntico ao de Jimin, porém cada um com a sua particularidade e que os diferenciavam. Porém, foi quanto uma criança de repente pulou em seu colo com um enorme sorriso estampado nos lábios que Jung Hoseok ficou completamente incrédulo. O menino deveria ter algo em torno de seus nove ou dez anos, os cabelos pretos bagunçados, os olhos gordinhos felizes encarando um Hoseok atônito.

Tio Hoseok-ie!

Aquele era Chimchim. Hoseok conseguia reconhecer aquela face de Jimin de qualquer lugar.

Chimchim o abraçou com força com uma alegria mais exagerada que o normal, mas o Jung não conseguia fazer nada além de encarar incrédulo todas aquelas pessoas que assumiu serem as personalidades que habitavam a mente de Park Jimin. A mulher, que Hoseok imaginava ser Verônica, encarava-o com um ar de superioridade, mas em seguida apontou para um canto em específico daquele cômodo que o Jung ainda não havia reparado.

Havia um homem ali, sentado no canto onde duas paredes se encontravam, encolhido e abraçando os joelhos em posição fetal. Os tornozelos e os pulsos estavam acorrentados, e as correntes estavam presas à parede. Hoseok engoliu em seco, o coração palpitando disparado, e então tirou Chimchim de seu colo para se aproximar do rapaz em passos lentos. Porém, acabou se interrompendo quando Verônica se aproximou, abaixando-se e tocando nos cabelos daquele rapaz acorrentado. E então o seu corpo foi completamente sugado para dentro daquele rapaz.

Hoseok precisou esfregar os olhos com as duas mãos, aquilo parecia irreal demais para ser verdade. Viu quando as outras personalidades fizeram o mesmo que Verônica, um a um, sendo sugados para dentro do corpo daquele rapaz acorrentado. A último a se aproximar foi Chimchim que, antes de tocar em seu corpo, voltou-se para Hoseok uma última vez.

Ela não é uma pessoa ruim, tio Hoseok-ie. – Ele disse, e antes que o Jung pudesse dizer alguma coisa, o garoto foi sugado para dentro do corpo do rapaz acorrentado, que naquela altura já sabia se tratar do próprio Park Jimin.


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Notas finais do capítulo

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