Quarto de Azulejos escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 9
Conflitos internos


Notas iniciais do capítulo

Acabei de perceber que a fanfic está entrando na reta final e eu NÃO TO BEM kkkk'

Boa leitura.



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Jung Hoseok estava pensativo após o último sonho que teve onde estava no corpo de Reila, vendo as coisas pelos olhos da menina que o assombrava desde o dia em que começou a dormir no quarto de azulejos. Aquele havia sido um sonho ainda mais revelador que o das últimas noites, e, mesmo não sendo tão inteligente e mesmo demorando em raciocinar às vezes, conseguiu entender o que ela queria lhe dizer.

Ela estava pedindo ajuda, à sua maneira.

Reila foi uma paciente do hospital psiquiátrico há anos atrás e desapareceu misteriosamente, sendo dada como morta quando não conseguiram encontrar o seu corpo. Ela queria que Hoseok soubesse onde estava pisando, e compreendeu que, de alguma forma, queria que ele a encontrasse. Mas algumas coisas ainda não faziam sentido na mente confusa do Jung: O que Park Seo Joon, um dos médicos mais conceituados do país, tinha a ver com Sooyoung Reila; e porque Reila estava prendendo os seus colegas psiquiátricos.

— Hobi?

Foi tirado de seus pensamentos pela voz doce que não ouvia há alguns dias, apenas naquele momento percebendo que estava encarando um ponto qualquer há alguns minutos em silêncio, divagando sozinho. Voltou os olhos para frente em tempo o suficiente de ver Min Jee ajeitar os cabelos pretos com uma das mãos, colocando-o atrás da orelha enquanto o encarava preocupada.

— Ah... Desculpe meu bem. – Disse, sorrindo logo em seguida para a mulher. – Eu acabei pensando em outras coisas e me distraí... O que você estava dizendo?

— Estou preocupada com você, Hobi. – Ela disse, segurando as duas mãos de Hoseok em cima da mesa enquanto o encarava. – Eu nunca o vi com olheiras tão fundas desse jeito, e você parece tão cansado, como se não dormisse há dias.

De fato. Não era como se Hoseok não estivesse dormindo, mas não podia dizer que descansava plenamente quando era atormentado por aqueles sonhos terríveis e era assombrado pelo espírito macabro de uma criança. Os últimos dias desde a última visita de Min Jee foram realmente atarefados, e queria muito compartilhar tudo o que estava acontecendo consigo desde que se mudou para o quarto de azulejos, mas não podia. Afinal ela jamais entenderia e interpretaria aquilo como uma piora no seu quadro psicológico.

Com isso em mente, Jung Hoseok apenas sorriu mais abertamente para ela, levando uma das mãos ao rosto oval enquanto a encarava com carinho.

— Estou com um pouco de insônia nesses últimos dias e estou tendo algumas conversas noturnas com o Namjoon. – Mentiu, mordendo o interior da boca. Hoseok odiava mentiras, mas era necessário naquele momento.

Viu Min Jee suspirar pesadamente para si, os ombros pequenos caindo brevemente.

— Ele deixou de te provocar? Na última vez você tremia só em falar no nome dele. – Ela questionou, também sorrindo, mas com uma pontinha de desconfiança em sua fala que não passou despercebido pelo Jung.

— Eu sei, mas... Sabe, ele não é tão ruim assim. – Suspirou, desviando brevemente o olhar para a mesa conte ele costumava se sentar com Seokjin. – Ele parece gostar de mim, então acho que não preciso ter tanto medo assim.

— Então mudar de quarto te trouxe algo realmente positivo! – A voz de Min Jee saiu alegre e mais alta do que Hoseok esperava, o que o fez suspirar mais uma vez ao ver a animação da mulher a sua frente.

Se ela soubesse de pelo menos metade de tudo o que vinha acontecendo naqueles últimos dias, não ficaria tão animada assim. Porém, fez um esforço para parecer bem, balançando a cabeça positivamente para ela enquanto o sorriso continuava grande estampado em seu rosto.

Estranhamente, naquele momento as palavras de Namjoon se fizeram presentes em sua mente, o que fez o seu sorriso morrer aos poucos. “Cuidado para não confundir gratidão com amor, Jung Hoseok” lembrou, e então mordeu o interior da boca levemente. Não acreditava que estava duvidando dos sentimentos que nutria por Min Jee durante anos após uma conversa de alguns minutos com o homem que matou os próprios pais e que assumiu não amar o próprio namorado, e não fazia ideia do porque apenas naquele momento se lembrar daquelas palavras, todavia, agora estava pensativo mais uma vez.

Kwan Min Jee fora a única pessoa que foi verdadeira consigo em toda a sua vida. Quando pensou que estava sozinho, quando estava prestes a acabar com a própria vida, ela surgiu como um anjo sem asas, como um ser iluminado que apareceu no momento certo e o acolheu quando mais precisava para cuidar de si. Min Jee sempre foi o seu porto seguro, a única pessoa em quem confiava, e o relacionamento deles era uma consequência de tudo o que Jung Hoseok sentia.

Porém, naquele momento, pôs-se a pensar se o que realmente sentia por ela era, de fato, amor, ou um grande sentimento de gratidão por ela ter lhe estendido a mão em um momento de necessidade, ou um grande medo de perder a única pessoa que realmente se importava consigo. Nunca havia parado para pensar naquelas coisas.

Outra coisa que o estava incomodando era como estava se sentindo confortável ao lado de Namjoon depois dessa mesma conversa. Apesar de estarem ali por motivos completamente diferentes, jamais imaginou que poderiam ter tanto em comum. Ainda tinha seus receios quanto à personalidade duvidosa do Kim, mas já não eram tão fortes como antes.

E definitivamente começou a questionar os motivos que o levaram a matar os pais depois daquele dia. Namjoon era um homem inteligente, nitidamente intelectual e estava no meio do doutorado quando foi condenado por assassinato. Com certeza algo muito estranho aconteceu para que ele chegasse a esse extremo, e o questionaria sobre isso quando surgisse a oportunidade.

— Você está pensativo de novo, Hoseok. – Ouviu a voz de Min Jee, e então voltou os olhos para ela.

— Desculpe, eu... Só estou muito cansado. – Respondeu com muita sinceridade daquela vez, afinal, não era mentira. – Eu me sinto mal, você veio até aqui para me ver e eu te recebo assim...

— Não tem problema, Hobi. – Min Jee tocou em seu rosto delicadamente mais uma vez. – Eu só quero que você descanse e fique bem.

Hoseok piscou de forma demorada. Infelizmente não conseguiria fazer aquilo tão cedo.

[...]

Correu para o quarto de Namjoon assim que recebeu a notícia que ele havia sido solto, e abriu a porta com tanta força que o Kim o xingou muito alto, mas ignorou completamente aquilo. Afinal, precisava contar a ele sobre a minha parte do sonho e sobre o que havia acontecido enquanto estava preso na solitária do hospital.

Namjoon o ouviu com uma atenção até um pouco assustadora aos olhos do Jung, que se sentou ao seu lado na cama enquanto narrava e observava-o esticar os braços, alongando-se. Provavelmente estavam doloridos por conta da camisa de força que deveria estar usando desde aquele evento. Namjoon fazia diversas expressões na medida em que narrava, assimilando toda a informação que recebia.

Por fim, deixou um grave suspiro escapar de suas narinas.

— Quando você fala sobre essas coisas, a única coisa em que eu consigo pensar é que Park Seo Joon fez alguma coisa à Reila e acabou a matando. – Concluiu, de forma tão simples e rápida que Hoseok até mesmo deixou o queixo cair um pouco.

— Não fale como se isso fosse óbvio desde o princípio! E eu duvido que o doutor Park seja capaz de fazer algo desse nível... – Hoseok observou Namjoon deitar na própria cama, resmungando brevemente.

— Você acredita muito na bondade das pessoas, Jung Hoseok. Precisa ter um pouco mais de malícia. – Namjoon piscou um dos olhos. – Eu não duvidaria que Seo Joon pudesse ter feito algo contra ela. Talvez abusado dela sexualmente e acabando por mata-la enquanto isso, escondendo seu corpo depois para não ser incriminado. O que mais vemos no mundo são notícias de médicos que abusam de seus pacientes, Seo Joon seria apenas mais um que saiu ileso.

Por mais absurda que poderia parecer, a teoria de Namjoon fazia sentido. E então Hoseok pôs-se a pensar sobre o sonho mais uma vez. Porém, antes que pudesse chegar em alguma conclusão, o Kim voltou a falar:

— Por que mais ela te mostraria o Seo Joon pelos próprios olhos se não para dizer que ele tem culpa no cartório? – Namjoon voltou os olhos pretos para si, sérios dessa vez. – É uma lógica simples, assim como um mais um são dois.

— Eu já entendi Namjoon, não precisa esfregar a minha burrice na minha cara. – Hoseok respondeu ríspido e o Kim ergueu uma das sobrancelhas.

— Eu não disse que você é burro. – Levantou, sentando-se ao lado do Jung agora. – Você só... Tem o raciocínio muito lento.

— Obrigado? – Hoseok piscou várias vezes, o que acabou fazendo Namjoon rir por breves momentos. – Foi ver como o Jin está?

— Assim que saí da solitária. Ele parece bem melhor. – O Kim suspirou, olhando para a porta agora. – Eu só quero que ele volte ao normal quando tudo isso terminar. Eu não saberia o que fazer se ele continuasse desse jeito.

— Acha que poderíamos fazer alguma coisa antes disso? – Perguntou, atraindo os olhos escuros dele para si novamente. – Chimchim faz contato direto com Reila o tempo inteiro. Talvez se falarmos com ele, ele possa nos ajudar.

— Ah... Esqueci-me desse pirralho maldito. - Namjoon rolou os olhos mais uma vez, trincando os dentes.

— O que você tem contra crianças? Chimchim me pareceu disposto a ajudar. – Hoseok insistiu, curioso quando Namjoon desviou o olhar para um ponto qualquer do quarto apenas para não fita-lo diretamente.

— Eu odeio crianças. Elas são criaturas repugnantes e repulsivas, e isso é tudo o que você precisa saber por hora. – Respondeu simplista, quase com um rosnado raivoso.

Porém, ao contrário do que normalmente faria naquele momento – que seria tremer com o tom de voz do outro – Hoseok começou a rir alto, voltando a atrair os olhos de Namjoon para si, que balançou a cabeça negativamente.

— Eu cansei de te entender. Uma hora está com medo de mim, e na outra, isso. – Comentou, o que apenas fez o Jung rir mais. Continuou quando o mesmo se acalmou. – Teve notícias de Jungkook?

— Fui vê-lo hoje pela tarde. Aparentemente está bem, mas não tive a oportunidade de conversar com ele já que Taehyung estava fazendo o papel de segurança pessoal. – Suspirou, olhando para a porta do quarto do Kim. – Você... Não vai me contar como que foi a sua parte do sonho?

Os dois rapazes agora olhavam para frente em silêncio, o clima entre os dois ficando pesado de repente. Hoseok não gostava daquela sensação, mas precisava saber o que Namjoon tinha visto e como isso se relacionava com a tentativa de suicídio de Jungkook. E, acima de tudo, precisava entender como que o sonho de Namjoon se relacionava com o que Reila estava tentando dizer.

— Eu estava dentro de um lugar muito apertado e escuro. – Ele começou, e então Hoseok voltou os olhos para ele. – Mal conseguia me mexer e respirar era difícil, sem contar o calor, era muito abafado. Parecia que estava preso entre duas paredes de drywall. – Namjoon fez uma breve pausa, tentando se lembrar de cada detalhe daquele sonho. – Fui movendo os braços para tentar me soltar e aos poucos a parede na minha frente começou a rachar. Fiz mais força até conseguir quebra-la e abrir espaço suficiente para que o meu punho passasse, e repeti até conseguir sair dali.

Quando estava com espaço o suficiente, lancei o meu corpo para fora daquele lugar e quando olhei em volta, estava dentro de um cômodo sem janelas, com as paredes gravadas com vários desenhos em giz de cera colorido. A iluminação era um pouco ruim, mas eu consegui ver perfeitamente o buraco que havia feito naquela parede se reconstruir sozinho, como se tivesse vida própria. Não sabia onde estava, então fui me aproximando das paredes para analisar os desenhos.

Havia uma porta desenhada com giz de cera branco no chão, algumas frases e palavras tão borradas que eu não conseguia entender, bem como uma figura humanoide alta, com chifres na cabeça. Era uma silhueta preta, mas seus olhos estavam desenhados com giz de cera branco e por breves momentos tive a impressão de estar sendo seguido por eles na medida em que andava naquele quarto.

Foi então que diante de meus olhos, em uma das paredes que me aproximei, palavras começaram a serem escritas com giz de cera branco, materializando-se ali de forma macabra. ‘Os segredos sombrios do bosque ficam escondidos de meia-noite as três’, era o que estava escrito. Não entendi o que aquilo queria dizer, e também não tive tempo para pensar nisso. Pois, no mesmo momento, minha atenção foi tomada por uma risada masculina gutural que parecia ecoar dentro da minha cabeça.

Olhei em volta, não havia ninguém ali. Em um primeiro momento pensei que fosse você tentando se comunicar comigo de alguma forma, já que tínhamos dormido juntos. E então eu comecei a te chamar, mas você não me atendia.

Foi então que ele surgiu de uma das paredes, Jeon Jungkook, atravessando a parede onde aquelas palavras sem sentido apareceram. Ele não estava na cadeira de rodas e caminhava tranquilamente na minha direção com a cabeça abaixada.

De repente eu não conseguia mais falar. Abria a boca, mas nenhum som saía, e então comecei a dar alguns passos para trás na medida em que Jungkook se aproximava e erguia o rosto para mim, lágrimas de sangue escorrendo pelos seus olhos e rosto.

Quando senti a superfície da parede em minhas costas, Jungkook correu e avançou na minha direção, colocando os braços um de cada lado do meu rosto para me encurralar. Meu corpo de enrijeceu completamente, de repente eu não conseguia mais me mover e a respiração descompassada dele se chocava contra o meu rosto de tão perto que ele estava. Eu não conseguia desviar os olhos, e apenas acompanhei quando ele me deu um selinho, e desceu para o meu queixo e pescoço, demorando-se ali. Eu tentei afastá-lo, mas meu corpo não me obedecia.

De repente senti uma dor muito forte na região do meu estômago, e um sorriso macabro de formou nos lábios de Jungkook. Ele me deu uma forte joelhada que me fez perder completamente o fôlego, e então eu caí ajoelhado, apoiando as duas mãos no chão.

Foi naquele momento que correntes surgiram do chão, prendendo-me pelos pulsos e pelos tornozelos para me manterem presos ali. Ergui a cabeça para Jungkook, que segurou meu rosto com as duas mãos, as lágrimas de sangue ainda escorrendo dos seus olhos.

— Não resista. – Ele disse, acariciando o meu rosto, e então se afastou, o corpo tomando uma coloração cinzenta e aos poucos, começou a se desintegrar diante de meus olhos.

— Depois disso eu fiquei puxando os meus braços tentando me soltar das correntes, até que a porta que estava desenhada no chão se materializou, e você surgiu dali.

Jung Hoseok estava completamente arrepiado, lembrando-se perfeitamente das imagens do sonho onde os dois quase morreram afogados naquele quarto todo desenhado. Engoliu em seco enquanto ainda encarava um Namjoon pensativo, que não demorou muito para voltar os olhos frios para si.

— Hoseok... Onde você acordou no seu sonho, mesmo? – Ele perguntou, e o Jung prontamente respondeu.

— No telhado, do lugar onde Jungkook se... – Hoseok interrompeu a si mesmo quando finalmente entendeu o raciocínio de Namjoon. – Não pode ser...

Os dois rapazes se levantaram quase que no mesmo instante, e, como se estivessem lendo os pensamentos um do outro, disseram em uníssono:

— Vamos para o telhado.


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Notas finais do capítulo

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