Amor e acaso escrita por Madame Pontmercy


Capítulo 8
Apreensões


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei!
Eu tive alguns problemas nos últimos meses e não tive cabeça para escrever, no entanto, agora está tudo bem e voltarei a postar os capítulos com mais frequência
Revi os capítulos, ajustei coisas há algumas semanas, mas acho que apenas os dois últimos que precisa reler
Então chega de pago e vamos à leitura :D



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Na residência dos Parker James Stringer foi recebido como de costume, isto é, guiado por um empregado que fazia pouco caso dele para a sala de visitas sem previsão de quando Mr. Parker iria recebê-lo, dessa vez rogava para que não demorasse haja vista o compromisso que tinha assumido de entregar no dia seguinte a planta modificada para os Fitzwilliam. E então lembrou de Georgiana Darcy, a moça tímida que o encantou, por mais que tentasse afugentar o pensamento não conseguia tirar de sua mente os cabelos dourados, a tez rosada, o corpo bem formado e os olhos azuis que pareciam safiras capazes de adentrar seu âmago. Ela não é para o meu tipo, pensou James recordando do aviso da empregada intrometida, porém concluiu que não havia perigo em ajudá-la.

— Com licença, poderia chamar Miss Heywood? – indagou para o empregado que apenas saiu do local sem nem sequer dar um aceno.

Alguns minutos depois entrou Charlotte com o rosto amável de sempre, cuja beleza já não deslumbrava o rapaz, a falta de interesse romântico por parte da jovem foi responsável ruir a paixonite que ele sentiu quando ela lhe deu atenção pela primeira vez, fazendo-o ri mentalmente de sua própria carência e torceu para que o mesmo acontecesse com a atração por Georgiana.

— Olá, Mr. Stringer, estou surpresa pela sua visita, há pouco estava fugindo de mim – disse Charlotte com ar divertido.

— Volto a dizer que não é nada contra a senhorita, apenas precisava de um tempo sozinho para processar os recentes acontecimentos – respondeu pacientemente – Estou aqui em nome de Miss Darcy para entregar uma carta.

O rosto de Charlotte ficou sério diante da menção de uma carta de Georgiana, ela estava se sentindo aquelas pobres pessoas que integravam o circo das aberrações, alguém que estava exposto para quem tem condições de pagar, em seu caso era o entretenimento de uma herdeira entediada com as fofocas da alta sociedade.

— Lamento que esteja nessa posição, mas não tenho interesse nesta carta, se puder, devolva à remetente – informou Charlotte sem esboçar emoção.

Miss Heywood, leia a carta para compreender a situação de Miss Darcy, ela não quis envergonhá-la ou subjugá-la.

— Sabe o que aconteceu? – gaguejou a moça.

— Não exatamente, apenas encontrei-a chorando na praia e Miss Darcy me disse que houve desentendimento por causa de uma indiscrição dela. Ela também me contou as razões que a trouxeram aqui e acho que devia ao menos conhecê-las para se afastar dela – explicou James enquanto Charlotte encarava o chão.

— Eu não quero reviver tudo que ela descobriu – justificou cabisbaixa.

— Acredito que Miss Darcy tratou o assunto com a merecida delicadeza e também expôs sua intimidade para se justificar suas atitudes – disse James colocando a carta nas mãos de Charlotte.

— Eu lerei – declarou após um longo suspiro – Há algo para resolver com Mr. Parker? – perguntou ao ver o rapaz voltar a se sentar sorridente.

James explicou que Georgiana havia sugerido seu trabalhos para seus primos e os Fitzwilliam gostaram tanto de seu trabalho que pretendem contratar seu serviço para desenhar a planta de sua nova moradia, provavelmente ali em Sanditon, então queria avisar Mr. Parker para não parecer desleal. Charlotte ficou muito alegre com a conquista do amigo, finalmente estava recebendo o reconhecimento que merecia, além de garantir renda ante às incertezas do destino dos empreendimentos de Tom Parker. Todavia, ele não conseguiu dar a notícia sobre o novo emprego como tutor de Georgiana devido à chegada do anfitrião.

Enquanto James comunicava a novidade a Mr. Parker que a recebeu positivamente, Charlotte seguiu para seu quarto segurando a carta como se fosse a caixa de Pandora que liberaria todos os males por conta de sua curiosidade. Sentou-se em frente a sua escrivaninha sem coragem de abrir o envelope, desistiu, andou de um lado para outro, após fazer esse ciclo algumas vezes finalmente abriu o envelope.

Ao finalizar a carta, Charlotte sentiu o peso da melancolia e do medo da solidão que Georgiana sentia, percebeu que ela não era fútil ou cruel, apenas estava perdida e se agarrou a primeira coisa que pudesse a salvar daquela situação que o acaso determinou que fosse sua carta extraviada. Também estava espantada com o relato de Miss Darcy acerca da fuga com um homem traiçoeiro que a fez tola, só um boato sobre isso e o nome dela já sofreria, ficou impressionada pela confiança não somente de sua intimidade, mas de sua reputação. A indignação pela atitude de George Wickham, pela impunidade da sua falta de caráter e pela obrigação de Georgiana ter que vê-lo distraiu Charlotte da revolta por ter sua carta lida por uma estranha, na verdade, nesse momento Georgiana não lhe parecia uma desconhecida.

A alguns metros dali, Georgiana estava se vestindo para o jantar com o auxílio de Rose e estava intrigada pelo fato dela ter frequentado um internato para moças, ou seja, ela tinha instrução e ainda assim não trabalhava como preceptora ou, quem sabe, governanta.

— Gostou do livro, Rose? – perguntou dissimuladamente sem interesse.

— Sim, senhorita.

— Nunca conheci uma criada com esse tipo de interesse.

— Geralmente estamos ocupadas demais para livros de estudo e nas folgas preferimos nos divertir com romance de folhetim que estiver disponível no jornal – explicou Rose sem animação.

— Aparentemente nem todas preferem romances – retrucou Georgiana.

— Sim, senhorita. Precisa de mais alguma coisa?

— Não, obrigada.

Rose saiu do quarto deixando Georgiana com sua curiosidade, a qual foi rapidamente substituída pela angústia da incerteza de que Charlotte teria lido a carta e, principalmente, se ela a perdoaria. Após respirar fundo na tentativa de superar a ansiedade, a moça seguiu para o sala de estar da residência e se distraiu com as expectativas sobre os relatos dos familiares sobre a tarde em Sanditon House, eles chegaram tão tarde que somente conseguiu saber que Elizabeth estava bem e logo todos seguiam para seus quartos se aprontarem para o jantar.

— Como está, Lizzie? – indagou Miss Darcy ao se deparar com a cunhada franzindo o cenho ao ler uma missiva.

— Estou tão bem assim como estava há pouco tempo quando me fez a mesma pergunta – respondeu lançando um olhar de reprovação gentil.

— Sempre é bom saber. As notícias não são boas?

— Receio que não, Will irá se atrasar mais dois dias por conta da insistência de Lady Blackwood em acompanhá-lo, para nossa tristeza ela e o filho são conhecidos de Lord Babington e virão para o casamento.

— Não acredito que ela conseguiu convencer meu irmão, como é possível ser tão descarada? – desabafou Georgiana – Lady Blackwood não me deixará em paz!

A amizade entre as famílias Darcy e Blackwood se fortaleceu na infância dos antigos patriarcas, enquanto ambos estavam vivos a convivência era tão frequente como se fossem irmãos, no entanto, após a morte de Lord Blackwood há quarto anos não sobrou muito em comum entre os membros remanescentes. O jovem John Blackwood com seus recém completados 21 anos era mais próximo de Georgiana do que Fitzwilliam, eles brincaram juntos na infância e o rapaz jamais teve a oportunidade de se aproximar de Sr. Darcy após deixar a puberdade, ao passo que sua mãe não tinha qualquer intimidade com qualquer um da família Darcy, nem mesmo com Lady Anne. Georgiana não teria qualquer objeção a eles se não fosse a insistência de Lady Blackwood em visitá-los sempre que podia, mesmo que ninguém nunca tenha a convidado, e praticamente jogar o filho em cima de Miss Darcy de forma explícita e inconveniente.

— Seria mais fácil se casasse com Lord Blackwood, não veríamos mais a vergonha dos esforços de sua mãe – brincou Elizabeth com Georgiana que retribui com uma careta.

— Os Blackwood novamente? – resmungou Eloise ao adentrar o salão de braços dados com o marido.

— Infelizmente, Lady Blackwood conseguiu atrasar a vinda de Will em dois dias com sua insistência em acompanhá-lo, ao menos dessa vez ela tem uma boa desculpa, o casamento de Lord Babington – informou Mrs. Darcy.

— Pobre Georgiana – comentou coronel Fitzwilliam lançando um olhar de piedade à moça amuada.

— Na verdade, pobre de todos nós que iremos nos constranger com a falta de bom senso de Lady Blackwood, tenho que concordar com Elizabeth, Georgiana, você precisa se casar para nos salvar das garras dela – brincou Eloise recebendo outra careta de Miss Darcy.

— Eu gosto de Lord Blackwood, é um rapaz bem afeiçoado, cortês, vivaz e herdou o bom senso do pai, não seria uma má escolha, Georgiana – falou Edward sem o ar de troça das sugestões anteriores.

— Não me venha com isso, primo, já me basta Lady Blackwood me sufocar com suas tentativas casamenteiras, ele é um rapaz adorável, mas não o vejo como nada além de um amigo – explicou cansada do assunto.

— Mas deve se preparar para estar companhia dele até o casamento de Lord Babington, inclusive no próprio evento – alertou Eloise ainda achando graça.

— Fomos convidados?

Lady Denham nos convidou durante o chá da tarde sem nem fazer qualquer cerimônia do convite ser feito cinco dias antes do casamento – explicou Elizabeth.

— Ela pode usar a companhia de Miss Heywood como escudo para fugir de Lady Blackwood – sugeriu coronel Fitzwilliam e Georgiana se esforçou para manter a expressão intacta ante a menção de Charlotte.

— Excelente ideia, querido – sorriu para o marido – apesar de tudo, finalmente teremos um evento social para nos distrair.

O jantar se resumiu a conversar sobre as impressões sobre Sanditon House, por mais divertido que fosse, Georgiana teve que se esforçar para participar da conversa, a notícia da vinda de Lady Blackwood a desanimou quando seu estado de espírito já não estava na melhor forma por conta da apreensão pela resposta de Charlotte.

Na casa dos Parker, Miss Heywood também se esforçava para se manter sua participação na conversa, como se não bastasse as diversas menções a Sidney Parker que ecoavam doloridamente em seu coração, estava refletindo sobre tudo que foi dito na carta de Miss Heywood.

— Perdão, estou muito dispersa hoje – desculpou-se por não ter ouvido nada que Mr. Parker havia dito.

— Tudo bem, estava apenas mencionando a possibilidade do novo empreendimento dos Fitzwilliam por conta de sua influência.

— Eu não fiz coisa alguma. Certamente isso atrairá mais investidores – respondeu desejando ardentemente que fosse o suficiente para Sidney não se casasse com a viúva rica.

— De fato, Miss Heywood. De qualquer forma, devo agradecer a sugestão que fez à Miss Darcy sobre o trabalho de James Stringer, infelizmente não pude contratar seu trabalho, mas reconheço sua qualidade e o jovem é muito digno, poucos se importariam em informar a notícia.

— Eu mal conheço o rapaz, mas devíamos convidá-lo mais vezes, não me importa que tenha origem humilde, ele tem talento e caráter – comentou Mrs. Parker enquanto corrigia com gentileza a postura do filho mais novo – Além de que devíamos tentar amenizar a dor da perda de seu pai, estivemos tão arrebatados com as nossas consequências do incêndio que não prestamos atenção no Young Stringer.

— Ele me parece muito melhor, Mrs. Parker, agora com a oportunidade de trabalhar com algo que gosta, logo estará bem – explicou Charlotte para aliviar a consciência de sua anfitriã.

— Realmente. Young Stringer tem boa perspectiva de futuro, acredito que seja autodidata não apenas em arquitetura, mas também nas maneiras cavalheirescas, razão pela qual consegui daqueles contatos em Londres para que trabalhasse com sua potencialidade - comentou Mr. Parker sentindo que não devia nada ao jovem.

—  A vaga de tutor para Miss Darcy, não imaginaria que uma moça tenha tanto interesse em desenho – disse Mrs. Parker.

— Ela tem muito apreço por essa arte – complementou Charlotte sem demonstrar surpresa pela notícia e sem entender motivo pelo qual Mr. Stringer não comentou com ela, recordando que foram interrompidos pela chegada de Mr. Parker.

— Fico muito feliz por sua amizade com Miss Darcy, ela é uma moça adorável e me parece uma excelente companhia, irá visitá-la amanhã? – indagou Mary, imediatamente assentiu porque não queria justificar de seus receios em vê-la.

Mais tarde deitada em sua cama, Charlotte concluiu que realmente deveria visitá-la, não era tipo de pessoa de guardar mágoa, nem tinha dificuldade de pedir perdão quando se dava conta que estava errada, então restava conversar com Georgiana e tentar reatar a amizade. Também compreendeu que agora eram confidentes, Miss Darcy conhecia seus sentimentos mais profundos e ela conhecia seus medos e seus erros, tudo estava claro entre elas, não havia mais segredos.


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Notas finais do capítulo

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