Durante o café-da-manhã, Hikari estava completamente longe de tudo. Sua mãe e irmã notam um comportamento deprimido nela desde muito tempo, mas não entendem exatamente o que se passa com a menina.

“Ela respondeu com uma voz bem estranha quando eu fui chamá-la hoje — Comentou a irmã bem baixinho para a mãe.

“Você acha que ela voltou a se sentir sozinha de novo na escola, Mirai?”

“Eu acredito que sim...”

Hikari quase sempre conseguia ouvir os cochichos delas, mas não se importava. Na verdade, ela sentia alívio em saber que pensavam que solidão era o problema, por algum motivo.

“Estou indo!” — Gritou Mirai antes de sair pro trabalho e dar um beijo na testa de Hikari.

“Tchau.” — Saiu da boca de Hikari bem baixinho.

Um silêncio incomodante incorporou o ambiente. Visando a não preocupar mais a mãe, Hikari termina de comer e se levanta para sair.

“Já vou mãe. Acho que vai ser legal na escola hoje” — Falou Hikari tentando parecer animada.

Após ver a expressão no rosto de sua mãe melhorar um pouco, Hikari se dirige à porta e sai para ir estudar. Sua escola não fica longe de casa, mas mesmo assim chega frequentemente atrasada para as aulas, até porque, seu interesse é quase nulo; ambiente escolar lhe traz tristeza. Já é seu último ano lá e apesar de tudo, não sabe o que pensar disso, já que sem o tempo de escola, significaria mais tempo vago para sua mente lhe atormentar. Entretanto, Hikari acredita merecer isso, e que tudo não passa de uma punição.

Quando chegou na sala de aula, Hikari imediatamente se jogou em sua carteira, que fica no canto, bem ao lado de uma janela.

“Acho que nem enquanto durmo me livro desses sentimentos” — Murmurou baixinho enquanto colocava os braços sobre a cabeça em que estava abaixada e se lembrava do pesadelo que teve.

“Deu de conversar com a mesa agora, Hikari?” — disse uma voz um pouco infantil

Hikari levanta a cabeça, olha pro lado e encontra o rosto de uma garota baixinha lhe fitando intensamente. Se tratava de sua amiga Mina, uma caloura do primeiro ano que tem muita curiosidade nela.

“Não devia estar na sua sala, Mina?”

Mina cruza os braços e olha para o teto com um aspecto pensativo, em seguida conclui:

“Sim, sim. Baseado nessa reação, com certeza se trata da Hikari que eu conheço” —

Expressou feliz.

“Engraçadinha como sempre, hein? Porque não seria eu? — Respondeu Hikari.

“Você estava aí com a cara enfiada na mesa, oras! Podia ser qualquer um” — Retrucou Mina com os ombros levantados expressando obviedade.

“Eu tive um sonho horrível hoje, por isso não dormi direito”

“De novo?”

“Eu já te disse isso antes?”

“Sim, umas duas vezes”

Hikari abre levemente a boca levemente a boca expressando surpresa e permanece em silêncio, um pouco incrédula.

“Olha Hikari, esses pesadelos seus não são uma desculpa para esconder alguma coisa?” — Perguntou Mina um pouco preocupada.

Mina acha que Hikari sofre bullying. Ela já presenciou três garotos do terceiro ano tentando atormentá-la, mas a verdade é que Hikari não dá a mínima para eles. Entretanto, assim como com sua família, ela prefere que Mina acredite que esse seja o caso.

“Acha que aqueles três babacas aprontaram comigo, não é?” — Respondeu Hikari torcendo para receber uma resposta positiva.

Mina imediatamente começa a socar o ar com alta frequência e exclama com grande determinação:

“Eu já te disse, a solução é dar umas boas porradas nesses manés! Uns de esquerda e outros de direita!”

Devido a sua baixa estatura, a comparação com Scooby-Loo é inevitável, o que fez Hikari dar uma pequena risada por dentro. Ela coloca a mão sobre a cabeça de Mina e a olha com ternura:

“Tá tudo bem, eu já comuniquei a coordenação. Agora vai pra tua sala, cê tem que estudar.”

“Eu sei, eu sei! Sou muito responsável, por isso chego na hora certinha, nem um minuto a mais, nem a menos! — Respondeu Mina com vigor, apesar de já estar 2 minutos atrasada.

Após olhar a figura de Mina virar o corredor, Hikari olha para a janela, se concentrando na árvore do lado de fora, acompanhada de um céu nublado ao fundo. Quando a água começa a cair deste, a única coisa que Hikari pôde fazer para acalmar o forte batimento de seu coração foi dar um forte suspiro...