Pequenas Mentiras escrita por unalternagi


Capítulo 8
Oitava coisa: eu não fui o tolo aqui


Notas iniciais do capítulo

Oi!

Desculpa, eu atrasei a postagem, mas não desistam de mim, estamos na super reta final. Espero que gostem do que está vindo e por vir

Boa leitura!



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Oitava coisa: eu não fui o tolo aqui

Jasper chegou na estação de ônibus da pequena cidade que o agente Swan o indicou também, como tinha sido instruído, encontrou o telefone público no lugar que Emmett tinha garantido que estaria, e ligou para o agente, sentando em um dos bancos impaciente aguardando a chegada dele.

Estava ansioso para o que encontraria ali naquela cidade. Já havia entendido que havia muito de sua história que Alice não o tinha contado, mas tentando ser racional, lembrou-se do livro de psicologia e tudo o que tinha pesquisado no seu celular a caminho de Washington.

Às vezes, por ser mais de uma personalidade, ela poderia sequer saber das coisas. Uma personalidade não conhecia a vida da outra e aquilo assustava Jasper mais do que qualquer coisa, sua noiva poderia não se lembrar dele se ainda fosse a menina de oito anos que o haviam atentado que ela era. Suspirou tentando afastar aquela imagem de sua cabeça e pegou outro casaco em sua mala. O agente não brincou quando disse que a cidade era úmida e fria.

Um carro preto encostou perto dele, a estação já estava vazia então não foi difícil para se enxergarem. O agente Swan abaixou o vidro com um sorriso amigável lançado a Jasper, muito diferente da primeira vez que se viram.

—Entra aí – o homem disse.

Jasper arrastou sua pequena mala até o carro e colocou no banco de trás mesmo, sentou no banco dianteiro ao lado do motorista e afivelou seu cinto antes de se virar para o agente.

—O que caralhos está acontecendo? – pediu já estressado com tanto mistério.

—Vou fazer um resumo para você, assim não vai chegar completamente cego, mas acho melhor você ser forte porque a história não é simples – o agente avisou.

—Quem é Mary? – Jasper perguntou tolamente, ele já tinha entendido aquela parte, mas precisava da certeza.

O agente não se dignou a responder a indagação dele.

Contou a história completa, desde quando encontrou Ava/Marie fora de classe em uma parte bem escondida da cidade, então quando encontraram Rosalie, como depois de tantos anos Ava/Marie foi atrás dele para contar sobre o desaparecimento de Alice e como ela tinha certeza plena que aquela era a mesma menina que foi mantida em cativeiro com ela até completar oito anos.

—O que? – Jasper perguntou preocupado.

—Calma, tem mais.

Emmett então contou sobre as investigações, como o homem que as manteve presas era perigoso. Contou que ele nunca abusou sexualmente de Marie ou Mary – quem ele descobriu, realmente, ser Alice – e então, a cereja do bolo, Alice se entregando à sua primeira personalidade quando encontrou sua mãe biológica.

—Eu vou vomitar – o surfista falou perturbado.

O agente Swan suspirou, ele mesmo se sentia doente sempre que pensava e tentava entender aquela história, mas então atentou Jasper a grande questão deles todos lá.

—James, o meio-irmão delas, foi o autor do sequestro de Alice no Havaí – o agente contou – Pegue o tablet que está aí no porta-luvas.

Jasper seguiu o passo a passo do que fazer até encontrar fotos que tiraram de James na delegacia. Jasper sentiu um calafrio passar em sua espinha.

—Ele foi o garçom que me levou a última garrafa de vinho no restaurante, eu lembro – falou simplesmente e Emmett assentiu.

Não era surpresa, mas era bom saber que Jasper sabia daquilo.

—É bom que o reconheça. O grande problema é, Mary tem oito anos, ela só chora e pede por Marie e Rosalie, as duas não conseguem a fazer falar, mas Alice... Ela foi sequestrada, ela sabe o que fazer, sabe como se defender, precisamos trazê-la de volta para prestar as queixas contra James, senão o chefe de polícia não terá o porquê o mantê-lo detido – o agente avisou e Jasper bateu a cabeça contra o encosto do banco.

—Como isso é possível? Eu posso o denunciar – Jasper tentou argumentar.

—Mesmo? E por quê? Por te servir vinho? – Emmett ironizou – James não é um pé rapado qualquer, a família dele tem dinheiro, Jasper, o avô é um senador da Califórnia e certamente não poupará esforços para abafar toda a história como fez da primeira vez – Jasper reparou o maxilar travado do agente.

Ficou pensando em tudo aquilo, deixando assentar na mente dele enquanto o agente manobrava no estacionamento do hospital. Os dois saíram sentindo as gotas finais da garoa molhar aos poucos seus ombros e cabeças.

—E se ela não me reconhecer? – Jasper pediu, parando seu andar instantaneamente.

—Vamos chegar lá e ver o que a doutora dela pensou – Emmett pediu e Jasper assentiu, o seguindo para dentro do local.

Reparou que o hospital era pequeno, mas parecia bem ocupado, viu alguns homens fardados ao redor e a verdade o atingiu.

Ele está aqui, não é? – Jasper perguntou com o maxilar travado.

Não doeria conversar com o homem que estuprou uma menor de idade e a engravidou, gerando Alice.

—O chefe de polícia da cidade é o meu pai – o agente contou, Jasper ficou surpreso com a informação – Eu garanto a você que Royce sequer tem condições de fazer algo contra elas, mas ele vai estar bem recuperado quando formos à júri fazê-lo pagar por toda essa merda.

Ali, o surfista reparou que toda a história era pessoal para Emmett, tanto quanto era para ele mesmo. Gostou de saber daquilo, sentia que poderia confiar naquele agente, Emmett realmente faria tudo ser feito corretamente.

Os dois se aproximaram de um consultório e Jasper estranhou, pensou que iriam ver Alice, mas Emmett não disse nada. Deu duas batidas na porta esperando o convite para entrar, quando escutou abriu a porta acenando para Jasper entrar antes.

O consultório era amplo, exatamente como outros consultórios de psicólogos que Jasper tinha estado antes, tentou não ser rude e ficar encarando ao redor, só queria entender o que fazia naquele local que, claramente, Alice não estava.

—Boa tarde, imagino que você seja Jasper – a mulher elegante falou com o braço esticado.

O surfista esticou o braço cumprimentando a mulher cordial.

—Jasper Whitlock, senhora – se apresentou.

—Sou a Doutora Siobhan Doherty, mas pode me chamar de Siobhan – ela disse gentilmente – Eu sou a médica de Alice, psiquiatra, para ser mais exata.

Jasper assentiu bem mais interessado na mulher agora. Como o homem não fez menção de dizer mais nada, ela se adiantou em explicar-se.

Para Jasper, era ainda estranho falar com outras pessoas abertamente, as últimas semanas tinham sido um tratamento de choque e sua personalidade extrovertida se introverteu rapidamente, ele ainda não tinha certeza como fazer o caminho inverso, de novo.

—Muito bem, pelo que o agente Swan me disse, você não parece completamente ciente das condições de Mary – ela falou devagar, ele balançou a cabeça – Ela tem Transtorno Dissociativo de Identidade. Bem agora, ela é uma garota de oito anos com muito medo do homem mal, que ama muito a mãe dela, mas tem toda a sua confiança ancorada em seus dois irmãos – ela contou.

Jasper assentiu. Ava/Marie e o sequestrador.

—Queremos trazer Alice, porque é quem ela é hoje, é a essência dela. Mary é apenas uma personalidade presa ao passado. Não vai ser um tratamento fácil, senhor Whitlock, tenho que avisá-lo isso de antemão e, mais do que isso, vai ser dolorido, para todos que estão ao redor dela – a mulher avisou.

Jasper estava ciente daquilo, imaginava que nada seria muito fácil desde quando entendeu da condição de sua noiva, mas não estava disposto a sair do lado dela, mesmo que doesse nele, mesmo que sua verdadeira vontade fosse tomar todo o sofrimento que ela já teve na vida e transformar em dores dele.

—Estou ciente disso, doutora – ele falou sério – Em que posso ajudar? – perguntou.

—Vamos fazer um teste simples – ela sorriu, confiante – Apenas entrar no quarto dela, ver se ela te reconhecerá. Se não acontecer, preciso que comece a falar com ela, mas não como se fosse Alice, aceite que ela é Mary, que não o conhece e que morre de medo de pessoas desconhecidas. Conte a ela sobre sua amiga Alice, como vocês se conheceram, sobre os pais dela, qualquer coisa que pense que foi marcante para ela pode ser de grande ajuda. Apesar de termos muitos fatores do passado aqui e de você ter que “lutar” contra ele sozinho e num ambiente que também é do passado, gostaria muito de tentar trazê-la – a doutora disse.

—Bem, os pais dela, – ele começou a falar, mas se interrompeu ao lembrar da história que tinha acabado de aprender sobre a noiva – quero dizer, os adotivos – aquela afirmação pareceu estranha para ele, mas continuou de qualquer forma –, eles me ligaram hoje mais cedo, disseram que também estão vindo.

—Isso é bom – a doutora disse – Muito bom.

Conversaram por mais um tempo, ela resolveu apresentar alguns possíveis casos do que poderia acontecer, Alice poderia não responder ao estímulo e a doutora quis deixar aquilo bem claro.

—Acho que estamos prontos para o teste – ela disse quando pensou ter coberto todos os pontos importantes que poderiam acontecer e Jasper assentiu devagar.

Apesar da ansiedade para rever o grande amor de sua vida, ainda doía a possibilidade de não ser reconhecido.

Emmett se despediu dos dois quando Siobhan o avisou que eles iriam para o quarto de Alice, o agente os disse que tinha algumas coisas para resolver na delegacia e que logo voltava com Rosalie para o hospital.

Rosalie, a mãe de Mary.

Jasper teria que se esforçar para começar a aceitar as coisas que tinha aprendido. No final de tudo, Alice não tinha a vida de comercial de margarina que eles sempre pensaram.

No corredor do quarto Jasper sentiu seu coração acelerar, sentia-se muito ansioso.

—Eu vou conversar com ela um pouco, antes de te deixar entrar, tudo bem? Importa-se em esperar do lado de fora do quarto? – ela pediu educadamente.

—Sem problemas – ele falou sentando em uma cadeira estofada que tinha ali, encostada na parede próxima a porta do quarto.

A doutora murmurou um “até já” e entrou no quarto. Não demorou muito antes dele escutar a maçaneta girando, mas a ansiedade foi suprimida porque não era Siobhan o convidando a entrar, era Ava/Marie saindo de lá, acompanhada de um homem.

Jasper levantou-se rapidamente, nervoso. Mas logo entendeu que o homem não era o tal James, ele não o conhecia.

—Jasper – Ava/Marie sussurrou num misto de alívio e confusão – Não sabia que já havia chego.

—O agente Swan me buscou na rodoviária um pouco mais cedo e viemos direto para o hospital. Eu estava conversando com a doutora – ele explicou, voltando a se sentar.

Ava/Marie o encarou por um tempo, como se o estudasse, antes de balançar a cabeça e sorrir de canto, entrelaçando a mão na do homem.

—Bem, deixe-me lhe apresentar o meu marido, Edward Cullen – ela falou – Amor, esse é o Jasper.

—Eu me lembro – o homem disse baixo, sorrindo para ela – É um prazer conhece-lo, senhor Whitlock.

—Só Jasper está bom, não acho que precisemos de título – Jasper disse apertando a mão do... Cunhado.

O casal se sentou perto de Jasper nas cadeiras ao lado da dele. O silêncio tomou o ambiente por um momento, antes de Jasper pensar em toda a história posicionando a mulher ao seu lado nela.

—Obrigado – ele falou.

Ava/Marie pareceu confusa e o olhou como se pedisse para ele se explicar.

—Por ter ido atrás de mim, ter me dado um voto de confiança, ter me mantido são no começo de tudo, entende? Acho que você não concebe a importância de tudo o que fez por mim. Foi a minha fé em você que me fez sobreviver por todo esse tempo – ele disse e Ava/Marie sorriu de canto, abaixando a cabeça – Eu entendi agora, porque eu confiei em você, você me lembrou dela— ele contou.

—Eu fico apenas satisfeita e feliz o bastante em saber que ela o ama e é recíproco. Já aconteceu muita coisa conosco, Jasper, tenho certeza que Emmett te explicou as maiores coisas e, bem, acho que entende o quanto a mulher deitada naquele quarto é importante para mim. Saber que ela é feliz, que as maiores tristezas da vida dela foram as quais eu compartilhei e senti junto com ela, é realmente um alívio – ela falou emocionada.

—Penso que para você não foi tão fácil assim? – ele indagou, algo no tom dela o tinha dado a dica, Ava/Marie suspirou.

—É um assunto para outro momento, mas só quero que tenha certeza de que é realmente um alívio e eu espero que vocês consigam cumprir todos os sonhos que traçaram juntos, quero muito que as coisas funcionem para vocês – ela disse e ele sorriu, agradecido pela sinceridade que ela emanava.

Um silêncio recaiu no corredor.

—Siobhan lhe contou como vai funcionar? – Ava/Marie perguntou sem querer deixar o assunto morrer, estava tão ansiosa quanto Jasper para começar o teste.

—Ela disse, eu entendi mais ou menos. Acho que sei o que falar – ele ponderou meio inseguro.

—A doutora Doherty quer oferecer um “choque” em... Alice – Edward explicou tomando a frente e Jasper o encarou, realmente interessado, – algo instantâneo, para ver qual personalidade é a dominante dentro dela – Edward contou e Jasper franziu o cenho, confuso – Vou lhe explicar, Bel-, digo, Marie representa a ela um passado dolorido, vulnerável e esquecido enquanto você é todo o futuro brilhante e sonhado dela. Você realça Alice enquanto a minha esposa fortifica Mary... Não será muito simples, mas vamos estar com ela... – Edward pareceu perdido em pensamentos por um tempo, antes de sorrir de canto – Desculpe, esqueci-me de lhe contar, sou médico... Especialista em pediatra, mas costumo trabalhar com um pouco de tudo, desde que a encontramos eu estou cuidando de Mary, ela sabe que eu sou o cunhado dela, aprendeu a confiar em mim.

—Obrigado – foi o que Jasper conseguiu dizer, ainda meio paralisado com toda a informação que era forçada a ele.

—Ela é minha família também – Edward disse dando de ombros.

Foi com paz que Jasper reparou que apesar das condições nas quais elas nasceram e foram concebidas, Alice e Ava/Marie dividiam um amor sublime entre si e, Ava/Marie sozinha, assim como Alice quase do outro lado do mundo, havia encontrado o amor puro, que ama completamente acima de julgamentos e medos. Edward era um bom homem e amava Ava/Marie, assim como Jasper amava Alice. Ele sentiu que estavam no mesmo time. Foi um sentimento importante de se nutrir. A partir daquele momento, Jasper também confiava em Edward.

Marie sorriu para o marido.

Jasper se internalizou para organizar as coisas dentro de si. Não foi muito tempo depois que a porta foi aberta e Siobhan sorriu para os três adultos que estavam do lado de fora, ansiosos.

—Vamos? – ela encorajou.

Ao entrar no quarto Jasper parou na porta, surpreso com a figura na cama.

Ela estava sentada, coloria algo na mesa que Siobhan posicionou em cima da cama e sorria. Jasper não sabia explicar, mas algo na posição da mulher o dava certeza que não era Alice, apesar do rosto e corpo ser os mesmos. Ela parecia tão... Pequena.

Não que Alice fosse alta ou grande em qualquer aspecto, mas a mulher na cama parecia ainda menor, ele achou estranho aquilo, e com dificuldade, conteve a vontade de abraçá-la, querendo tirar tudo de dentro dela, apagar tudo o que ela tinha sofrido, fazer a dor dela a dele. O amor que ele sentia por aquela mulher o tirava de seu centro, ele não suportava a ideia dela sofrendo.

Ao primeiro momento, Mary sequer percebeu a presença de Jasper. Ela focou seu rosto em Ava/Marie e sorriu amplamente para a irmã mais velha, parecia tranquila.

—Marie, a moça disse que você ia me apresentar o seu amigo – Jasper escutou Alice falar, mas a voz não era realmente a sua futura esposa.

Era mais fina e amedrontada.

—Sim, querida, mas ele é o seu amigo também, você já o conhece – Ava/Marie falou docemente e sorrindo, tentando demonstrar uma tranquilidade que não sentia.

Mary franziu o cenho e então virou para Jasper, a feição continuou livre, ela não o reconhecia, ele reparou aquilo.

—Esse é Jasper, Mary – Ava/Marie apresentou e Jasper andou até próximo da cama, com cautela.

Queria tomá-la em um abraço forte que demonstraria toda a saudade e medo de perdê-la que ele sentiu pelas últimas semanas, mas conseguiu se conter, de novo. A saúde dela era mais importante do que qualquer outra coisa.

—É um prazer – ele falou baixinho e se sentou na poltrona perto da cama.

Não passou despercebido a Jasper o fato de Mary se encolher um pouco e se afastar dele o máximo que a cama permitiu.

—Não me lembro dele – Mary murmurou à Ava/Marie que Siobhan pediu para se afastar um pouco, através de sinais.

Ava/Marie abriu a boca, mas Siobhan segurou a mão dela, impedindo-a de falar, queria que Jasper conseguisse falar com a mulher, então assentiu a ele, encorajando ele a começar a falar, como eles tinham conversado minutos mais cedo.

—Pode ser que você conheça uma amiga minha – Jasper falou depois ganhando a atenção de Mary, ele tentava deixar sua voz tão terna quanto a de Marie, imaginando que daquela forma a garota não se assustaria tanto – O nome dela é Alice, ela se parece bastante com você, sabia?

A garota franziu o cenho, olhando fundo nos olhos de Jasper.

—Alice?

—Sim, na verdade, ela é a minha noiva. É muito inteligente e engraçada. Conhecemo-nos na minha festa de aniversário há alguns anos – ele contou e Mary sorriu.

—Eu gosto de aniversário – ela murmurou.

Jasper sorriu para aquela informação, algo que ele conhecia nela.

—Ó, eu também. Alice também adora, mas sempre gostou mais do meu do que o dela, ela sempre dizia isso – ele deu uma risada contida e Mary sorriu também – Enfim, a gente se conheceu lá e ela sequer foi convidada, sabe? Ela é esse tipo de pessoa. Então o pai dela, Eleazar, a buscou – Jasper desviou o olho da garota, focado na parede atrás da cabeça dela, perdido em lembranças – Vimo-nos de novo apenas meses depois, conheci os pais dela no mesmo dia, tomei café com eles, Carmen me adorou de primeira, Alice sempre dizia isso também... Enfim, mandei flores para ela em seu aniver-

—Fica quieto – a mulher deitada na cama demandou e foi quando Jasper reparou que ela tampava os ouvidos com força, e forçava os olhos fechados para não ver os lábios que se movimentavam.

A culpa o tomou instantaneamente.

—Desculpe, Ali-

—Sai daqui, eu não gostei de você, sai – a menina dizia, Siobhan reparou na força da voz e soube que já não era Mary que estava ali.

Jasper estava inconsciente das percepções da doutora, então tentou tocar Alice para acalmá-la e levou um tapa forte no braço.

—Não toque em mim – a garota falou com a voz firme.

Siobhan então se aproximou dela, sem encostar-se a ela, mas alertando Jasper para se afastar.

—Querida, qual é o seu nome? – Siobhan perguntou.

—Não fale comigo – a mulher disse irritada.

—Mary? – a médica chamou.

Ela balançava a cabeça tampando os ouvidos, forçando os olhos a se fecharem.

—Parem de falar, se calem – ela repetia sem parar.

Jasper deu um passo a frente, ainda não encostou nela, mas com o olhar encorajador de Siobhan, ele voltou a conversar. Eles queriam trazer Alice e parecia que estava dando certo.

—Alice – Jasper chamou – Alice, volta amor, eu preciso de você. Alice, volta – ele repetia como um mantra contra os pedidos que ela fazia para “todos” se calarem.

Ava/Marie estava no canto do quarto, Edward atrás dela acariciando seus braços, tentando acalmá-la.

A mulher na cama começou a tremer.

Edward correu para perto dela, tirando Jasper de lá. Apertou um botão de chamar as enfermeiras e Siobhan e ele a mantiveram parada. Jasper e Ava/Marie ficaram cada um em um extremo do quarto, nervosos.

Quando as enfermeiras entraram, Edward se afastou, apenas observando as enfermeiras, a mulher na maca voltou a si ofegante, olhando aos arredores.

Olhou por longos minutos para Ava/Marie, antes de virar-se para o outro lado e encarar Jasper. Ela começou a chorar copiosamente.

—Amor? Ajuda-me, eu preciso de você, fica comigo – ela suplicou se debulhando em lágrimas.

Alice. Somente Alice. Jasper teve certeza.

Correu para o lado dela abraçando-a com força e beijando seus cabelos, finalmente. Ela buscou a boca dele e ele lhe deu um longo selinho antes de se afastar tirando os fios de cabelos bagunçados de seu rosto.

—Respira comigo, sim?! Está tudo bem – ele disse calmamente.

—Eu quero ficar só com você. Tire essas pessoas do quarto – suplicou dando uma rápida olhada para os desconhecidos que estavam ali – Onde estão meus pais, Jazz? Não deixe James se aproximar de mim novamente.

—Eu... – Jasper olhou confuso.

Ava/Marie saiu do quarto em disparada, chorando ao pensar que, talvez, a saúde mental de sua irmã teria um preço alto, o afastamento delas, novamente.

Jasper se sentou na poltrona perto da cama de Alice, depois de uma rápida conversa com Siobhan que disse para ele tentar deixar Alice na superfície, no dia seguinte pela manhã o chefe de polícia da cidade tentaria tomar o depoimento dela sobre as acusações contra James.

—E meus pais?

—Eles chegam pela manhã, amor, mal podem esperar para te ver – Jasper disse sorrindo tristemente, sentindo o peso da carga emocional em seus ombros.

Tanto a descobrir sobre Alice, tanto que ela mesma seria obrigada a aprender. Odiava-se por ter que permitir que tudo voltasse a ser trazido a tona.

—Eu o amo – ela sussurrou e ele sorriu mais verdadeiramente.

—Eu também te amo, bonita, nunca vou deixar o seu lado – jurou.

Ele se ajeitou ao lado dela na cama, sentindo seu corpo relaxar instantaneamente. O silêncio que perdurou por longos minutos, foi interrompido por Alice.

—Estou com medo do que vai acontecer – ela confessou baixo, chorando – Eu não tenho certeza de quem eu sou, Jazz, estou com medo de te assustar para longe.

—Estou com você, baby, nada irá me tirar daqui – jurou e ela sorriu de canto, se ajeitando no peito de seu noivo.

Os dias que seguiriam não teriam nem resquícios daquela paz.


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Notas finais do capítulo

Sei que o capítulo não trouxe muitas coisas chocantes como os últimos têm trazido, mas eu precisava ambientar Alisper no meio de tudo.

A próxima história a ser atualizada será Filho, Meu Filho.

Espero que estejam gostando e que continuem acompanhando e comentando, é muito importante para mim saber o que estão achando da linha de raciocínio.

Nos vemos logo