Cold escrita por Syrp


Capítulo 4
03. Querida Diretora, Lamentamos


Notas iniciais do capítulo

❆ quem é vivo sempre aparece! mil desculpas pelo atraso novamente. me sinto tão cara de pau quanto o James, mas perdi esse capítulo umas mil vezes e isso me desanimou muito. enfim, aqui está, espero que não tenham desistido de mim! ❆



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"estamos tão chocados quanto você, diretora!"

fred e james sirius sobre festa durante a madrugada.

 

Correndo apressada pelos corredores quase vazios de Hogwarts, com certeza eu parecia mais do que patética. As vestes da Grifinória estavam mais amassadas do que eu gostaria, meu cabelo estava mais rebelde que nunca e eu estava de péssimo humor. No momento, todos estão no salão principal e provavelmente ainda na cerimônia de seleção dos primeirainistas. Mesmo assim, atrasos em Hogwarts são inaceitáveis, ainda que a escola seja enorme e hajam mais escadas do que cômodos. Essa é uma regra imutável, e que mesmo com toda a modernidade e abolição de tantas outras parece invencível ao tempo.

A culpa do atraso, no entanto, não havia sido um ato de irresponsabilidade, estava mais para uma longa viagem com Scorpius Malfoy e Alvo Severo Potter na mesma carruagem que me deixou pra lá de perturbada. Eu sequer sabia que era possível duas pessoas se encararem por tanto tempo sem dizerem absolutamente nada. Mas para mim, aquele silêncio dizia tudo: os dois queriam dizer alguma coisa, mas ambos eram orgulhosos demais para fazerem algo a respeito. Francamente, eu estava mais do que disposta a me jogar daquela carruagem em movimento e ir andando todo aquele caminho, mas isso significaria chegar em Hogwarts já no final do ano letivo e eu precisava me certificar que os dois chegassem inteiros, ou pelo menos quase. Nem preciso mencionar que passei o caminho todo xingando e amaldiçoando até a décima geração de James.

Com minha exímia habilidade de ter azar até na sorte, ainda tive que acompanhar um muito incomodado Alvo até a comunal, onde tive que parar para ouvir seus desabafos que – sinceramente, eu não estava nem um pouco afim de ouvir, mas isso eu não admitiria a ninguém, então parei para ouvir como uma boa irmã todo seu desabafo sentimental sobre seu ex-melhor amigo. Ainda tive que aguentar a total falta de tato de Alvo de não parar de falar sobre a pessoa em questão quando Scorpius Malfoy passou a nosso lado, mas ele tampouco deu sinais de estar ouvindo e muito menos de se importar.

Acabei atrasada, já que a Sonserina fica nas masmorras e total contrário do caminho para a torre da Grifinória. Resultado: me vesti as pressas e me sinto um trasgo, enquanto os dois sonserinos provavelmente estão muito tranquilos e impecáveis com toda sua elegância sonserina, cabelos perfeitos e aura “eu vou quebrar o código de vestimenta e seu coração” no salão principal. Passei a vida ouvindo papai comentar sobre uma antiga rixa entre a Grifinória e a Sonserina e que velhos hábitos não morriam. A primeira coisa que vou dizer a ele quando o vir é que ele estava tremendamente errado e que uma briga entre dois sonserinos é bem pior que qualquer coisa. Duas cobras se enfrentando é um embate em que ninguém devia estar no meio.

Me sinto quase sem ar quando finalmente passo pelas enormes portas do salão principal, suspiro de alívio quando percebo que a cerimônia já acabou e as mesas já engataram em conversas altas demais e troca de pratos. Ajeito as vestes o máximo que posso, bem com os fios ruivos enquanto me aproximo da mesa da Grifinória. James gesticula de forma exagerada enquanto conta um de seus feitos juntamente com Fred e Timothy, um amontoado de grifinos a seu redor, os olhos brilhantes e um sorriso despreocupado no rosto. As garotas estão juntas em uma conversa animada, param para me cumprimentar.

— Lily! – Roxy é a primeira, se levanta para me abraçar apertado, o sorriso perfeito dançando nos lábios. Parece mais alta, mas o rosto simpático continua o mesmo, puxa minha mão para nos sentarmos. Recebo cumprimentos e alguns sorrisos, Mavis, Lucy, Dominique. Das garotas Weasley, Roxy é sem dúvidas a mais incrível – que as outras não saibam disso. É simpática, sempre gentil, dona de um coração enorme, mas ao mesmo tempo um leão quando se trata de defender seu ponto de vista – já a vi discutir com Fred e ela defende seus ideais até o último momento ao pé que usufrui de uma certa arrogância. Não atoa caiu na Grifinória, a casa dos corajosos. Nesse ponto dizem que se parece com tia Angelina, tão gentil quanto severa, mas por Merlim, para controlar Fred e tio George em uma casa, é mesmo necessário que se seja severa. Tia Angelina é uma super-heroína só de conseguir controlar os dois. Fred II, por outro lado, é a cópia do pai, embora já tenha escutado muito que ele se parece mesmo com o falecido Tio Fred, mesmo mau gosto para piadas, mesmo desejo de ser o centro das atenções e um inventor nato muito talentoso em transfiguração e poções – que ele usa para criar invenções novas para a Gemialidades Weasley, junto com tio George. Por fim, sua personalidade divertida simplesmente é o encaixe perfeito para o jeito James de viver a vida. Melhores amigos e parceiros de crime, James e Fred fazem todo tipo de besteira juntos: desde plantar uma bomba de tinta na sala de Filch a realizar festas em todo canto de Hogwarts, eles são simplesmente a dupla do mal perfeita que chega a superar os antigos gêmeos Weasley em seus tempos de glória.

— Nós te esperamos, mas a carruagem ia sair – Dominique explica em seu leve sotaque francês enquanto mordisca um pedaço de peixe assado com batatas assadas. Balanço a cabeça afirmativamente enquanto eu mesma me sirvo com rosbife e purê de batatas.

— Está tudo bem, eu demorei – levo uma garfada de purê a boca. Fecho os olhos, a comida de Hogwarts é divina, não que mamãe fique muito atrás, mas o purê daqui é fantástico. Roxy me olha com uma sobrancelha erguida e um sorriso divertido enquanto enche um copo de suco de abóbora gelado.

— Você nunca se atrasa, só hoje já foram dois. O que aconteceu? – Roxanne pergunta com um ar falsamente inocente, pares de olhos curiosos se voltam pra mim. Dominique, Lucy, até mesmo Mavis Longbottom mais afastada. Olho descrente para minha prima.

— Eu me distrai, Roxy, o que tem demais? – pergunto engolindo em seco a comida. A morena faz um estalido com a língua, remexe a comida com falso desinteresse.

— Você é a senhorita perfeitinha – Roxy deixa um sorriso escapar por entre os lábios, me olha de canto de olho. Balanço a cabeça tentando entender aonde o assunto vai dar – o que tem demais, Lily, é que você não costuma se atrasar.

— Dá pra chegar logo ao ponto, Roxanne? – pergunto depois de um longo gole no suco em meu copo, a Weasley parece ignorar minha pergunta, Dominique dá um longo pigarro enquanto me direciona um olhar malicioso.

— Então, como foi a viagem até aqui, encantadora de serpentes? – A Weasley francesa me diz com ares de riso, pisco em choque.

— Como... como disse? – Pergunto gaguejando, minhas bochechas queimam, quase posso me sentir um dos tomates que mamãe cultiva no quintal. Me esqueço totalmente da comida em meu prato e me sinto mais consciente do que nunca da presença dos Sonserinos na mesa logo atrás de nós.

— Chérie, precisa ser uma baita encantadora de serpentes para conseguir a façanha de trazer Alvo vivo até aqui depois de uma viagem ao lado de seu arquinimigo – Roxy concorda veemente com a cabeça, é óbvio que seria sobre Alvo, não há nada a dizer sobre Scorpius. Olho para Dominique agora mais tranquila, dou de ombros.

— Já sabem que eles brigaram então – Constato depois de uma olhadela para Alvo na mesa da Sonserina em um diálogo contido com Nott e mais outro garoto – quem contou?

— Quem você acha? Teddy, óbvio – Roxy afirma depois de uma risadinha, Dominique balança a cabeça de onde está.

— Alvo tem razão, Scorpius Malfoy não é exatamente o tipo que presta – a ruiva esbelta diz depois de uma careta de desagrado. Roxanne ergue uma sobrancelha.

— Não sei não, será que Teddy não seria... – nem deixo que Roxanne termine de falar, interpelo por meu irmão-não-tão-irmão lufano, não que seria um problema se fosse, acontece que Teddy não tem mais olhar nem para garotos nem para garotas, ele só tem olhos para Victoire.

— Teddy não é gay! – para minha surpresa, uma outra voz interpela a minha, Lucy enrola uma mecha do cabelo ruivo nos dedos, parece tão surpresa quanto eu por ter falado tão alto: a mais nova Weasley é um poço de timidez, mas ai daquele que falar algo sobre os romances de época que gosta de ler, a garota vira um leão, e não é nem no sentido figurado da palavra.

Olho para minha prima mais nova de forma discreta, toda a quietude de Lucy deve fazer dela uma observadora nata, que minha priminha não é nada boba, isso é fato. Talvez saiba tão bem quanto eu que Teddy é apaixonado por Victoire desde sempre, trocamos um olhar de conhecimento.

— Se estão dizendo – Roxy levanta as mãos em rendição, Domi se limita a suspirar alto enquanto afasta o prato parecendo mais que satisfeita. As garotas ingressam em outro assunto a que não dou atenção e me limito a responder vez ou outra com um aceno de cabeça ou uma risadinha. Me viro por um instante para a mesa da Sonserina, parte de mim diz que estou olhando para Alvo, apenas isso. Outra diz que se eu estou olhando para Alvo, então meu olhar deveria ser pra ele, e não para o sonserino com traços lascivos e de más intenções, cabelos brancos da cor da neve e postura de vilão. Rio do pensamento, Scorpius parece sentir ser observado, os olhos cravam em minha direção de forma nada sutil. Penso ter visto a sombra de um sorriso provocativo crescer nos lábios perfeitos, mas nem mesmo tenho tempo de ter certeza.

Como num passe de mágica, a conversa parece mais atrativa que nunca, e eu mais participativa que qualquer uma das garotas. Mas o coração bate inconformado de curiosidade por dentro das vestes da Grifinória. Ao menos assim eu pensava.

❆❆❆

— É isso que você quis dizer com “esses detalhes já estão acertados”, James? – pergunto atracada ao braço de meu irmão mais velho segurando o velho e acabado mapa dos marotos em meio a sussurros indignados. James dá de ombros parecendo tranquilo.

— Sim, oras. Que você iria acertar os detalhes comigo, irmãzinha querida – James Sirius, o bruxo mais inconsequente de todos os bruxos, me responde como se não fosse nada. Me separo do meu irmão mais velho indignada apenas para acertar um tapinha nada amigável em seu ombro esquerdo. Ainda escuto seu silvo baixo em forma de “cavala”.

— O que disse, James Sirius? – levanto a mão novamente, James faz uma careta de desagrado enquanto alisa o próprio braço.

— Eu disse que você é uma linda garota de características equinas, Lily – comenta azedo.

— Merlim me ajude – respiro fundo para não matar James aqui mesmo e correr o risco de receber um dos temidos berradores de mamãe. Meu irmão cabeça de vento me sorri doce, quero mais do que nunca afogá-lo no Lago Negro.

— Certo. Então você convidou metade da escola para dar uma festa sem ter um lugar para dar essa maldita festa, James? – pergunto mesmo sabendo a resposta. O sorriso engrandece junto com um gesto afirmativo.

— E por que é que você me arrastou para essa furada em vez de convidar um dos loucos daquela sua corja de desequilibrados? – sussurro alto demais, já furiosa e dando sinais de parentesco com a ruiva letal Gina Weasley.

— Bom, Fred estava ocupado sendo um esquisito e o Jordan estava ajeitando as coisas com uma lufana para essa noite, se é que me entende – James levanta as sobrancelhas com um sorriso malicioso.

— Vocês são ridículos – digo enojada. James ri de mim enquanto me arrasta pelos corredores, o mapa surrado em uma mão. Se vistos de longe, com certeza pareceríamos a antiga versão de nossos avós. Bom, ao menos James se parecia muito com o vovô, e nos piores aspectos.

— E relaxa, maninha. A festa vai estar onde eu estiver, é óbvio – odeio meu irmão. Simples assim. Vovó Molly que me perdoe, ela o ama tanto, mas não dá. Penso nas garotas se arrumando em meio a risadas para a festa e aqui estou eu, no mesmo estado patético que antes, e será uma tremenda sorte se eu ao menos conseguir estar apresentável quando ela começar.

— Vem, Lil. A sala precisa deve estar por aqui – e eu espero mesmo que esteja, mas algo me diz que é bem improvável a sala precisa atender a esse tipo de necessidade.

❆❆❆

Já passava do horário de dormir quando arrumei tempo de me arrumar. Todas as garotas já estão lá dentro, assim como os garotos e me encontro totalmente sozinha no corredor esquerdo do sétimo andar. Olho para baixo e me sinto bem – cabelos agora alisados, um vestido curto e vermelho de alcinhas finas que amo e a que James e Alvo sempre implicam e coturnos de salto. A maquiagem rápida feita por Domi, ainda bem, já que eu nunca me dei bem com pincéis e maquiagens.

Encaro a parede. Nada acontece. Tenho que desejar de todo o coração, certo? Não consigo me concentrar. Já me sinto quase desolada quando penso que definitivamente não vou conseguir acessar a droga da sala e provavelmente passarei o resto da noite enfiada sozinha na sala comunal lendo algum dos romances de Lucy – que só entre nós, são horríveis. Penso em ir embora de vez, talvez dar cobertura a James para que a festa dure mais, mas sou bruscamente interrompida em meus pensamentos por passos leves atrás de mim.

A diretora. Como explicar que estava apenas dando uma volta por Hogwarts após o anoitecer, e pior, vestida para festa? James me obrigaria a tomar outra punição e eu com certeza o mataria. Nem tenho coragem de me virar quanto a pessoa muito mais alta que eu para ao meu lado. Reúno forças para dizer algo e de canto de olho posso notar que não é a diretora, mas ninguém mais, ninguém menos que Scorpius Malfoy.

Eu provavelmente não deveria me sentir tão aliviada ao lado do inimigo natural de meu irmão, mas Alvo que me perdoe, eu estava. Cheiro de cabelo molhado, de novo. Eu gosto, penso remexendo o salto no piso de concreto.

— A sala precisa? – pela primeira vez, escuto de perto a voz de Scorpius. Presto atenção no jeito que fala, com malícia velada. É até meio engraçado – James não é tão criativo assim.

— Teria feito melhor? – falo antes de pensar, mas não consigo evitar: só eu mesma posso falar mal dos dois imbecis. Baixo o olhar, escuto o riso afiado de Malfoy.

— Diferente, eu acho – Scorpius volta os olhos extremamente verdes pra mim. Se inclina para me olhar, pisco rápido pensando se tem algo em meu rosto – você não entrou ainda. Não gosta de festas?

— Não vou conseguir entrar – já desanimada, cruzo os braços abaixo dos fios ruivos alinhados e encaro a parede de tijolos com toda a certeza do mundo que uma porta não vai aparecer ali para nos recepcionar.

— Vai ver você não quer entrar – me diz. Paro para analisar a roupa que está vestindo: camiseta preta amassada (e isso parecia ser um costume), jeans preto comum e um par de coturnos também escuros. Penso em perguntar se ele estava a caminho de algum velório, mas ele provavelmente não ia gostar da pergunta. Penso no recluso Scorpius Malfoy dançando, talvez embriagado de Whisky de Fogo, rindo alto, em todos esses anos eu nunca havia o visto rir. Ele não parece feliz. Nunca parece, na verdade. E para acabar com todas as certezas que tinha, o que viria a ser um costume de Scorpius Hyperion Malfoy, a porta tomava forma na parede a nossa frente.

Scorpius é quem toma a frente de abri-la e me espanto com a visão a minha frente: um salão enorme decorado com todo tipo de luzes coloridas, comida e todo tipo de bebida contrabandeada expostos em mesas, bem como eu tinha certeza de que todos os estudantes de Hogwarts estavam ali. As luzes coloridas piscavam e apagavam incessantemente e a música trouxa ecoava alto lá dentro, quase ensurdecedora. Parecia impossível, mas o impossível não era páreo para James Sirius Potter e seu gosto para festas. Pessoas trocando beijos, alguns já meio zonzos e outros apostando. Troco um olhar espantado com Scorpius – James iria perder todos os pontos da grifinória em uma noite só.

NO OUTRO DIA

— E então, vocês tem algo a me dizer? – Diretora McGonagall perguntou, já ciente de que alguma coisa havia acontecido no meio daquela noite.

— Eu não tenho ideia do que você está falando, e você, Fred, tem? – James perguntou na maior cara lavada.

— Não, nenhuma.

— Então vocês não sabem nada sobre alguma festa que pode ou não ter acontecido na sala precisa ontem durante a madrugada, e é claro, nada sobre alunos perambulando fora do castelo a noite toda?

— Houve uma festa ontem a noite? James, você sabia sobre essa festa? – Fred perguntou falsamente chocado.

— Eu não, Fred II.

— Estamos tão chocados quanto você, diretora! – a dupla diabólica disse ao mesmo tempo.

— Por Merlim, essa leva de Potter’s e Weasley’s ainda vai me enlouquecer. Estão dispensados.


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