Cold escrita por Syrp


Capítulo 1
00. Prólogo


Notas iniciais do capítulo

❆ sejam bem-vindos ao inverno glacial e temperaturas extremas de Cold, o frio pode parecer pouco agradável no primeiro momento, admito, mas prometo que a paisagem vai ser apreciável o bastante pra fazer a baixa temperatura valer a pena! ❆



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"se você não for pra grifinória, nos o deserdamos,

mas não estou pressionando ninguém."

                                                                   relíquias da morte, parte 2

 

Seria relativamente fácil reconhecer um Malfoy: cabelos quase brancos, postura altiva, olhar frio (ou de quem está com dor, como James sempre fala) e frases irônicas e quase sempre arrogantes. E claro, um sonserino. Afinal, que Malfoy que se preste não ostenta o brasão das cobras?

E apesar desses esteriótipos, Scorpius Malfoy não era nada disso. Alvo dizia que era um bom garoto, um típico sabe-tudo como tia Hermione e um amigo muito leal. E nunca havia sido cruel ou amargo, apesar dos comentários constantes nos corredores de Hogwarts dizendo que ele “seria um comensal, como todo Malfoy”, ou sobre como seu pai fora um “traidor inútil” ou sobre como Scorpius provavelmente era uma cobra prestes a dar o bote. Havia uma neblina misteriosa entorno do Malfoy. E por Merlim, eu queria saber cada detalhe.

Depois do terceiro ano, Malfoy havia voltado muito diferente. Alvo me disse que Scorpius estava mudado, e não pra melhor. Que a amizade havia se esvaído como se não tivesse sido nada e sobre como os olhos cinzentos antes inocentes agora estavam cobertos de malícia e frieza. Era uma camada grossa de arrogância que Alvo acreditava ser simplesmente o que ele era por dentro.  Mas algo me dizia que ele estava apenas se escondendo dentro de si mesmo.

Scorpius Malfoy era dois anos mais velho que eu e jamais havíamos trocado uma palavra sequer. Agora que estou voltando das férias e finalmente vou entrar no quinto ano, Alvo apenas me disse que Scorpius havia sido obrigado a repetir um ano e que diretora McGonagall havia chamado o próprio Draco Malfoy para conversar: os rumores eram de que Scorpius vinha mexendo com artes das trevas a algum tempo. Alvo acreditava piamente nisso, e eu me perguntava como é que meu irmão mais velho estava sendo tão manipulado pelos outros alunos. Quando ele trouxe este assunto na mesa de jantar, papai e mamãe trocaram um olhar sério que me assustou: há muito tempo eu não via esse olhar. Eu me concentrei em minha comida apenas, pois sabia bem como era ser o alvo de comentários maldosos e boatos absurdos: quando você tem Harry Potter como pai, eles não esperam nada menos que a perfeição.

— Eu não acho... não acho que Scorpius esteja mexendo com magia negra. – falo enquanto remexo o pedaço de bife em meu prato. James solta um riso de escárnio que acho ridículo e arremesso uma colherada de purê de batata que para no meio de sua camisa. Mamãe me olha feio.

— Está falando isso só por que é caidinha pelo Servanildo! – James me diz com um sorriso travesso. Papai engasga com alguma coisa e reviro os olhos para meu irmão mais velho babaca.

— É Scorpius, James! – digo entediada enquanto mamãe oferece um gole de água e papai toma de bom grado, os dois me analisam assustados, como se gostar de um Malfoy fosse um grande absurdo. O que no fundo é...

— E o que eu disse? Servanildo! – James me diz debilmente com a boca cheia. Não é a toa que vivem dizendo que James puxou o que havia de pior no vovô e no Tio Sirius.

— Não estou caidinha por Servanildo nenhum, só acho ridículo que vocês estejam acreditando naqueles boatos sem fundamento sem ao menos saber o que há por trás. Principalmente você Alvo, que já foi alvo deles. Ou não se lembra de como Scorpius foi o único que ficou do seu lado quando eles julgavam você por ser filho do papai e membro da sonserina? – solto tudo de uma vez, Alvo baixa a cabeça envergonhado e James dá de ombros desinteressado como sempre.

— Sua irmã está certa. Draco Malfoy e eu não éramos exatamente amigos, mas ele se redimiu. O filho não é culpado de nada. – papai fala algo finalmente. Mamãe concorda com um aceno de cabeça e estapeia a perna de James “tira o pé daí, garoto!”.

 — Ele é esquisito, isso é fato. – James diz tirando os resquícios de purê da camiseta. Tombo a cabeça pro lado confusa, talvez de fato Scorpius pudesse estar mexendo com magia negra... afinal, por que é que ele havia voltado tão diferente?

 Por outro lado, era perfeitamente fácil que se tratasse de uma mentira. Alunos de Hogwarts sabiam bem como espalhar boatos e alguns sentiam prazer em ser maldosos, e nem estou falando de sonserinos.

— Scorpius era meu melhor amigo. Espero que ele não esteja tomando o caminho do pai dele. – Alvo finalmente diz algo e sinto que está arrependido, os olhos estão baixos. Ele perdeu o melhor amigo afinal.

— Bom, já está tarde. Vocês tem que descansar. Acabou a moleza. – papai põe fim ao assunto e retira os pratos da mesa. Embora sejamos bruxos, as tarefas domésticas continuam sendo feitas normalmente, como um trouxa faria: até completarmos Hogwarts, é assim que ele quer.

— Só de pensar que tenho que voltar a estudar para as NIEMS’ meu estômago revira – James resmunga enquanto dá um beijo estalado no rosto de mamãe e outro no papai: embora tenha seus 18 anos, esteja no sétimo ano e seja o maior mulherengo que eu já vi ainda é grudado no papai e mamãe como se ainda tivesse seus 14 anos.

— Se quiser ser um auror tem que estudar, filho – papai diz. James sempre fora um prodígio do quadribol, e quando ele decidiu anunciar que carreira iria seguir, era quase unânime o pensamento de que ele iria querer ser um jogador profissional. James Sirius era sinônimo de encrenca, bagunça e irresponsabilidade. É infinito o estoque de histórias: bombinhas, feitiços inadequados, bomba de bosta no corredor, uso indevido da capa de invisibilidade do papai, soltar diabretes dentro da sala de aula e todo tipo de confusão (que não sei como não levaram a expulsão). Até o seu sexto ano chegava a superar Tio George e Fred, diziam os professores. E ainda hoje ele arruma problemas... Exatamente por este motivo quase cai pra trás quando ele anunciou muito seriamente que queria ser um Auror, espantando toda a família.

“- Isso exige muita responsabilidade, filho. Tem certeza que... – meu irmão mais velho interrompeu o que mamãe falava. Eu esperei que ele fosse soltar alguma piadinha como o habitual, mas ele disse bem sério:

 — Mamãe, eu sempre quis honrar o esforço de vocês contra arte das trevas. É claro que seria mais fácil ser um jogador de quadribol, e embora eu seja muito bonito e bom nisso – papai tossiu – ok, desculpe, não seria justo. Não com o sacrifício da tia Tonks. Do tio Lupin. Do tio Sirius... eu quero ser Auror. Quero fazer a diferença.

 Um eloqüente silêncio se seguiu do anúncio de James. A família toda estava reunida naquele almoço: todos os Granger, Weasley e Potter perplexos quando o maluco James Sirius Potter disse algo responsável pela primeira vez na vida.

 — É um milagre. – alguém disse e a mesa caiu na risada, descontraindo o clima. Observo meu irmão mais velho sorrir agora relaxado, olhando carinhoso nossa família enorme rir de algo que tio Rony disse. É por esses olhares que eu amo o ser humano mais chato que existe.”

Alvo e James sobem juntos aos tapas, e escuto as risadas se dissiparem enquanto eles somem na escada. Fico sozinha na cozinha, meu pai e minha mãe abraçados e trocando olhares apaixonados enquanto eu retiro a mesa que os dois patetas não se preocuparam em arrumar.

Desde pequena que vivo as sombras das carícias e olhares que meus pais trocam, sonhando com o dia em que seria eu, que eu teria um Harry Potter pra chamar de meu. Com o tempo, esse sonho foi ficando cada vez mais distante, e hoje eu já nem sei bem que caminho é que eu vou seguir.

Às vezes o sentimento de que eu não sei bem qual o meu rumo me assusta mais do que tudo; não sou o tipo que tira Ótimo em tudo como minha prima Rose, ou o tipo engraçado que encanta a todos como James, ou um ambicioso nato como Alvo que quer mais que tudo ser reconhecido por mérito próprio, ou mesmo o tipo bonito como minha prima Victoire, uma descendente de veela que parece uma miragem. Tenho o amor e a compreensão da minha família, e é claro que isso tudo me basta, mas as vezes, tudo que quero é ser um pouco mais que Lily, a irmãzinha boa e gentil que é sempre muito caridosa.

Mas talvez seja isso: talvez eu não tenha nascido pra chamar a atenção de ninguém, talvez eu tenha que ser algo mais simples, algo mais a minha cara, se é que eu sei qual é.

— Boa noite, papai. – deixo um beijo no rosto de papai que me abraça apertado enquanto me analisa por baixo dos óculos. Ele me sorri. Deixo outro no rosto da mamãe e ela alisa meus cabelos de forma carinhosa.

— Amamos você, querida. Não dorme tarde, o quinto ano é um pouco mais difícil. – não deveria me soar como uma crítica, eu sei que não é uma: meus pais são os melhores pais que eu conheço, mas minha mente traiçoeira como sempre insiste em me dizer que eu tenho que dar o dobro de esforço pra conseguir alcançar os outros. Que eu deveria ser melhor.

Às vezes tudo que eu quero é chutar a Lily bondosa e insegura pra algum lugar. De preferência pra bem longe de mim.


Subo a escada já sonolenta e atravesso a porta aberta de James que está largado na cama, o celular pendurado pelo fone de ouvido explodindo alguma música trouxa enquanto ele remexe a cabeça no som da melodia. A porta de Alvo está fechada, mas eu sei que ele está lendo; é simplesmente fascinado por ler. Qualquer coisa. Seja bruxa ou trouxa.

A porta do meu quarto está entreaberta. É um quarto simples. A cor amarela está desbotada e as paredes são abarrotadas de fotos que se mexem com primos e tios e alguns amigos da escola; há marcas escuras no teto de quando tio George nos trouxe foguetes da loja de gemialidades no natal e o que mais me atrai: a cama abarrotada de travesseiros. Me atiro nela sem pensar muito e mergulho em um sono confuso e estranho: em um momento, estou correndo desesperada pela Floresta Proibida, algo me assusta e quando caio, afundo na lama. Sou engolida por ela, a terra começa a se fechar ao meu redor e meus pulmões queimam enquanto eu busco por ar; quando eu penso que não há esperança e começo a perder a consciência, consigo ouvir alguém gritar um feitiço estranho enquanto aponta a varinha pra mim. Tudo que vejo são olhos cinza e cabelos extremamente loiros. Scorpius Malfoy.

Acordo assustada, o suor escorre por entre meus seios, minhas pernas estão emboladas na coberta e a respiração difícil. Busco me acalmar e não demora para que eu durma de novo, dessa vez em um sono vazio de qualquer importância.

  

 


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