Ponto de Fusão escrita por Mony Celis


Capítulo 5
Capítulo 4




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04

Connor

 

 

Por um tempo, tudo estava em trevas.

Então, ele se viu em uma lembrança de infância, na biblioteca do palácio ao lado de seu pai. Sempre que podia, Georgie o levava até lá para ensiná-lo algumas coisas. Naquele dia, ele lhe contou sobre a Lua.

— Há muitos séculos, nossos antepassados descobriram que a Lua era o satélite da Terra — dizia seu pai. — E um tempo depois, eles viajaram até lá.

— Eles foram para Lua? — perguntou Connor, tentando imaginar a cena. — Como conseguiram?

— Eram ricos e inteligentes, Connor, muito mais do que nós. Através dessas coisas, eles conseguiram construir uma máquina que os levou até a Lua.

— E onde eles construíram essa máquina?

Georgie sorriu, mas seu olhar estava nebuloso.

— Numa terra que nunca mais vai existir, meu filho.

Os olhos do príncipe se abriram lentamente, encontrando paredes arroxeadas com pontos brilhantes, uma combinação perfeita demais para ser natural.

— Essa não é uma caverna qualquer — disse uma voz — Foram construídas por mágicos manipuladores da terra e da luz para ser um refúgio em caso de uma catástrofe. Tem servido bem até agora.

Connor tentou se levantar, mas a enxaqueca o fez voltar para seu travesseiro improvisado. No entanto, ele sabia quem era a dona da voz, era a mulher mais forte que conhecia.

— Comandante Grinnan. — Sua boca dormente lutava para formar palavras.

— Preciso fazer uma infusão, o senhor não está conseguindo falar de novo.

Ela finalmente apareceu em seu campo de visão, em catorze anos, Juliet não mudara nada. Seus olhos escuros continuavam tempestuosos, autoritários, dignos de uma líder. Os cabelos prateados estavam presos no topo da cabeça e ela trajava sua armadura prateada.

— Como você me encontrou?

Juliet puxou um banquinho e sentou-se perto dele.

— Eu sempre procurei formas de me comunicar com o senhor — disse ela. — Tentei usar espiões, mensageiros, mas tudo foi em vão. Eles nunca conseguiam chegar perto o suficiente. Tivemos que parar com as buscas ou teríamos muitas baixas.

Connor assentiu, no lugar dela, teria feito a mesma coisa. Os homens de Ariel eram muito bem treinados, tinham ordens para comandarem o reino com mãos de ferro.

Certa vez, quando tinha oito anos, o príncipe vira pela janela do quarto um rebelde sendo açoitado em praça pública. Quando o soldado lhe perguntava se ele ia falar, o homem apenas respondia:

— Só falo com o príncipe Kyoto e não com você, invasor.

Ele afastou aquela imagem de seus pensamentos.

Juliet pegou do baú uma garrafa de vidro com uma carta dentro e continuou: — Mas então, há poucos dias, recebi essa carta e foi graças a ela que conseguimos resgatar o senhor.

Ele sentou na cama improvisada, sentindo o chão rochoso por debaixo do manto arranhar sua pele. Foi quando percebeu que seus pulsos estavam livres, sem os braceletes de metal negro o cercando. Mais do que isso, a pele estava completamente curada, sem sinal das cicatrizes deixadas pelas algemas anti-magia.

— Elas me deram muito trabalho. — A comandante sorriu ao ver a surpresa estampada no rosto do príncipe. — Mas eu não poderia te deixar com elas ou você morreria.

Ele não respondeu, mas respirou fundo, sentindo um peso esvair-se de seus ombros e então pegou a carta. A caligrafia era delicada, mas apressada, como se a autora estivesse desesperada para escrever aquilo.

Connor não tinha muitas lembranças de Liakánda, eles se viram poucas vezes na infância, mas a mãe dela era dama de companhia da rainha Ellena. E assim como o príncipe, Lia raramente via seu pai já que ele era conselheiro de Georgie.

— Como ela conseguiu fazer a carta chegar até aqui a tempo? — perguntou Connor.

— Ela tem poder sobre o mar, certamente. Talvez tenha herdado de algum antepassado, mas só um teste pessoalmente poderia confirmar.

O príncipe percebeu algo diferente no tom de voz dela, era como se...

— Você está pensando em trazê-la até aqui? É muito perigoso.

Juliet não o encarou, estava concentrada amassando pétalas de flores azuis numa caneca de madeira.

— Eu sei, meu príncipe, mas há algo nela. A forma como conseguiu fazer essa carta chegar há tempo de salvar o senhor...É extraordinário.

Ele ficou calado, a dor de cabeça e a sensação de fraqueza estavam diminuindo, como se seu corpo estivesse se adaptando a um mundo sem algemas de metal negro.

A comandante parecia realmente animada, após fazê-lo beber a infusão, ela pegou um pergaminho e começou a escrever uma carta para Liakánda. Connor não disse nada, mas não tinha tanta fé naquela garota. Seja lá onde estivesse, dificilmente ela sairia de seu refúgio para encarar Luanda outra vez.

Provavelmente, Lia era diferente do pai, afinal ela salvara sua vida. As ideias malucas daquele homem não a afetaram. Connor pensou que qualquer um em seu lugar, estaria ansioso para conhecê-la, mas naquele momento, soava prudente em se preparar para consolar Juliet Grinnan.


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