Ponto de Fusão escrita por Mony Celis


Capítulo 4
Capítulo 3




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03

Juliet

Dois dias antes

 

 

— Apresentar armas!

Os soldados obedeciam eficientemente às ordens da capitã Tel’Aviv. Havia todos os tipos de mágicos ali, o amor pelo seu país era o que nos unia. Quando um novo sobrevivente encontrava a caverna, logo se juntava ao exército para iniciar seu treinamento.

Juliet acreditava que todo o país deveria ter bons guerreiros sempre que possível. Principalmente o seu, Luanda, que tinha um intruso como governante.

Porém, aquilo estava prestes a mudar

— Comandante. — Juliet voltou-se para o soldado Yan. — Nossas espiãs na superfície confirmaram as informações na carta, o príncipe foi expulso do palácio há duas semanas.

— Alguma pista do seu paradeiro? — perguntou ela, ele negou com a cabeça. — Continuem procurando.

Ele assentiu, suspirando e foi embora. A comandante sabia bem o que ele estava pensando, ouvira Tel’Aviv dizer a mesma coisa repetidas vezes:

— A essa altura, o príncipe já foi embora da capital! Ele não tem o que fazer aqui, não tem um reino, não tem um exército, não tem coroa. É melhor que esteja refazendo a vida em outro reino.

Juliet precisava admitir que parte de si acreditava nessa hipótese, no entanto, ela não ia desistir. Aquela carta era tudo o que precisava para provar a eles que valia a pena continuar incessantemente.

Tel’Aviv gritou uma nova ordem aos soldados.

— Descansar! Pausa para a refeição!

Juliet seguiu pelos corredores iluminados por pedras brilhantes da caverna, encontrando soldados que caminhavam em direção a um lago alimentado pela cachoeira. Os soldados e cientistas se acomodavam em sua margem, conversando entre si e comendo uma pasta feita com flores azuis e douradas enrolada numa folha.

Na época em que moravam na superfície, não era segredo para ninguém as propriedades curativas daquelas flores. No entanto, elas se revelaram deliciosos alimentos quando chegaram naquelas cavernas, já que contrabandear a comida do mundo de cima estava cada vez mais arriscado.

— Pensando naquela carta? — Naomi Tel’Aviv apareceu ao seu lado com a boca cheia de pasta. Elas eram amigas há mais de vinte e cinco anos, se conheceram na antiga elite protetora que formava guerreiros para proteger a família real.

Infelizmente, foram poucas as batalhas que realmente enfrentaram e venceram. Luanda sempre foi neutro nas guerras, enquanto os outros países do continente se matavam. Seus conflitos sempre foram internos.

— Sim, é a nossa chance — respondeu a comandante depois de um tempo.

— Ju, sei que você tem as melhores das intenções e eu sempre vou te apoiar, mas precisamos ser realistas. Como vamos entrar nessa guerra com um rei totalmente despreparado para o trono?

Juliet já havia pensado no assunto. De fato, Connor vivera a vida inteira aprisionado, provavelmente sem acesso a treinamento militar e mágico e sem educação. Caso vencessem a guerra, quantos anos seriam necessários para que ele aprendesse tudo o que deveria ter aprendido desde os cinco anos?

— Você poderia governar até ele estar pronto! — Naomi estava visivelmente alegre com a possibilidade.

A comandante se sentiu mal por estragar a fantasia da amiga.

— Obrigada, mas dispenso a oferta. Sirvo à família real, mas ela sempre me deu dor de cabeça, se eu fizer parte dela, vou morrer de enxaqueca no primeiro dia.

— Mas não seria vitalício, Ju. Talvez uns cinco ou dez anos, só até o Connor estar preparado. Você tem experiência, é uma grande guerreira, tem tudo o que Luanda precisa!

As duas sorriram, apesar da idade, Naomi continuava com a personalidade angelical, até meio infantil. As coisas não funcionavam daquela forma, ela não poderia governar — e nem queria — enquanto houvessem membros vivos da família real.

Além de Connor, havia a princesa Elizabeth, irmã de Georgie que fora embora de Luanda logo após a morte do rei. Ela sempre teve a proteção e o respeito do Reino de Júpiter, um reforço no qual Juliet não poderia dispensar.

— Vou pensar no seu caso — disse ela. — Enquanto isso, colha para mim algumas flores azuis, vou fazer um novo experimento hoje.

Naomi encheu a boca de pasta esverdeada.

— Sim, senhora, e o que pretende aprontar?

— Uma das minhas novas alunas diz que a magia dela nunca manifestou, preciso de uma poção que faça isso por mim.

A capitã ergueu as sobrancelhas e assentiu com a cabeça. Ela sabia bem qual era a fórmula que Juliet precisava, já a usara uma vez para tentar descobrir se possuía alguma habilidade especial. No entanto, Naomi Tel’Aviv era um dos raros casos de uma pessoa que nascera sem magia.

Honestamente, Juliet achava que a amiga não precisava de poder algum. Sua força física e de vontade superava até o mais poderoso dos mágicos.

*

O dia

 

Ela tentava arduamente afastar de seus sonhos os rostos preocupados que deixou naquela caverna. Fazia dois dias desde que ela saíra do subterrâneo e fora se aventurar pela superfície para se juntar às espiãs na busca pelo príncipe.

No primeiro momento, a névoa escura que envolvia os céus e a visão do Rio Ártemis completamente sujo quase a fez desistir de tudo e voltar para seu lar.

Além disso, tinha esquecido como as noites de Luanda conseguiam ser frias. O seu manto mais quente não era capaz de aquecê-la, Juliet se perguntava como os moradores de rua sobreviviam com aquele gelo.

Falando neles, a comandante se impressionara com a quantidade deles pelas ruas. Homens e mulheres, mágicos e não mágicos que se recusaram a irem para os trabalhos forçados.  

Como retaliação, os homens de Ariel tomaram todos os bens e eles não tiveram outra opção a não ser adotarem os céus como teto.

O som dos trovões a despertou de seu cochilo. Natalie, uma das espiãs estava de vigília e sorriu levemente ao ver sua comandante acordada. De repente, alguém surgiu correndo em meio a névoa densa, ele estava tão perto das duas que Juliet pensou que o rapaz pediria ajuda.

Entretanto, ele continuou correndo beco adentro. Alguns minutos depois, um homem mais velho que o primeiro surgiu correndo na mesma direção, como se estivesse seguindo o jovem.

— O que está acontecendo? — sussurrou Natalie.

Os dois homens pareciam estar discutindo, porém, a névoa estava tão densa que era difícil ter certeza.

— Chame Lena, precisamos nos aproximar deles — respondeu.

Natalie ficou confusa, mas chamou a companheira. Em poucos minutos, as três caminhavam silenciosamente até estarem relativamente perto da briga dos homens. Lena, mesmo sonolenta, manipulou a névoa o melhor que pode para escondê-las. Natalie, que tinha medo de tempestades, não parava de se assustar a cada relâmpago.

Sombras de soldados batendo em algo no chão. Mesmo distante, as três podiam ouvir os gemidos de dor do rapaz, Lena e Natalie lançaram a Juliet olhares assustados. E então, a chuva começou e logo as três estavam batendo os dentes de frio.

Os soldados haviam desaparecido. Elas andaram as cegas pela névoa densa até encontrarem o jovem gemendo no chão, hematomas estavam espalhados pelo seu rosto, seus punhos sangravam com os braceletes escuros que os envolvia.

No entanto, mesmo depois de tantos anos sem vê-lo, Juliet o reconheceu imediatamente. O sonho de Lia havia se concretizado.

— Senhor? Alteza? — ela sussurrou sacudindo seu corpo levemente. Connor murmurou algumas palavras e perdeu a consciência. — Me ajudem, meninas.

As duas espiãs saíram do seu transe, Lena ajudou Juliet a levantá-lo e passou um dos braços em torno de seu ombro, permitindo que ele se apoiasse nela.

— Sigam-me — disse Natalie. — Conheço um atalho.

 


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