Ponto de Fusão escrita por Mony Celis


Capítulo 6
Capítulo 5




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05

Lia

 

 

Liakánda estava com braço apoiado sobre o balcão, sonhando com o brownie trufado com morango, o novo prato da confeitaria. Naquele dia, alguns de seus amigos vieram vê-la e aproveitaram a oportunidade para fazê-la passar vergonha na frente dos clientes.

— Ei, Lia! — gritou sua amiga Rose. — Você podia deixar a gente comer essas gostosuras de graça, né?

A ruiva revirou os olhos e jogou sua caneta contra a garota, fazendo o restante do pessoal gargalhar. Alguns clientes também deixaram escapar um sorrisinho e Lia cerrou os dentes, irritadiça.

— Mantenha a postura, boneca — sussurrou Jimmy enquanto embrulhava um pedido. Ele a chamava assim às vezes, devido aos seus cabelos ruivos e a pele branquinha.

— Só estou esperando a mamãe voltar do correio para te largar aqui — resmungou.

— Vai sair do trabalho para se divertir com seus amigos?

Antes que ela pudesse responder, Rose apareceu em sua frente e fez seu pedido, o brownie trufado com morango que Lia tanto sonhava em provar. O que, provavelmente, só aconteceria se ela de fato escapasse do serviço.

Sua mãe ficaria uma fera se descobrisse, mas os últimos cinco dias foram os mais estressantes que a garota já vivera. Noites em que ela não conseguia pregar os olhos com medo daquele sonho.

— Você é o funcionário do mês, pode me cobrir por alguns minutinhos. — ela sussurrou para Jimmy, bagunçando seus cabelos louros.

Ele a encarou seriamente, os olhos escuros característicos da família Noher.

— Vai ficar me devendo uma, boneca.

Lia sorriu e desejou poder abraçá-lo, mas já havia passado muita vergonha para um dia só.

Ela só conseguiu ficar com os amigos por meia hora, mas foram os melhores minutos que tivera naquela semana. Todos estavam bem, Rose partiria em breve para o Reino de Júpiter e prometeu que traria alguma lembrança de lá para Lia.

O restante permaneceria no Reino do Sol, ajudando na pescaria, no correio e na construção de uma biblioteca. A ruiva não via a hora de poder passar horas devorando livros.

Não contou sobre o sonho, não era importante eles saberem. Quando contou a sua mãe e Jimmy sobre ele e a carta que enviara à Juliet, ambos se recusaram a acreditar que a comandante ainda pudesse estar viva. Não precisava ver seus amigos tendo a mesma reação.

Jimmy a cutucou, sinalizando que sua mãe chegara. Ela se despediu do pessoal e voltou para o balcão.

— Tia Marine está lhe chamando. — disse o primo.

Ao entrar na cozinha, encontrou-a segurando uma carta com um selo que Lia conhecia bem.

— A comandante quer que você vá para lá — Marine balbuciou.

— A comandante?! — Lia tomou a carta das mãos da mãe, as lembranças do sonho vindo como um raio em sua mente.

Ela quase pulou de alegria quando leu os agradecimentos de Juliet e que Connor estava vivo e bem. O restante da carta era um convite para voltar a Luanda junto com um plano para não ser descoberta pelos soldados de seu pai.

No entanto, como sua mãe ficaria? Marine sempre tivera medo que precisassem retornar a Luanda algum dia. Ariel poderia descobrir e mandar seus homens virar o reino do avesso para encontrá-las.

Após a estranha visão que tivera com ele, a última coisa que Lia queria era voltar para seu velho lar.

— Minha filha, eu sei o que está pensando — disse sua mãe. — É muito, muito perigoso. Mas você deve ir, você salvou a vida dele.

— Mãe, mas você disse... — Marine interrompeu a filha com um olhar irredutível.

— Lia, você tem dezenove anos, não posso tomar as decisões no seu lugar. Se você quer ir, não poderei te impedir.

A ruiva respirou fundo, ela já havia se decidido, mas a ideia de encarar uma guerra sem a sua mãe lhe soava como uma punição severa.

— Eu vou com você, Lia — disse Jimmy, ambas nem haviam reparado na presença dele, mas isso facilitou as coisas para ela.

*

 

Lia odiava despedidas.

Quando fora embora de Luanda, catorze anos antes, passou dias se lamentando por não ter se despedido de seus amiguinhos. Agora, ela desejava não ter conhecido a dor de não ter a certeza se veria a pessoa que ama novamente.

Essa pessoa era sua mãe.

As duas passaram os últimos dois dias planejando a ida da garota para Luanda. Seguindo as orientações de Juliet, Lia tomou uma poção neutralizadora de magia que durava quarenta e oito horas, tempo mais que suficiente para o barco chegar a Luanda.

Após isso, ela deveria seguir pela cidade de Eclipse até encontrar uma loja de roupas de alto padrão. Ali trabalhavam as espiãs Natalie e Lena, que a conduziriam no caminho até a caverna.

— Espiãs! Legal! — Jimmy era o mais empolgado naquela história.

Para Lia, no entanto, era um plano simples demais, sujeito a qualquer tipo de imprevisto, mas parecia ser a única forma de chegar em Luanda de forma segura e imperceptível.

Marine acompanhou os dois até o porto no pôr do sol, naquele dia, estava completando uma semana desde que Lia sonhara com Connor e três em que ela decidiu retornar para Luanda.

— Lia, você tem que estar preparada. — Sua mãe colocou as mãos sobre os ombros da filha. — Aquele lugar é uma zona de guerra, tenha em mente que você não está indo como uma turista.

A garota assentiu, suspirando.

— Fique de olho nela. — Marine praticamente fuzilou Jimmy com o olhar.

— Sim, senhora.

Quando mãe e filha se abraçaram, ambas lutaram contra as lágrimas.

— Venha sempre a praia — disse a garota. — O mar pode te trazer uma surpresa.

Sua mãe se afastou, os olhos marejados, mas um sorriso confiante no rosto.

— Pode deixar, mande lembranças minhas ao príncipe e a comandante.

Marine colocou as moedas de cobre nas mãos do capitão e os dois primos entraram no barco sem olhar para a bela ilha que deixavam.


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