A Escolha de Sophia escrita por Kurai
Notas iniciais do capítulo
A palavra do dia é zingrar.
Pierre morava sozinho desde que pôde. Eu não podia acolhê-lo, com Dan rejeitando-o, e sua mãe expulsara-o ainda novo.
Além de Tobias, o gato que carregava consigo na bolsa, não tinha com quem conversar.
Portanto, quando algo grande aconteceu, foi a mim que veio. Supus que considerava-me mais sua mãe que a real.
Sem rodeios, voz seca, Pierre declarou que era, e sempre tinha sido, homem.
Apesar da indiferença na fala, pude ver cada músculo de seu corpo tensionando ao esperar minha reação, temendo que fosse zingrar dele.
Perguntei-lhe como deveria chamar meu filho.
Abraçou-me fortemente, respondendo ‘Pierre’ entre soluços.
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Sobre Transexualidade e sua patologização: "Com a medicina reparadora do contemporâneo e seus recursos cirúrgicos e bioquímicos, inaugura-se a possibilidade de o sujeito “escolher” seu sexo, desde que tais mudanças se deem sob rubricas patologizantes, como “Transtorno de Identidade de Gênero”, “Disforia de Gênero” e “Transexualismo”. Não é surpreendente, portanto, que encontremos reflexos de todo esse histórico de violências contra os sujeitos trans também dentro do campo acadêmico. Eis algumas posições teóricas de autores reconhecidos a respeito da transexualidade: uma disforia sexual (Stoller), uma psicose (Alby, Socarides), uma desordem narcísica (Chiland, Oppenheimer), um precursor da homossexualidade (Limentani), o resultado da foraclusão do Nome-do-Pai (Lacan, Safouan, Millot, Czermak), ou simplesmente um fenômeno ligado a fatores socioculturais em que a mídia tem um papel preponderante (Raymond)." (BEDE, Heloísa Moura; BELO, Fábio Roberto Rodrigues, 2019).
Desde 2018, a OMS deixou de classificar transexualidade como transtorno. O nome do capítulo é ilustrativo a esse respeito.