A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 19
Confissões em Londres




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Jonathan Wright tinha entendido que era inútil mentir e que a verdade lhe seria mais vantajosa naquele momento, então se acalmou, respirou fundo e começou a contar sua versão da história. Toda sua altivez tinha ido embora e ele parecia até mesmo outra pessoa.

— Primeiramente, preciso admitir que sua fama o precede, Sr. Holmes, e boa parte do que disse está correto. – disse o homem, já completamente derrotado, antes de finalmente começar seu relato.

“- Eu assumi a direção do Hospital St. Bartholomew com a promessa de que, diferentemente de meu antecessor, eu seria capaz de reerguer esta grande instituição. Porém, o tempo foi passando e a situação, ao invés de melhorar, ficava cada vez pior. Foi nesse momento de grande angústia que fui procurado pelos representantes das três maiores indústrias farmacêuticas da Inglaterra, que me ofereceram ajuda financeira, contanto que nossos pesquisadores trabalhassem para eles, criando novas fórmulas e medicamentos. Isso era um excelente negócio para ambos e eu aceitei imediatamente. Assinamos um contrato de exclusividade que também dava a eles um enorme poder na área administrativa do hospital.”

“Porém com o passar do tempo, descobrimos do que se tratavam as pesquisas de Edwards e Cooper e isso não agradou nada aos meus associados, que não admitiam que tal projeto fosse adiante. Embora como médico, eu tenha visto uma grande descoberta surgindo, as farmacêuticas queriam o fim dessas pesquisas e eu precisava obedecê-las. Passei a ser ameaçado com a dissolução de nossa parceria e pela cobrança de uma multa astronômica caso não os impedisse. Então ordenei aos dois que interrompessem seus trabalhos imediatamente, mas eles eram teimosos, principalmente o Edwards, e não obedeceram. Fui obrigado a ameaça-los de demissão, mas isso também não adiantou. Eu não sabia mais o que fazer, até que o destino me sorriu e derrubou Edwards daquela escada.”

“Por mais que eu quisesse a interrupção do trabalho deles, eu jamais chegaria ao ponto de tirar uma vida para conseguir isso. Meu dever como médico é salvar vidas e não o contrário, mas não posso negar que esse infeliz acidente resolveu boa parte dos meus problemas. Não armei plano algum de executar Edwards e garanto que meus associados também não, afinal, todos sabiam do desagrado deles com tudo o que estava acontecendo e não creio que seriam tão tolos a ponto de se exporem dessa maneira cometendo um assassinato, sabendo que seriam os primeiros suspeitos.”

“- No entanto, mesmo com as pesquisas encerradas, eles ainda as queriam destruídas e eu não sabia onde estavam. Cooper também afirmou não saber de nada, ele apenas disse que Edwards tinha planos para concluir o trabalho, mesmo que fora de St. Bartholomew, mas não chegou a lhe dizer que planos eram esses.”

“- Eu estava em maus lençóis, mas foi aí que tive uma ideia que uniria o útil ao agradável e poderia me render muito dinheiro, reconhecimento e uma excelente aposentadoria. Eu precisava me apoderar daquelas pesquisas! Eu sempre soube que Edwards era um visionário e que suas descobertas poderiam mudar muita coisa, então, se eu me apossasse do trabalho deles, era só esperar a poeira baixar e apresenta-lo como meu. A espera poderia levar anos, mas valeria a pena. Cooper não seria um empecilho para mim, porque meus advogados acabariam com ele nos tribunais, caso ele reivindicasse a autoria das descobertas feitas dentro do meu hospital e com os meus recursos. Mas para que meu plano seguisse adiante, eu precisava encontrar as pesquisas antes das farmacêuticas.”

“- Então, pensei em procurar no primeiro lugar que me veio à mente: a casa de Edwards. Eu não sabia exatamente como fazer isso, então as próprias farmacêuticas sugeriram que tentássemos comprar o imóvel, e forneceram, inclusive, o dinheiro necessário para tal. Foi aí que contratei os serviços do Sr. O’Neill, mas graças a Sra. Edwards, esse plano fracassou. Então resolvi mudar de tática e contratei dois arrombadores para entrar lá e vasculhar o lugar, mas a primeira investida também não deu em nada. Contudo, afirmei aos meus investidores que após uma busca minuciosa na casa, as pesquisas tinham sido encontradas e destruídas. Para a minha sorte, eles acreditaram e deram o assunto por encerrado, mas eu continuei procurando.”

“- Quando soube que meus arrombadores tinham, sem querer, levado a viúva a acreditar que sua casa era assombrada, gostei da ideia e, como o senhor disse, pedi para que eles continuassem, porque isso me beneficiaria, uma vez que poderia tentar baixar o valor do imóvel. Isso era importante, porque como não havíamos conseguido comprar a casa na primeira tentativa, os investidores retiraram o dinheiro que haviam fornecido e eu precisaria bancar a compra sozinho, sem que eles soubessem. Mas asseguro que o plano foi paralisado quando soubemos que a viúva estava em Londres à procura de Sherlock Holmes. Meus homens com certeza não estiveram lá na madrugada de ontem e seja lá o que causou o ataque na Sra. Edwards, não foram eles. Talvez seu coração apenas tenha falhado depois de tantos sobressaltos. Eu soube que tinha problemas cardíacos.”

— Quer dizer que o senhor sabia das condições de saúde da viúva e mesmo assim prosseguiu com seu plano? – perguntei indignado.

— Eu sabia, mas meus homens tinham ordens de jamais se aproximarem dela ou da criança.

— E você acha que isso resolveria alguma coisa? Você é uma desgraça para a classe médica! – exaltei-me e com razão. Naquele momento tive vontade de acabar com a raça daquele sujeito, mas me contive.

— Acalme-se, Watson. Viemos aqui para ouvir a verdade, gostemos dela ou não. – disse Holmes, sem esboçar grande reação. Apenas continuou sentado com os braços cruzados e observando o homem em silêncio. Depois de alguns instantes, resolveu se manifestar.

— Você acredita nele, Lestrade? – perguntou ao Inspetor, sem tirar os olhos de Wright.

— Me pareceu sincero. – respondeu o Inspetor.

 - E você, Watson?

— A mim também, por mais canalha que seja.

— Concordo com a opinião dos senhores. – disse Holmes enquanto se levantava da cadeira - Parabéns doutor! Apesar de ser culpado de ser um ser humano desprezível e um dos piores profissionais que eu já tive o desprazer de conhecer, o senhor não vai passar o resto da vida atrás das grades, apenas alguns anos. Inspetor Lestrade, eu me dou por satisfeito e ele é todo seu.

— Obrigado, Holmes. Agora o senhor vem comigo e nós vamos ter uma conversinha mais detalhada lá na Scotland Yard. Vamos contatar também nossos amigos de Bedford para tirar algumas coisas a limpo.

Assim que falou isso, Lestrade algemou e conduziu o prisioneiro pela porta causando um grande alvoroço entre os funcionários que não entendiam nada. Advogados começaram a ser acionados e o lugar virou um verdadeiro caos.

Seguimos atrás deles em meio aos olhares curiosos e buchichos até chegamos a porta de saída, mas Holmes disse que precisava continuar no prédio por mais algum tempo, porque estava atrás do seu informante, o faxineiro. Não me disse que informações ele ainda buscava, mas confirmou que sua previsão de que teríamos que voltar a Bedford tinha se concretizado e me encarregou de comprar nossas passagens para um trem que saísse até às 13 horas. Depois me aconselhou a ir para casa e descansar um pouco. Também me disse para começar a preparar meu personagem, porque voltaríamos a Bedford não como Sherlock Holmes e John Watson, e sim como dois humildes entregadores de lenha. Não gostei nada da história, mas ele tinha um plano e eu, aparentemente, estava envolvido nele.

Assim que comprei as passagens, voltei para Baker Street, onde encontrei uma Sra. Hudson bastante curiosa que praticamente me obrigou a coloca-la a par de tudo. Ficou muito preocupada ao saber o que tinha acontecido com a Sra. Edwards.

Depois de saciar a curiosidade da Sra. Hudson, eu já não tinha nada mais a fazer, a não ser tomar um banho, descansar e esperar pelo retorno de Holmes. No entanto, eu ainda estava curioso, afinal, praticamente tudo o que Wright havia confessado já era de nosso conhecimento e aparentemente, a morte de Edwards tinha sido mesmo causada por um infeliz acidente. O caso parecia estar encerrado para mim, mas se nós precisaríamos voltar para Bedford, era porque ainda faltava alguma coisa. O que seria?


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