A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 11
Cooper e Packard Têm Muito a Dizer




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Holmes pediu emprestada a sala do Dr. Young para que pudéssemos conversar em particular com o casal de médicos. Meu colega se sentou na cadeira do médico e o casal usou as cadeiras reservadas aos pacientes, enquanto eu permaneci em pé.

— Muito obrigado por aceitarem responder às minhas perguntas. – começou Holmes.

— Não há o que agradecer, Sr. Holmes. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar a Emma. – disse o jovem médico que, com certeza, ainda não tinha chegado aos 30 anos. Ele vestia um terno cinza bem cortado e um sobretudo preto que ia até seus joelhos. Seus cabelos eram lisos e castanho-escuros, assim como seus olhos.

— Primeiramente, como souberam que a Sra. Edwards estava internada?

— Foi uma grande e infeliz coincidência. – Quem respondeu foi a bela moça loira de olhos esverdeados que devia ter a mesma idade do rapaz. Usava um vestido azul, discreto, elegante e sem muitos adornos. – Resolvemos visitar a Emma hoje cedo para ver como ela estava, e quando chegamos à sua casa, a cozinheira nos contou o que tinha acontecido.

— Entendo... – disse Holmes, ainda se decidindo se acreditava ou não na história da dupla.

— Soubemos que foram vocês que socorreram o Dr. Edwards. Isso é verdade? – perguntei.

— Sim, Dr. Watson. Nossos consultórios ficam bem perto do local do acidente, por isso corremos rapidamente para socorrê-lo. Tentamos salvar nosso amigo, mas infelizmente não havia nada que pudéssemos ter feito. Ele fraturou o pescoço na queda e teve morte instantânea.

Enquanto a jovem médica falava, pude ver em seu rosto, uma tristeza que me pareceu bastante genuína. O noivo também notou isso e pegou carinhosamente em sua mão, como uma tentativa de consolo.

— Já que fizeram efetivamente parte de todo o evento, gostaria de saber se vocês acreditam na versão passada à imprensa pelo hospital, de que ele se acidentou enquanto corria para atender uma emergência?

— Para ser franco, Sr. Holmes, não sabemos ao certo o que aconteceu, - disse o Dr. Cooper - mas quando paramos para pensar, também achamos estranha essa história, porque ele estava praticamente do lado oposto da sala de emergência. Não parecia estar indo para lá...

— Entendo... Vocês se conheciam há muito tempo?

— Há uns oito anos mais ou menos. Nós três nos conhecemos na faculdade de medicina. Eu também sou cardiologista e a Emily é pediatra, ela é muito boa com crianças. – disse ele sorrindo para a moça – Steven conheceu Emma há cinco anos e desde então, ela também se tornou uma grande amiga. Emily e eu iríamos nos casar daqui a dois meses e eles seriam nossos padrinhos, mas com tudo o que aconteceu, decidimos adiar as coisas por um tempo.

— É compreensível. Eu também estou curioso para saber por que trabalham naquele lugar capaz de acabar com a reputação de qualquer médico sério. Pelo que averiguamos a respeito de Steven Edwards, tudo nos indica que ele era um bom profissional, e acredito que vocês também o sejam.

— Bem, todos no hospital acham que estamos de licença, mas na verdade, Emily e eu já não trabalhamos mais lá desde a semana passada. Embora não concordássemos com os novos administradores, continuamos lá porque buscávamos uma grande realização profissional. Precisávamos terminar o que tínhamos começado. – disse Cooper.

— Explique-se melhor, por favor. – pediu Holmes.

 – St. Bartholomew costumava ser um excelente hospital e era uma grande honra para qualquer médico trabalhar lá, principalmente se você fosse um novato, como nós éramos. Porém o hospital ia muito mal financeiramente e recebia pouca ajuda governamental, então há cerca de um ano, houve uma mudança na administração e com ela veio uma grande queda na qualidade do atendimento. A maioria dos bons médicos simplesmente abandonou o barco por não concordar com a nova abordagem nem com a diminuição dos salários, enquanto os que ficaram, se contentam em receber menos, mas também passaram a prestar um serviço medíocre e se tornaram os grandes responsáveis pela atual má fama do lugar.

— Quando trabalhei lá, antes de ir para a guerra do Afeganistão, St. Bartholomew era provavelmente, o melhor hospital de toda a Inglaterra. – recordei com grande saudosismo – E justamente por causa de toda essa decadência é que não conseguimos entender por que Edwards continuava lá, assim como vocês.

— Bem, Dr. Watson, apesar da baixa qualidade no atendimento, acredito que o senhor saiba que St. Bart’s é nacionalmente conhecido por seu grande apoio às pesquisas médicas.

— Isso é verdade. – não havia como negar – Graças às inúmeras pesquisas realizadas lá, hoje temos muitos novos medicamentos que ajudam no tratamento das mais variadas doenças.

— Exatamente, doutor, e é por isso que o Steven e eu continuávamos no St. Bart’s. Nós recebíamos um grande incentivo para nossas pesquisas e fazíamos muitos experimentos, mas não com a criação de novos medicamentos, e sim com novos procedimentos cirúrgicos. Steven era um visionário e acreditava ser possível transplantar um coração saudável de uma pessoa recém-falecida para um paciente doente. Nossas pesquisas e experiências buscavam comprovar nossas teorias.

— Isso seria incrível! – exclamei imediatamente. – Já tinha ouvido sobre esse assunto, mas acreditei que ainda estivéssemos longe disso. Imagine quantas vidas poderiam ser salvas!

— Sim, Dr. Watson, se nossas pesquisas realmente dessem frutos, em breve muitas pessoas deixariam de depender das visitas constantes aos consultórios médicos, assim como também não precisariam do uso de incontáveis medicamentos que servem apenas como paliativo, mas não oferecem uma cura definitiva. Esses transplantes não seriam apenas de coração, mas acreditamos que qualquer órgão pode ser transplantado. O raiar do novo século que se aproxima traria com ele grandes descobertas na área da medicina! – exclamou ele com verdadeira paixão sobre o assunto.

— Mas aí foi que tudo começou a desandar, não é mesmo? – disse Holmes, pegando nosso interlocutor de surpresa. – Os novos diretores do hospital não sabiam do que se tratava a pesquisa de vocês e quando finalmente tomaram ciência dela, os incentivos e investimentos foram cortados, acabando com tudo pelos quais vocês tanto trabalharam.

— Exatamente! Como o senhor sabe disso, Sr. Holmes? – perguntou o rapaz, perplexo.

— Isso é bastante elementar. Tenho certeza de que os grandes laboratórios farmacêuticos são os verdadeiros investidores dessas pesquisas, enquanto o hospital leva a fama e uma boa parcela dos lucros. Quanto mais remédios existirem, mais eles lucram. Que laboratório gostaria de ver uma doença extinta? É muito mais vantajoso que os pacientes permaneçam doentes pelo resto de suas vidas e continuem comprando seus remédios indefinidamente, do que obtenham a cura para suas doenças e sigam suas vidas felizes e saudáveis.

Não havia como negar a lógica de Holmes. Era duro constatar que o lucro era mais importante que as vidas humanas, mas esta é a cruel realidade do mundo capitalista.

— É verdade, Sr. Holmes... – concordou Cooper, tristemente – Foi isso mesmo o que aconteceu. A nova diretoria se aliou aos grandes laboratórios como uma forma de recapitalizar. Poucos dias antes da morte de Steven, recebemos ordens para abandonarmos nossas pesquisas e ele e o diretor tiveram uma grande discussão. A situação tornou-se insustentável e planejávamos nos demitirmos em pouco tempo e levar nossa pesquisa conosco, mas parece que acabamos demorando demais... Jamais imaginaríamos que uma tragédia dessas pudesse acontecer.

— E por acaso, o Dr. Edwards conseguiu levar os resultados da pesquisa de vocês de St. Bart’s, antes de morrer?

— Não sei dizer com certeza, Sr. Holmes. Eu tenho alguns documentos comigo, mas o hospital confiscou tudo o que tinha na sala do Steven. O local está trancado a sete chaves e os advogados afirmam que todo e qualquer documento que estiver lá é de propriedade deles.

— Bem, essas novas informações confirmam minhas suspeitas... – disse Holmes pensativo, mais para si mesmo do que para os presentes - Já lhes ocorreu, doutores, que talvez a morte do colga de vocês não tenha sido um mero acidente?

O casal ficou surpreso com tal suposição.

— O senhor quer dizer que ele pode ter sido assassinado? – perguntou a Dra. Packard, ainda incrédula.

— Nós já desconfiávamos que isso pudesse ter acontecido, mas aparentemente não havia um motivo para tal. – disse Holmes - Agora temos um motivo, e um dos grandes. Nada se encaixava como deveria nesse caso, mas agora, com essas novas informações, as coisas começam a fazer sentido.


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Notas finais do capítulo

Olá! Eu gostaria de saber se alguém está gostando da fanfic. Ficaria muito agradecida com qualquer feedback. Obrigada!



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