Cafés quentes não aquecem corações frios escrita por mandy


Capítulo 4
Capítulo 4




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Regulus agora tinha um novo auxiliar, já que Sirius não voltara ao café ou mesmo para casa. Deixou de se perguntar aonde estaria o irmão ao convencer-se de que ele não se importava de verdade. Agora dividia o balcão com Lucius Malfoy, o noivo da prima Narcissa, um homem tão calado que era quase como se estivesse trabalhando sozinho, com a exceção de que era tão habilidoso em atender as mesas que o serviço, enfim, parecia equilibrado. Os clientes também não reclamavam dele, apesar de ainda preferirem a Regulus.

Mas as visitas continuaram, no entanto.

Ao menos uma vez na semana Remus estava ali, sozinho. Sentava-se sempre no balcão, pedia sempre um Regulus-Coffee. Não era sempre que conversavam, mas Regulus continuava a ser um atendente observador: há semanas atrás, por exemplo, Remus tinha um exemplar de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, com a capa vermelha e um adesivo da biblioteca. Dias depois, levava consigo o mesmo livro, desta vez uma edição maior, igualmente com o carimbo da biblioteca. Até que, naqueles dias, se debruçava detrás de papéis amassados. Enquanto lia, movia os lábios em silêncio, os olhos correndo pelo papel da esquerda para a direita e, depois, sem mesmo olhar para ele. Inclinando-se discretamente, Regulus podia enxergar o título da impressão: Romeu e Julieta, adaptação. Riu-se em silêncio.

Então Moony é do tipo que decora peças teatrais?, pensou. E continuou a observar. Podia mesmo ler os lábios do mais velho quando dizia:

Falai outra vez, anjo de luz, pois é assim que te vejo. És o mensageiro alado do céu.

E, então, não resistia. Enquanto servia um par de taças de chocolate quente, sem olhá-lo diretamente, Regulus continha o riso e dava continuidade a texto tão conhecido.

Oh, Romeu, porque tu és Romeu? Nega teu pai, rejeita teu nome por mim. E então jura teu amor por mim que não serei mais uma Capuleto.

Pode sentir, sobre si, os olhos surpreso do outro.

Não era porque havia participado de uma peça teatral no colégio - até porque, se lhe perguntasse há alguns dias atrás, antes de intuir que Remus muito provavelmente fazia parte do elenco de uma peça de teatro, Regulus acharia a ideia patética. Conhecia ao clássico porque gostava de tragédias. Hamlet, Macbeth, Romeu e Julieta… Gostava do teor dramático de todas elas, dos grandes clímax, das mortes que poderiam ser evitadas se o pensamento fosse igual ao do século vigente.

Em meio a um riso anasalado, Remus continuou, sem voltar-se ao papel.

Continuarei a ouvi-lo ou falo com ele agora?

Ele havia trocado os gêneros originais. Porque as falas de Regulus pertenciam a Julieta e, ao ouvi-lo referir-se no masculino, não pode deixar de sentir um frio na barriga.

Somente teu nome é meu inimigo. Como desejo que tivesse outro nome. — Voltava os olhos para ele então, apoiando ambas as mãos no balcão e continuando com aquele jogo — Renega teu nome odiado, que não faz parte de ti, e então, me terás inteiro.

Então me chame somente de amor e servirei de novo batizado.

Regulus mal pode esconder as expressões rubras. Desconcertou-se. O que vinha mesmo a seguir? Não conseguia se lembrar. Apenas deixou-se perder, naquele momento, nos olhos profundos de Remus. Era um olhar cheio de retribuição. Regulus temeu que naquele momento pudesse estar perdido.

O que era patético, pensou logo na sequência, quando Lucius adentrava o balcão depois de servir um quase banquete de doces e cafeína numa mesa de família, o que era rara ocasião ali. Regulus desviou o olhar e entregou ao outro a bandeja com as taças ainda fumegantes, indicando-lhe a mesa e procurando, no bloco de notas, algum novo pedido para fazer.

— Ei — Ouvia a voz do mais velho então, o que lhe obrigava a prender a respiração — Que horas costuma sair?

Regulus mordeu o lábio inferior, tratando de relaxar na sequência para não aparentar nervosismo. Vestiu-se de sua melhor carapuça indiferente, tentando parecer o mais casual possível, mesmo que em seu íntimo a ideia de encontrar-se com ele na saída do trabalho pulsasse, inevitavelmente.

— Depende do movimento.

— E como está o movimento hoje?

Quis responder que estava bom, que poderia sair no horário programado de todos os dias, às oito da noite. Mas sempre era muito incerto. Já houve ocasião em que Regulus saíra dali por volta da meia noite, já que a família resolvera reunir-se com alguns empresários e discutir qualquer coisa que não lhe interessava de verdade, mas que claramente afetava a sua carga horária.

Ainda assim, pintou-lhe um sorriso no canto dos lábios.

— Me espera às oito.

Me espera às oito. Remus poderia rebater simplesmente que precisava se certificar o horário de funcionamento do café, ou lhe dar qualquer outro argumento para refutar o seu, de que se encontrariam depois dali. No entanto, Remus sorriu. Concordou uma vez com a cabeça e terminou o café que havia comprado mais cedo.

— Okay.

Okay.

Ele tinha um encontro. Qual era a probabilidade de uma coisa como aquela acontecer justamente com ele? E qual a probabilidade de dar certo? Regulus nem tentou se questionar nada. Despediu-se de Remus quando foi embora e contou as horas no relógio. Elas nunca tinham passado de forma tão lenta.

Seis e meia. Sete horas.

Um grupo de garotas adentrava o Café e chamava atenção dos senhores, que tão logo se aglomeravam em comentários maldosos. 

Oito.

Regulus olhava algumas vezes para o lado de fora, na tentativa e se certificar de que Remus estava lá. Poderia, se o visse, pedir para esperar alguns minutos. Afinal, as xícaras estavam vazias e nada mais do que conversas casuais acontecia.

Oito e meia.

— O seu pai acaba de ligar. Nos espera para conversar sobre os rumos do Nobre. — Lucius dizia naqueles exatos minutos.

Tudo estava perfeito até ali. Os últimos clientes haviam acabado de sair, as luzes estavam apagadas. Apesar da expressão compreensiva, Regulus gritava internamente. Apanhava a mochila que trouxera quando viera do colégio, assentindo uma vez, acompanhando Lucius até a porta. Saíram juntos, os dois, do restaurante.

Foi quando viu Remus do outro lado da calçada.

Tinha as mãos metidas no bolso do casaco e o corpo encolhido por conta do frio da noite. Quis atravessar a rua, lhe explicar toda a situação, mas os passos eram automáticos, obedientes. Quando Lucius não estava olhando, voltava-se ao rapaz e, com o esboço de uma careta, sussurrava sem voz, para que ele pudesse ler em sua boca:

Eu sinto muito


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