Quando as Máscaras Caem escrita por Luana de Mello


Capítulo 5
Enfim a Solução?




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Mais quatro meses se passaram desde que Marinette partira, e para Adrien esses foram os piores meses da sua vida, piores até que o tempo em que era obrigado a estudar em casa pelo pai; seus dias se resumiam em estudar, chorar, ir para a faculdade, chorar, ir para o estágio na empresa do pai, chorar, sair em algum momento do dia para salvar Paris como Cat Noir, voltar para casa e se trancar no quarto, com suas próprias lembranças, e voltar a chorar até adormecer de exaustão. Nem com os amigos ele estava conseguindo manter contato, seu foco estava totalmente voltado para concluir a investigação e prender as Tsurugi's, e tirando isso, nada mais era capaz de despertar o interesse do rapaz; a não ser os pacotes esporádicos que seu pai recebia, onde sempre encontravam algum novo modelo para uma nova coleção, e os desenhos sempre vinham acompanhados de algo destinado a ele, alguma peça de roupa ou adereço sempre feito a medidas exatas para Adrien.

Essa foi a forma que Marinette encontrou de se manter próxima do seu amado, e de demonstrar que não o tinha esquecido, e depois que sua primeira criação para a Agreste foi o maior sucesso, ela passou a manter esse contato diferenciado com Adrien e seu pai; por mais que não fosse o que ela desejava, era o que tinha no momento, e que por muitas vezes ela quase fraquejou e pôs tudo a perder, quando se esgueirava pelas ruas de Paris, até chegar a mansão dos Agreste's e se colocar a espiar Adrien pela janela, só para matar um pouco da saudade. Muitas das vezes pensou que ele a tinha visto, e por muito pouco não se revelara, mas Marinette sabia que isso seria muito egoísta de sua parte, colocar todos em perigo apenas por um alívio momentâneo; visto que mesmo que se revelasse, não poderia voltar para casa, e acabaria tornando tudo ainda mais difícil de suportar ao ter que se despedir.

Durante àqueles meses, houveram muitas oportunidades criadas por Kyoko, para tentar se reaproximar de Adrien, mas todas foram falhas e sem sucesso, e cada vez mais ela sentia a distancia do Agreste, e todas às vezes que participou de algum evento em que ele estivesse, não recebeu mais que um olhar enojado do rapaz; isso a feria profundamente, ela tinha realmente esperanças de acabar conquistando o coração de Adrien, mas como as coisas estavam, tinha certeza que nunca obteria hesito, e isso a fazia odiar ainda mais a Dupain-Cheng, um ódio que corrompia toda e qualquer coerência que pudesse existir na mente da jovem, e que era incrivelmente perigoso para todos a sua volta. Mal sabiam ela e sua mãe, que seus planos estavam todos prestes a ruir, e logo as duas estariam presas; isso era tudo que importava para os dois Agreste's no momento, seus esforços estavam sendo recompensados, as investigações estavam concluídas e agora os detetives só precisavam trabalhar juntamente com a Interpol para armar um flagrante, e logo todo aquele pesadelo chegaria ao fim, ou quase isso.

Era nisso que Adrien pensava, quando se esgueirava pela janela do seu quarto, naquela noite fria e ventosa do fim do inverno, tudo que lhe importava era a expectativa de solucionar todo aquele problema gigante e trazer sua Marinette de volta; além de que ele e Ladybug, precisavam descobrir o paradeiro de Holk Moth o quanto antes, ou a cidade Luz estaria em sérios problemas. O fato era que os ataques dos Akumas estavam cada vez mais violentos, e os vilões criados ultimamente eram extremamente difíceis de vencer, e os ataques mais frequentes. Era como se Holk Moth estivesse desesperado por alguma coisa, como se estivesse ficando sem tempo; e somando tudo isso ao fato de que Ladybug aparentava estar extremamente doente, era mais um motivo para fazer o jovem Agreste virar noite após noite, buscando uma solução, uma saída para todos os seus problemas.

Adrien nem ligava mais se ele era um jovem com seus recém completos dezoito anos, ainda começando a vida adulta, um jovem que deveria se divertir com os amigos, sair e ir em festas, rir e quem sabe tomar uma bebida; nada disso lhe importava mais, nada disso tinha sentido ou alguma graça para ele, afinal tudo em seu mundo perdeu a cor, perdeu a vida quando ela se foi, e só voltaria ao normal, quando Marinette retornasse. Todas essas coisas estavam pesando tanto em seus ombros, que o deixavam um pouco desatento, descuidado até, por isso ele nem fez a conferência costumeira do cômodo antes de entrar, nem mesmo se importou em fazer um pouco de silencio também; já que poderia ser facilmente confundido com um ladrão, dado o horário avançado da madrugada. Ele estava cansado, o Akumatizado daquela noite tinha sido extremamente perigoso, era forte e foi quase impossível encontrar um ponto fraco nele, teve um momento que ele pensou até que os dois não iriam conseguir, ainda mais depois que Ladybug foi jogada contra a parede e caiu quase inconsciente no chão; mas teimosa como era, ela não arredou pé dali até conseguirem purificar o Akuma, e mesmo estando visivelmente muito machucada, ela não parecia se preocupar muito com os arranhões em seus braços, estava mais pálida que o normal e parecia bem perturbada com alguma coisa, visto que ela mal purificou o Akuma e já saiu correndo por entre os prédios, e a última coisa que Adrien viu, foi seu rosto contorcido em uma expressão dolorida.

— Plagg, esconder as garras. — Adrien fala com a voz rouca pelo cansaço.

— Achei que não sairíamos vivos de lá. — o gatinho preto fala ao sobrevoar o quarto — Você acha que a Ladybug está bem? Parecia que ela estava muito mal hoje.

— Não sei, mas ontem ela também estava assim, ela tenta disfarçar, mas eu vejo o quanto se contorce de dor, só queria saber o que têm e por que esse tratamento parece não estar funcionando, queria muito poder ter certeza que ela está bem. — Adrien destaca o fato e alcança ao Kwami o seu querido Camembert.

Ao fazer isso, Adrien sente uma fisgada no lado direito do seu tronco, bem onde o Akumatizado lhe acertara com a lança, reprimindo um gemido de dor, ele caminha até o interruptor e acende as luzes do quarto para poder verificar a ferida, mas assim que o faz, tem vontade de apagá-las novamente; sentado em sua cama, com a expressão fechada e os braços cruzados está seu pai, e ao ver Gabriel ali, Adrien sente todo o sangue fugir do seu corpo.

— Gostaria de saber, como foi seu passeio noturno Adrien, ou devo chamá-lo de Cat Noir? — Gabriel sibila as palavras, e Adrien se encolhe ao ouvir a fúria na voz do pai.

— P-pai... o que... o que está fazendo aqui? Do que está falando? Ah eu esqueci de dizer, o Nino me chamou para resolver um problema na casa dele...— ele tenta se fingir de desentendido.

— Não tente me enganar Adrien, eu vi e ouvi tudo! A quanto tempo você vem mentindo para mim? A quanto tempo sua vida corre perigo e eu não sei? Adrien o que você está fazendo? — Gabriel se levanta exasperado e segura o filho pelos ombros, o que o faz se encolher de dor — O que foi? Ah meu Deus Adrien, Você está ferido! Venha, vamos para o hospital.

— Não pai, espera. — Adrien o para na porta do quarto — Eu não posso, o que eu diria? Oi, pode saturar esse corte pra mim? Ah eu só me machuquei um pouco lutando contra um Akuma. Não dá pai, desculpa não ter te contado, mas temos que manter segredo das nossas identidades, é para a nossa segurança e de nossas famílias.

— Mas você está ferido, está me dizendo para ignorar o fato de que meu filho está perdendo sangue bem na minha frente?! — Gabriel se altera mais um pouco.

— Está tudo bem pai, eu consigo cuidar disso e tenho o Plagg pra me ajudar. — Adrien fala e se senta na cama, ao mesmo tempo que o pequeno gatinho preto aparece na porta do banheiro com o kit de primeiros socorros.

— Meu Deus, eu não posso acreditar nisso, o meu filho é o Cat Noir! Como nunca percebi a semelhança? As coincidências? — o Agreste sussurra mais para si do que para Adrien, estava começando a se dar conta da grandiosidade do assunto.

— Quando ele está transformado, a máscara ajuda a distorcer a sua aparência, assim fica impossível ser reconhecido, é parte do encanto do Miraculous. — Plagg explica e deixa Gabriel espantado, era estranho ver aquele 'bichinho' falando.

— Mas então você também não sabe quem é a Ladybug? — Gabriel pergunta e passa a ajudar o filho a tratar seu ferimento.

— Não, ela nunca deixou nos revelarmos um ao outro, e olha que não faltaram oportunidades, a Ladybug é muito apegada às regras e normas, e muito obstinada também. — Adrien conta, já que agora não tinha mais volta, não tinha porquê ficar enrolando e achando desculpas.

— Isso é uma verdadeira loucura! — Gabriel exclama.

— Pai, você não pode contar isso pra ninguém, se Holk Moth descobre quem é Cat Noir, sua vida vai estar em perigo. —  Adrien adverte preocupado.

— Mas e você? Você também está em perigo Adrien! O tempo todo, não posso aceitar isso, meu único filho...

— Pai, eu vou ficar bem, enquanto eu tiver o Miraculous da Destruição, nada grave vai me acontecer, e tenho a Ladybug também, ela é uma excelente parceira, posso confiar a minha vida a ela. — Adrien fala com sinceridade, pois sabia que era verdade, Ladybug era uma das únicas pessoas que ele poderia confiar cegamente — Mas é sério, você não pode contar isso a ninguém, nem mesmo a Nathalie!

— Não vou contar, prometo. Mas me explica como isso funciona? Desde quando? É por isso que você têm recusado os ensaios de moda íntima? — Gabriel questiona enquanto termina de fazer um curativo em Adrien.

— O meu anel é um Miraculous, com ele consigo me transformar em Cat Noir, eu não entendo direito como funciona, a Ladybug é quem faz toda essa parte, mas ela me explicou que fomos escolhidos por nossos Miraculous e pelo mestre Fu, e isso já vai fazer três anos. — Adrien explica sério e vai ao seu closet buscar uma muda de roupas, até que se vira e sorri para o pai — Seria muito estranho um modelo todo roxo e machucado, com certeza não traria uma boa imagem para a Agreste.

— Adrien, isso é muito sério meu filho! E se você se machuca de verdade? Eu tenho visto os noticiários, essas coisas estão cada vez maiores. — Gabriel fala, e como que para dar ênfase no que disse, liga o televisor para mostrar as notícias sobre o assunto.

— Eu sei pai, mas tirando o de hoje, os outros machucados eram todos superficiais, comigo você não precisa se preocupar. — Adrien responde, e fixa seus olhos na TV, no exato momento em que os repórteres mostram a hora em que Ladybug é arremessada na parede e Cat Noir a retira dali quase inconsciente — Eu estou preocupado é com ela.

— O que ela têm? Para mim ela parecia muito bem há uns meses atrás. — Gabriel questiona, se referindo a vez em que Ladybug os ajudou a instalar as escutas.

— Ladybug está doente, ela está muito doente pai, mas é teimosa e cabeça dura, já tentei convencê-la a se ausentar por um tempo, mas ela não arreda pé. — o jovem Agreste suspira cansado, aquela era só mais uma das suas preocupações — Hoje, por alguns instantes, eu achei que a tinha perdido ali, ela estava lívida, fria.

Gabriel olha para o filho com ternura, ele já havia deixado de ser um menino há muito tempo, a sua frente encontrava-se um homem, um homem cheio de responsabilidades, cheio de problemas, que estava carregando um grande peso nas costas; ele se encheu de orgulho ao perceber o quão maduro seu filho era, mas também se preocupou ao notar o grande cansaço, bem nítido em seus olhos tão verdes quanto os de sua amada Emillie.

— Mas então pai, por que estava me esperando aqui? Você não é de ficar acordado até tarde. — Adrien pergunta já de dentro do banheiro.

— Ah, você me deixou tão preocupado que eu até esqueci, eu vim aqui te contar que hoje eles vão começar a operação, já está tudo pronto. — Gabriel conta e Adrien dá um pulo da cama.

— Sério pai?! Ai meu Deus, eu nem posso acreditar, você ouviu isso Plagg? A Marin vai poder voltar pra casa. — o jovem Agreste mal contém a alegria, ganhando novo animo, nem parecia o mesmo de segundos atrás.

— Graças aos céus, eu não aguentava mais trabalhar com um zumbi rabugento. — o Kwami debocha, mas Adrien nem o ouve, tudo que ele consegue pensar é que sua Marinette finalmente vai voltar.

— Sim, daqui a pouco mais tudo estará resolvido, inclusive eu tomei a liberdade de enviar mais uma carta a Marinette, a informei sobre tudo. — o mais velho conta, analisando as fotos da garota, que o filho mantinha em um grande mural no seu quarto.

—Eu mal posso esperar para vê-la de novo, estou com tanta saudade, será que ela mudou muito? Acho que não vou mais conseguir dormir hoje. — Adrien fala empolgado, nem o dolorido em seu corpo conseguia tirar o sorriso do seu rosto agora.

— Mas você deve, descanse bem, para quando chegar a hora, nós podermos assistir de camarote. — Gabriel responde e assim que Adrien volta, se levanta para ir para o seu próprio quarto — Agora falta pouco Adrien, nossas vidas vão entrar nos eixos dentro de poucas horas.

— Obrigado pai, obrigado por ter feito tudo isso por mim e pela Marin. — Adrien abraça o pai, estava emocionado demais àquelas alturas, tinha algo no ar, uma sensação estranha no peito que o fazia ficar assim.

— Vá descansar, ou a Srta. Dupain-Cheng vai fugir dessa sua cara horrível. — Gabriel brinca e recebe o primeiro sorriso genuíno do filho em meses.

— Nunca mais pai, nunca mais a Marin vai fugir de mim. — Adrien responde já se deitando na cama, começava a sentir o peso do cansaço lhe tomando conta do corpo.

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Do outro lado da cidade, uma verdadeira comoção acontecia na casa de Wang Fu, na sala atrás da recepção, duas enfermeiras montavam diversos equipamentos diferentes, os Miraculous estavam quase todos despertos, sobrevoando Marinette, que estava sentada na ante sala junto com o mestre Fu; Tikki olhava sua portadora muito preocupada, assim como seus companheiros Kwamis. A garota estava muito pálida, a boca arroxeada e tinha um suor frio e pegajoso escorrendo pelo rosto, todos sabiam que esta ultima batalha, tinha esgotado toda e qualquer força restante que ela pudesse ter; agora nessa altura do campeonato,  não tinha mais o que fazer, a não ser aguardar, era tudo que podiam fazer no momento, tudo que estava ao seu alcance.

— Mestre? — Marinette pergunta com a voz falha, quase não sendo ouvida.

— Está tudo bem Marinette, você deve descansar agora, não se esforce muito, aquela pancada não te causou um dano mais sério por pouco. — Fu responde, enquanto limpa uma ferida na testa da garota.

— Mestre, diga a verdade. — Marinette volta a pedir, e dessa vez contorce o rosto ao sentir mais uma pontada aguda irradiar por seu corpo.

— Depois do que aconteceu hoje, e dado ao seu estado atual, só podemos esperar, se você tivesse chegado um pouco antes, poderíamos fazer uma cirurgia. — Fu explica pesaroso, realmente não tinha mais nada que pudessem fazer — Você teve sorte de conseguir chegar até aqui, agora precisa se recuperar, para que eu possa te ajudar melhor.

— Marinette, tente não ficar nervosa, você precisa se acalmar agora. — Tikki fala com a voz falha pelo choro contido — Por favor Marinette, você tem que deixar a gente ligar para o Adrien, eles podem ajudar.

— Não Tikki, ainda não. — Marinette teima, mesmo nessa situação arriscada, ela ainda queria manter Adrien e sua família a salvo — Se eu não conseguir aguentar, eu mesma ligo, mas tenho certeza que vou ficar bem, tudo que tenho que fazer é ficar quietinha aqui, não é mestre?

— Sim Marinette, vou pedir para uma das enfermeira te dar algo para amenizar a dor, você pode se sentir sonolenta por causa disso, mas não deve dormir entendeu? Preciso que você fique extremamente alerta agora. — Fu fala e vai até a outra sala  chamar uma das enfermeiras, enquanto os Kwamis se escondem pelos cantos.

Assim que recebe o medicamento intravenoso, o rosto de Marinette muda um pouco, os seus batimentos se estabilizam e sua pressão arterial também, além de seu rosto perder um pouco a palidez, quando o soro começa a fazer efeito; como Wang Fu disse, ela se sentiu sonolenta, mas se manteve firme e forte, não se permitiu fechar os olhos nenhuma vez. Apesar da medicação ter aliviado os sintomas um pouco, a dor ainda persistia, irradiava por todo seu corpo, era quase insuportável, era como se ela estivesse tendo todos os seus ossos quebrados ao mesmo tempo; por vezes durante as quatro até as sete da manhã, Marinette suprimiu seus gritos de dor, mordendo os próprios lábios, até que elas cessaram por  completo, o que para Fu era um mal sinal. O velho sábio tentou não demonstrar a garota o quanto isso era sério, enquanto tentava contactar um especialista, ele mantinha um olho nos equipamentos que foram conectados na jovem e outro nela, que aparentava não estar tendo nenhum sintoma por hora. 

Ao invés de estar se contorcendo como antes, Marinette já estava sentada na maca, comendo um cereal com iogurte, sua nova paixão do momento, e assistia tranquila os noticiários da manhã; já tinha avisado os pais que estava bem e também já ligara na universidade, para dizer que não participaria das aulas daquele dia, o motivo a secretária já conhecia, uma consulta médica. Foram tantas consultas e correrias ao hospital nos últimos meses, que já se podia dizer que a Dupain-Cheng tinha seu próprio quarto reservado, só esperando por mais uma de suas breves internações; por mais que isso preocupasse seus pais, que ficavam possessos toda vez que ela se negava a contar o por que, ao invés de repousar e descansar como seu médico mandara, Marinette tinha que correr para o hospital dia sim, dia não, por alguma desculpa ou outra que ela inventava. O motivo era simples e fácil de entender, mas ela jamais contaria a Tom e Sabine, que não conseguia seguir as ordens do seu médico, por que isso implicaria em abandonar suas obrigações como Ladybug; ela sabia que era arriscado, sempre soube desde o começo, mas ela jamais abandonaria suas obrigações, afinal era isso que seria sua vida daqui para frente, ser responsável tanto sendo Ladybug, como Marinette também.

Fu a analisava e media seu pulso de dez em dez minutos, mas não encontrava nada fora do normal, era como se ela nunca tivesse sofrido aquela pancada forte, ou que tivesse passado as ultimas horas sofrendo as consequências da batalha. Foi durante um desses check-ups que mestre Fu fazia, que Marinette viu algo que chamou sua atenção nos noticiários, tanto pela quantidade de viaturas que apareciam no televisor, quanto pela manchete em letras garrafais que passava na tela: " Matriarca e herdeira da família Tsurugi são presas por tráfico de drogas." A Dupain-Cheng tenta se sentar melhor na maca, o máximo que sua condição física permite, e o mais rápido que ela consegue ultimamente, sem estar transformada; ela ergue o volume com o controle remoto que Tikki lhe alcança, e praticamente bebe as palavras que Nadja falava no microfone.

 — Estamos aqui ao vivo, em frente a residencia Tsurugi, onde toda a operação policial foi feita, ainda nas primeiras horas dessa manhã. Segundo os investigadores do caso, que trabalharam em conjunto com a Interpol, essa foi uma operação que já vinha sendo organizada e preparada a mais ou menos oito meses; não temos maiores detalhes de como tudo começou, afinal o caso vai correr agora em segredo de justiça, mas nossas fontes conseguiram a informação de que a matriarca da família e sua única filha, estavam tentando usar a empresa do renomado estilista Gabriel Agreste, para lavagem de dinheiro, dinheiro esse provindo do tráfico de drogas. Agora vamos tentar conversar com Gabriel e seu filho, que estão aqui no local; Gabriel, Adrien, o que vocês têm a dizer a respeito? Vocês já sabiam o que a família Tsurugi estava fazendo? Pelo que entendi, foi você quem organizou a investigação, não é Sr. Agreste? — Nadja cerca os dois, jundo com outros repórteres.

— Ah, tudo que podemos declarar, é que quando descobrimos o que as Tsurugi's vieram fazer na França, tanto a família Agreste, quanto a empresa, cortou relações com elas, tanto comerciais, quanto extraoficiais. Decidi contratar detetives para o caso e passamos os últimos meses investigando e colhendo provas. — Gabriel declara sério, ele parecia cansado.

— Mas você e seu filho foram vistos várias vezes em eventos junto com a família Tsurugi, inclusive a Srta. Tsurugi declarou em uma revista a pouco tempo, que ela era sua namorada, Adrien. — Nadja contesta e Adrien demonstra o quanto se irritou com o comentário.

— Fomos a esses eventos, justamente para coletar as provas que precisávamos, e se você procurar por mais informações Nadja, vai descobrir que a entrevista da Srta. Tsurugi foi desmentida, eu mesmo em pessoa declarei que a informação era falsa, e já repeti várias vezes para você e para essas revistas de quinta na qual você se baseia para ter informações, minha namorada é Marinette Dupain-Cheng! — Adrien declara em alto e bom som, e gera o maior reboliço a volta deles, além de causar uma enorme emoção em Marinette.

A verdade era que Marinette tinha ficado extremamente abalada, quando lera a noticia na revista de fofocas há alguns meses, tinha chegado mesmo a pensar que Adrien tinha desistido de esperar por ela, e que tinha perdoado Kyoko; qual não foi seu alívio quando em menos de duas horas depois que a noticia se espalhou, Adrien veio a público em uma coletiva de imprensa, e declarou com todas as letras que Kyoko mentira, e que os dois nunca tiveram um relacionamento além da amizade, e ainda disse para quem quisesse ouvir que já estava comprometido, e que em breve ele e Marinette dariam uma entrevista para confirmar o namoro dos dois. Aquelas duas entrevistas causaram tantas emoções distintas em Marinette, que ela acabou indo parar no hospital mais uma vez, e pelo menos naquela ocasião ela teve um motivo claro e obvio para sua repentina mudança na pressão, que em questão de minutos subira para o assustador número de 14.8; o que no seu caso era mais do que um alerta vermelho, era um alerta preto, e fez seus pais se deslocarem de Paris para Boulogne-Billancourt no tempo recorde de quatorze minutos e vinte segundos.

— Mas as revistas não mentem quando dizem que vocês nunca são vistos juntos, que espécie de "namoro" é esse Adrien? Você poderia nos explicar? — Nadja alfineta maldosa e ainda faz aspas com as mãos ao falar em namoro, o que só aumenta a carranca de Adrien.

— Minha nora está nesse momento, cursando uma faculdade de moda fora de Paris, não há como realmente os dois serem vistos juntos, inclusive ela tem trabalhado muito e quase não tem tempo para sua vida pessoal, ontem mesmo Adrien brigou comigo, para que eu desce uma folga a Marinette. — Gabriel toma a frente e causa um reboliço maior do que a declaração de Adrien.

— Como assim Sr. Agreste? O senhor poderia nos explicar isso melhor? — outro repórter toma a vez de Nadja.

— Acontece que a estilista e designer que vem fazendo um enorme sucesso na Agreste, a famosa Désir que todos estão aclamando, é ninguém menos que minha nora, Marinette Dupain-Cheng! — Gabriel declara e o alvoroço é enorme, os repórteres gritam as perguntas agora, e se empurram uns aos outros — Desculpe filha, eu sei que você não queria contar isso até se formar, mas agora que falta pouco, não vejo por que esconder o seu talento assim.

Ao ouvir a declaração de Gabriel, Marinette fica estática, de tudo que ela podia esperar que ele fosse dizer, aquela foi a revelação mais chocante, ou pelo menos seria se ele e Adrien tivessem seguido as pistas, o que pelo jeito, eles não fizeram; eles não se questionaram nenhum um pouco o que seriam, e por que aquelas peças de roupa que Marinette enviava eram tão diferentes de suas coleções? Será que ela devia ter sido mais obvia? E agora, como ela apareceria na frente de Adrien? Não tinha como, simplesmente não tinha como, agora ela teria que encontrar uma forma de preparar o terreno, antes de retornar finalmente. Mas de certa forma, foi bom eles não terem descoberto nada ainda, e agradecia aos seus pais por não terem revelado nada também, nem do tratamento que ela tivera que fazer nos últimos meses, nem de suas idas ao hospital; já seria problemático o suficiente ela ter que explicar tudo quando retornasse, tudo que a Dupain-Cheng não queria e não precisava agora, era ter que lidar com essa questão eminente. Foi durante a comoção dos repórteres, a algazarra das viaturas, e o falatório dos espectadores que estavam amontoados atrás das linhas de contenção, que ocorreu a primeira explosão, e durante os primeiros segundos, tudo que se via eram pessoas correndo e gritando, e fumaça para todos os lados; até que acima de todos a figura foi vista, dessa vez sua armadura era vermelha reluzente, alta e imponente, bem como um esgrimista deve ser, Revanche havia retornado e parecia mais furiosa do que nunca.

A transmissão ainda mostrou o exato momento em que Cat Noir surgiu entre a nuvem de fumaça, carregando Gabriel Agreste, mas nada de Adrien, e isso para Marinette era um dos seus pontos sensíveis; sem pensar em mais nada, ela saltou da maca e passou a procurar no cômodo, a bolsinha de couro com suas poções, que ela sempre trazia a tiracolo. Wang Fu e Tikki a olharam preocupados, sabiam exatamente o que ela estava fazendo, mas estavam surpresos demais para ter qualquer reação, e só conseguiram se mover quando ouviram sua voz firme, nada parecida com a rouca e falha de horas atrás.

— Mestre, vou precisar de reforços, vou precisar dos outros três Miraculous. — Marinette anuncia, bebendo de um gole só, dois frascos de poções seguidos.

— Marinette o que está fazendo? Você não pode, ainda está fraca e precisa de repouso, sem falar que pode acontecer a qualquer momento agora! — Tikki sobrevoa a garota, falando exasperada.

— Paris precisa de mim, e enquanto não chegar a hora, não vou ficar aqui parada! — Marinette rebate firme, e mesmo não tendo recebido a permissão do mestre, abre a caixa dos Miraculous e pega os três que queria, o da raposa, da abelha e da tartaruga — Eu sei que estou fraca agora, e por isso mesmo vamos precisar de ajuda.

— Tem certeza disso Marinette? Eu estou com medo de te deixar sair assim. — Fu questiona a garota.

— Tenho sim mestre, eu prometo não me arriscar e deixar as coisas com Cat e os outros. — Marinette responde compadecida pela preocupação do mestre, ao mesmo tempo que olha para as explosões transmitidas no televisor — Mas de todo jeito, eles vão precisar de mim para purificar o Akuma, e acho que o Cat Noir não conseguirá fazer isso sozinho, a Revanche está parecendo muito mais forte dessa vez.

— Você está se arriscando demais, deixa o Cat Noir e os outros cuidarem disso Marinette, tenho certeza que o Adrien está bem. — Tikki suplica, adivinhando os pensamentos da garota.

— Desculpe Tikki, eu já me decidi, e não tenho  a mesma certeza que você tem. — Marinette responde baixo, já estava cansada de tudo aquilo, por isso mesmo, jamais ficaria parada assistindo — Tikki, transformar!

No momento seguinte, a sala é inundada pela típica luz vermelha, brilhante e intensa, e logo depois, Ladybug surge no lugar de Marinette; ela dá um último olhar cansado ao mestre Fu, e logo salta pela janela mais próxima, agora sem a mesma agilidade de antes. Mas tudo era assim recentemente, ela não conseguia mais se locomover com a mesma rapidez de antes, não estava mais tão ágil, e muitas vezes não podia confiar nos próprios pés. Apesar da dificuldade de locomoção, ela chegou a casa de Alya em poucos minutos, e graças a algum intermédio divino, Nino também estava lá; quando os viu abraçados no sofá, assistindo Cat Noir lutando incansavelmente contra Revanche, Marinette sentiu um aperto no coração, estava morrendo de saudades dos amigos, e mal pode conter as lágrimas, quando ambos perceberam a sua presença e a olharam esperançosos, pois se Ladybug estava ali, certamente seria para lhes pedir ajuda.

— Ladybug! — os dois falam em uníssono, e em um ato impulsivo, abraçam a heroína, e percebem pela primeira vez, certas mudanças que as câmeras não mostram.

— Que bom revê-los, acho que já sabem por que estou aqui, Cat Noir e eu precisamos de ajuda, Paris precisa da Rena Rouge e do Carapace! — Marinette fala com a voz rouca e lhes entrega os Miraculous.

Ambos os aceitam prontamente, mais que felizes em poder ajudar mais uma vez, os heróis de Paris. Após a transformação de Nino e Alya ser feita, os três partem correndo entre os prédios; os dois primeiros correndo animados na frente, eufóricos pelo trabalho que lhes foi confiado, isso até eles notarem Ladybug mais atrás, correndo com um passo mais controlado, a respiração pesada e entrecortada, como se estivesse correndo uma maratona. Rena Rouge e Carapace se entreolham reocupados, nunca tinham visto Ladybug daquela forma, e isso era no minimo inusitado, para não dizer sério; percebendo que os dois pararam para lhe esperar, Marinette sinaliza que estava bem por enquanto, e tinham que chegar lá rápido para purificar o Akuma, cada segundo era importante em sua condição atual. Assim eles rumam para o prédio do hotel da família Bourgeois, onde um enorme farol de abelha brilhava no céu, exatamente como há quase três anos atrás, quando Ladybug e Cat Noir precisaram da ajuda dos seus amigos, para lutar contra Holk Moth, no dia dos heróis; como naquele dia, Chloé já a aguardava no terraço do prédio, ansiosa e exigente como só ela poderia ser.

— Demorou hem Ladybug?! — a garota reclama assim que avista o trio pulando no terraço.

— Guarde o seu ferrão para a Revanche, Chloé! — Marinette retruca recuperando o folego, aquilo tinha ficado cada dia mais dificil com o passar dos meses — Precisamos da Queen Bee, você quer se juntar a nós para salvar Paris?

— E você ainda pergunta, minha diva? — Chloé debocha e pega o Miraculous da mão da sua heroína.

Quando todos estão prontos, os quatro partem em direção a mansão dos Tsurugi's, onde Cat Noir parecia estar mantendo a luta concentrada; e como Nino e Alya, Chloé também nota o quanto Ladybug estava mais lenta, e parecia estar mais cansada que o normal, mas quando ela faz menção de que vai perguntar, recebe um leve e discreto sinal de 'não' de Rena Rouge. O caminho que normalmente levaria menos de três minutos, dessa vez leva quase dez; isso por que não são todos os prédios que Ladybug sente segurança para escalar, ela já não pode andar em superfícies tão estreitas com o equilíbrio de antes, e nem consegue se sustentar por muito tempo com seu ioiô. Eles por fim chegam ao local, já sem civis correndo de um lado para o outro, apenas alguns repórteres escondidos filmando tudo, ao que Alya sente uma leve inveja deles, já que não poderia postar nada em seu blog; o cenário é o mais assustador de todos que já presenciaram, Revanche dessa vez, não ganhou somente a habilidade de um esgrimista estupendo, ela também pode fazer coisas entrar em combustão e lançar raios que paralisam as pessoas, as fazendo virar estatuas vivas. Os poucos que foram pegos, provavelmente no momento em que Kyoko fora Akumatizada, estavam reunidos em um prédio, afastados da confusão; e Marinette atribuía essa façanha a Cat Noir, seu parceiro com certeza tratou de por todos em segurança primeiro. O problema é que em uma rápida olhada para o hall do prédio, ela descobriu que várias pessoas também se escondiam ali, junto com as 'estatuas', incluindo Gabriel Agreste, que assistia a luta aflito, mas nenhum sinal de Adrien; e isso fez uma pequena onda de desespero se formar no coração da Dupain-Cheng. Mas ela não tem tempo para se ater a isso, no exato momento em que chegam ao campo de batalha, eles avistam Cat Noir enfrentando Revanche, e ele estava tendo muita dificuldade, Marinette sabia que aquilo com certeza era por causa do seu ferimento da madrugada, afinal o famoso gatinho era um esgrimista sem igual; no momento em que Revanche se prepara para acertar Cat bem na cabeça, o fio do ioiô se enrosca em sua perna, e Ladybug o puxa do telhado da mansão, exatamente como ela costumava fazer anos atrás, logo quando os dois assumiram o papel de heróis de Paris, a única diferença é que agora, mesmo com o Miraculous, ela quase não aguentava o peso do bichano.

— Graças a Deus Bugboo. — Cat fala, assim que pousa seus olhos em Marinette — Oi pessoal!

— Você está ferido? Desculpe a demora Cat, vim o mais rápido que pude. — ela fala ao mesmo tempo que faz uma rápida inspeção no gato preto, o que não passa despercebido dos demais heróis e de um repórter mais próximo.

— Só aquela ferida, mas não se preocupe, agora que você trouxe reforços, posso dar conta aqui, volte para o mestre, você ainda está muito pálida. — Adrien fala analisando o rosto da garota, e nota os hematomas em seus lábios, sinais das mordidas que ela mesma se infligira para aliviar suas dores.

— Vou ficar e dar suporte pra vocês a distancia, vocês vão precisar de mim para purificar o Akuma, e não acho que aguente outra corrida pelos prédios agora. — Marinette declara sendo bem sincera, ela começava a sentir as fisgadas novamente — Mas me diz, você tirou todo mundo daqui? Eu não vi Adrien junto com o pai dele.

— Ah bem, Adrien está ajudando umas pessoas mais adentro do prédio, por isso você não deve ter visto ele. — Adrien desconversa, e como estava nervoso, passa a alisar sua 'cauda' para tentar se acalmar.

— Vocês sabem por que Kyoko foi Akumatizada de novo? — Chloé pergunta, interrompendo a conversa dos dois.

— Provavelmente por causa da declaração do Adrien e do Sr. Agreste. — Alya destaca e espia a vilã caminhando loucamente pela rua, destruindo tudo que encontra em seu caminho — Me pergunto onde está o Akuma.

— Talvez nas algemas, ela estava presa não é? — Nino sugere.

— Bom, vamos arriscar esse palpite. Rena Rouge, você vai distrair ela, se a Kyoko está assim por causo do que ocorreu essa manhã, certamente vai reagir ao Adrien ou a Marinette, Carapace eu quero que você dê suporte ao Cat Noir e proteja ele, Cat está ferido e não pode lutar direito, Queen Bee, você vai atacar ela de todos os lados a distância, a mantenha ocupada e tente descobrir outros lugares para o Akuma. — Marinette os organiza e monta uma estratégia simples para o grupo — Qualquer um que conseguir capturar o Akuma, o traga para mim o mais rápido possível, eu não tenho muito tempo aqui agora pessoal, queria poder ajudar mais...

— Você já fez o suficiente, my lady! Deixa o resto com seu time. — Adrien agradece a garota, e sem se perceber, lhe chama pelo velho apelido que há muito não usava — Time Ladybug, ao ataque!

Os quatro saem do esconderijo e partem para suas posições, deixando uma Marinette emocionada para trás; realmente ela podia confiar naquele time, podia confiar sua vida a eles, e agradecia por isso, agradecia pelos caminhos que eles trilharam até esse dia, caminhos que moldaram e formaram as pessoas que eles eram agora. Nino e Alya eram sempre dispostos a ajudar, leais e confiáveis, Chloé tinha se tornado uma pessoa melhor também, estava mais madura, era prestativa e apesar de sua piadas ácidas, tratava todos bem a sua maneira; era graças a isso, que Marinette podia ficar tranquila ali, enquanto assistia o desenvolver da luta, e ficava admirada com o trabalho de equipe deles, da sua equipe. Como previsto, Revanche reagiu ao holograma de Marinette, criado por Rena Rouge, ela se descontrolou e atacou sem sentido, o que abriu uma brecha para Queen Bee a encurralar, Nino e Cat Noir se aproximaram dela e quebraram as algemas, mas o Akuma não estava lá, e assim que perceberam isso, eles se afastaram. Marinette passou então a analisar a vilã, procurando outros possíveis objetos para conter o Akuma, enquanto ela fazia isso, Chloé voltou até o beco para discutir algo com ela.

— Ladybug? Você está vendo aquele anel na mão dela? — Chloé pergunta e aponta para a heroína poder ver — Eu não lembro da Kyoko usar anel, e até que faria sentido, já que ela está assim, por que levou um toco do Adrienzinho.

— Se é por isso, você também devia estar Akumatizada Chloé. — Marinette destaca o fato conhecido por todos, e que ela temia que lhe daria muita dor de cabeça.

— Ah Ladybug, eu já desencanei do Adrienzinho faz tempo, só não vai contar pra eles que eu te disse isso, eu sei que ele ama a Marinette, e como eu adoro implicar com ela, finjo interesse nele. — Chloé conta e ri um pouco triste — Sabia que ela era a única que me dizia o que pensava na escola? Quantas vezes ela brigou comigo por alguma besteira que eu fiz. Sabe Ladybug, a Marinette é uma boa amiga, e espero realmente que agora ela possa voltar pra casa, ou o Adrienzinho vai sucumbir a tristeza.

Dito isto, Queen Bee volta para a batalha, deixando a Ladybug de boca aberta, sem saber como reagir a declaração daquela garota, que por muito tempo ela julgou ser sua inimiga 'mortal'; ela concentra seus ataques no anel da Tsurugi, e como um golpe de sorte ou não, a vilã passa a proteger mais aquela mão, indicando que era ali sim, onde estava o Akuma. Vendo isso os demais passam a atacar a mão direita de Revanche, tentando fazer com que ela deixe uma abertura; Marinette pensa que agora vão vencer a vilã, visto que seus movimentos estavam ficando mais lentos que antes, e ela começava a aparentar algum desespero. Foi nesse momento que tudo ficou confuso, num minuto os quatro estavam atacando Revanche, no outro a vilã tinha recuado e estava ao lado de Volpina, que trazia junto consigo, ninguém menos que Adrien Agreste; naquele momento, os pensamentos de Marinette congelaram, ela se esqueceu de tudo, até mesmo de quem era aquela vilã e o que ela fazia, simplesmente se deixou levar por suas emoções.

— Se a Ladybug não vier aqui agora, eu vou machucar e muito o jovem Agreste aqui. — Lilá anuncia e sorri malvada, fazia meses que ela não dava o ar de sua graça, e aquela era a oportunidade perfeita para se vingar da heroína de Paris — Vamos Ladybug, você vai deixar que eu corte o lindo rosto do Adrien?

Sem pensar em mais nada, Marinette se move, suas pernas pareciam cimento, ela tremia dos pés a cabeça, suas dores tinham voltado mais fortes e o suor já empapava seus cabelos; mas tudo que lhe importava no momento, era aquela ameça a vida de Adrien, que para ela, era bem real, mesmo tendo vinda de Volpina. Cat Noir e os demais, ficam sem reação nos primeiro segundos, Ladybug estava se colocando diretamente na linha de fogo, sem proteção alguma.

— Estou aqui, Volpina! — Marinette fala alto, rangendo os dentes para se conter.

— Ah que linda, você realmente é a joaninha do amor. — Lilá debocha e ri estérica, sendo acompanhada de Revanche.

Quando Cat Noir volta a raciocinar, sinaliza para os demais voltarem a atacar Revanche, e ele se coloca em posição para retirar Ladybug dali o mais rápido possível; os próximos segundos são de tensão, principalmente por que ele sabia que aquela era só mais uma ilusão de Volpina, mas estava confuso, por que sua parceira se deixou levar por isso? Mesmo já tendo lutado com essa vilã diversas vezes. Ele assistia tudo mais atrás, pronto para agir, e naqueles poucos segundos, olhou para o seu pai, que estava igualmente preocupado no hall do prédio que ele os deixara mais cedo.

— Então você estava se escondendo? Que feio Ladybug, deixar seus amigos protegendo Paris, enquanto você se escondia em segurança. — Lilá provoca.

— Eu não estava escondida, estava bem ali o tempo todo, pronta para dar suporte ao meu time, para os meus amigos. Mas você não deve entender o que é isso, não é? Essa confiança, essa parceria e cumplicidade que nós temos, afinal, você não tem amigos! — Marinette devolve a provocação, já que seu humor não estava dos melhores, ela não se conteria.

— Sua estúpida! Já se esqueceu que eu tenho um refém? — Lilá se irrita e quase se descontrola.

— Eu sei que esse não é o verdadeiro Adrien, só estava ganhando tempo pra eles. — Marinette blefa, não tinha certeza disso, mas também não podia arriscar a segurança do seu time por uma hipótese, ela só rezava para ter feito a escolha certa — Você perdeu, sua vaca!

Quando os repórteres e as pessoas que assistiam tudo ouvem isso, ficam espantados, em todos os anos que conheciam Ladybug, nunca ouviram a heroína falar um palavrão se quer; mas tudo acontece muito rápido para alguém pensar em qualquer coisa, ao mesmo tempo que ela fala isso, Rena Rouge, Carapace e Queen Bee conseguem arrancar o anel de Revanche, que num ato de fúria, começa a disparar para todos os lados. Ensandecida, Volpina também faz vários disparos contra Ladybug, que apenas sente os braços de Cat Noir a puxando e desviando dos ataques; a partir dali, tudo parece acontecer em câmera lenta, Queen Bee quebra o anel e Marinette lança seu ioiô, capturando o Akuma para o purificar. Enquanto isso, Cat e Carapace protegiam Ladybug dos ataques de Volpina, Rena Rouge já levava Kyoko para longe da confusão junto com Queen Bee; mas foi quando Marinette libertou a borboleta, que todos se abalaram de verdade. Com um golpe certeiro, Kyoko chuta Alya no estomago, se desvencilha dela com uma velocidade absurda e pega uma barra de ferro no chão, ela corre então em direção a Cat Noir, que estava de costas lutando com Lila; com um ódio corrosivo tomando conta de si, Kyoko aponta a barra diretamente para o gatuno, acabaria com tudo ali.

— Se ele não é meu, não é de mais ninguém! — a japonesa grita, estava totalmente fora de si, perturbada pelas memórias da vilã que ainda passavam em sua mente, e uma em especial se repetia várias vezes, o exato momento em que Adrien se transformara em Cat Noir no meio da fumaça.

Marinette, que tinha caído no chão longe deles ao capturar o Akuma, sente um frio percorrendo sua espinha, e com o coração errando uma batida, faz um esforço sobre humano, para tentar chegar até Cat Noir a tempo; ela tenta fazer suas pernas travadas obedecerem, ignora as dores cada vez mais intensas e pulsantes, ignora todo o protesto do seu corpo tão debilitado, ignora até mesmo a água que sente escorrendo dele, ela grita e chama por ajuda, mas ninguém parece ouvir, todos estavam estarrecidos demais com o que viam. Mas não daria tempo, ela sabia que não, então ela fez a única coisa que estava ao seu alcance; lançou seu ioiô no poste de luz mais próximo, e enquanto um filme passa em sua cabeça, cenas de suas aventuras junto de Cat Noir, as brincadeira do bichano, sua amizade e companheirismo quando ela mais precisou, enquanto revia tudo isso, Marinette tira forças de sua alma e iça seu corpo, o colocando entre Kyoko e Cat Noir, no momento exato em que a barra de ferro tocaria seu corpo. O grito de horror de Rena Rouge e Queen Bee é o que chama a atenção de Carapace, que não ouvira nada da comoção anterior por causa das explosões causadas por Volpina, e agora até mesmo ela cessara os ataques, assistindo a cena incrédula; Cat Noir se virou assim que sentiu o peso em suas costas, e se não fosse isso ele pensaria que aquela era uma das muitas miragens criadas por Volpina, e com profundo medo tomando conta de si, ele percebeu que não era uma miragem.

— Eu não cheguei tarde dessa vez, gatinho. — Marinette fala baixo, sentindo um ardor um pouco abaixo do ombro direito, onde a barra atravessara seu corpo.

— Ladybug! O que você fez? Preciso de um médico, rápido, alguém chame um médico.— Adrien grita perplexo, segurando o choro que já se embolava em sua garganta.

— Cat... me leve... para o mestre... rápido. — Marinette pede entre um arfar e outro, as dores estavam horrivelmente mais fortes agora.

As pessoas começam a cercá-los, alguns puxavam seus celulares e chamavam o socorro, outros simplesmente choravam horrorizados, outros mais radicais tratavam de linchar Kyoko, e nesse meio tempo, Queen Bee, Rena Rouge e Carapace, mesmo entre as lágrimas, trataram de derrotar Volpina, que talvez pelo choque do que vira, não ofereceu resistência alguma; nos dois minutos seguintes, Adrien se sentiu perdido, não sabia o que fazer além de fazer pressão no ferimento da parceira, as lágrimas embaçavam sua visão e ele quase não conseguia ver as expressões de dor que Ladybug estava fazendo, apenas sentia quando ela apertava uma de suas mãos; ele só pareceu voltar a realidade, quando sentiu uma mão em seus ombros, e respirou aliviado quando viu que era seu pai, que havia passado pela barreira que os poucos policiais do local tinham feito para conter a multidão.

— Precisamos levá-la para o hospital. — Gabriel fala ao filho.

— Não, ela disse para levá-la até o mestre. — Adrien recobra um pouco do controle sobre si.

— Então vamos, eu trouxe o carro mais perto. — Gabriel aponta para o local e vê o filho tomar a parceira nos braços e ser seguido de perto pelos demais heróis, que formaram uma barreira para protegê-los dos repórteres.

Eles entram todos apressados no carro, Gabriel dá partida e sai dali cantando pneu, segue pelas ruas em alta velocidade, seguindo a direção indicada por Adrien; Alya tenta fazer a heroína beber uma água que pegou de um dos espectadores do local, enquanto Adrien a segurava e Queen Bee e Carapace tentavam mantê-la acordada, mas os únicos momentos que seus olhos se abriam, era quando ela sentia as dores irradiando por todas as suas terminações nervosas. Quando finalmente chegaram a casa de massagem de Wang Fu, ele já os esperava na porta, tinha acompanhado tudo pela TV, e já deixara tudo preparado de antemão, Gabriel fica perplexo de ver o professor do filho ali; eles entram no estabelecimento correndo e assim que estão todos na recepção, ele os para.

— Preciso da ajuda de todos, ou não poderemos salvar essa garota. — Fu fala em voz baixa e se dirige a Marinette, que havia recobrado um pouco da consciência — Preciso que desfasa a transformação filha, é o único jeito.

— Mestre... salve ele... — Marinette fala fraquinho, estava quase se entregando ao cansaço — Cat, preciso que... encontre alguém pra mim.

— Pode falar Bugboo, eu faço o que você pedir. — Adrien responde contendo o choro e a coloca com delicadeza na maca que Fu traz até eles.

— Traga Adrien... eu preciso dele... — ela fala e deixa os dois agrestes confusos.

— Marinette, a transformação agora, sua pressão está subindo muito. — Fu fala ao inserir o cateter na mão dela, deixando todos muito confusos.

— O que você disse, mestre? — Adrien pergunta chocado.

— Tikki, desfaça... — é tudo que ela diz antes de perder a consciência novamente.

A luz vermelha brilha intensa, e aos poucos vai sumindo, a pequena Kwami sobrevoa sua portadora com seus olhinhos azuis cheios de lágrimas, sem se importar com os cinco olhares de espanto que Marinette recebe. Adrien é o primeiro a reagir, ele cai de joelhos no chão, sente suas mãos tremendo, seu coração galopa no peito e dói ao mesmo tempo; quando Fu vê que ele está entrando em colapso, vai até ele e para a sua frente.

— Não é hora para isso, ela precisa de você, precisamos de você! Quero que todos desfaçam as transformações, vamos precisar do cântico dos Kwamis para mantê-la acordada, ou ela nunca vai conseguir. — Fu ordena e volta até a maca e passa a empurrá-la com a ajuda de Gabriel, que parecia o mais lucido ali.

Uma das enfermeiras passa a cuidar do ferimento de Marinette, e rapidamente retira a barra de ferro do corpo da garota que a essa altura já despertou graças ao medicamento intravenoso, a outra conecta os equipamentos nela e prepara seu corpo a vestindo com uma bata de hospital, própria para a situação, quando elas terminam e afastam a cortina permitindo que Fu se aproxime, ele faz os check-ups já tão conhecidos por ele, mas o mestre tem que  os abandonar para auxiliar Marinette que sente mais uma onda de dor; a garota senta-se na maca, mesmo sob os protestos da enfermeira, segura a mão de Fu e urra como um animal ferido. Quando Adrien enfim se dá conta do que está acontecendo, segue até a sala junto com os outros três que ainda estavam meio estarrecidos.

— Plagg, esconder as garras. — Adrien fala entre soluços e o brilho verde toma conta do local momentaneamente — Vocês três, desfaçam logo, precisamos dos Kwamis!

Agora que o torpor o abandonou, ele se dá conta da gravidade da situação, e mesmo tendo a cabeça explodindo de tantas perguntas, toma o lugar de Fu e oferece a sua mão a Marinette, que no momento se encontra do mesmo modo que ele estivera antes, completamente estarrecida; mas ela logo esquece isso, quando mais uma vez sente seu interior se contrair.

— Adrien... eu... Jesus Cristo! — ela tenta falar, mas se obriga a morder a boca para não gritar mais.

— Tá tudo bem Marin, eu estou aqui, se concentre só nisso tá? — Adrien fala e involuntariamente ou não, leva sua mão livre a barriga da Dupain-Cheng e sorri.

Ainda em completo choque, e sem pensar direito, Alya, Nino e Chloé desfazem as suas transformações, e assistem perplexos os cinco Kwamis sobrevoando Marinette e começarem uma especie de cântico antigo, a sala toda brilha com uma luz dourada; todos se sentem aquecidos e envolvidos pela melodia, que parecia vir direto dos anjos, logo os Kwamis do dragão e da cobra se juntam aos demais e entoam o cântico também. Marinette sente suas forças renovadas, a sonolência que se apoderava dela vai embora e seus membros lhe respondem melhor, sem que ela tenha que se esforçar muito, e tudo melhora quando Fu aplica em sua ferida, uma pomada marrom espeça, que sana imediatamente a dor na região. A próxima meia hora é uma completa confusão, para não dizer loucura, enquanto os três amigos do casal começam a entender o que aconteceu ali, Gabriel andava de um lado ao outro aflito, e ia juntando os pontos do quebra cabeças, finalmente ligando as pistas, Fu trabalhava incansavelmente junto dos Kwamis, entoando sutras curativos, e as enfermeiras faziam seu melhor incentivando Marinette, já que o maior trabalho era dela; essa ultima já estava cansada, seu corpo escorria suor e ela já nem sabia de onde vinha tanta dor, passara os últimos dois dias as sentindo e pareciam não ter fim. Mas agora a sua espera estava quase no fim, depois de uma madrugada inteira aguardando, ela finalmente sentia seu corpo responder, primeiro veio a dor mais aguda de todas, estarrecedora e infinitamente maior que tudo que já sentiu, depois ela sentiu como se estivesse se rasgando ao meio, até que finalmente passou completamente e a sala toda ficou em silêncio, e por fim foi inundada por um som alto e estridente.

— Hugo...— Marinette chamou vendo a enfermeira lhe entregar um pequeno corpinho manchado de vermelho, com uma cabeleira loira esfiapada evidente em sua cabecinha, e o choro que ele gritava a plenos pulmões sessou no momento que foi aconchegado ao peito dela, como mágica.


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